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Estado e sociedade: direito à informação

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Estado e sociedade: direito à informação

Na América Latina, bem como no Brasil, o Estado e a sociedade vivem uma relação desigual no tocante à política de transparência da informação pública. Historicamente, “o poder” não costuma ser transparente. O desafio social é buscar a igualdade entre esses segmentos indissociáveis através da transparência da informação. Para tanto, a democracia, como instrumento de mediação política, é um caminho viável para solucionar a desigualdade de forças entre Estado e sociedade. Desta forma, “considera-se transparência a

62 IFES pioneiras das capitais dos estados brasileiros, isto é, a universidade mais antiga de cada

capital dos estados da federação: UFAC, UNIFAP, UFAM, UFPA, UFRR, UFT, UFAL, UFBA, UFC, UFMA, UFPB, UFPE, UFPI, UFRN, UFS, UNB, UFG, UFMT, UFMS, UFES, UFMG, UFRJ, UNIFESP, UFSC, UFPR e UFRGS.

democratização do acesso às informações, em contraposição ao sigilo das mesmas” (TRISTÃO, 2002, p. 1).

Nesse contexto de desigualdades de forças, a atuação da sociedade é um importante instrumento para construção de um Estado com capacidade de dispor de informação pública acessível. “A participação do público é essencial para a democracia e essa participação depende da informação. Assim, a liberdade de informação e o acesso à informação são alicerces da democracia” (SEARSON; JONHSON, 2010, p. 120). A desigualdade de forças entre o governo e a sociedade se dá justamente através do controle da informação com o amparo da estrutura estatal. Nesse sentido, segundo Souza (2012, p. 36),

a forma de controle social talvez mais eficiente na sociedade moderna é a informação. Num país continental como o Brasil, o Estado tem sob seu controle uma fantástica rede nacional de informações (TV, rádios, jornais, revistas), articulada à redes internacionais e submetida à Lei de Segurança Nacional, à Lei de Imprensa e à pressões fiscais e financeiras.

A participação efetiva da sociedade na elaboração e acompanhamento das informações é inexpressiva ou praticamente inexistente. Bem como, a ausência do acesso público aos métodos e metodologias de como estão sendo produzidas as informações pelos órgãos oficiais do governo. “A democratização do Estado, do regime, passa pela democratização de todas as agências e instituições, civis e militares, estatais e privadas que produzem informação...” (SOUZA, 2012, p. 37). Desde a redemocratização política do Brasil, abalizada pela Constituição Federal de 1988, tem havido um movimento popular para uma maior transparência e acesso das informações do governo. Considerando que o sigilo dos atos do governo é um aliado estratégico nas práticas de corrupção, o acesso à informação pública – inversamente - é uma barreira para essa prática.

Nessa perspectiva de transparência de informação versus corrupção, o Banco Mundial tem incentivado a transparência de informações como forma de combatê-la (SEARSON; JONHSON, 2010, p. 120). Da mesma forma a Convenção das Nações Unidas sobre Anticorrupção de 2003 nos artigos 10º e 13º, incentivou os países a melhorarem o acesso do público à informação ao determinar que,

cada Estado-parte deverá [...] tomar as medidas necessárias para aumentar a transparência em sua administração pública [...] procedimentos ou regulamentos que permitam aos membros do público em geral obter [...] informações sobre a organização, funcionamento e processos decisórios de sua administração pública [...] (BRASIL, 2006).

O governo brasileiro, através do Congresso Nacional, aprovou o texto da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, por meio do Decreto Legislativo nº 348, de 18 de maio de 2005. A referida Convenção foi ratificada em 15 de junho de 2005 e entrou em vigor

internacional em 14 de dezembro de 2005. Por fim, através do Decreto nº 5.687, de 31 de janeiro de 2006 promulga a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção (BRASIL, 2006). Outras, importantes organizações internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização dos Estados Americanos (OEA) também defendem e reconhecem o acesso à informação como direito fundamental. Desta forma, estabelecem acordos para a implantação do direito de acesso à informação nos países membros dessas organizações.

Neste contexto, o Brasil tem firmado tratados, convenções e declarações que configuram a importância da transparência da informação pública. Um dos principais tratados internacionais assinados pelo Brasil é da Declaração Universal dos Direitos Humanos diz que, Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1948).

Semelhante princípio determina o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos em seuartigo 19º no qual decide que “toda pessoa terá direito à liberdade de expressão; esse direito incluirá a liberdade de procurar, receber e difundir informações e ideias de qualquer natureza (...)” (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1966). Por sua vez na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, no artigo 15º, estabelece que “a sociedade tem o direito de pedir conta a todo agente público de sua administração” (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1789). Corrobora com esse princípio, a Declaração Interamericana de Princípios de Liberdade, no item 4º, ao declarar que “o acesso à informação mantida pelo Estado constitui um direito fundamental de todo indivíduo. Os Estados têm obrigações de garantir o pleno exercício desse direito”.

A relação entre os tratados internacionais, aliado a influência das organizações de capital estrangeiro e a expansão de políticas de acesso à informação pública dos países, ao que parece surtiu resultado. No final do século XXI houve praticamente um movimento pela transparência da informação pública mundial. Cada país interessado em promover sua imagem democrática perante as nações tratou de criar leis que de fato comprovassem suas intenções.

A criação de leis de transparência da informação pública não é um fato recente na história política da humanidade. Na Europa, o primeiro país a criar uma legislação de acesso à informação pública foi a Suécia, em 1766. E em 1966 foi a vez dos Estados Unidos aprovarem The Freedom of Information Act (FOIA), que recebe, desde então, diferentes emendas constitucionais visando a sua adequação da lei à passagem do tempo (BRASIL,

2013, p. 8). Outro exemplo é o da Colômbia que em 1888 foi o primeiro país da América Latina a estabelecer um código de acesso aos documentos do governo (BRASIL, 2013 p. 8). Embora essa lei já estivesse aprovada, apenas posteriormente com a atual Constituição de 1991 foi previsto o direito de acesso aos registros do governo. (SEARSON; JONHSON, 2010).