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A segunda pesquisa de âmbito nacional (2006), intitulada “Percepção pública de ciência e

tecnologia”, foi estruturada pelo Departamento de Difusão e Popularização da Ciência e

Tecnologia (DEPDI), ligado à Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social (Secis) do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), e contou com o apoio do Labjor/Unicamp. O principal objetivo era conhecer o interesse, grau de informação, atitudes, visões e conhecimentos que os brasileiros têm da C&T. Para isso, foram entrevistadas 2004 pessoas acima de 16 anos, de várias regiões, classes sociais e graus de instrução, entre os dias 25 de novembro e 09 de dezembro de 2006.

129 Gráfico 2: Temas de interesse do público.

Fonte: MCT, 2007.

Na primeira parte da pesquisa, dedicada a avaliar o interesse do brasileiro por temas relacionados à C&T, 41% dos entrevistados disseram ter muito interesse; 35%, pouco interesse; e 23%, nenhum interesse pelo assunto. O interesse por C&T ficou abaixo de outros temas, como medicina e saúde (60%, 31% e 9%); meio ambiente (58%, 32% e 10%); esportes (47%, 31% e 22%); economia (51%, 36% e 13%); e religião (57%, 33% e 10%). Por outro lado, o interesse por C&T está à frente de política (20%, 44% e 36%); arte e cultura (38%, 40% e 22%) e moda (28%, 40% e 32%). O levantamento também revelou que o interesse por C&T ocorre mais no público masculino entre 25 e 29 anos, com ensino superior e renda familiar acima de R$ 1,6 mil.

Independentemente dos resultados, uma primeira pergunta que surge diz respeito às razões pelas quais a pesquisa desvinculou C&T de outros temas correlatos, como Saúde e Meio Ambiente. Qual o conceito de C&T adotado pela pesquisa? Que atividades caracterizam essa área no contexto da pesquisa? Saúde e Meio Ambiente não dependem de C&T? Se dependem, por que estão colocadas fora do contexto de C&T? Perguntas como essas direcionam a atenção para a necessidade de eventuais aperfeiçoamentos metodológicos em pesquisas dessa natureza.

20 60 38 58 41 47 28 51 57 44 31 40 32 35 31 40 36 33 36 9 22 10 23 22 32 13 10 1 0% 20% 40% 60% 80% 100% Política Medicina e Saúde Arte e Cultura Meio Ambiente Ciência e Tecnologia Esportes Moda Economia Religião Muito interesse Pouco Interesse Nenhum Interesse Não Sabe

130 Segundo a pesquisa, as razões para a falta de interesse em C&T estão assim distribuídas: 37% dos entrevistados alegaram não entender (o conteúdo das matérias); 24% não têm tempo; 18% nunca pensaram sobre isso; 14% não gostam; 9% não ligam; 7% disseram não precisar saber sobre isso; e 2% não sabem as razões pelas quais não se interessam pelo assunto. O fato de 37% dos entrevistados ligarem seu desinteresse por assuntos de C&T à incompreensão das matérias redireciona a atenção para dois aspectos frenquentemente mencionados: ausência de uma educação científica abrangente e de qualidade no ensino fundamental e médio do país e a falta de contextualização e postura crítica nas matérias jornalísticas sobre C&T:

Do lado da mídia, a cobertura sobre CT nos meios de comunicação é no geral deficiente e freqüentemente de qualidade inferior. Na mídia impressa e televisiva, a ciência é apresentada usualmente como um empreendimento espetacular, no qual as descobertas científicas são episódicas e realizadas por indivíduos particularmente dotados. As aplicações reais ou imaginadas da ciência recebem grande ênfase, mas o processo de sua produção, seu contexto, suas limitações e incertezas são usualmente ignorados e predominam modelos conceituais simplificados sobre a relação ciência e público, como o ‗modelo de déficit‘. Quanto à educação científica formal, o quadro se apresenta sombrio, com o desempenho em geral muito baixo dos estudantes brasileiros nos assuntos que envolvem ciências e matemáticas. O ensino de ciências é, em geral, pobre de recursos, desestimulante e desatualizado. Ao lado da carência enorme de professores de ciências, em especial professores com boa formação, predominam condições de trabalho precárias e pouco estímulo ao aperfeiçoamento. As deficiências graves em laboratórios, bibliotecas, material didático, inclusão digital e outras só fazem tornar mais difícil o quadro. Se nosso ensino médio sofreu expansão acelerada nos últimos anos, ainda assim uma parcela muito pequena de brasileiros conclui esta etapa. A média de escolaridade dos brasileiros (menos de oito anos) é muito baixa quando comparada com países desenvolvidos e mesmo com outros países latino-americanos. (MOREIRA, 2006, on line).

