• Nenhum resultado encontrado

Seguirei os mesmos passos exegéticos realizados para analisar Pr 1,20-23. No item 2.2.1 farei a tradução do texto massorético, ressaltando alguns problemas encontrados e as opções feitas. Em 2.2.2, buscarei apresentar uma delimitação de Pr 8 e em 2.2.3, a sua

estrutura. Em 2.2.4, examinarei os termos que formam o campo semântico do nosso texto e em 2.2.5 identificarei os gêneros literários usados na sua composição. No item 2.2.6, retomarei os traços principais que desenham o rosto da sabedoria mulher em Pr 8.

2.2.1 – Tradução e comentário

1 Não chama151 a sabedoria

e o entendimento dá sua voz? 2 na cabeça das alturas,

junto ao caminho,

na casa das sendas152 se coloca 3 em direção ao batente153 das portas, em direção à boca da cidade, ela grita154 4 A vós, homens, grito

e minha voz para filhos de Adão155.

151 O verbo

arq

qr’ no qal imperfeito, foi traduzido como “clama”, por João Ferreira de Almeida, tendo também os significados de “chamar”, “convocar”, “berrar”, “proclamar”, etc. Como a frase inicia um convite, prefiro traduzir por “chamar”, porque este verbo já denota um desejo de relação. Os outros sentidos expressam a ação de comunicar algo, porém de forma impessoal. A raíz

arq

é muito importante. Ela inicia toda a perícope que estou analisando, fazendo irromper com força o movimento da sabedoria em direção aos seres humanos.

152 Esta palavra tem a ver com o campo semântico desta perícope, aparecendo duas vezes no v. 20. Aqui, no v.2, a palavra “sendas” vem relacionada à casa: “casa das sendas”

tAbytin. tyBe

bet netibot no estado construto, indicando que as duas palavras são inseparáveis. A Sabedoria se coloca na “casa das sendas”. É a partirdaí que ela se dirige aos seus interlocutores. Voltarei sobre este tema ao trabalhar o campo semântico do texto. Outro termo que significa “sendas” é

xr;ao

’orah, que está no v.20 e tem o sentido de “sendas”, “caminho”, “vereda”. Segundo o Dicionário hebraico-português & aramaico-português, elaborado por Nelson Kirst, Nelson Kilpp, Milton Schwantes, Acir Raymann e Rudi Zimmer, São Leopoldo/ Petrópolis: Sinodal e Vozes, 1998, p.18, inclusive pode designar “menstruação” e também pode ser usada para indicar o comportamento das mulheres ou sua maneira de ser.

153 Mantenho o sentido literal da expressão:“em direção à mão das portas”

~yrI['v.-dy:l.

le-yad xe‘arim. Este termo pode representar o batente ou marco das portas das casas, mas pode também indicar a porta da cidade, lugar onde se reúnem os anciãos: as autoridades que têm poder de julgar. Na exegese, pretendo relacionar este termo com outros, dentro desta mesma perícope, para encontrar os seus destinatários.

154 A forma verbal

hN"roT

' taronahestá no qal imperfeito, feminino: “ela grita de alegria”. Aparece aqui um sentimento ou ambiente de alegria muito importante para a apresentação deste símbolo.

155 Embora em alguns vocativos o texto determine com muita clareza quais são os interlocutores da sabedoria mulher, aqui se ampliam os destinatários da sua fala, mostrando que ela se dirige à humanidade: “e minha voz

5 Entendei, ignorantes156, sagacidade.

e estúpidos157, entendei de coração.

6 Escutai, porque coisas importantes158 falarei e abertura de meus lábios (mostra) retidão. 7 Porque uma verdade rugirá meu paladar e abominação nos meus lábios é injustiça159. 8 Na justiça todos os dizeres da minha boca nada neles torcido ou pervertido.

9 Todos eles justos160 para quem entende

e acertados para quem encontrou conhecimento. 10 Recebei minha correção161 e não o dinheiro e conhecimento mais que ouro162 escolhido.

para filhos de Adão”

~d'a' yneB.-la, yliªAqw>

veqoli ’el-bene ’adam um termo que tem um sentido

mais genérico.

