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Os primeiros contatos com as escolas participantes da pesquisa consistiram na apresentação do estudo às diretorias das instituições a fim de obter a permissão para a abordagem dos professores, a qual só foi realizada mediante a assinatura da carta de anuência (anexos D). Os diretores se mostraram receptivos à pesquisa, mas pouco disponíveis para ajudar no processo, oferecendo somente a autorização. Após esta concessão, demos início aos contatos com os professores, os quais foram abordados em seus momentos de intervalo ou recreio, mais comumente na sala dos professores, e informados sobre o tema da pesquisa, com cuidado acerca da explanação dos detalhes da mesma, a fim de reduzir quaisquer possíveis influências nas respostas posteriores. Neste contato foi lido e assinado o termo de consentimento livre e esclarecido (anexo A) a fim de garantir a formalização dos acordos entre participantes e pesquisadora. Os professores expressaram pouca disponibilidade em participar e uma certa desconfiança a respeito dos objetivos da pesquisa. Em cada escola visitada cerca de metade deles aceitava responder os questionários, no entanto alguns poucos se mostravam interessados pelo tema e se antecipavam em acrescentar informações e discutir opiniões, inclusive em conjunto.

Estes primeiros contatos tiveram como principal função garantir os direitos dos participantes e responsáveis de saberem o que seria feito em função da pesquisa, além de possibilitar que estes impusessem quaisquer limites às suas participações assim que desejassem. No entanto, esta etapa já configurou um importante momento de coleta por meio de conversas informais e de observações não sistemáticas do ambiente, tanto em seus aspetos físicos, quanto sociais. Estes conteúdos foram levados em consideração na interpretação dos dados coletados posteriormente. Além da aceitação da diretoria das escolas e dos participantes, a pesquisa obteve a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Universidade Federal de Pernambuco (ANEXO K).

Após a aceitação dos professores, foram aplicados os questionários descritos na seção anterior. Os participantes eram orientados a escrever as primeiras palavras que lhes viessem a mente espontaneamente e depois anotarem o número 1 e 2 ao lado daquelas que eles julgassem a primeira e a segunda mais importantes. Os instrumentos foram aplicados na sua maioria de forma individual, no entanto, em alguns casos aplicou-se coletivamente, com alguns professores que se encontravam na sala ao mesmo tempo. Neste caso, as instruções foram oferecidas coletivamente para grupos de cerca de quatro professores e era solicitado que estes respondessem cada um seu instrumento, sem discutir com os colegas, ou observar as respostas deles. O ambiente de aplicação do instrumento variava em função da escola. Comumente a coleta era realizada na sala dos professores, onde geralmente se encontravam vários deles, no horário de recreio, antes ou após as aulas. Em outros casos a coleta foi realizada no pátio das escolas.

7.3.2 Fase 2: Entrevistas e grupo focal

No que se refere ao contato com os participantes da segunda fase da pesquisa, inicialmente conversei com as professoras da escola que tinha em suas turmas ao menos dois alunos com deficiência para explicar a pesquisa integralmente, seus objetivos e procedimentos. Uma escola estadual foi escolhida para participar da realização integral da pesquisa na medida em que os professores desta se mostraram disponíveis. Após aceitação dos professores buscou-se a autorização da direção, por meio de carta de anuência (anexo E), para a realização da segunda fase da pesquisa.

A proposta inicial do trabalho seria realizar um grupo focal com alguns (entre 4 e 6) dos professores do ensino fundamental da escola abordada. Este grupo foi marcado e desmarcado algumas vezes e, finalmente, fui informada pela coordenação da escola que seria impossível juntar esse número de professores ao mesmo tempo. Assim, combinou-se de

realizar três entrevistas em dupla, seguindo o mesmo roteiro do grupo focal. Uma das duplas compareceu como marcado previamente e foi realizada a entrevista. Da dupla seguinte, apenas uma professora compareceu e acabou-se realizando uma entrevista individual. Já a terceira dupla desmarcou o encontro, até que se iniciou uma grande greve em toda a rede pública de educação básica e, assim, esta entrevista não foi realizada.

