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CAPÍTULO 7 O QUOTIDIANO DA HOSPITALIZAÇÃO MATERNO-INFANTIL:

7.1.1 O quotidiano se mostrando nas rotinas

As rotinas adquiriram imagens significativas aos profissionais da Enfermagem da área materno-infantil, simbolizando, ou caracterizando, a maneira de viver destes profissionais, o seu quotidiano de cuidado. Sabem que a repetição é natural ao quotidiano, ou como diz Maffesoli (2007 a, p. 41):

obras em caracteres maiúsculos e minúsculos, do qual, se deve dar alguma conta. Ainda que para tanto, seja necessário contentar-se em trocas de leve, em afagar contornos, em adotar um procedimento desenvolto. [...] retroa- limentação constante entre forma e empatia.

As rotinas, apesar de ter um significado socializado no senso comum como algo chato e repetitivo, “aquilo que se faz sempre, do mesmo modo”, também é reconhecida como uma forma de organização do serviço da Enfermagem. Em uma análise paradoxal, aos olhos de alguns profissionais, ora a rotina é vista como igual à noção de quotidiano, e, outras vezes, como parte dele. Assim, repousa sobre a rotina, a possibilidade de descrever o quotidiano dos profissionais de Enfermagem através de imagens relacionadas a ela.

Nas imagens trazidas pelos profissionais da equipe de Enfermagem da Pediatria, da Neonatologia e Alojamento Conjunto, estes apontam para a imagem de que o quotidiano tem as rotinas como parte de sua conjuntura. Estas são expressas pelos profissionais através da descrição de como é a rotina deles.

NA UNIDADE DE INTERNAÇÃO PEDIÁTRICA...

O quotidiano em Pediatria envolve: a passagem de plantão, a leitura do livro de intercorrências para ver quem é o paciente mais grave antes da visita aos quartos, bem como, a divisão de pacientes que ocorre entre os técnicos e auxiliares de Enfermagem. Divisão esta que é responsabilidade destes, apenas informando ao enfermeiro. Mais tarde há o momento de fazer a metodologia de Enfermagem:

sentar o bumbum na cadeira e escrever, escrever, escrever, tentar pensar o máximo possível. (Shimú).

Essencialmente, para alguns enfermeiros, o quotidiano possui a imagem de uma coisa chata, rotineira, o que leva a pensar que estes confundem a noção de quotidiano sob o prisma do senso comum como já citado. Mas, apesar de identificarem que a rotina é parte, ou o próprio quotidiano do quotidiano, estes profissionais mantêm o sentimento de felicidade por trabalharem na área em que gostam e com as pessoas que gostam. Este sentimento a respeito da convivência em grupo, de realizar sua profissão com amor é mais um elemento constitutivo do quotidiano. Embora saibamos que, em muitos momentos, o estresse profissional seja alto e traga alguns momentos de desencantamento com o que fazem, parece

que o quotidiano, com todos estes elementos enredados, acaba estabelecendo uma tensão conflitual, dita por Maffesoli (2007a, p. 41). Nesta, o profissional vai se transformando com o tempo, opera mudança de valores e aprende a “saber ouvir o mato crescer, isto é, estar atento a coisas simples e pequenas. Gerir o saber estabelecido e atinar com o que está prestes a nascer. É uma harmonia conflitual”. É quando o profissional se apaixona novamente pelo seu quotidiano, remetendo-nos ao reencantamento do mundo trazido por Maffesoli.

Vale ressaltar que, entendo rotinas, como ações que ocorrem diariamente, sendo já esperadas pelos profissionais. É uma necessidade de organização da prática do cuidado no âmbito Hospitalar, de modo que seja possível a atenção para as individualidades, as características expressas por cada família, às necessidades expostas. A rotina só possui prioridade dentro do quotidiano de cuidado no Hospital, quando consideradas as complexidades do ser humano e do ambiente em que este se situa.