156

~yIat'p.

peta’yim é um substantivo, plural, masculino, que indica jovem, ingênuo, inexperiente. O verbo que corresponde à raiz

htp

pthpode indicar tanto “deixar-se seduzir”, no nifal, como “enganar”, “seduzir”, no particípio. Dentro do campo semântico da perícope, este substantivo não deveria ser traduzido por “ingênuos”, aqueles que se deixam seduzir ou enganar, pois daria a impressão de que os interlocutores da sabedoria seriam apenas jovens inexperientes. Como a sabedoria mulher dirige-se a todas as pessoas, prefiro traduzir por “ ignorantes”, ampliando o seu público.

157 Derivada de

lsk

ksl esta é uma palavra muito comum na literatura sapiencial e pode conter um matiz ético, segundo o Dicionário bíblico hebraico-português de Luis Alonso Schökel, p.322.

158 A palavra

dygin'

nagidtem o sentido de “chefe”, “líder”, “soberando”, “funcionário graduado”, “chefe de família”, pessoa investida de autoridade civil, militar ou religiosa. A forma como aparece neste texto, enlaçada com o

yKi

ki lhe dá um novo sentido. Por isso, a Bíblia de Jerusalém traduziu

~ydiygin.-yKi

k i-negidim por “coisas importantes” e a Bíblia Sagrada, versão revisada de João Ferreira de Almeida, por

“coisas excelentes”.

158

[v;r,

rexa‘ pode ser traduzida por “maldade”, “injustiça”, “iniqüidade” e parece indicar o antônimo de justiça. A versão revisada da tradução de João Ferreira de Almeida traduz por “impiedade” e a Bíblia de

Jerusalém traduz a frase inteira por: “e meus lábios aborrecem o mal”. Mas o v.8 completa o sentido do v 7,

pois apresenta uma defesa da sabedoria mulher: dizer que há abominação em seus lábios é uma injustiça, porque “na justiça todos os dizeres da minha boca, nada neles torcido ou pervertido” (v. 8).

160 Traduzi a palavra

~yxikon.

nek ohim por “justos”, embora a Bíblia de Jerusalém a tenha traduzido por “leais”, e João Ferreira de Almeida e Reina y Valera a tenham traduzido por “retas”.

161 A palavra “correção”

rs'Wm

musar aparece na primeira parte do capítulo 8 (v.10) e também no final (v.33), precedida pelo verbo escutar, no imperativo:

rs'Wm W[m.v

i xime‘u musar, o que demonstra que existe uma relação entre a primeira e a última parte deste capítulo. Na primeira parte (8,10), a palavra “correção” aparece precedida de um imperativo e sufixada:

yris'Wm

musari, para mostrar que a sabedoria

mulher está oferecendo com autoridade sua correção. Ela diz: “recebei minha correção, porque ela vale mais que o dinheiro e os corais”. Na segunda parte (8,33), afirma que é “feliz quem escuta a correção”.

11 Porque boa a Sabedoria163, mais que os corais

e todas as coisas desejáveis não se comparam com ela. 12 Eu, a Sabedoria, moro com a sagacidade164

e conhecimento encontrei na reflexão.

13 O temor de Javé (faz) detestar o mal, a soberba e a arrogância. Caminho mal e boca de perversidades, eu detesto165.

14 Eu possuo o conselho e o bom senso. Eu sou a inteligência e meu é o poder. 15 Por mim reinam os rei

e os governantes decretam justiça166. 16 Por mim os príncipes governam

e os nobres todos que julgam167 (com) justiça.

162 A expressão “mais que o ouro”

#Wrx'm

e maharuz que aparece no v.10, está repetida duas vezes no v.19, com um sentido enfático: “mais que o ouro e mais que o ouro puro”

zP'miW #Wrx'm.

maharuz umipaz. Além disso, nos dois versos ela vem seguida do verbo

rhb

bhr, no nifal

rx'b.ni

nibehar, que

significa “escolhido”. Desta maneira, a frase do v.10b “o conhecimento vale mais do que o ouro puro e escolhido” possui um sentido enfático muito forte. Esta expressão fecha a perícope que acabo de traduzir e a enlaça com a que vem a seguir. Percebo que aqui se encontra uma quebra do texto. Voltarei sobre este aspecto na delimitação. Outra ligação aparece na última expressão do v.11: “não se comparam com ela”

Hb'-

Wwv.yI aoloooooo

l’o yixvu-bah. Essa expressão termina com o sufixo pronominal “ela”, que gera

um ambiente propício para a auto revelação da sabedoria, cuja perícope será iniciada no v. seguinte.

