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CAPÍTULO 2 O BREVE ENCONTRO COM A LITERATURA

2.3 FAMÍLIA CONTEMPORÂNEA

Dentre as principais reflexões realizadas sobre as famílias, tanto na Sociologia, Filosofia e também na Enfermagem, há uma convergência na concepção de que o futuro da sociedade está nas mãos da família. Esta, no entanto, segundo Court (2005), guarda um enorme potencial para a própria história da família na esfera social e da humanidade. Para o autor, ao longo do processo de evolução da família na história, desde os tempos arcaicos até a atualidade, a família deixou de exercer alguns papéis que foram delineados a ela e buscou uma reorganização em sua estrutura e funcionamento.

Court (2005), ressalta que a família evoluiu de modo a regular aspectos da vida social, como a sexualidade, a procriação, o trabalho, a seguridade social, econômica e política. Assim, o autor complementa seu pensamento ao afirmar que a família contemporânea está em ebulição no sentido estrito, ou seja, a família hoje está preocupada em repassar valores, amores, condições de vida, ensinamentos, e facilitar a compreensão de ser pessoa, humana, que faz parte de um todo que podemos considerar a família, e a vida em sociedade.

Para Court (2005, p. 27), a família representa:

Para a vida social e pessoal, uma experiência única de sociabilidade humana, não comparável com nenhuma outra forma de vida institucional. Não apresenta uma realidade distinta das pessoas que a configuram. De certo modo, não se deve mencionar “a” família, em geral, mas de cada família em particular.

Concordo com o autor uma vez que, a mecanização do olhar e não ver as particularidades das famílias está cada vez mais forte nos ambientes de cuidado destas que significam a base da estrutura humana. Portanto, a particularidade que certamente influencia no coletivo, não precisa ser transformada em uma caixinha de modelagem exata com formas e direções iguais. Na Enfermagem, o cuidado às famílias está se dirigindo para esta visão imparcial, desfocada das necessidades de cada família, o que venho discutindo neste estudo. Court (2005, p. 26), relata que:

O próprio da família não é se situar acima do bem e do mal, mas realizar uma convivência entre pessoas que participam com a totalidade de sua existência. A família não tem equivalente funcional em outras Instituições sociais, a família é a própria experiência humana. A definição de família no âmbito público atual, a mesma é vista como cidadãos consumidores com ênfase no papel do mercado. É oportuna a noção ecológica de família, onde

ela é compreendida como realmente é, uma solidariedade intergeracional, que tem como função o cuidado da vida humana.

Rabinovich e Gallo realizaram uma pesquisa em São Paulo, na comunidade Quilomba do Carmo, e acompanharam a implantação da Estratégia de Saúde da Família, além de averiguarem dados sóciodemográficos das famílias. O estudo mostrou que, em relação aos tipos familiares, está cada dia mais diversificado, ampliando noções e abordagens para o cuidado delas. Das famílias acompanhadas, 41% delas eram nuclear, 6% nuclear modificada, 12% ampliada, 12% extensa, 08% monoparental mãe, 03% monoparental pai, 5% casal, outros tipos 13%, totalizando 149 famílias. Relacionando estes dados ao que acredito necessitar de um retorno às noções que temos do que significa a família, fica expresso a diversidade que as famílias se mostram no quotidiano, a solidariedade orgânica que entrelaçam as maneiras de viver da família.

Assim, na atual contemporaneidade o que vemos é uma busca ou um retorno como diz Maffesoli (2007 b) à vida. A tentativa de devolver ao seio familiar a liberdade de ser e agir conforme suas crenças, seus valores, seus ideais, compartilhados ou não no sistema familiar, porém respeitando a singularidade do individual e a relação dos subsistemas próprios das famílias.

Nitschke (1999, p. 40), fala da complexidade singular de ser família, e a pós- modernidade nos traz outro tipo de sujeito social. Então, falar em família para a autora neste tempo, é:

Mergulhar em águas de diferentes e variados significados para as pessoas, dependendo do local onde vivem, de sua cultura e, também, de sua orientação religiosa e filosófica entre outros aspectos. A família tem sido apresentada, representada e reapresentada, sob diferentes noções, definições, conceitos, tipos e mesmo atribuições, podendo ainda ser vista segundo diferentes linhas teóricas.

