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3.4) Políticas públicas de divulgação científica

4. Fontes de financiamento

Ao se formular uma proposta de programa voltado para a popularização da C&T, um dos aspectos importantes é a análise das possíveis fontes de financiamento. Para a execução de tais ações, podem ser relacionadas com possíveis financiadores:

o Governo Federal (MCT, MEC), agências de fomento e empresas estatais; emendas parlamentares;

secretarias de CT estaduais e municipais e FAPs;

setor privado: apoio direto ou uso da Lei de Inovação e da Lei Rouanet; apoio de organismos internacionais (MOREIRA, 2006, on line).

Posteriormente, as diretrizes para difusão e popularização da C&T foram incorporadas ao Plano de Ação de Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento 2007-2010, conhecido como PAC da Ciência, lançado em 2007 pelo ministro de C&T, Sergio Rezende. Sua esfera de ação foi alocada no quarto eixo estratégico do Plano, que trata de ―Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Social‖. Nesse segmento, as ações para popularização da Ciência estão designadas pela linha de ação ―Popularização de C,T&I e Melhoria do Ensino‖, que tem os seguintes objetivos:

Contribuir para o desenvolvimento social do país, promovendo a popularização da C,T&I e colaborando para a melhoria da educação científico-tecnológica e de inovação, por meio de: apoio a programas, projetos e eventos de divulgação científico-tecnológica e de inovação; realização anual da Semana Nacional de C&T, com ampliação do número de cidades abrangidas; estabelecimento de cooperação internacional para a realização de eventos de educação e divulgação científico- tecnológica e de inovação; criação e desenvolvimento de centros e museus de ciência; desenvolvimento de programas de educação científico-tecnológica e de inovação, em colaboração com o MEC, como olimpíadas de matemática e de ciências, feiras de ciências; produção de material didático inovador e de conteúdos digitais na internet para apoio a professores e estudantes e para divulgação científico-tecnológica e de inovação mais ampla (MCT, 2010, on line).

Esta linha de ação prevê, ainda, as seguintes ações:

1. Apoio a Projetos e Eventos de Divulgação e de Educação Científica, Tecnológica e de Inovação

2. Apoio à Criação e ao Desenvolvimento de Centros e Museus de CT 3. Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas – OBMEP 4. Conteúdos Digitais Multimídia para Educação e Popularização da CT

5. Implementação e Modernização de Centros Vocacionais Tecnológicos (MCT, 2010, on line).

158 Em 2010, o tema voltou a ser abordado, desta vez durante a 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, cujo programa incluiu um eixo dedicado à Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Social. Neste segmento, além de questões relativas à Educação, Saúde e qualidade de vida da população, foram debatidas estratégias para ampliar o acesso ao conhecimento e construção de uma cultura científica.

Em linhas gerais, permaneceu o consenso de que, apesar do avanço alcançado nos últimos anos, principalmente no que diz respeito ao número de espaços científico-culturais, o Brasil ainda está longe de conduzir à popularização da CT&I e à sua apropriação em níveis adequados. E, mais uma vez, estabeleceram-se os desafios a serem enfrentados:

promoção de uma presença mais intensa e mais qualificada da C,T&I em todos os meios e plataformas de comunicação;

ampliação e melhoria da rede de espaços científico-culturais;

formação de pessoal especializado em comunicação pública da ciência;

elevação dos recursos disponíveis para a divulgação da C,T&I, com estímulo aos pesquisadores para exercer tais atividades e sua valorização acadêmica;

atração de jovens de todas as camadas sociais para carreiras científicas e tecnológicas;

valorização e difusão do patrimônio histórico brasileiro e a constituição de uma política nacional para a preservação do patrimônio cultural da C&T;promoção e ampliação do debate sobre a diversidade dos conhecimentos e a necessidade da interculturalidade na relação entre os conhecimentos científicos e os denominados conhecimentos tradicionais;estabelecimento de um programa nacional de popularização da C,T&I que envolva os atores significativos (BRASIL, 2010, on line)

Os participantes do debate defenderam, ainda, a criação de uma Rede Nacional de Popularização da Ciência, Tecnologia e Inovação, o que, aliás, já vem sendo cogitado há pelo menos dez anos sem nenhuma medida prática até o momento. Pela proposta, a rede seria coordenada pelo MCT e contaria com a participação de outros ministérios, como o da Educação e o da Cultura. A conexão com outras pastas Governo, além de ampliar o alcance da rede, garantiria uma parcela maior de recursos para viabilizar seus projetos. Além da Rede Nacional de Popularização da Ciência, Tecnologia e Inovação, foi discutida, também, a interação entre cientistas e outros setores da sociedade.