163 Esta perícope tem uma estrutura concêntrica, formada pela repetição de

hm'k.x

' hokmah no v. 1 e no v.11.

164 O Dicionário hebraico-português & aramaico-português, elaborado por Nelson Kirst, Nelson Kilpp, Milton Schwantes, Acir Raymann e Rudi Zimmer traduz

hm'r>['

‘armah no qal imperfeito, como

“astúcia”, “cautela”, “sagacidade”, p.188. No v.5 já traduzi

hm'r>['

‘armah como “sagacidade”, por entender que esta qualidade tem o sentido de “ser desperta e atenta, com uma percepção rápida do ambiente ao redor”, embora João Ferreira de Almeida tenha traduzido

hm'r>['

‘armah como “prudência”. Prefiro o

sentido de “sagacidade”, tanto em 8,5, como em 8,12.

165 O termo

anf

sn’ aparece duas vezes neste verso. Na primeira vez como infinitivo absoluto

tanOf.

seno’t “O temor de Javé (faz) detestar o mal” e na segunda vez com sufixo da 1ª pessoa

ytianEf'

xane’ti,

mostrando a postura ética da sabedoria. Preferi traduzir por “detestar” em vez de “odiar” , por entender que o verbo “detestar” expressa também uma ação e não somente um sentimento.

166 “Justiça”

qd,c,

zedek é uma característica da sabedoria. O sentido de justiça aparece em Pr 8,8. 9.15.16.20, através de duas expressões que se correspondem:

xr;ao

o ’orah e

tAbytin.

netibot mostrando

a estrutura poética do texto.

167 A expressão “todos que julgam justiça”

qd,c, yjep.vo-lK'

kol-xopte zedeq está entrelaçada. As três palavras são inseparáveis e fazem a diferença entre os governantes. Não são todos os príncipes e nobres que estão ligados à sabedoria, mas somente aqueles que julgam com justiça. O termo “todos”

lK'

kol inclui na

17 Eu amo168 aos que me amam

e madrugando por mim, me encontrarão169. 18 Comigo riqueza e glória,

riqueza durável e justiça.

19 Bom é meu fruto, mais que o ouro, do que o ouro puro170 e meu lucro vale mais que a prata escolhida.

20 Na senda da justiça171 eu ando, através das sendas do direito.

21 Para fazer que tenham partilha172 os que me amam e encher os seus tesouros.

22 Javé me criou173 no princípio do seu caminho, desde antes de suas obras.

23 Desde a eternidade fui estabelecida174,

relação com a Sabedoria todas as pessoas que governam, com a condição de que o façam baseados na justiça e no direito.

168 Segundo o Dicionário bíblico hebraico-português de Luis Alonso Sökel, p.30, a palavra

bh'ae

’hab está relacionada ao campo sexual ou conjugal. Tomando este termo em um sentido relacional mais amplo, a frase: “eu amo aos que me amam”

bh'ae h'yb,h]ao ynIa

] ’ani ’ohabeha ’ehab está afirmando que a pessoa que se sente atraída pela sabedoria, que se enamora dela, é correspondida em seu amor.

169 Esta afirmação: “e madrugando por mim me encontrarão” possui uma relação antitética com a frase de Pr 1,28 “vão me procurar e não me encontrarão”

Ynin.aUc'm.yi alow. ynin.rux;v;y.

yexaharuneni

velo’ yimeza’uneni. Esta antítese mostra o processo de acohida e inclusão no relacionamento com a sabedoria.