Gadotti (2003, p. 24), ao trazer a temática de aproximação entre rotina e quotidiano, provoca-nos, comentando que é no “cotidiano que podemos aprender a nos olhar, aprender a falar, a ouvir, ver, a viver uma vida banal ou não. A banalidade está em não reconhecer o valor de cada instante, a só atribuir valores aos grandes momentos, aos momentos heróicos da vida”. Concordo com a fala deste autor, pois foi possível vislumbrar estas nuanças nos relatos dos profissionais e das famílias, a ordem da valorização que estabelecem de acordo com a vida de cada pessoa, de sua compreensão de mundo, sua cultura e seu entendimento entre o que é ser e o que é ter.

Neste sentido, as rotinas que caracterizam as atividades que os profissionais realizam em suas Unidades, e que foram descritas claramente pelos profissionais da Pediatria e do alojamento conjunto, é comum a outros estudos que abordaram, de maneira indireta, o dia-a- dia da Enfermagem em um Hospital pediátrico. Boehs (2002), relata que, ao observar um dia da equipe de Enfermagem, eventos como a passagem de plantão, com informações compartilhadas antes nos corredores, na passagem de plantão oralmente, depois e antes de os profissionais terminarem seus turnos. As rotinas estão presentes no quotidiano da Enfermagem e acontecem todos os dias, repetindo-se, dando-nos a impressão de que ocorrem de maneira semelhante, e que apenas as informações são diferenciadas.

Na verdade, aqui, encontramos com o mito do eterno retorno; há a volta, a repetição, mas de um modo diferente. Este diferente é, justamente, a singularidade de cada ser humano, de cada família, na sua especificidade do viver e do conviver. É e assim que as informações se mostram diferenciadas, pois, afinal, nos falam de seres únicos, plurais, multidimensionais e

complexos.

As atividades de cuidado às crianças também são análogas às encontradas neste estudo, segue-se o banho, as medicações, as passagens de visita médica e deEnfermagem, há preocupação com a alimentação, as copeiras são mencionadas. Enfim, compartilham de rotinas semelhantes. Percebe-se assim, que na formação de Enfermagem, em todas as categorias, existe um ensino para que a rotina se coloque como elemento constitutivo do cuidado de Enfermagem. Seria para evitar que elementos importantes deste cuidado sejam negligenciados? Isto nos remete a idéia já trazida por outros autores como Rezende (1995), Erdmann (1995), Nitschke (1995), inspirados em Maffesoli, esta repetição também traz segurança, dizendo que “apesar de tudo e depois de tudo”, estamos ali, repetindo, ou seja, continuamos vivos! Pois só repete quem continua vivo!

Maffesoli (1988, p. 194), refere que o quotidiano pode nos mostrar:

Manifestações por meio da fala, do riso e do gesto, os quais se esgotam nos próprios atos, que impregnam o dia-a-dia, os quais são vividos no presente e nele se esgotam. É a “ética do instante”, ou seja, é o aqui e agora.

Para ilustrar o que Maffesoli (1988, p.194) relata sobre a “ética do instante”, do aqui e agora que também se ancora na “ética do emocional”, trago a fala de Lápis Lazúli:

Hoje, por exemplo, teve uma única internação. Então o que eu fiz? Conversei uma porção com uma mãe que chegou, uma menina de 17 anos, uma menina que está vindo pela primeira vez para Florianópolis internada, de Bom Retiro. (Lápis Lazúli).

Em relação à “ética do emocional”, aquela que diz que fazemos nossas escolhas movidos por nossas emoções e sentimentos, vale trazer o exemplo abaixo, registrado na fala de Shimú. É a afirmação do sentimento de amor pela escolha da Enfermagem pediátrica de uma das enfermeiras que participou do estudo:

E apesar dos “vinte e lá vai fumaça” de Enfermagem, vinte e cinco anos agora esse ano e vinte anos de Pediatria, eu continuo tão apaixonada como no começo. Bom, eu trabalho no que eu gosto, com pessoas que eu gosto. Escolhi da maneira mais inesperada possível, eu adoro Pediatria, não era a minha praia, era o que eu achava pelo menos. (Shimú).

acima. A escolha realizada pela profissional há 25 anos, porém, a escolha que determina o hoje, no aqui e agora, sua postura, sua maneira de viver, enfim, este quotidiano de cuidado de Enfermagem na Pediatria, gostando do que faz e trabalhando com quem se gosta é uma forma de estar saudável e viver com amor e sensibilidade este instante.