Para muitos, esta diversidade que a pós-modernidade proporcionou, de resgatar o afetivo, a emoção, a sensibilidade que produz a liberdade de as famílias se auto-conhecerem e se apresentarem socialmente, é um caos, uma vez que retira a facilidade do controle e opressão da modernidade e aproxima as famílias de viver a sua realidade, fora de modelos dominantes. Na verdade, não há substituições dos tipos familiares da Antiguidade, da Modernidade para a Pós-Modernidade, mas como ressalta Maffesoli (2001), há a

possibilidade de as famílias constituírem suas tribos, definir suas próprias regras, sua ética e sua rede social. O importante efetivamente é a maneira que as famílias têm disponível para serem felizes e saudáveis apesar das adversidades da vida.

Court (2005, p. 17), relata que:

Quando se toma como perspectiva para a análise da família o cumprimento de suas funções sociais em uma sociedade funcionalmente organizada, como a atual, é inevitável ser arrastado, consciente ou inconscientemente, para a ilusão utópica de que a realidade está constituída por indivíduos auto- suficientes que estabelecem suas relações sociais de acordo com a vontade , acreditando estar em condições de definir a sexualidade, a paternidade, a filiação, a consangüinidade, a cultura e todos os aspectos constitutivos da sociabilidade desde si mesmos e com total autonomia.

Primeiramente, a família contemporânea deixou de ser pública e passou para a característica privada, cada vez mais assumindo suas diferenças, seus costumes, se autodenominando família e, principalmente, quem faz parte deste contexto. Esta imagem da “nova” forma de ser família na contemporaneidade tem produzido inúmeras discussões, inclusive no Vaticano, onde segundo Court (2005), até mesmo o Papa João Paulo II se preocupou com o que as famílias realmente significam para todos os seres humanos.

O autor revela que o Papa relacionou a família como uma verdadeira escola da vida, sendo as principais bases de conhecimentos repassados aos filhos, aos membros integrados e reconhecidos por ela como parte de sua existência. Sua missão é de repassar vertentes que possam expor as primeiras noções de vida social, ou seja: noções sobre o bem e o mal, a verdade e a infâmia, o significado de amar e ser amado, e, concretamente, o significado de ser pessoa.

A ética e seus fundamentos são discutidos em família, mas lembrando sempre que cada indivíduo possui seu livre pensar, portanto, suas escolhas fora do núcleo familiar, uma vez que o ambiente passa a influenciá-lo quando inicia seu contato externo à família, fá-lo então, membro da sociedade.

Court (2005), complementa o que o Papa João Paulo II diz, quando reflete que o próprio da família, da vida familiar não tem como objetivo estar acima do bem e do mal, mas proporcionar uma convivência harmoniosa entre pessoas que participam com sua totalidade da vida. Para ele, não se pode buscar um equivalente funcional para a família, comparando-as com outras Instituições sociais, principalmente na distinção entre pessoa e seu papel social. Maffesoli (2007 a) fala sobre esta questão quando aborda a pós-modernidade, não há

modelos, formas, que permitam a igualdade solitária dos seres humanos.

Logo, Court (2005, p. 27), faz um comentário que simboliza a busca frenética de modelos estereotipados para as famílias contemporâneas e analisa que:

As famílias representam para a vida social e pessoal uma experiência única de socialidade humana, não comparável com nenhuma outra forma institucional. Pode-se afirmar, de certo modo, que não se deve mencionar a “família” de modo geral, mas de cada família em particular. Entretanto, se falamos da pessoa e da família genericamente, é para descrever essa experiência humana simultaneamente universal e pessoal, pela qual compreendemos a condição racional do ser humano e sua igual comum vocação para ser pessoa.

Assim, parece que no horizonte do pensamento ecológico (sensível) a família possui como primordial a solidariedade intergeracional, ou solidariedade orgânica segundo Maffesoli (2005), que tem como função o cuidado da vida humana, de cada vida que lhe fora confiada dentro de seus preceitos éticos e estéticos de viver: a formação de suas tribos.

CAPÍTULO 3 – CUIDADOS DE ENFERMAGEM: A BASE SÓLIDA PARA AS