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Os estudos sobre mídia e Ciência também têm buscado compreender como os conteúdos produzidos pela imprensa chegam ao público e qual a sua percepção em relação à CT&I. Numa sociedade baseada nos princípios da democracia, é fundamental conhecer o que o público pensa, conhece e espera da Ciência, uma vez que as decisões e atividades relacionadas a esta área têm grande impacto sobre a sociedade.

Para Vogt et al. (2005), a tentativa de compreender a dinâmica complexa das interações entre ciência, tecnologia e sociedade, dando voz à opinião pública, tem demonstrado, também, seu potencial como subsídio para a democratização do conhecimento e para o avanço em direção a um modo de gestão e de controle social mais democrático no campo da Ciência e Tecnologia.

125 A elaboração de indicadores que possibilitem avaliar a percepção pública a esse respeito tem sido o método adotado em várias partes do mundo, a exemplo do Science Engineering

Indicators 2008, coordenado pela National Science Foundation (NSF), e do survey do

Programa Galileo, de 2007, organizado pelo Instituto Gallup da Hungria.

Hoje, sabe-se que conhecer e entender a opinião dos cidadãos sobre a ciência e tecnologia constitui-se em um instrumento de suma importância para uma sociedade que se pretenda democrática. Decisões relevantes para a vida profissional e para o trabalho dos cientistas, bem como parte dos posicionamentos sobre como se faz pesquisa ou como se avalia sua qualidade, já começam a ser tomados com a participação de diferentes atores, nem todos cientistas ou especialistas: são políticos, burocratas, empresários, militares, religiosos, movimentos sociais, consumidores e associações de pacientes que pedem, e freqüentemente obtêm, o direito e a legitimidade para participar de decisões significativas para o desenvolvimento da ciência (VOGT, 2009, on line).

A busca por indicadores que permitam avaliar a percepção e compreensão pública da Ciência começou há 30 anos, impulsionada pelos movimentos sociais críticos iniciados logo após a Segunda Guerra Mundial. Nos Estados Unidos, por exemplo, o impacto da bomba atômica sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki, em 1945, e o lançamento do satélite Sputnik, em 1957, pelos soviéticos, tornou evidente a necessidade de repensar criticamente o papel e a imagem pública da Ciência.

Mais tarde, no final da década de 1960, o impacto causado pelos movimentos estudantis, feministas, ambientalistas, e a preocupação e oposição pública frente aos crescentes problemas ambientais e sociais causados pela industrialização, levaram a uma nova onda de esforços de popularização e educação com o objetivo de renovar e reconstruir o apoio e a apreciação do público frente à C&T. Em 1979 a NSF propunha um survey nacional estável sobre percepção pública da C&T que, desde então, é efetuado nos EUA a cada dois anos.

Na Europa, em meados da década de 1980, um relatório encomendando no Reino Unido pela Royal Society marcou o surgimento do chamado ―movimento para compreensão pública da ciência‖ (PUS - Public Understanding of Science), que impulsionou uma onda de incentivo à divulgação e educação científica e de pesquisas sobre as relações entre ciência e a sociedade. Posteriormente, a Comissão Européia, criada em 1977, passou a realizar regularmente, a partir da década de 1990, pesquisas de opinião sobre C&T em geral ou sobre assuntos científico-tecnológicos específicos tais como a tecnologia da informação.

126 Na Iberoamérica, as pesquisas de percepção pública da C&T são mais recentes. Desde o início da década tem sido desenvolvido o ―Projeto Ibero-americano de Indicadores de Percepção Pública, Cultura Científica e Participação Cidadã em C&T‖, integrando, com apoio da Fapesp, a equipe do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) à Rede Ibero-Americana de Indicadores de Ciência e Tecnologia (RICYT) e à Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI).

No Brasil, foram desenvolvidas até o momento cinco pesquisas sobre percepção pública da Ciência: duas de âmbito nacional (1987 e 2006) e três abrangendo municípios do estado de São Paulo (2003, 2004 e 2007). Trata-se de um número ainda reduzido, principalmente quando comparado aos EUA e Europa, o que também evidencia a pouca importância dada à participação da sociedade civil nos debates sobre C&T, geralmente restrito a grupos organizados sem representatividade popular.

Por ser um campo de pesquisa científica relativamente novo, não existe, ainda, um consenso internacional ou uma padronização dos indicadores destinados a avaliar a percepção pública da Ciência. Vogt et al. (2005) refere, porém, que estes estudos são organizados, usualmente, sobre a base de três grandes eixos, que correspondem a tipos de relações que a sociedade estabelece com a Ciência e o sistema científico-tecnológico: interesse, conhecimento e atitudes.

Segundo o autor, que tem participado da maior parte dos trabalhos desta natureza no Brasil, por meio dos indicadores de interesse busca-se apreender a importância relativa que a sociedade atribui à investigação científica e ao desenvolvimento tecnológico. Abarcam pelo menos três aspectos de medição:

1) o interesse do público por questões de Ciência e Tecnologia presentes na agenda social (por exemplo, novas descobertas médicas e científicas, poluição ambiental, políticas militares e de defesa, entre outros);

2) a auto-avaliação que o próprio público faz sobre seus conhecimentos em Ciência e Tecnologia;

3) o nível de atenção do público com relação às políticas de Ciência e Tecnologia: o ―público atento‖ (attentive) compreende os indivíduos que se consideram ―muito interessados‖ e ―muito bem informados‖ sobre determinada área de política científica e, ao mesmo tempo, são leitores regulares de um jornal ou revista de difusão nacional (VOGT et al, 2005 p. 12-8).

127 Os indicadores de conhecimento são utilizados para examinar o nível de compreensão de conceitos científicos considerados básicos, bem como o conhecimento da natureza da investigação científica. Já os indicadores de atitudes compreendem vários aspectos, entre os quais atitudes da sociedade com relação ao financiamento público da investigação, confiança na comunidade científica e percepção sobre benefícios e riscos da Ciência. Também são comparadas as atitudes de cientistas, legisladores e público em geral diante das promessas e restrições da Ciência e da Tecnologia.

Complementarmente, indaga-se sobre as posturas do público com relação ao gasto oficial em Ciência e Tecnologia e sobre o nível de confiança em certas instituições da comunidade científica. Investiga-se, ainda, a percepção do público com relação a diferentes temas chave da agenda sociopolítica (energia nuclear, engenharia genética, exploração do espaço, entre outros) e alguns estudos de caso sobre as atitudes públicas, por exemplo, em biotecnologia.