Esse mesmo eixo incluiu discussões sobre C,T&I e educação, tendo em vista a necessidade premente de melhorar, e muito, a qualidade do ensino básico, em particular no que

159 concerne à educação em ciências e matemática, necessidade evidenciada pelo limitado desempenho médio dos estudantes brasileiros. Dentre os principais desafios educacionais discutidos no âmbito da 4ª Conferência, destacaram-se:

a promoção do ensino de ciências de qualidade desde a primeira infância, valorizando a curiosidade, a experimentação e a criatividade;

a colaboração do Sistema Nacional de C,T&I com o Plano Nacional de Educação 2011-2020, em metas como a ampliação da escolarização obrigatória e a escola pública em tempo integral;a enorme carência de professores qualificados de ciências e matemática na educação básica; a inovação na área educacional, com o desenvolvimento de novas

metodologias e materiais didáticos;

a ampliação e melhoria das feiras de ciências, olimpíadas e atividades similares, e a expansão dos programas de iniciação científica para alunos da educação básica;a contribuição das Tecnologias de Informação e Comunicação para a melhoria da educação, inclusive com o uso adequado da educação à distância;

a educação ambiental para um mundo sustentável (BRASIL, 2010, on line).

3.4.1) Menos ofertismo e mais participação

Todas as ações elencadas até aqui descrevem iniciativas importantes visando à popularização da C&T no país. Entretanto, em que medida a criação do DEPDI aponta para a consolidação de uma política de Estado nesse terreno? E até que ponto as propostas apresentadas por esse Departamento contribuem, de fato, para reduzir a exclusão social dos brasileiros?

Numa análise critica a respeito da criação e atuação do DEPDI, Dagnino, Lima e Neves (2008) observam que as políticas públicas podem ser entendidas como programas de ações que representam a realização concreta de decisões do Estado no sentido de induzir mudanças na sociedade. Apesar de terem como objetivo central gerar mudanças na sociedade, as políticas públicas não resolveriam problemas, mas ajudariam a construir um marco para sua redefinição e para a busca de soluções pelos atores sociais.

A entrada de um tema na agenda política ou pública ocorre quando o governo passa a priorizá-lo como um problema público e o considera passível de ser transformado numa política pública. Os problemas que farão parte da agenda são escolhidos por indivíduos ou grupos que possuem poder suficiente para influenciar as decisões do governo na configuração da agenda (Sánchez, 2006). Essas considerações sobre Análise de Políticas, ainda que sumárias, são suficientes para abordar o processo de

160 elaboração das ações relacionadas à difusão e popularização da C&T empreendidas nos últimos anos (DAGNINO, LIMA; NEVES, 2008, on line).

Com base nesses referenciais teóricos, os autores concordam que a criação de uma estrutura formal dentro do Governo para tratar da popularização da C&T, no caso o DEPDI, bem como as ações implementadas desde o início do seu funcionamento, podem ser tomadas como um indício de que o tema foi aceito como um problema incorporado à agenda pública:

Sabemos que a criação de um departamento pode não se traduzir em ações concretas que ajudem a solucionar o problema da difusão e divulgação da C&T. E que inserção do tema em uma linha do Plano de Ação, que ainda não transpôs os obstáculos das aprovações orçamentárias não significa muito. Apesar disso, consideramos que essas ações, por constituírem um indicativo da existência de um compromisso público, podem ser consideradas uma política pública (DAGNINO; LIMA; NEVES, 2008, on line).

Também não há dúvidas, segundo os autores, de que os principais formuladores da atual política de popularização da C&T são membros da própria comunidade científica com ―olhar sensível‖ para a questão. O principal indicativo disso é o fato de a proposta para criação do DEPDI ter partido do MCT e não de outros ministérios, muito embora a questão ultrapasse os limites da C&T. ―A identificação desses atores é importante porque é a partir de suas concepções, de como percebem e quais relações causa-efeito estabelecem, que será construída a representação do problema‖.

Os autores também chamam atenção para o fato de o tema ter entrado para a agenda política sob a perspectiva da inclusão social. Nesse caso, ter acesso ao conhecimento básico sobre a Ciência e seu funcionamento daria aos brasileiros condições de entender seu entorno, ampliar suas oportunidades no mercado de trabalho e atuar politicamente com conhecimento de causa. Está claro, portanto, que o principal fundamento da política adotada não é a cultura científica como um fim em si mesmo, e sim como um meio para a consolidação da cidadania em níveis mais abrangentes.

