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4.2) Revista Ciência e Cultura: caixa de ressonância para iniciados

Uma das características da SBPC é que a entidade sempre procurou dar publicidade aos debates em que esteve envolvida no cenário científico e político. Para isso, além das reuniões anuais, outro instrumento estratégico adotado são as publicações criadas pela instituição. Desde o início, a ideia era fazer da comunicação científica um meio de mobilização popular para defender os interesses do setor e avançar nas causas sociais.

A revista Ciência e Cultura, criada em abril 1949, um ano depois da fundação da SBPC, foi a primeira publicação lançada pela entidade. José Reis foi seu idealizador, dirigindo-a por dois longos períodos: o primeiro, de 1949 a 1954; o segundo, de 1972 a 1985.Inicialmente, a revista foi financiada pelo empresário Francisco Pignatari. Em seu primeiro número, o editor fazia a seguinte apresentação:

«Ciência e Cultura», que hoje se apresenta ao público científico e a todos os que se interessam pelos problemas da Ciência, é o órgão da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Aparecerá quatro vezes por ano, com artigos e notas originais, além de variada informação que sirva para difundir não só os conhecimentos que a Ciência vai acumulando, mas também os dados relativos à projeção desses conhecimentos na sociedade. Espera ainda a revista, como órgão que é da SBPC, servir de aproximação dos cientistas entre si, e destes com o público, entre todos desenvolvendo forte e indispensável sentimento de solidariedade e compreensão. Antes de terminar esta apresentação, é com prazer que a SBPC registra que «Ciência e Cultura» pôde tornar-se realidade, graças à compreensão do industrial Francisco Pignatari, que para isso concedeu à SBPC uma subvenção anual de Cr$ 50.000,00 (SOCIEDADE...1949, Nº 1, p. 2)

169 Além do editorial, o primeiro número incluía uma carta que havia sido enviada ao governador de São Paulo, intitulada ―Apelo em favor das bibliotecas científicas do Estado‖. Era o primeiro indício de que a SBPC pretendia tornar públicas todas as questões de interesse da comunidade científica e que dependiam de políticas públicas:

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência resolveu formular um apelo ao Sr. Governador do Estado, em favor das bibliotecas científicas do Estado de São Paulo, cuja situação tornou-se angustiosa com a decisão de incluir revistas científicas na lista de material permanente, cuja aquisição ficou proibida por circular do Governo do Estado. Por duas razões a decisão governamental pode vir a constituir um dano irreparável para os Institutos científicos é Universidade: 1º) As aquisições da ciência mundial deixarão de atingir os nossos cientistas através dos caminhos mais autorizados, passando os cientistas a dependerem de notícias de segunda mão, para a orientação dos seus trabalhos de pesquisa e de aplicação; 2º) a interrupção das assinaturas abrirá uma brecha irreparável nas coleções de revistas existentes em São Paulo, porquanto é limitada a tiragem das mesmas e dificilmente poderão ser adquiridos os números atrasados; a aquisição desses últimos passará a depender de buscas em casas de livrosusados (APELO EM...1949, p. 3)

Figura 1: edição nº 1 de Ciência e Cultura, 1949

170 Além do apelo ao governador de São Paulo, na seção Comentários, o primeiro número trazia a reprodução de uma entrevista concedida pelo físico Cesar Lattes a um jornal carioca. Lattes, que dois anos antes ficara mundialmente conhecido por ter descoberto uma nova partícula atômica, o méson pi, abordava as condições do cientista no Brasil, como ilustra esse trecho do texto:

Os nossos cientistas encontram grandes dificuldades para se entregarem às pesquisas, não só pela falta de laboratórios, mas por não perceberem o suficiente para viver. Professores de universidade não ganham na base de tempo integral. Acontece que para obterem o suficiente, depois de suas aulas precisam ensinar em ginásios ou funcionar cm escritórios de engenharia. Isso já não acontece nos Estados Unidos. Os professores são integralmente mantidos pelas universidades, às quais se entregam de corpo e alma. O «tempo integral», velho projeto brasileiro, deve ser aprovado pela Câmara. E' importante para o país que os professores possam ficar em seus laboratórios, sem se preocuparem com o preço das cebolas ou das batatas. Vejam o que aconteceu nos Estados Unidos: os grandes cientistas europeus foram atraídos ao país e hoje ensinam nas universidades. Tudo lhes foi oferecido, inclusive a cidadania. (ORGANIZAÇÃO DA...1949, p.3).

