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CAPÍTULO III – A EXPERIMENTAÇÃO NO ENSINO DE QUÍMICA

3.4 ATIVIDADES EXPERIMENTAIS INVESTIGATIVAS

3.4.4 Explorando os Espaços Sociais

Na compreensão de que as atividades experimentais extrapolam o espaço físico do laboratório, outra proposta a ser explorada pelo professor, diz respeito aos espaços sociais disponíveis para estudo e de fácil e seguro acesso para os alunos. Para as atividades experimentais podem ser considerados os mais diversificados contextos sociais, contemplando desde visitas a indústrias regionais, museus, instituições como rede de tratamento da água e esgoto, comércio, locais de agricultura e atividades manuais, até mesmo viagens de estudo. Tudo depende do objetivo e do planejamento da aula que deve considerar questões sociocientíficas controversas na sua investigação com intuito de aproximar os conhecimentos científicos às suas aplicações e implicações sociais (SANTOS; SCHNETZLER, 2003).

Por meio das atividades experimentais investigativas com exploração dos contextos sociais próximos à realidade do aluno, torna-se possível demonstrar a aplicação e interferências dos conhecimentos científicos e tecnológicos no âmbito social, valorizando o conhecimento popular na contextualização de conceitos químicos. Nesse contexto, a abordagem sobre a história da ciência pode contribuir nas reflexões CTS, apontando para a construção humana do conhecimento científico e tecnológico e suas interferências sociais ao longo dos tempos (PINHEIRO; SILVEIRA; BAZZO, 2007).

Entende-se, dessa maneira, que os espaços sociais são dinâmicos e possibilitam contextualizar de maneira interdisciplinar os conceitos químicos, colaborando para descaracterizar a atividade científica como meramente laboratorial.

No entanto, faz-se necessário instigar e conduzir a percepção dos alunos durante a atividade, por meio de questões relacionadas a temas controversos. Silva, Machado e Tunes (2011) alertam que esta atividade não pode ser compreendida como um momento de passeio, uma oportunidade para sair da escola. Os autores salientam a necessidade de orientar a atividade dos alunos, descrevendo as etapas que envolvem o planejamento:

 agendamento da visita ou atividade, com antecedência e familiarização com o ambiente;

 encaminhamento de ofício padrão oficializando o agendamento;

 elaboração de um roteiro de análise da visita com questões previamente elaboradas, visando maior exploração e percepção das atividades no local. Relacionar no roteiro questões de análise sobre as implicações da ciência e da tecnologia na sociedade;

 se necessário, organizar os alunos em grupos menores para maior visualização e acompanhamento dos processos a serem estudados;

 confrontar os roteiros com as respostas dos alunos, para obter maiores percepções e reflexões sobre a atividade experimental, com a elaboração de um relatório, culminando com apresentação.

A possibilidade de interligação dos conceitos científicos discutidos em sala e suas aplicações práticas, acentuam o caráter interdisciplinar dessa proposta de ensino, que possibilita a articulação de diferentes reflexões CTS, entre as diversas áreas do conhecimento (NIEZER, 2012).

Nesse sentido, Santos e Schnetzler (2003) afirmam que os procedimentos metodológicos no enfoque CTS são aqueles que possibilitam ao aluno construir e reconstruir o conhecimento, requerendo a contextualização social dos conteúdos para possibilitar a compreensão do caráter social do ensino, com o intuito de proporcionar condições para o desenvolvimento de atitudes relacionadas à cidadania.

A inserção de atividades experimentais utilizando os espaços sociais demonstra sua dinamicidade e aponta um aspecto importante da finalidade da experimentação no ensino de química: a formação e o desenvolvimento do pensamento analítico, teoricamente orientado, que possibilita o estudo do fenômeno em partes, o reconhecimento destas e a sua reorganização em uma nova forma. Com isso se evidencia o potencial criativo e imaginativo das atividades experimentais bem elaboradas (SILVA; MACHADO; TUNES, 2011).

Outro fator a ser explorado pelas atividades experimentais investigativas no ensino CTS, consiste no fator do erro. Tanto as atividades demonstrativas, como as experimentais, as com uso de recursos tecnológicos ou com a exploração de espaços sociais, podem ser influenciadas por fatores externos que interfiram de alguma forma, no desenvolvimento esperado da atividade.

O erro deve ser considerado, pelo professor, como possível em qualquer encaminhamento pedagógico que contemple as atividades experimentais, não sendo uma justificativa para a ausência dessa prática no ensino de química, podendo ser utilizado no entendimento de sua presença em qualquer atividade humana.

Em primeiro plano, sendo a ciência uma construção humana, deve-se reconhecer que no fazer ciência se desenvolve um processo de representação da realidade em que predominam acordos simbólicos e linguísticos num exercício continuado de discursos mentais, íntimos ao sujeito, e discursos sociais, propriedade do coletivo. A falha do experimento alimenta esse exercício, por mobilizar os esforços do grupo no sentido de corrigir as observações/medições; por desencadear uma sucessão de diálogos de natureza conflituosa entre o sujeito e o outro e com seus modelos mentais, e por colocar em dúvida a veracidade do modelo representativo da realidade (GIORDAN, 1999, p. 46).

Trabalhar com o erro torna-se uma possibilidade de levar os alunos a refletirem sobre a veracidade dos modelos científicos como constatação da realidade, dando abertura para novos debates em sala de aula, que reportem sobre os impactos tanto da ciência, como da tecnologia no contexto social.

Nesse entendimento, a falha na experimentação pode ser um aspecto positivo se for interpretado como ponto de partida para enriquecer o conhecimento discente, pois pode ser cometido tanto por falta de informação ou distração, sendo objeto de discussão posterior.

Trabalhar com o erro caracteriza a experimentação como atividade humana, sujeita a interferências e intencionalidades que, muitas vezes, não podem ser previstas, mas que, necessitam de análise sobre seus impactos, abarcando a responsabilidade sobre os resultados de sua atividade.

O erro em um experimento planta o inesperado em vista de uma trama explicativa fortemente arraigada no bem-estar assentado na previsibilidade, abrindo oportunidades para o desequilíbrio afetivo frente ao novo. Rompe-se com a linearidade da sucessão ‘fenômeno corretamente observado/medido↔interpretação inequívoca’, verdadeiro obstrutor do pensamento reflexivo e incentivador das explicações imediatas. A chamada psicanálise do erro visa dosar o grau de satisfação íntima do sujeito, substrato indispensável para manter o aluno engajado em processos investigativos. Numa dimensão psicológica, a experimentação, quando aberta às possibilidades de erro e acerto, mantém o aluno comprometido com sua aprendizagem, pois ele a reconhece como estratégia para resolução de uma problemática da qual ele toma parte diretamente, formulando-a inclusive (GIORDAN, 1999, p. 46).

Para tanto, utilizar o enfoque CTS nas atividades experimentais pode contribuir para que os alunos compreendam o papel da experimentação na produção histórica e humana do conhecimento científico e sua relação nas interfaces com a tecnologia e com a sociedade.

No mais, a prática educativa pode explorar as oportunidades de contextualização dos conceitos, por meio de discussões e problematizações

decorrentes dessas atividades, cabendo ao professor, diagnosticar o processo de ensino para interferir na aproximação entre os conhecimentos científicos e os prévios dos alunos.

No propósito de contribuir para o ensino de química, este estudo espera subsidiar o professor no trabalho em sala de aula com as atividades experimentais investigativas com enfoque CTS.