Por outro lado, os autores destacam que os baixos índices de popularização da Ciência fariam parte de um contexto mais amplo, no qual pesam de forma significativa a renda familiar e o nível de escolaridade da maior parte da população. A conexão entre esses

161 fatores ficou clara na pesquisa sobre Percepção Pública da C&T realizada pelo MCT em 2006, cujos resultados mostraram que o interesse por C&T aumentavam conforme subiam a renda e a classe social dos entrevistados.

A contextualização da necessidade da popularização da C&T no Brasil dentro de uma ―visão global‖ da exclusão social e má qualidade da educação, em princípio, pode apontar para um direcionamento adequado. Ao buscarmos estabelecer uma relação causal entre esses ―três problemas‖ – exclusão, ensino de má qualidade e falta de conhecimento sobre C&T – notamos que a falta de conhecimento sobre C&T é tomada como uma conseqüência da situação de exclusão sócio-econômica e educacional na qual grande parte da população brasileira se encontra. Poderíamos pensar, então, na questão da popularização da ciência e tecnologia como um problema que tem sua origem em dois outros ―problemas maiores‖ e permanentes na agenda pública (MOREIRA, 2006, on line).

Para os autores, apesar dos avanços alcançados, as políticas na área devem buscar uma interface mais sólida entre Educação, C&T e Popularização da Ciência. A inserção da maioria da população brasileira na chamada cultura científica será possível apenas num horizonte no qual se pense essa política a partir das relações entre Ciência, Tecnologia e Sociedade, buscando a inclusão e repartição do poder decisório nas questões de C&T.

As ações e propostas atuais do DEPDI estão relacionadas, fundamentalmente, a um suporte não formal ao ensino formal, como a criação e ampliação de museus de ciência e Oficina de Cultura e Arte (OCAs), e a promoção de eventos como Olimpíadas e Semana de C&T. Parecem visar, principalmente, a uma espécie de modernização técnico-metodológica do ensino formal (uso de internet, vídeos, etc) e estar orientadas a promoção de momentos de contato com a C&T. Em nossa análise, essas PPs precisariam ser complementadas com medidas mais estruturadas dentro do próprio sistema de ensino formal, como as mencionadas anteriormente, e ações em capacitação profissional para um trabalho de popularização alinhado a perspectiva dos ECTS e inclusão social (DAGNINO; LIMA; NEVES, 2008, on line).

Os autores lembram que, no contexto da quarta linha de ação do Plano de Ações 2007/2010 do MCT, denominada ―C&T para o Desenvolvimento Social‖, a popularização da C&T, detêm apenas 2% do total de gastos previstos. Dentro dessa linha, a ação voltada à popularização e melhoria do ensino de ciências deve contar com 30% dos recursos previstos, que serão divididos da seguinte forma: 20% para o ―Apoio a Projetos e Eventos de Divulgação e de Educação Científica e Tecnológica‖; 20% para ―Apoio à Criação e Desenvolvimento de Centros e Museus de C&T‖; 24% para ―Conteúdos Digitais

162 Multimídia para Educação Científica e Popularização da C&T na Internet‖; e 36% para ―Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas‖. Mesmo considerando adequada a implantação de uma política de popularização da C&T pela perspectiva da inclusão social, os autores fazem ressalvas quanto às medidas adotadas até o momento. Segundo eles, as ações desenvolvidas pelo DEPDI ainda parecem fortemente influenciadas pela ideia de que a falta de compreensão do público sobre C&T poderá ser sanada com maior exposição do público aos ―encantamentos da ciência e tecnologia‖. ―Existem poucas iniciativas próximas às ambições do modelo democrático realmente vinculadas a uma proposta de ampliar a participação pública na ciência‖.

Segundo os autores, para atuar nesse sentido é preciso que as ações de popularização da C&T sejam pensadas e implementadas a partir de uma visão crítica do papel da comunicação pública da Ciência, e não apenas mediante a disseminação ou ofertismo de informações e conhecimentos científicos para o público. O objetivo dessa conjunção é estimular o entendimento do cidadão sobre o contexto científico e tecnológico de modo que seja capaz de enxergar suas implicações na economia, na cultura e na política.

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CAPÍTULO 4