O conteúdo editorial do primeiro número também era composto de onze artigos sobre pesquisas científicas, entre eles um estudo sobre a biologia das saúvas, assinado pelo biólogo M. Autuori. O texto vinha recheado de ilustrações, como mostra o trecho abaixo:

O sauveiro é povoado por uma fêmea (rainha ou içá) - única fonte de ovos da colônia - e por elevado número de formigas operárias que constituem várias castas, principalmente caracterizadas pelo seu tamanho, e, em certas épocas do ano, também por um grande número de novas formas aladas, sexuadas, os machos e fêmeas virgens. Essas últimas são as futuras rainhas ou içás fundadoras dos novos sauveiros (AUTUORI, 1949, p. 4-11).

Figura 2: ilustração de artigo de M. Autuori publicado na Ciência e Cultura

171 A trajetória da publicação registra duas reformulações. Em 1991, a partir do volume 43, tendo como editor Luiz Rodolpho Travassos, passou a ser editada bimestralmente, em inglês. Posteriormente, em julho de 2002, (ano 54, número 1) iniciou a sua terceira fase, a atual, deixando de ser Ciência e Cultura para tornar-se Ciência e Cultura – Temas e

Tendências, totalmente em português.

Atualmente, a página oficial de Ciência e Cultura na internet informa que a sua linha editorial visa contribuir para o debate dos grandes temas científicos da atualidade e atrair a atenção das novas gerações de pesquisadores para uma reflexão continuada sobre tais temas. Informa, ainda, que sua missão é:

Atuar na difusão e divulgação científica e também no cenário das grandes questões culturais de nossa época, identificando tendências e abordando temas próprios do conhecimento e da dinâmica de suas transformações culturais, científicas e tecnológicas (SBPC, 2010, on line).

De periodicidade trimestral, seu espaço editorial é dividido em quatro áreas: núcleo temático, onde são publicados artigos com diferentes enfoques sobre um tema específico; artigos e ensaios, focado em temas da atualidade científica; notícias, que fornece uma visão abrangente do que vai pelo mundo no universo da Ciência e cultura; e expressões culturais, com artigos, críticas, reportagens sobre tendências em literatura, teatro, cinema, artes plásticas, música, televisão e novas mídias. Essa nova configuração não inclui, porém, uma seção específica para temas relacionados à política científica.

Sua versão impressa conta com 64 páginas e uma tiragem de vinte mil exemplares. Seu principal público alvo são estudantes de pós-graduação distribuídos por todas as áreas do conhecimento. Como o Brasil forma hoje perto de seis mil doutores e 17 mil mestres por ano, considera-se o número total de estudantes de pós-graduação em cerca de 55 mil. A publicação também busca atrair o interesse de pesquisadores já formados e em atuação nas universidades, instituições de pesquisa e empresas, o que representa algo em torno de 60 mil pessoas. Conta ainda com uma versão on line.

Em relação a esse público, 'Ciência & Cultura' pretende funcionar como 'catalisador do processo de inserção ativa da comunidade científica nos debates fundamentais sobre as políticas destinadas a assegurar o efetivo desenvolvimento do país,

172 consideradas as atuais regras do jogo internacional' (SBPC LANÇA...2002, on line).

As páginas de abertura da revista são constituídas por notícias e notas, nacionais e internacionais, das principais discussões em cena no universo científico. Além do conteúdo abrangente, têm como característica a linguagem atraente e crítica. Trata-se de uma visão panorâmica sobre o mundo da Ciência e cultura. Já a seção A&E compreende artigos e ensaios que tratam de temas da atualidade científica e que atendam ao interesse da sociedade como um todo, com o objetivo de aprofundar a reflexão sobre as grandes áreas do conhecimento.

A área relacionada ao núcleo temático é destinada a artigos, com diferentes enfoques, escritos por diferentes especialistas, sobre um tema eleito, tendo cada um dos artigos de três a quatro páginas, aí incluída ilustração, notas e referências bibliográficas. Completa o conjunto de artigos um review do tema em análise. O núcleo temático tem um sub- componente na categoria de serviços, que procura dar informações sobre os principais trabalhos e grupos de pesquisa dedicados ao tema de cada número.