170 A comparação entre os ensinamentos da sabedoria e o “ouro” aparece duas vezes, uma aqui, no v.19, e a outra no v.10.

171 O v.20 é iniciado com o sintagma: “na senda de justiça”

hq'd'c.-xr;aoB.

be-’orah-zedaqah e concluído com outro semelhante: “sendas de direito”

jP'v.mi tAbytin.

netibot mixpat. É interessante

observar a repetição da palavra sendas, embora escrita com formas diferentes. As duas carregadas de sentido figurado

xr;ao

’orah, que tem o sentido de “sendas”, “caminho”, “vereda”, tamb ém pode ser usada para

indicar o comportamento das mulheres ou sua maneira de ser e

tAbytin.

netibot que tem o sentido de

“procedimento”, “conduta”, sobretudo nos textos sapienciais. Relacionando com o v.2, onde a sabedoria se coloca na casa das sendas

hb'C;ni tAbytin> tyBe

bet netibot nizabah, encontramos um aspecto significativo do campo semântico do texto, que indica qual é a identidade da sabedoria mulher, relacionando justiça, comportamento ético e casa.

172 O sintagma

lyxin>h;l.

le-hanehil, cuja raiz é

lxn

nhl, tem o sentido de “propriedade”, “posse”, “quinhão”, “partilha”, segundo o Dicionário hebraico-português & aramaico-português, elaborado por Nelson Kirst, Nelson Kilpp, Milton Schwantes, Acir Raymann e Rudi Zimmer, p.154. Como o verbo

lyxin>h;l.

le-hanehil está no hifil e vem precedido do

-l

lê-, “para fazer que tenham partilha” é uma

tradução literal e ao mesmo tempo conseqüente com o resto do texto.

173 O sentido do verbo

hnq

qnh tem sido muito discutido pelos estudiosos. Ele aparece 66 vezes na Bíblia Hebraica e somente em 6 vezes traz o sentido de ato criativo. Esta me parece ser uma delas. Justificarei esta escolha na exegese.

desde o princípio, desde as origens da terra. 24 Quando não havia abismos, fui gerada175,

quando não havia os mananciais abundantes de água176. 25 Antes que as montanhas fossem assentadas,

antes das colinas, fui gerada.

26 Ainda não havia feito a terra e as ervas, nem o princípio do pó do mundo177. 27 Quando estabeleceu os céus, lá eu estava,

quando traçou um círculo sobre a face do abismo178. 28 Quando firmou os céus em cima,

quando se tornaram fortes as fontes do abismo. 29 Quando punha ao mar suas normas,

para que as águas não ultrapassassem sua boca, quando marcou os fundamentos da terra,

30 e era a seu lado179 artífice180

e era suas delícias dia a dia.

Dançava em sua presença todo o tempo, 31 dançava181 no vazio da terra

174O verbo

yTik.S;n

I nisaketi está no nifal, com sufixo de 1ª pessoa. Sua raiz é

$sn

, cujo significado tem a ver com o culto e pode ter o sentido de “fazer uma libação sagrada”. Uma tradução possível seria: “desde o princípio fui cultuada”.

175 A expressão “fui gerada”

yTil.l'Ax

holalti aparece repetida nos vezes, nos v.24 e 25. Esta repetição pode ser, apenas, um recurso poético.

176 O termo

yDeB;k.n

I nikbare é corrigido por alguns autores por

nbky

ykbn.

177 Mantenho a tradução literal de

lbeTe tArp.['

‘aperot tebel como “pó do mundo”, embora a Bíblia de

Jerusalém tenha traduzido por “primeiros elementos do mundo”. A versão revisada de João Ferreira de

Almeida é mais literal e traz: “nem o princípio do pó do mundo”. Esta opção tem a ver com a linguagem poética e a cosmovisão do texto.

178 Outra expressão da cosmovisão da época é círculo sobre a face do abismo”

~Aht. ynEP.-l[; gWx

hug ‘al-pene tehom. Busco traduzir estas formas literárias como aparecem no original hebraico para oferecer

uma visão aproximada da cosmovisão judaica da época e, também, da beleza desta poesia.