Nas imagens trazidas pelos técnicos e auxiliares de Enfermagem há similaridades com as imagens dos enfermeiros, em muitos momentos dos relatos, quando descrevem como é o seu quotidiano na Hospitalização em Pediatria. Estes relatam as rotinas, bem como, a quebra destas rotinas, enfim, as múltiplas facetas que consideram importantes em seu quotidiano profissional. É presente no quotidiano destes profissionais a passagem de plantão, com algumas nuanças que se destacam diferentes das imagens dos enfermeiros. Para os técnicos de Enfermagem, este possui três momentos, ou seja: as informações que recebem nos corredores pelos colegas que estão retornando para suas casas; as informações passadas pelo enfermeiro que possui esta atribuição formal instituída, e depois do plantão, quando se deparam com a realidade, descritas por estes como a fala a seguir:

Crianças graves, doentes não de doença, mas de carinho. (Pérola Negra).

As imagens de cuidado nascem também no momento em que os profissionais estão realizando suas rotinas. A passagem de plantão, somente, não dá conta de mostrar a realidade da situação de cada criança, cada família. É preciso olhar nos olhos, buscar reconhecer o que cada um necessita de cuidado. A fala acima destaca bem esta imagem, quando relata, que às vezes, a criança não está doente de doença, mas de carinho. Como relatam os profissionais, “as famílias podem não saber o que é carinho”, pois talvez não tenham tido significativa- mente o suficiente, mas sabem e reconhecem o calor de um olhar que a identifica e se coloca ao seu lado.

Estas imagens nascem no quotidiano, estando interligadas aos elementos que o compõem e são percebidas pelos profissionais quando estes estabelecem interações com as crianças e suas famílias e se colocam na posição de “olhar e ver realmente o que se mostra”.

Maffesoli (2005, p. 125-6), refere que:

Admite-se hoje que a aparência, a superficialidade, e a profundidade da superfície, estão na ordem do dia. [...] pode parecer paradoxal dizer que o mundo visível existe, ou ainda, é banal indicar que a imagem está onipre- sente no social. Contudo, raras são as análises que retiram toda a lógica des- tas constatações. Tão poderoso é o fantasma da autenticidade, tão enraizado está, a preocupação intelectual de procurar a verdade além do que se vê.

A maioria dos técnicos e auxiliares de Enfermagem compartilham destas imagens de rotina em Pediatria. Definem, claramente, que há uma rotina de cuidado, e que esta já é instituída pelo Hospital, estando bem articulada. Creio que esta “articulação” trazida pelos profissionais está relacionada à organização, o respeito no auxílio entre os colegas de turno e também com as famílias.

A motivação destes profissionais é o cuidado de crianças, que é um ser diferente de se trabalhar, uma vez que envolve mais carinho, atenção, muita criatividade, levando-os paradoxalmente a sair das rotinas pré-estabelecidas. Seguir esta rotina da Unidade que é: pegar a passagem de plantão, conhecer a criança pelo nome, “tirar” as medicações prescritas pelo médico e os cuidados de Enfermagem, são eventos de responsabilidade definidos e aceitos pela importância que possuem. Porém, quando chegam aos quartos das crianças, conhecem-nas, e se apresentam para elas e para o acompanhante, acreditam que estejam diante de um diferencial das demais Unidades do Hospital, pois lidam com crianças e as mesmas exigem muito mais que um adulto, quebrando, muitas vezes, as rotinas.

Quando os profissionais elegem prioridades entre os seres que cuidam, são capazes de burlar normas, decisões médicas entre outras. Além do mais, os profissionais da Enfermagem escolheram que trabalhar com crianças é diferente, “exige mais criatividade.” Parece-me que este “ser diferente de trabalhar”, desperta a criança interior que todos temos dentro de nós, e devido às convenções sociais, evitamos dar-lhe espaço para que se manifeste. Deste modo, ao cuidar da criança, a equipe se apóia na prática do lúdico, brinca mais, permite-se utilizar de meios criativos como desenhos, roupas com bordados de motivo infantil, brinquedos pendurados no jaleco, filmes, joguinhos, caracterização para as festas temáticas, e outras formas de estarem mais próximos do mundo da criança.