A área dedicada a expressões culturais aborda produções vinculadas à arte e às reflexões a respeito desse tema, na forma de artigos, críticas e reportagens. O espaço contém matérias de análise sobre novas tendências em literatura, teatro, cinema, artes plásticas, música, televisão, novas mídias; publicação de contos (autores consagrados e novos talentos), poemas, trechos de romances, desenhos, ensaios fotográficos e charges.

A revista conta com o suporte técnico do Labjor, da Unicamp, dirigido pelo poeta e linguista Carlos Vogt. Além de um editor chefe, o físico Marcelo Knobel, e das jornalistas Wanda Jorge e Germana Barata, que atuam como editoras executivas, a revista dispõe de um conselho editorial formado por pesquisadores de várias instituições e de um corpo de colaboradores, composto por jornalistas e cientistas. Os custos da produção editorial cabem à SBPC, com o apoio do CNPq e da Fapesp.

Para Fernandes (1990), a importância maior de Ciência e Cultura é ser um documento da história da Ciência no Brasil, uma vez que, desde 1949, a publicação vem registrando as esperanças, as reivindicações e as conquistas da comunidade científica. Principalmente nas

173 décadas de 1960 e 1970, a publicação funcionou como caixa de ressonância da categoria para debater os grandes temas nacionais na área da Ciência e da educação, bem como as crises institucionais e políticas que abalavam o país. Em alguns casos, chegou a apresentar- se como ―porta voz‖ dos cientistas e intelectuais para abordar temas polêmicos, como evidencia o editorial publicado em abril de 1960, tratando a questão da Lei de Diretrizes e Bases:

Ciência e Cultura, órgão oficial de uma sociedade que se propôs a incentivar o

progresso científico do país, não poderia ignorar a polêmica que ora se inicia em torno de Diretrizes e Bases, pois que o desfecho da contenda poderá afetar grandemente a produção e a formação de futuras gerações de cientistas brasileiros. Porta voz, todavia, de um heterogêneo grupo de cientistas e intelectuais, talvez não lhe caiba senão alertá-los para a questão (DIRETRIZES E BASES..., 1960, p. 2) Já nos anos de chumbo, a revista abriu espaço para criticar as intervenções do regime militar no sistema de educação e pesquisa, principalmente após os episódios envolvendo a Universidade de Brasília e o Instituto Manguinhos. Num editorial publicado em 1969, intitulado Ciência e Crise e assinado pelo então presidente da entidade, Maurício Rocha e Silva, a revista abordava a aposentadoria compulsória imposta a pesquisadores pelo Governo dos generais:

Na última semana de abril, os meios universitários brasileiros foram surpreendidos por dois decretos presidenciais que aposentavam compulsoriamente 67 professores, contando-se entre eles alguns dos mais notáveis cientistas brasileiros, de reputação firmada no país e no exterior pelos seus trabalhos de investigação e ensino, nos campos da física, matemática, química, biologia, sociologia e filosofia da ciência. A ocorrência parecia tão mais surpreendente pelo fato de repentinamente ter sido salientada por ilustres membros do próprio Governo a necessidade do retorno ao país dos cientistas que, por causas várias, haviam emigrado nos últimos anos (CIÊNCIA E...1969, p.123)

Em 1972, quando José Reis, um dos fundadores da SBPC e pioneiro da divulgação científica no Brasil, assumiu a direção de Ciência e Cultura, a revista voltou a destacar o ideal da Sociedade em unir cientistas e humanistas e sua tradição de luta por causas relevantes. Àquela altura, o milagre econômico dava sinais de esgotamento e a entidade começava a mudar de postura, tornando-se mais crítica ante o regime militar:

Hoje, a SBPC tem 7.500 membros e pode-se dizer que é a maior sociedade científica da América Latina. Ela não é uma associação fechada de cientistas e técnicos. Da mesma forma, como suas associações similares, também inclui