179 A expressão “ao seu lado”, ou “ao lado dele”

Alc.a,

’ezlo, indica aqui uma posição de igualdade e parceria que se encontra também no livro da Sabedoria (Sb 9,4). A Bíblia de Jerusalém traduz esta expressão como “estava junto com ele” e a versão revisada da Almeida, a Bíblia Pastoral e a Reina & Valera traduzem como “estava com ele”.

180 O termo

!Ama'

’amon tem o sentido “artesão”, “artista”, “artífice” e isto dá à sabedoria um status de parceira de Javé na criação. Por isso, alguns autores corrigem o texto por ’amun, que significa “favorito”, “predileto”. Entrarei nesta questão na exegese do texto.

e me deliciava com a humanidade182.

32 E agora183, filhos, escutai-me,

pois são felizes os que guardam meus caminhos. 33 Escutai a correção e tornai- vos sábios

e não a esqueçam.

34 Feliz a pessoa que me escuta, velando à minha porta todo dia, aguardando no portal da minha entrada,

35 pois quem me encontra, encontra a vida e obtém o favor de Javé.

36 Mas quem peca contra mim faz mal a si mesmo. Os que me odeiam amam a morte.

2.2.2 – Delimitação e divisão do texto, buscando encontrar a coesão interna

O cap.8 do livro dos Provérbios possui uma coesão interna formada pela metáfora da sabedoria mulher que se auto-revela, chamando para um encontro com ela e oferecendo seus ensinamentos e dons. Há uma evolução desta figura, chegando a ser apresentada como imagem de Deus nos v.30-31. A estrutura deste capítulo é formada por quatro unidades ao mesmo tempo distintas e entrelaçadas:

1ª unidade: convite e exortação da sabedoria (v.1-11)

2ª unidade: a sabedoria se revela e mostra os seus dons (v.12-21) 3ª unidade: a sabedoria é parceira de Deus na criação (v.22-31) 4ª unidade: exortação da sabedoria e convite à decisão (v.32-36)

181 A repetição de

tq,x,f;m.

mesaheqet no início do verso seguinte parece querer enlaçar as últimas frases. Ao mesmo tempo mantém o ambiente de alegria e gozo que perpassa o texto. Voltarei a este aspecto na delimitação do texto e na pesquisa sobre seu campo semântico.

182 Literalmente o texto traz “filhos de Adão”. Entendo esta expressão no sentido genérico e a traduzo aqui como “humanidade”. Embora no v.4 eu tenha deixado este termo no seu sentido literal “filhos de Adão”, sempre o estou interpretando como humanidade, no sentido da universalidade cósmica e humana que o texto apresenta.

183 Há uma quebra muito clara no texto. Mudam a linguagem e o tom poético do discurso para uma chamada exortativa. Mas vou traduzir até o final, depois delimitarei o texto e me deterei nas partes mais importantes para fazer a exegese.

1ª unidade: convite e exortação da sabedoria (v.1-11)

A primeira unidade tem uma estrutura concêntrica, formada pela repetição de

hm'k.x'

hokmah no v.1 e no v.11. A repetição da palavra justiça

qd,eece

zedek, nos v.8 e

9, faz o enlace da primeira unidade (v.1-11) com a segunda (v.12-21), pois a palavra justiça está repetida nos v.15, 16 e 20 da segunda unidade. Outro enlace entre a primeira e a segunda unidades encontramos no termo “veredas”

tAbytin.

netibot que está no v.2 (na casa das veredas coloca-se a sabedoria) e se enlaça com a expressão “na senda de justiça”

hq'd'c.-xr;aoB.

be-’orah zedakah que inicia o v.20, fechando-o com outra expressão

semelhante: “veredas de direito”

jP'v.mi tAbytin.

netibot mixpat.

casa das sendas (v.2) sendas de justiça (v.20a) sendas de direito (v.20b)

Estas expressões, carregadas de sentido simbólico, tanto social como religioso, formam um elo, entre a primeira e a segunda unidade, ao mesmo tempo em que tecem o campo semântico de todo o capítulo 8. É interessante ainda observar a repetição de termos que têm o sentido de “sendas” ou “veredas”:

a)

xr;ao

’orah tem o sentido de “vereda”, “caminho” ou “senda”, também pode ser usada para indicar o comportamento das mulheres ou sua maneira de ser.184

b)

tAbytin>

netibot tem o sentido de “caminho, “vereda”, “senda”185, e também de “procedimento” ou “conduta”, sobretudo nos textos sapienciais.186

184 Confira Dicionário hebraico-português & aramaico-português, elaborado por Nelson Kirst, Nelson Kilpp, Milton Schwantes, Acir Raymann e Rudi Zimmer, p.18.

