• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 7 O QUOTIDIANO DA HOSPITALIZAÇÃO MATERNO-INFANTIL:

7.2 IMAGENS DO QUOTIDIANO DAS FAMÍLIAS NA ÁREA MATERNO-

7.2.2 O quotidiano se mostrando nas imagens de que a Enfermagem não contempla a

Em meio a estas imagens, aos significados atribuídos ao quotidiano, pelas as famílias, existe um diferencial, principalmente, quando estas já estiveram neste quotidiano, neste espaço, viveram e reviveram situações de cuidado, de não-cuidado, de espera por novas abordagens e também de frustrações. Estas reconhecem nuanças importantes de serem refletidas pelos profissionais, quando se deseja alguma mudança para ampliar as diversas formas de se cuidar com amor e atenção, conforme as famílias já citaram.

Para uma mãe de cinco filhos, todos nascidos no mesmo Hospital, este é considerado como “sempre a mesma coisa”. Descreve como é o dia-a-dia, que primeiro passa o médico, a enfermeira, as meninas que dão medicação para dor, que olham o curativo do parto, o sangue que sai, marcam se fazem “xixi, cocô, essas coisas”. De um prisma parecido, refere que

algumas profissionais olham a mama para ver se estão oferecendo o mamá certo. Sentimentos semelhantes são compartilhados:

Eu fico com ansiedade de ir embora, porque já sei como cuidar de meus filhos, e aqui as orientações são sempre as mesmas, chega a me cansar. Se conversassem outras coisas, eu tenho um monte de dúvidas, sobre o sexo com meu marido, dessa história que dá de mamar não engravida, não é bem assim, fiquei grávida desse amamentando o outro. Acho que poderia ser mais fácil de ficar aqui se elas perguntassem para gente o que a gente quer saber. Senão é a mesma coisa, sempre: dá de mamar, dá o banho, troca o bebê, faz curativo, dá de mamá, e às vezes dá de dormir enquanto o bebê dorme. É assim o meu dia-a-dia aqui. Mas não reclamo sabe ainda bem que tem o HU para nós que somos pobres. (Luz da Lua).

Esta última fala nos remete a um dos elementos que faz parte do quotidiano institucional, o jogo de poder. A rotina faz parte do quotidiano, sendo necessária até mesmo para que os profissionais possam quebrá-las, o que também pode configurar uma forma de demonstração de poder, mesmo que seja para atender as necessidades observadas nos pacientes e em algumas famílias durante o processo de cuidado.

As famílias percebem que as mesmas ações de cuidado, a não-escuta das ansiedades das famílias por determinados profissionais, e o poder de manter o “tem que ser”, pois é o que está instituído, é o que regulamenta as ações profissionais, provocando nas famílias imagens de que não há muito o que fazer, solicitar, e até mesmo propor.

Estas famílias que passam diversas vezes pela Instituição têm a imagem de que precisam dela, então não se pode buscar algo “a mais” do que já é oferecido, e se acomodam em um nível de inferioridade, de distanciamento da cidadania, e permanecem neste mundo sem questionamentos. É a aceitação da vida, referida por Maffesoli. Estes, embora descontentes com esta repetição, ainda agradecem pelo fato de possuírem um local para buscar cuidado quando necessitam, silenciando seus anseios de um cuidado voltado para as suas necessidades e para a individualidade familiar.

Ângelo e Pettengill (2005, p. 986), relatam que:

A perda do poder fica mais visível no contexto Hospitalar, com a família sendo colocada à parte, sem direito de participar das tomadas de decisão, do cuidado e do tratamento. A percepção de que se tornou apenas uma coadjuvante estabelece o sentimento de ameaça em sua autonomia. A relação que se estabelece com a equipe é percebida pela família como desigual, quando a equipe a coloca em posição inferior, à margem do processo e sem poder para decidir em relação ao filho.

Sabe-se que não se pode generalizar estas posturas a todos os elementos das equipes de Enfermagem, tanto que os profissionais que atuam e fazem a diferença no quotidiano da Hospitalização são apontados pelas famílias, como no caso do Enfermeiro que toca flautas, que conta piadas, que torna o ambiente Hospitalar mais festivo, alegre, sensível. Um ambiente que deixa de ter a imagem de tijolos, de paredes limitantes, de olhares indefinidos, e passa a ser um ambiente de refúgio, de consolo, de respiradouro para muitas famílias.

Esta individualidade que as famílias buscam no quotidiano da Hospitalização, está intrínseca à necessidade de ser reconhecida pelas equipes de Enfermagem tendo seus pontos que as diferenciam das demais. Não que estas famílias desejem ser atendidas como elites, em detrimento de outros modelos familiares, mas que os profissionais saibam identificar junto com eles, o que são necessidades de cuidado para a família naquele momento de seu processo de viver.