Winnicot (1982), discorre que a brincadeira proporciona a formação de relações emocionais e, conseqüentemente, o desenvolvimento de contatos sociais. O que é possível compreender segundo as imagens trazidas pelos profissionais. Nestes momentos, parece haver um cuidado mais expandido, livre de amarras, o que confere liberdade para a abordagem da criança, e sua conquista no processo de cuidado. Maffesoli (1995, p.130) diz que: “A potência da mágica da imagem é essencialmente uma potência de agregação, de fascinação. Ela cria o mistério que tem por função unir os iniciados entre si, favorecer o reconhecimento daqueles que assim sentem”.

A imagem do ser criança leva à força, à imaginação do que se pode criar para que ela ultrapasse os limites da Hospitalização, e possa retornar ao seu lar com o menor estresse

possível desta experiência. É a chamada razão sensível como meio para cuidar. Bellato, em sua tese de doutorado, encontrou algo próximo desta constatação que se apresenta como imagens do quotidiano profissional que cuida de crianças. As regras abrem suas portas para o lúdico, a criança é compreendida pelas pessoas de modo geral, como um ser para brincar, se divertir, ser alegre. A Hospitalização poda estas necessidades infantis, mas alguns profissionais sentem prazer em quebrar estas regras e brincar junto com as crianças.

Bellato (2001, p. 89), relata que:

O lúdico, sendo dimensão imanente ao viver humano, precisa ser melhor compreendido, pois não é o fato de “se fazer nada”, de “descansar” que o torna prazeroso, e sim, o fato de ser uma escolha, entre tantas possíveis, feita pela própria pessoa, não podendo ser imposto.[...]o lúdico também só ganha sentido na comunhão, na partilha, na socialidade.

O dia-a-dia, na fala dos profissionais, é o espaço para dar atenção para os dois lados, ou seja, é o presenteísmo com suas “pequenas coisas, pequenos eventos”, mas que faz a diferença no quotidiano das pessoas, das famílias, dos profissionais. As rotinascomo pegar o plantão é um ponto de partida para saber o que virá pela frente, pois consideram que o trabalho da Enfermagem é uma continuidade. Esta continuidade é uma fonte geradora de forças, pois tanto para os profissionais, como para as famílias, o poder do instituído pode dificultar a capacidade de se compartilhar o lúdico, a estética da vida Hospitalar, não apenas para “tratar uma doença”, mas sim um quotidiano, onde perpassem estes aspectos inerentes ao viver e que são respiradouros para todos.

Os profissionais técnicos seguem sempre a ordem de “retirar” as medicações, para não perder a rotina, depois se direcionam aos quartos, vêem as crianças que ficaram sob sua responsabilidade na divisão de pacientes, como já relatado pelos enfermeiros. Eles ressaltam que este momento é para ver como a criança está, conferem se estão como foi passado no plantão, conversam com as mães ou acompanhantes, “retiram” da prescrição de Enfermagem médica os cuidados que a criança irá precisar através da metodologia de assistência.

Faz parte do quotidiano pediátrico, assim como nos demais espaços, conhecer as mães, chamá-las pelos nomes, marcando-os ao lado do nome da criança. Na Pediatria, esta prática ocorre nas visitas após o recebimento do plantão; Depois, as prioridades são vistas e determinadas e, em seguida, os profissionais realizam os encaminhamentos. A passagem de visita tem como finalidade saber se estão sendo bem tratados, se estão precisando de alguma coisa. Em situações ocasionais, os enfermeiros relatam que as mães brigam umas com as

outras, deixando a Unidade um pouco tumultuada e como ações para amenizar este tipo de evento na Unidade, procuram fazer com que as mães e suas crianças se sintam confortáveis, amenizando os problemas através de conversa. Às vezes, os enfermeiros não conseguem esse vínculo, e estas brigas que acontecem no dia-a-dia das Unidades, é considerada, por eles, como uma culpa por não terem feito a acolhida correta destas famílias.

A falta de diálogo, ou conversa, considerando que, a meu ver, ambos se mostram como troca entre interagentes, e não um monólogo, o que pode ser entendido como a linha de união entre profissionais e famílias, haja vista que, estes dizem que se não houve conversa, abertura para a exposição dos sentimentos, pode-se evidenciar que este aspecto leve as distensões entre os profissionais e as famílias.