Devido à imprevisão de retorno às aulas na escola previamente selecionada, assim que algumas instituições municipais retomaram suas atividades, buscou-se um outro lugar para a realização do grupo e encontrou-se uma grande disponibilidade por parte da direção e de professores de uma instituição municipal de educação infantil. Desta forma, o grupo focal acabou acontecendo nesta instituição, com todas as professoras que ensinavam ou já haviam ensinado na educação fundamental I em outras instituições públicas, o que consistiu um total de oito participantes. A proposta seria, então, descartar as entrevistas e considerar como objeto de análise apenas o material do grupo. No entanto, ao observar os dados coletados percebeu-se uma grande afinidade no conteúdo e uma complementaridade entre as três formas de coleta, as quais se consideradas em conjunto só tinham a somar. Desta forma, optou-se por considerar os dados gerados nos três momentos de coleta.

Nos três casos, as professoras foram convidadas a participar de um “grupo de discussão” sobre a inserção de alunos com deficiência no ensino regular, o qual teria como objetivo conhecer as vivências e opiniões delas a respeito do tema. Os três momentos foram realizados na sala dos professores das referidas instituições. Tanto o grupo, quanto as entrevistas foram realizadas com a participação da entrevistadora/facilitadora e uma observadora. A observadora não participou ativamente, apenas filmou em silêncio o que acontecia na sala. Já a entrevistadora participava ativamente, fazendo perguntas, propondo atividades, provocando o debate e confirmando as respostas dos participantes. Esta possuía nas mãos o roteiro descrito na seção “Instrumentos”.

Os encontros eram iniciados com perguntas genéricas a respeito do que seria o aluno com deficiência, quais as diferenças entre eles e os demais, se existem deficiência mais fáceis ou mais difíceis de lidar, entre outras. Em seguida era realizada a atividade de categorização das palavras evocadas na fase 1 segundo seus estímulos. Nas entrevistas, esta atividade foi realizada em dupla e individualmente, já o grupo foi dividido em dois e a atividade realizada por cada grupo de 4 pessoas. As professoras deveriam supor as respostas de todos os professores participantes de fase 1 e categorizar as palavras contidas nas tarjetas de papel de acordo com o estímulo em que elas teriam sido mais ditas. A atividade proposta tinha a intenção de possibilitar uma melhor compreensão dos sentidos em que as palavras evocadas

eram pensadas e como estas se relacionavam em entre si, além de ser um meio de instigar e dinamizar a discussão no grupo. No entanto, um outro aspecto tornou o procedimento ainda mais vantajoso, o distanciamento dos professores de um julgamento moral na medida em que elas eram solicitadas a falar em nome do grupo e não em termos de opiniões pessoais. Como previsto por Abric (2003) em sua técnica de substituição, enquanto as professoras elencavam as palavras e explicavam os porquês delas estarem em determinada categoria, elas podiam dar vazão a construções do grupo que, por serem condenáveis do ponto de vista ético ou moral, seriam omitidos em outras formas de coleta que implicassem afirmar a opinião pessoal. Falar em termos de “os professores pensam...” e não de “eu acho...” gera uma maior liberdade que possibilita o acesso a conteúdos da zona muda da representação.

Após a atividade era discutido o porquê das escolhas realizadas e os sentidos atribuídos às palavras evocadas. Posteriormente, discutia-se sobre a inclusão, destacando as opiniões pessoais, sobre as condições oferecidas. Neste momento, era mostrado aos professores as palavras evocadas mediante os estímulos inclusão e exclusão e era solicitado que eles opinassem a respeito e atribuíssem sentidos as mesmas. Finalmente, num último momento, discutia-se a respeito das experiências pessoais de cada uma: como foi receber a notícia, como é a convivência com o aluno, como tem sido o trabalho delas. As que não possuíam a experiência falavam como julgam que se sentiriam se desejam ou não ter um aluno com deficiência, entre outros. Somada à atividade desenvolvida, a abordagem dos diferentes eixos temáticos na coleta visava proporcionar uma compreensão ampla e complexa das idéias, sentimentos e ações emergidas no contato com a alteridade e o acesso ao modo como estes conteúdos são construídos coletivamente e atuam no jogo identitário, orientando e justificando comportamentos voltados à alteridade no contexto estudado.

As entrevistas tiveram uma duração de aproximadamente 30 minutos e o grupo durou cerca de duas horas e meia. Isto foi muito mais que o esperado, no entanto, como os conteúdos emergentes pareciam extremamente interessantes e como os professores demonstravam uma grande vontade de falar sobre o assunto, julgou-se importante prolongar o tempo da coleta. As vídeo-gravações tiveram seus áudios literalmente transcritos e algumas informações visuais úteis para a análise anotadas, como o comportamento das docentes no momento da atividade proposta.