Nas respostas relacionadas aos assuntos sobre os quais os entrevistados costumam se informar, apenas 27% declararam ter muito interesse em C&T, contra 46% com pouco interesse e 27% com nenhum interesse. Entre os 27% que declaram ter muito interesse em C&T, a maioria declarou buscar preferencialmente informações sobre informática e computação (36%), seguido de novas descobertas da ciência (35%), novas tecnologias (30%), ciências da vida (25%, ciências humanas e sociais (22%), agricultura (17%), ciências físicas e naturais (12%), engenharia (9%), astronomia e espaço (7%) e não responderam (1%).

131 Outra evidência da pesquisa é o baixo número de pessoas que buscam obter informações sobre C&T por meio da leitura de jornais (12%), revistas (12%) ou na Internet (9%). Além disso, apenas 11% abordam o tema nas conversas entre amigos, e uma parcela ainda mais reduzida, 2%, participa em assinaturas de manifestos ou protestos em questões de C&T (91%). Nem mesmo os programas de TV ou de rádio que, teoricamente, seriam os mais acessíveis à maioria da população, parecem entusiasmar os brasileiros quando o assunto é C&T. Entre os entrevistados, 15% declaram ver programas de TV sobre C&T e, no rádio, essa fatia se restringe a 5%.

A respeito da qualidade das informações sobre C&T veiculadas pela mídia, as opiniões obtidas pela pesquisa são equivalentes tanto para jornais quanto para TV. No caso dos jornais, 53% consideram que os veículos tratam o assunto de maneira satisfatória, contra 32% para insatisfatória, enquanto 15% não souberam responder. Já em relação à TV, 58% consideram a abordagem satisfatória, contra 30% para insatisfatória e 12% não sabem. Tanto para TV quanto para os jornais, a principal crítica aponta para o baixo número de matérias, seguido da ausência de menção aos riscos que as aplicações da C&T podem causar. Uma parcela de 37%, no caso da TV, e 41%, no dos jornais, disseram que as matérias são de má qualidade.

As opiniões também se dividem sobre a imagem da C&T. Enquanto 46% declararam que a Ciência traz mais benefícios que malefícios, 13% consideram que essa atividade traz tanto benefícios quanto malefícios e 4% acreditam que traz mais malefícios que benefícios. Em relação aos cientistas, 60% os consideram ―pessoas inteligentes que fazem coisas úteis para a humanidade‖, enquanto 19% os têm como ―pessoas que servem a interesses econômicos e produzem conhecimento em áreas nem sempre desejáveis‖.

Também chama atenção a percepção dos entrevistados sobre os atores que conduzem os rumos da Ciência. Para 17%, esse papel tem sido desempenhado pelos governos dos países ricos, enquanto 14% atribuem o direcionamento da C&T à demanda do mercado econômico, 11% ao funcionamento interno da própria Ciência e 10% às grandes multinacionais.

132 Interesse relativamente grande em C&T.

Maior interesse: informática e novas descobertas.

Consumo pequeno de C&T nos diversos meios de comunicação Baixo índice de visitação a museus e de participação em eventos Credibilidade grande dos cientistas

Avaliação positiva do avanço da Ciência no Brasil: estágio intermediário Recursos e educação: fatores críticos para o desenvolvimento da C&T no Brasil Áreas mais importantes: medicina, agricultura e energia

Desconhecimento grande de cientistas e instituições locais Ciência não é neutra. Importância da participação popular.

3.2.3) Pesquisa Ricyt/OEI/Labjor – 2003

As bases para as três pesquisas sobre percepção pública da Ciência realizadas no estado de São Paulo foram lançadas em meados de 2001, quando a Organização dos Estados Ibero- Americanos (OEI) e a Rede Ibero-Americana de Indicadores de Ciência e Tecnologia (Ricyt/Cyted) deram início ao Projeto Ibero-Americano de Indicadores de Percepção Pública, Cultura Científica e Participação dos Cidadãos.

O objetivo, naquele momento, era contribuir para o desenvolvimento conceitual da matéria; assentar as bases para o delineamento de indicadores que reflitam as particularidades da região e permitam comparação internacional; trazer novos elementos para a definição de políticas públicas; e configurar uma rede de grupos de pesquisa e instituições latino- americanas para a cooperação no âmbito dessa temática (VOGT; POLINO, 2003).

A primeira pesquisa, realizada no início da década, foi desenvolvida pela OEI e Rycit em parceria com o Labjor/Unicamp. Os levantamentos foram realizados em cinco municípios de quatro países: Buenos Aires e parte do perímetro urbano da Grande Buenos Aires (Argentina) e em Campinas (Brasil), em dezembro de 2002; e Salamanca e Vallodolid (Espanha) e Montevidéu (Uruguai), entre fevereiro e março de 2003. O trabalho abarcou um universo de 612 pessoas, sendo 300 na Argentina, 162 no Brasil e 150 na Espanha e Uruguai, juntos.