174 cidadãos de todas as profissões unidos pelo ideal comum de contribuir para o progresso nacional através do estímulo à ciência e ao mesmo tempo procurando unir os campos científicos e humanísticos. A SBPC defendeu causas muito relevantes, ela nunca se calou, mesmo quando falar parecia arriscado para outros, talvez mais tímidos ou menos convencidos das causas (O ALVO... Cultura, 1972, p. 607)

A reunião anual da SBPC de 1976, em Brasília, foi considerada muito importante por diferentes razões. Tratava-se do primeiro encontro a ser realizado na capital federal, centro do poder. Além disso, o número de participantes havia dobrado em relação às reuniões anteriores, passando de 3,5 mil para 7,5 mil; críticas ao modelo econômico foram expostas de forma explícita; a participação de estudantes foi maior e mais ativa; e também foi mais significativa a participação de representantes das ciências humanas, o que foi destacado por José Reis num editorial da revista:

A preocupação dos cientistas de todos os campos com os problemas de uma política para ciência, uma questão séria nos países em desenvolvimento, está crescendo em cada reunião anual assim como a reivindicação de que eles podem ser resolvidos com a estreita cooperação entre pesquisadores de todos os campos do conhecimento – com particular proeminência dada àqueles que nem sempre são compreendidos, os cientistas sociais (REIS, 1976, p. 1350)

No final da década de 1970, após atingir o ápice do confronto com o Estado, a SBPC deu início a um processo de ―retorno às origens‖, o que significava concentrar suas atenções nas questões científicas, sem contudo abandonar a postura de sentinela em relação às políticas públicas, especialmente aquelas voltadas para Ciência e educação. De certa forma, esse novo posicionamento acabou se refletindo nas páginas de Ciência e Cultura.

A publicação continuou funcionando como caixa de ressonância da comunidade científica, mas sem a tensão que marcara os anos anteriores. Em abril de 2010, por exemplo, quando foi publicado o último número de Ciência e Cultura antes da conclusão desta dissertação, a revista trazia um núcleo temático sobre moda. A escolha do tema central não deixa dúvidas sobre o tom eclético que a publicação resolveu adotar. Ainda assim, o foco continua na pesquisa científica, conforme esclarece o editorial assinado pelo editor Marcelo Knobel:

Há muito pouco tempo que a moda, como expressão de arte e objeto de estudo, passou a ser um campo encarado com seriedade nos meios acadêmicos do país. Nas ruas, deixou de ser privilégio de uma fatia privilegiada da sociedade para ganhar as vitrines dos grandes magazines, que reproduzem o que é gerado nos ateliês da alta

175 costura pela mãos criativas dos grandes estilistas. A moda reflete os valores de uma geração, é capaz de criticar, ousar, transformar a sociedade e ser moldada por ela. Esse fenômeno cultural, capaz que traduzir o perfil de uma época histórica e espelhar tantas facetas da sociedade, é tratado com o devido olhar aprofundado e crítico nesta edição temática da Ciência & Cultura, sob coordenação do historiador da arte Luciano Migliaccio. Sob o olhar da filosofia, história, antropologia, psicologia e design, este Núcleo Temático busca traçar um molde complexo da moda que é muito mais do que apenas uma commodity (KNOBEL, 2010, on line).

4.3) Revista Ciência Hoje: Ciência para quem não é cientista

Em meados dos anos 1970 começou a surgir na SBPC a ideia de avançar na divulgação científica. Não havia dúvidas quanto à importância de Ciência e Cultura para a circulação de artigos entre a comunidade de cientistas, mas alguns integrantes da Sociedade começavam a pensar num veículo para divulgar e explicar a Ciência junto à população em geral, o que era inédito no país. Era preciso substituir a linguagem hermética dos artigos científicos por textos de maior simplicidade e clareza.