É interessante observar nas descrições dos profissionais acerca do quotidiano, que estes possuem preocupações que são afins, seguem uma base para a imagem do quotidiano que deixaram emergir em suas falas: buscar conhecer a criança a partir de seu olhar, se o que lhes foi passado é a realidade da criança; o nome das mães; identificarem as prioridades; enfim, todas as ações que fazem, a partir da passagem de plantão, mostra o quanto são responsáveis e desejam cuidar bem das crianças e de quem as acompanha. Isto reforça o que tenho dito desde o nascimento do projeto desta tese: estes aspectos vêm ao encontro da afirmação sobre o fato de o foco da assistência ainda não ser a família, mas sim, a criança. Penso que neste momento em que se enfoca o quotidiano da Hospitalização, pode-se levantar que a preocupação com a família, principalmente, dirigida à mãe, já aparece, mas como contexto já que o foco é a criança!

Os profissionais falam em acolher a família, e em várias situações vivenciadas no campo de pesquisa, pude observar que no quotidiano destes, é possível identificar que tentam realizar este acolhimento, principalmente, quando as famílias chegam, mas este se dá de forma rápida e incipiente. Entretanto, ao longo da estadia no Hospital, este acolhimento parece se diluir em doses homeopáticas, no dia-a-dia, e este vínculo vai aumentando, de acordo com o tempo de permanência da criança no ambiente de Hospitalização.

Dependendo do profissional de Enfermagem, as mesmas atividades são “olhadas” por ângulos diferentes, com outras imagens de um mesmo evento. Na visão de uma das profissionais entrevistadas, a passagem do plantão significa conhecer como foi a dinâmica da criança no dia anterior. Por trabalhar no período noturno também, crê na fidedignidade dos dados que estão sendo passados e anota tudo. Refere que, se caso não consiga pegar o plantão completo, não se sente bem. O fato de escrever tudo, segundo ela,

é para eu, se alguém perguntar, eu lembrar tudo de cabeça. (Jade).

Na idéia destes profissionais, a passagem de plantão tem uma importância tal que se sentem desrespeitados quando desejam ouvir o plantão e alguns colegas não respeitam este momento de troca de informações que é o que determina a continuidade do processo de cuidar. Muitas vezes, este desrespeito dos colegas se torna motivo de discussões. A passagem de plantão fornece informações indicando o tipo de cuidado que precisa ser dado à criança. A fala de Jade reflete bem esta preocupação:

Então eu gosto sempre de escutar, porque eu acho que quando eu “tô” falando eu também gosto de ser escutada, então é um retorno que eu dou à pessoa, estou atenta, escutando e olhando e então eu vou saber quais os cuidados que eu vou dar à criança. (Jade).

Esta preocupação, trazida pelos profissionais de Enfermagem, infere que a continuação da rotina em retirar as medicações, dar banho, alimentar a criança, pode se transformar em algo definido por eles como “um cuidado que a gente tem que fazer e, às vezes, é diferenciado”, ou seja, as mudanças nas ações de rotina podem ser diferenciadas em função da particularidade de quem estão cuidando. Este cuidado diferenciado vem corroborar com as rotinas que são existentes e necessárias, mas que dentro deste cenário, há situações em que estas precisam ser modificadas para almejar a necessidade da criança. É o momento dos conciliáveis, quando o profissional percebe que neste mundo de rotinas que, por vezes, julgam ser difíceis de burlar, quando há a lógica sensível, sem deixar de realizar seu papel profissional com responsabilidade, respeitando os princípios científicos, é possível desenvolver um cuidado de Enfermagem capaz de atender as diferenças do ser humano.

Maffesoli (2005 a, p. 81-82), afirma que:

Basta portanto, atentar para os sinais do tempo, para ver que nossas sociedades são animadas, de modo orgânico, pelo jogo das imagens, e que podemos caracterizá-las, de várias maneiras, por um estilo que acentua ao mesmo tempo à estética, o quotidiano e o comunicacional, ou o simbólico. [...] antes de extrair as conseqüências epistemológicas de tal constatação,