Os números revelaram que, de maneira geral, o interesse por C&T era baixo nos quatro países. No grupo brasileiro, a pesquisa revelou que a freqüência de consumo de informação científica em jornais, naquele momento, ocorria predominantemente de maneira ocasional

133 (45%), verificando-se o mesmo em relação à televisão (58,6%) e às revistas especializadas (56,2%). Na Argentina, essa relação era, respectivamente, de 53,4%; 64%; e 51%; ao passo que no Uruguai era de 38,7%; 50,7% e 44,6%; e, na Espanha, 58%; 81,3% e 63,4%.

Outro dado que corrobora o baixo nível de cultura científica nos países pesquisados diz respeito à autovaloração que os entrevistados fazem sobre a informação científica adquirida. Em 2003, quando foi aplicada a pesquisa, o percentual dos que se consideravam pouco informados sobre C&T chegou a 71% no Brasil; 80% na Argentina; 67% na Espanha; e 41% no Uruguai. Os que se consideravam bem informados sobre C&T não passam de 5% do universo pesquisado em cada país.

Chama atenção o fato de que, no Brasil, baixo índice de informação sobre C&T ter sido registrado em Campinas, município que já foi comparado ao Vale do Silício, nos EUA, por destacar-se como um dos principais pólos científicos e tecnológicos do país. Se esse cenário foi detactado numa cidade que, teoricamente, deveria apresentar índices elevados de informação no campo da C&T, o que dizer das regiões sem tradição alguma nessa área?

O estudo também revelou que os entrevistados, nos quatro países, confiavam pouco nas informações científicas fornecidas por jornalistas. No Brasil, apenas 2% confiavam na imprensa quando se tratava, por exemplo, de informações sobre biotecnologia, e 5,2% quando se tratava de energia nuclear. A que atribuir esse baixo índice de confiança na mídia nacional quando se trata de C&T? Baixa qualidade da informação disponibilizada pelos profissionais da área ou falta de cultura científica por parte do público? São questões não contempladas na pesquisa.

Cientistas e universitários, por sua vez, foram consideradas as fontes mais confiáveis para fornecer informações desta natureza. No Brasil, a confiança nesses atores chegava a 30,7% no caso da energia nuclear e 33% no da biotecnologia. De certo modo, a confiança expressa nos cientistas confirmava, naquele momento, a imagem da Ciência formada pelo público pesquisado. Nos quatro países, prevalecia a ideia de que os benefícios da C&T eram maiores que seus efeitos negativos. No Brasil, os que concordavam com esse cenário chegavam a 75,9% dos entrevistados, contra 71,9% na Argentina, 72% na Espanha e 77,4% no Uruguai.

134 Apesar de quase 76% dos entrevistados no Brasil entenderem que a Ciência apresentava mais benefícios do que malefícios, cabe perguntar as razões pelas quais os outros 26% consideravam, naquele momento, que a Ciência trazia mais efeitos negativos do que positivos. Que riscos seriam esses e quais as razões para a sua existência? Falta de fiscalização? Ausência de marcos legais? Políticas inadequadas? Atraso científico? Predominãncia de interesses econômicos? A pesquisa também não toca nesses aspectos.

Com relação à utilidade da participação da sociedade nas questões de C&T, a pesquisa perguntou aos entrevistados sobre os motivos pelos quais consideravam importante esse tipo de prática. A ampla maioria, nos quatro países, apontou o ―cuidado com a vida e a

saúde‖ como a principal razão para participar dos debates e ações nesse terreno. No Brasil,

mais de 80% das respostas se alinharam com essa justificativa.

O foco nesse ponto coincide também com a alta importância que a maioria dos entrevistados argentinos, brasileiros, espanhóis e uruguaios assinala para a Medicina, Saúde e Meio Ambiente como questões prioritárias da sociedade. No imaginário dos entrevistados dos quatro países existe, certamente, estreita vinculação entre Ciência e Tecnologia e a qualidade de vida da população (VOGT; POLINO, 2003, p. 165).

Embora considerem importante a participação nas questões relacionadas a C&T, os entrevistados apontaram os principais obstáculos que, segundo eles, impediam seu engajamento em atividades dessa ordem. Uma das principais barreiras assinaladas pela maioria nos quatro países (sempre com uma frequência superior a 50% da amostra) era que as pessoas não tinham conhecimentos suficientes para essa prática. No caso do Brasil, Espanha e Uruguai, esse motivo era o principal dentre os assinalados. A exceções ficaram por conta da Argentina, onde ocupava o segundo lugar, precedido pela categoria ―as pessoas têm problemas mais importantes pelos quais protestar e participar‖.