O resultado desse debate interno tomou forma no dia 7 de julho de 1982, durante a 34ª reunião anual da SBPC, realizada em Campinas, com o lançamento da revista Ciência

Hoje. Tratava-se do primeiro veículo de divulgação científica do país, o que causou ao

mesmo tempo orgulho e apreensão na comunidade científica. Orgulho porque era um claro sinal de maturidade da categoria num país que historicamente não valorizava a cultura científica e muito menos sua divulgação para o público leigo. E apreensão porque ninguém sabia, ao certo, qual seria a reação do público. Para evitar dúvidas, o editorial deixava claro os objetivos da nova publicação:

Estabelecer um canal de comunicação entre a comunidade científica e o grande público; e promover o debate político em torno de questões como cidadania, educação e participação universitária, possibilitando, assim, a democratização da ciência. Para isso, era preciso superar um obstáculo que seria decisivo para impulsionar e sustentar o projeto original: substituir a linguagem hermética dos artigos científicos, carregada de jargões e fórmulas, por textos de maior simplicidade e clareza, sem perda do rigor científico (EDITORIAL...1982, p.3. apud: IVANISSEVICH, 2002, p.24)

O primeiro número teve uma tiragem de 15 mil exemplares, mas precisou ser reeditado devido a inesperada venda nas bancas. A matéria de capa discutia a poluição em Cubatão, no litoral paulista, o que confirmava a proposta contida no editorial de apresentação. Mais

176 do que isso, representava uma novidade nos meios jornalísticos, que raramente tratavam assuntos científicos com profundidade e didatismo, conforme destaca a atual editora da publicação, a jornalista Alicia Ivanissevich:

Nunca a comunidade científica em bloco havia se proposto tal desafio: falar sobre ciência para a população comum. Existiam, é claro, iniciativas isoladas de popularização da ciência, como programas de rádio, entrevistas na televisão, palestras a preços simbólicos. Todos esses foram esforços preciosos, que em muito contribuíram para estimular o debate e preparar o terreno para um projeto mais amadurecido de divulgação científica. Mas foi, com certeza, Ciência Hoje que conseguiu consolidar esse compromisso de levar à sociedade informação de qualidade sobre a ciência e a tecnologia desenvolvidas no país (IVANISSEVICH, 2002, p. 24).

Figura 3: edição Nº 1 de Ciência Hoje, 1982

Fonte: SBPC

O debate interno que deu origem à nova publicação ganhou força em 1978, quando o médico Roberto Lent, figura de destaque nos quadros da SBPC, escreveu um documento apresentando a proposta à direção da entidade. Intitulado, ―Ciência Hoje – uma revista de

177 científico sólido, rejeitasse a mitificação da ciência e dos cientistas e destacasse o trabalho realizado no Brasil.

Conforme observa Gomes (2003), o documento foi submetido ao crivo de José Reis, decano da divulgação científica no Brasil e personagem histórico da SBPC. Cuidadoso, Reis apoiou a ideia mas fez uma série de ressalvas. Além do custo, das dificuldades para distribuição e da eventual concorrência desleal por parte de outras publicações, a limitada capacidade de concisão dos cientistas poderia ser um problema. E alertou o grupo para possíveis conflitos entre jornalistas, que necessariamente teriam que reescrever os artigos, e seus autores, os cientistas.

A observação de Reis era pertinente, uma vez que o modelo proposto fazia de Ciência Hoje uma revista escrita por cientistas e reescrita por jornalistas, o que necessariamente esbarrava em eventuais conflitos entre as duas classes, principalmente numa fase em que o Jornalismo Científico nacional ainda estava se estruturando na mídia de massa. Tratava-se de um modelo com características muito próprias, ao contrário do que viria a ocorrer em publicações futuras, como por exemplo a revista Pesquisa Fapesp, que é inteiramente produzida por jornalistas especializados em CT&I.

Após obter o parecer de Reis, o grupo saiu em busca de financiamento para o projeto. As primeiras tentativas, porém, foram frustrantes. Ninguém queria apostar numa iniciativa sem tradição no Brasil, o que reteve a ideia na estaca zero por três anos. Somente em maio de 1980 a diretoria da SBPC, então presidida pelo físico José Goldemberg, formou uma comissão para definir o caso. Entre os nomes relacionados estavam Darcy Fontoura de Almeida, Henrique Krieger, Alberto Passos Guimarães Filho e o próprio José Reis.

De imediato, o grupo saiu em busca das possíveis fontes de financiamento, mas não era fácil convencer terceiros sobre a viabilidade econômica do projeto. Se jornais e revistas convencionais já contavam com baixo índice de leitores, o que dizer de uma publicação sobre Ciência? Foram necessários dois anos de insistentes negociações para alcançar o