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LEC/UFBA

4 A INSTRUMENTALIZAÇÃO DELIMITADA PELA LEC/UFBA COMO POSSIBILIDADE DE FORMAR PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA NA

4.1 TRABALHO, PROCESSOS SOCIAIS E ESPAÇO GEOGRÁFICO

4.1.1 A especificidade do trabalho educativo

“Cada indivíduo aprende a ser um homem” (LEONTIEV, 1978, p. 267, grifo do autor) no processo em que realiza sua atividade social mediatizado pelas relações com outros homens. Essas conclusões foram assim sistematizadas:

As aquisições do desenvolvimento histórico das aptidões humanas não são simplesmente dadas aos homens nos fenômenos objetivos da cultura material e espiritual que os encarnam, mas são aí apenas postas. Para se apropriar destes resultados, para fazer deles as suas aptidões, ‘os órgãos da sua individualidade’, a criança, o ser humano, deve entrar em relação com os fenômenos do mundo circundante através doutros homens, isto é, num processo de comunicação com eles. Assim, a criança aprende a atividade adequada. Pela sua função, este processo é, portanto, um processo de educação”. (LEONTIEV, 1978, p. 272, grifo do autor).

Desse modo, o acúmulo da produção humana está inserido nas práticas socioespaciais. Tal produção é materializada em forma de objetos e na linguagem, o que constitui a cultura. Contudo, não se mostra de imediato para cada indivíduo singular; cada homem aprende a ser homem à proporção que se apropria da atividade humana, ou seja, à medida que se apropria dos conhecimentos, das capacidades e habilidades relativas ao modo de produção existente.

O homem aprende a ser homem atuando sobre o mundo que é fruto da experiência acumulada pelas gerações passadas. A ação exercida pelos homens, quando um transmite ao outro os conhecimentos da cultura material da sociedade, é denominada educação. Para transmitir os conhecimentos de forma sistematizada a cada indivíduo, criou-se a escola. Assim, o trabalho educativo usa-se dos instrumentos, dos conhecimentos produzidos socialmente e preservados historicamente, e transmite-os de forma direta ou indireta aos indivíduos.

O acesso aos conhecimentos qualifica o processo de trabalho, ou seja, a atividade humana. Contudo, o trabalho educativo é classificado como trabalho não material, pois “trata- se da produção do saber, seja do saber sobre a natureza, seja do saber sobre a cultura, isto é, o conjunto da produção humana” (SAVIANI, 2005, p. 12). O acesso ao conhecimento pelos

indivíduos qualifica a prática social, pois, quanto maior for o conhecimento que cada indivíduo singular possuir, mais qualificadas serão as práticas da sociedade como um todo. Portanto, mais humanizado será esse indivíduo e o gênero humano.

Chama-se de humanização o processo de apropriação dos conhecimentos sistematizados pela sociedade, uma vez que a humanidade, ao longo da história, no processo de trabalho, numa relação com a natureza, produz a realidade humana. São os conhecimentos sobre os processos naturais e sociais. Mas, como o indivíduo não nasce humano, ou seja, não nasce com o conhecimento, ele vai se apropriando gradativamente, e aí vai se humanizando, ou seja, se apropriando da cultura humana.

Como essa apropriação não é natural, ela depende de intervenção social. Por conta disso, entra nesse processo a especificidade e a relevância do trabalho educativo. Segundo Saviani (2005), trata-se de uma atividade intencional, planejada com um fim específico que é o de produzir a humanidade diretamente em cada indivíduo singular.

Duarte (2008), ao analisar o pensamento de Saviani, compreende que o trabalho educativo é direto em dois sentidos: o primeiro por ser resultado de uma relação direta entre educador e educando, e o segundo pelo fato da educação, enquanto humanização do indivíduo, ser o resultado mais direto do trabalho educativo.

É relevante situar que a origem da educação está em concomitância com a origem do próprio homem. Ela era exclusivamente um processo coletivo, sem sistematização, era produzida nas práticas socioespaciais cotidianas. Contudo, a escola, enquanto espaço de transmissão do saber que já está sistematizado, foi criada como lócus de ensino a partir do momento em que se concretizou a propriedade privada da terra e a humanidade se dividiu em classes. Isso aconteceu porque a escola foi introduzida para atender à classe que detinha a propriedade e que não desenvolvia atividade laboral: os indivíduos ociosos.

Para Saviani e Duarte (2012), a existência da sociedade de classes marca as contradições da questão educacional e o papel da escola. Quando a sociedade capitalista tende a generalizar a escola, essa generalização aparece de forma contraditória, pois ela reconstitui a diferença entre as escolas de elite, destinadas predominantemente à formação intelectual, e as escolas para as massas, que se limitam à escolaridade básica.

Está posto que a sociedade burguesa compreende que, pelo fato do trabalhador não ter os meios de produção, ele também não pode deter o saber. Foi com base nessa análise que surgiram os princípios preconizados pela Educação do Campo, fundamentados numa pedagogia que se contrapõe à lógica capitalista, a qual compreende que, sem o saber, ou com o saber fracionado “em doses homeopáticas”, não é possível avançar rumo a outro projeto de

sociedade, haja vista que, para tal projeto ser atingido, será necessário a construção permanente de outra concepção de homem, de sociedade, de educação e de campo.

Assim, entende-se que o trabalho em si é um processo educativo, pois é nele que o homem se humaniza, e o trabalho educativo é um processo de trabalho voltado diretamente para a humanização do indivíduo e da sociedade. Ele tem a missão de dar conta do que o processo de trabalho não consegue por si só. E, na sociedade de classes, o trabalho é alienado; por isso, mais do que nunca, os sujeitos da classe trabalhadora necessitam da escola, para garantir a humanização que lhes foi retirada do processo de trabalho. À classe trabalhadora compete o desafio de forjar, no interior da escola capitalista, outra forma de escola para si e para seus filhos, fundamentada nos conteúdos produzidos pelo gênero humano, orientada pelo caráter dinâmico e histórico da luta de classes e voltada à construção efetiva da consciência de classe em si e para si. Isso, naturalmente, requer professores bem formados, sob uma consistente base teórica e sob uma orientação política de classe cuja posição permita engajamento na ruptura do projeto societário vigente. Portanto, o desafio se inicia com a formação de professores.

4.2 O SISTEMA DE COMPLEXO NA LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO DO CAMPO

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