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CAPÍTULO 5 RAZÃO SENSÍVEL: UM ENTRELAÇAMENTO METODOLÓGICO

5.1 TIPO DE ESTUDO

A característica principal deste estudo, em função da questão norteadora que o rege, está centrada em uma abordagem qualitativa fenomenológica, associada à sociologia compreensiva que é base do referencial teórico escolhido. Isto se justifica pelo fato de que a questão norteadora buscou compreender como se expressa o quotidiano de cuidado da Enfermagem às famílias na Hospitalização materno-infantil. Para isto, as noções trazidas por Michel Maffesoli nestas duas últimas décadas foram o alicerce deste estudo e com este olhar, com os principais elementos desta teia, foi possível desvelar alguns aspectos do quotidiano de cuidado da Enfermagem às famílias Hospitalizadas na área materno-infantil de forma interativa e sensível.

Para Tápia (1982), um objeto ou fenômeno é o que é. Somente um horizonte à luz do qual pode ser visto e descrito como sendo isto ou aquilo e é do exercício da pergunta que se aprenderá o rumo ou caminho a ser seguido na trajetória da explicitação, desencadeando novos significados. Neste sentido, o horizonte é a rede complexa do cuidado que precisa ser sensível e visualizado pela equipe de saúde na concepção de que o todo é parte e a parte compreende o todo, logo, não havendo uma linha de delimitação aos achados da pesquisa e a busca de novos encontros.

Os estudos na área da família têm se utilizado de diversos mecanismos para a aproximação com a realidade, entre eles, a observação participante e a entrevista temática ou aberta, destacando-se nas pesquisas, uma vez que possibilita ao pesquisador estar junto em parte do quotidiano que busca desvelar. Autores como Marcon (2002), Denardin (2002), Monticelli (2002) entre outros, utilizaram destes instrumentos para coletar dados em pesquisa qualitativa. Esta forma de pesquisar exige do pesquisador: sensibilidade e capacidade de “tentar” despir-se de julgamentos ou pré-conceitos nascidos de sua vivência, embora acredite que nossas experiências é que nos inquieta em busca de novos desafios como significou para mim, este estudo. No encontro com a realidade das equipes de Enfermagem da Instituição escolhida para a pesquisa, foram observados os gestos, as expressão de palavras, os significados que os mesmos atribuem ao cuidado que realizam com as famílias. Junto destes profissionais e das famílias, pude apreender o sentido que dão as ações de cuidado às

famílias4.

A observação em pesquisa qualitativa é uma opção metodológica rica por deixar o pesquisador apreender o significado dos fenômenos que ali se mostram. Kakehashi e Pinheiro (2006, p. 105), relatam que “a observação em pesquisa não é só olhar, significa um olhar específico sobre o fenômeno que se deseja conhecer”. Este método permite que se obtenham dados não possíveis por meio de outros métodos, como por exemplo, a entrevista, questionários, enfim, pois durante a observação o pesquisador pode atentar para o que a linguagem não-verbal expressa, a temporalidade que os fatos ocorrem, o comportamento grupal, o individual, e estes podem, além de ser dado de pesquisas, ofertarem subsídios para a análise e interpretação posterior de outros dados. (KAKEHASHI e PINHEIRO, 2006).

Para Gil (2007, p. 113), a observação participante:

Consiste na participação real do conhecimento na vida da comunidade, do grupo ou de uma situação determinada. Neste caso, o pesquisador assume, pelo menos até certo ponto, o papel de um membro do grupo. Daí por que se pode definir observação participante como a técnica pela qual se chega ao conhecimento da vida do grupo a partir do interior dele mesmo.

Historicamente, a técnica de observação participante foi introduzida na pesquisa social por antropólogos em estudos das sociedades primitivas. Desde então, tem sido utilizada como técnica marcante nas pesquisas qualitativas. (GIL, 2007). Nos estudos realizados pela Enfermagem, os métodos de observação possuem grande aplicabilidade, na opinião de Kakehashi e Pinheiro (2006, p. 104), “o enfermeiro consegue uma posição privilegiada para observar, durante suas atividades, o comportamento de pacientes, a equipe de Enfermagem, as famílias”. As autoras corroboram que os dados obtidos por meio da observação poderão ser utilizados para o aperfeiçoamento da prática profissional e suscitar novas questões de pesquisa, evoluindo, desta forma, a ciência Enfermagem.