185 Confira Dicionário hebraico-português & aramaico-português, elaborado por Nelson Kirst, Nelson Kilpp, Milton Schwantes, Acir Raymann e Rudi Zimmer, p.163.

Relacionando o v.2, onde a sabedoria se coloca na “casa das veredas”

hb'C'nI

tAbytin> tyBe

bet netibot nizabah com o v.20a “na vereda de justiça ando”

$Leh;a]

hq'd'c.-r;aoB.

be’orah-zedaqah ’ahalek e com o v.20b: “no meio da vereda da justiça”

jP'v.mi tAbytin> %AtB.

be-tok netibot mixpat, encontramos um aspecto

significativo do campo semântico do texto, que apresenta a religião da Sabedoria, relacionando-a com a justiça, aspecto importante no comportamento ético da casa. Também pode indicar o comportamento das mulheres, suas relações de cumplicidade que fazem parte de uma cultura subterrânea, vivida nas contradições, encontros e confrontos do dia-a- dia.

2ª unidade: a sabedoria se revela e mostra os seus dons (v.12-21)

A segunda unidade, ao mesmo tempo em que está enlaçada com a primeira, tem sua estrutura própria definida e iniciada com o pronome pessoal

ynIa]

’ani que a caracteriza,

pois este poema é todo elaborado em primeira pessoa. Podemos dividir estes dez versos em duas estrofes de cinco versos cada uma: os v.12-16 exaltam os dons da sabedoria: “temor de Javé”, “conselho”, “bom senso”, “poder”, “justiça”187, ao mesmo tempo em que a

apresenta condenando o “orgulho, a arrogância e as perversidades”. Os v.17-21 insistem na relação pessoal com a sabedoria e mostram as conseqüências desta relação em riquezas e glórias. A teologia subjacente a estes versos está muito próxima à teologia da retribuição, bastante desenvolvida por Eclesiástico 4,11-19.

3ª unidade: a sabedoria é parceira de Deus na criação (v.22 -31)

186 Confira Dicionário bíblico hebraico-português de Luis Alonso Sökel, p.456.

A terceira unidade é formada por um poema cósmico em que a hokmah se apresenta ao lado de Javé, na obra artesã da criação (v.22-31). Esta unidade pode ser dividida em duas estrofes iguais. A primeira estrofe é formada pelos v.22-26 e se caracteriza pela repetição da expressão “desde”, formado pela preposição inicial

-m

m-, repetida 8 vezes,

com algumas variações entre os v.22-26. É interessante observar que esta expressão “desde” introduz a criação de elementos da natureza, como: “terra”, “abismos”, “mananciais de água”, “montanhas” e “colinas” voltando ao elemento “terra”, no v.26. Esta repetição forma uma estrutura circular nesta sub-unidade (v.22-26). A preposição “quando”

-b

b- introduz a segunda estrofe (v.27-31), com a criação do “céu e do círculo sobre a face do abismo” (v.27), “as nuvens em cima e as fontes do abismo” (v.28) o “mar e os fundamentos da terra” (v.29). A repetição de “abismo” no final do v.29 forma um paralelo e mantém o ritmo da poesia, fechando novamente a estrofe com a palavra “terra”, e introduzindo a frase principal de todo o capítulo: “e era junto dele artífice” (v.30). O verso seguinte (v.31) é uma continuidade da frase iniciada no v.30

wyn"p'l. tq,x,f;m.

mesaheqet le-panan “dançava diante dele” (v.30) e “dançava no universo”

lbeteB.

tq,x,f;m.

mesaheqet be-tebel (v.31). A forma verbal

tq,x,,f;m.

mesaheqet pode ser

também traduzida por “alegrava”, e sua repetição mostra o ambiente de intensa e