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7.4 Procedimentos de análise

8.2.4 O começo das dificuldades: problemas estruturais

O assunto inclusão do aluno com deficiência no ensino regular evoca imediatamente menções às dificuldades enfrentadas em tal processo, o qual é considerado um enorme desafio. As professoras referem-se enfaticamente às múltiplas dificuldades com as quais são obrigadas a conviver cotidianamente até mesmo quando não há a inclusão, o que acaba revestindo o acesso das crianças com deficiência com uma áurea de utopia, de sonho inatingível, posto que o terreno ainda não se encontra preparado para recebê-las.

Agora é um desafio, com certeza, todo dia é um desafio tanto no regular, quanto no especial, entendeu? É um desafio. Porque aqui olha, é um desafio, você entra e tem várias famílias, várias cabeças, dificuldades diferentes, educações diferentes, então é um desafio.

... ainda tem muita coisa aqui no regular que ainda precisa ser trabalhada, agora o foco agora está no aluno com deficiência. Mas desafio, elas ainda tem problemas mil. Tem muitos problemas aqui, muitos, muitos, muitos mesmo, é impressionante. Aí eu diria que tem tantos problemas quanto esses.

É mister salientar que, apesar das professoras referirem que há grandes problemas na escola independente da presença de alunos com deficiência, no discurso delas o que se sobressai são as dificuldades diretamente advindas da inclusão destes alunos. Os problemas referentes ao ensino regular de forma geral são pouco comentados, mas é destacado que estes tornam a inclusão um desafio quase inalcançável, são as questões de infra-estrutura, como espaço físico, material e o número de alunos por sala.

... das estruturas físicas das escolas estaduais, né? A estrutura física, de material, de disponibilidade, de tudo, da quantidade de alunos por sala. Tudo dificulta o trabalho com o deficiente, com a criança deficiente.

Eu subia com o menino no colo, a escola tinha escada, não tinha rampa era só escada e a sala ficava no primeiro andar. Não tinha ninguém para ajudar na hora do cocô, de ir no banheiro. Eu é que limpava o menino. A questão da estrutura física.

E o número de alunos em sala de aula.Vinte e tantos alunos, sem espaço, quase para recreação, como tem muitas escolas que não sai nem da sala de aula. É a questão do espaço, a questão do compromisso de número de alunos, também a estrutura física. Não adianta fazer inclusão se não tem o espaço físico adequado, né, o professor ali capacitado, treinado.

Um dos pontos de destaque é o espaço físico, o qual é considerado pelas docentes como inadequado ao recebimento das crianças com deficiência. Elas destacam que as escolas públicas não se preocupam com a acessibilidade de todos os seus alunos, e quem precisa se desdobrar para remediar a situação são elas. Este problema arquitetônico realmente salta aos olhos em várias das escolas visitadas na presente pesquisa: são inúmeras escadas, inclusive sem corrimão, portas estreitas, banheiros sem qualquer adaptação, entre outros. Estes obstáculos não se resumem a um detalhe, posto que realmente causam graves transtornos no cotidiano, assim como a professora relata a cima.

A falta de materiais é citada como uma dificuldade geral pela qual passam as escolas públicas, mas que também dificulta a inclusão, posto que as especificidades de cada aluno exigiriam uma maior variedade de estratégias de ensino, as quais requerem a utilização de diferentes materiais. Dentre estes, os comuns, de papelaria e sólidos, como cubos e bolas, e os utensílios específicos, como a reglete para a escrita em braile. Soma-se a estes dois aspectos,

um dos problemas mais citados pelas professoras que é o número de alunos por sala e a falta de pessoal disponível para ajudar quando há alunos com deficiência, que requerem maior atenção.

Quando a gente já trabalha no limite, né, no limite de número de alunos, quando alguém diz que a gente ainda vai receber uma, ainda que seja normal, é dito normal, né? Tu já fica louca, porque uma criança numa idade dessa ela dá uma diferença enorme, né?

E não vem ninguém para te ajudar, é você e você mesmo. Você imagina uma professora sozinha numa sala com trinta alunos e que um dos trinta tem uma deficiência.

... um professor só, para não sei quantos alunos aí. Aí o que foi que a professora fez? Senta ali os cinco e pode riscar, rabiscar, o que quiser que vai começar a aula, né. Esta é uma das principais críticas feitas pelas docentes, posto que segundo elas, o número de alunos por sala consiste num grande obstáculo para que a inclusão aconteça de fato. Questiona-se a proporção de alunos em relação ao número de professores tanto na rede estadual, quanto na municipal onde se constata que os professores não se sentem satisfeitos com o quantitativo de alunos atualmente encontrado. Diante desta dificuldade previamente existente, receber um aluno com deficiência torna-se um grande transtorno, posto que os professores consideram que não têm condições de trabalhar as especificidades de cada aluno em turmas tão numerosas.

Como foi dito anteriormente, o aluno com deficiência exige tudo em dobro - atenção, amor, dedicação - e oferecer isto nas condições atuais é considerado impossível para a maioria das professoras. Segundo elas, se você se dedicar adequadamente ao aluno com deficiência, você vai faltar aos demais. Desta forma, é preciso fazer uma escolha, na qual freqüentemente o aluno com deficiência é o maior prejudicado, pois se pensa que não é correto prejudicar uma maioria em função de um ou dois. Assim, surgem os numerosos relatos de professores que desistiram de alguns de seus alunos para cuidar dos demais, ou daqueles que quase “enlouquecem” por tentar dar conta de todos.