Concordo com elas, pois pude experienciar a riqueza de informações que nascem deste momento e também a força da presença no campo pesquisado que estabelece uma aproximação e abertura para que a observação seja efetiva.

Para Kakehashi e Pinheiro (2006, p. 106), “a observação participante implica na participação ativa do pesquisador na situação investigada, na qual, ele interage com os

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Compreendo por ações de cuidado, todas as possibilidades que a Enfermagem possa desenvolver para o bem- estar das famílias, desde um sorriso, até os procedimentos mais complexos para salvar, manter ou deixar que vidas sigam seu curso natural.

sujeitos de pesquisa. Possibilita a apreensão da realidade explicitada pelos participantes envolvidos no fenômeno em estudo”. Mas como em todo método científico para coleta de dados, há vantagens e desvantagens que o pesquisador precisa ter ciência durante o preparo do projeto e ao longo do processo.

No entender de Kakehashi e Pinheiro (2006), a principal vantagem da observação participante é o contato direto com os sujeitos de pesquisa e sua aproximação com a perspectiva dos sujeitos sobre o objeto de estudo. Também apresentam como vantagem, o desvelamento de novos aspectos a ser pesquisado, a partir do estudo vigente e na condição de um dos sujeitos da pesquisa encontrar-se impossibilitado de comunicar-se oralmente, é possível apreensão de dados através da linguagem não-verbal.

Na concepção de Gil (2007), a observação participante tem como vantagens, o rápido acesso aos dados sobre as situações habituais em que os membros das comunidades se encontram envolvidos, acesso a dados que o grupo considera privado, e ainda a possibilidade de captar palavras de esclarecimento que acompanham o comportamento dos sujeitos.

Quanto às desvantagens, tanto Gil (2007) e Kakehashi e Pinheiro (2006), concordam que a participação do pesquisador nos grupos afins, o risco de não conseguir se envolver e manter a confiança com o grupo é menor, mas quando este precisa migrar para observar outros grupos, pode gerar o fechamento do mesmo, e assim, estratificar um pequeno retrato, fragmento da realidade. Muitos dos sujeitos podem modificar seu comportamento durante a observação pelo pesquisador e agir de modo tendencioso, e pode haver um viés na percepção do pesquisador, quando este deixa suas emoções, aspectos pessoais, ideológicos interferir em sua coleta de dados a partir da observação.

Mas ambos estudiosos concordam que, à medida que os sujeitos de pesquisa se adaptam a presença do pesquisador, é comum retomarem seu comportamento habitual, favorecendo o estudo. Precisa haver paciência e conhecimento do pesquisador sobre estas vertentes antes que este não consiga retomar seu foco de observação. Esta característica é essencial ao pesquisador para que ele possa interagir e comunicar-se, além de manter-se atento ao que se processa no campo de pesquisa, para que nada se perca, uma vez que está observando a realidade de um quotidiano.

Assim, comprometida em manter estes aspectos inerentes ao processo de pesquisa, pude verificar que, com a observação livre, análise documental, e as entrevistas abertas, esta pesquisa gerou condições para elencar subsídios que expressaram as imagens que a Enfermagem traz, acredita e mostra no seu quotidiano de cuidado, e como enfrentam o

quotidiano Hospitalar.

Para minha surpresa, a pesquisa já mostra alguns resultados que nasceram das interações durante as etapas de coleta de dados, principalmente, as entrevistas. Estas provocaram na Enfermagem, das três áreas, uma reflexão que os direcionou em busca de medidas, mesmo que simples, a princípio, porém, com a preocupação de focar seu quotidiano de cuidado às famílias, discutindo este assunto nas reuniões de equipe. Com estes dados, penso que poderemos lançar a campanha geradora da visibilidade deste fazer da Enfermagem, que, a priori, estava adormecido e que despertou para novas direções e necessidades quando estimulados a refletir sobre a temática.