Maffesoli (2007b, p.201), contribui para a análise:

A isto podemos opor um “terreno” de observação: o do fervilhar existencial da vida de todos os dias. Terreno empírico que induz um realismo transcendental vale dizer, um realismo que integra como compreensão, um imaginário tão presente na interação social. A vida como caminho, uma autogênese fundamental.

Corroborando com a noção de Maffesoli, as famílias precisam que os profissionais possam se colocar em posição de observadores, para poderem estabelecer uma comunicação pautada na troca de experiências, nas vivências passadas, ou seja, na individualidade do momento para todos, famílias e profissionais. Apesar de algumas ações de cuidado da Enfermagem se repetir, o que é aplicável ao processo da Hospitalização, há eventos que requerem bom senso e sensibilidade do profissional para “enxergar” as diferenças. Agindo assim, estes estarão viabilizando um contato mais direto com as famílias e tecendo a proximidade destas relações no dia-a-dia da vivência do quotidiano.

Ainda sobre esta temática, Maffesoli (2007 b, p. 202-203), fundamenta que:

Nestes períodos de mutação, é preciso saber encontrar as noções, as metáforas, as palavras simples que emprenham as coisas. Que fazem sobressair aquilo de que são portadoras. Em suma, saber opor o relativismo da experiência ao absoluto ou ao dogmatismo dos sistemas. O relativismo do aspecto qualitativo do acontecimento. Aquele que funda particularismos.

suas vivências, de suas expectativas em um paradoxo contínuo entre o real e o ideal, sobre o que esperam e vêem no processo da Hospitalização materno-infantil. Em amplo sentido, trouxeram nas duas subcategorias, os significados que se mostraram nas imagens, e que seguindo o processo de análise de discussão dos dados, muitas destas imagens se fizeram presentes também na visão de como percebem o cuidado às famílias no Hospital.

Esta maratona de ações específicas, descritas pelos profissionais da Enfermagem, é comum aos envolvidos no estudo, porém, surge um elemento, a orientação para as mães, as dicas de como é feito o banho, a técnica, os cuidados com o coto umbilical que muitas mães têm muito medo, muito receio. Esta orientação é uma das maneiras que os profissionais encontraram de exercer seu papel de educador no cuidado das puérperas e seus filhos. Relatam que o restante do período é controle de medicação, sinais vitais e, às vezes, têm uma gestante que exige mais cuidados, que precisa de um banho no leito. Faz parte da rotina deles buscar as pacientes no centro obstétrico. A maioria destes profissionais considera a orientação, o forte de sua atuação, como a fala a seguir:

eu vejo mais assim, a minha parte de orientação. Além de todo cuidado que a gente tem com as medicações, tu sabe que aqui são poucas as medicações administradas. Eu vejo mais o nosso trabalho como orientação às mães e seus familiares, que geralmente sempre estão acompanhando. Então eu tento passar para essas pessoas, principalmente para as mães de primeira viagem, que têm muitas dúvidas e têm medo até de pegar no bebezinho.

(Turquesa).

Embora a orientação seja uma forma importante de cuidar, não é a essência do processo de cuidado durante a Hospitalização, e estas podem gerar contradições culturais, dependendo da imagem que o profissional faz entre o ideal e correto para o cuidado do recém nascido, como no caso do Alojamento Conjunto. As orientações podem deixar de ser um instrumento de auxílio para a família e passar a ser preconizações, entendidas pelas famílias como: ordem. A fala abaixo deixa clara esta possibilidade no quotidiano:

Às vezes eu preconizo para a família, que a mãe tem que ter contato com seu bebezinho desde o momento que nasce, desde o primeiro banho, e induzo a mãe a ir junto para ver o banho, a tocar no bebê. As mães têm medo de tocar no bebê na hora do banho, querem tocá-los com gaze. (Turquesa).

Há situações em que as orientações podem produzir o vínculo entre os membros da família nuclear, como a fala abaixo mostra:

Eu sempre digo: “não, toque com a mão”, o bebê vai se sentir mais seguro. Então eu convido o pai para vir junto, às vezes tem uma avó junto. Então eu sempre procuro preconizar, mãe, pai e bebê. Então o nosso serviço é muito mais orientação. (Turquesa)

Neste microssocial, que se mostraram as imagens do quotidiano da Enfermagem para as famílias e os profissionais, elementos de cuidado se mostraram intrínsecos, permeando este universo, o qual não se pode dissociá-lo.

CAPÍTULO 8 - AS IMAGENS DO CUIDADO DE ENFERMAGEM À FAMÍLIA NAS