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Forma de incidência dos juros moratórios e correção monetária

11 PRECEDENTES DO STJ E TJ/SP SOBRE A LEGITIMIDADE

11.6 Dos Parâmetros de Fixação e da Correção das Verbas

11.6.3 Forma de incidência dos juros moratórios e correção monetária

Muito se discute, e ainda assim se decide de forma bastante confusa, a respeito da atualização dos valores apurados a título de danos morais, ou seja, quanto à incidência de juros moratórios e correção monetária.

Sumulou-se que os juros moratórios terão como termo inicial a data do evento danoso, nos termos do enunciado nº 54 do Colendo Superior Tribunal de Justiça. Veja-se: “Súmula 54: Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual”.

A correção monetária fluirá a partir da data do arbitramento do valor da indenização, ou seja, da prolação da sentença ou do acórdão que a reconhecer, nos termos da Súmula nº 362 do Superior Tribunal de Justiça: “Súmula 362: A correção monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a data do arbitramento”.

Veja-se que, nesse ponto, o próprio Tribunal entendeu pelo afastamento de sua Súmula nº 43, que dispõe que para os casos de ilícito extracontratual a correção monetária incide desde a data do evento danoso, consoante decidido no REsp 657.026/SE, relatado pelo Ministro Teori Albino Zavaski, que assim se manifestou:

No que pertine à correção monetária sobre dívida decorrente de ato ilícito, determina a Súmula 43/STJ que esta deve correr a partir do evento danoso. Entretanto, consolidou-se o entendimento segundo o qual, nas indenizações por dano moral, o termo a quo para a incidência da atualização monetária é a data em que foi arbitrado seu valor, tendo-se em vista que, no momento da fixação do quantum indenizatório, o magistrado leva em consideração a expressão atual de valor da moeda. Assim, inaplicável, nesses casos, o enunciado da Súmula 43/STJ.

Feitos esses esclarecimentos, cumpre-nos, por derradeiro, salientar a existência de recentíssimo julgado do STJ divergente quanto às formas de atualização supracitadas. Assim é que, inobstante os vetores de atualização estarem consagrados em proposições sumulares, no julgamento do REsp 903.258/RS, datado de 30 de junho de 2011, a Ministra Maria Isabel Galloti determinou que os juros moratórios, em se tratando de indenizações por danos morais, devem ter seu termo inicial também desde a data do arbitramento, pouco importando se oriundos de ilícito contratual ou extracontratual; vale dizer, os juros de mora referentes à reparação de dano moral contam-se, de acordo com este julgado, a partir da sentença que determinou o valor da indenização ou do acórdão que a reconheceu. A decisão é da Quarta Turma do STJ e representou novo entendimento sobre o tema na Corte. A maioria dos ministros seguiu o voto da relatora, considerando que, como a indenização por dano moral só passa a ter expressão em dinheiro a partir da decisão judicial que a arbitra, “não há como incidirem, antes desta data, juros de mora sobre a quantia que ainda não fora estabelecida em juízo”.

A Ministra Gallotti esclareceu que, no caso de pagamento de indenização em dinheiro por dano moral puro, “não há como considerar em mora o devedor, se ele não tinha como satisfazer obrigação pecuniária não fixada por sentença judicial, arbitramento ou acordo entre as partes”. Como os danos morais somente assumem

expressão patrimonial com o arbitramento de seu valor em dinheiro na sentença de mérito, a ministra concluiu que o não pagamento desde a data do ilícito não pode ser considerado omissão imputável ao devedor, para efeito de tê-lo em mora: “Mesmo que o quisesse, o devedor não teria como satisfazer obrigação decorrente de dano moral não traduzida em dinheiro nem por sentença judicial, nem por arbitramento e nem por acordo”.

O julgamento que inovou a posição da Quarta Turma diz respeito a uma ação de indenização – por danos materiais, morais e estéticos – de um paciente do Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre (RS). Internado nos primeiros dias de vida, ele foi vítima de infecção hospitalar que lhe deixou graves e irreversíveis sequelas motoras e estéticas. Após a condenação do hospital ao pagamento de pensão mensal vitalícia à vítima, a ministra se propôs a reexaminar a questão do termo inicial dos juros de mora. Nesse ponto, o Ministro Luis Felipe Salomão discordou, considerando que os juros devem contar a partir do evento danoso, afirmando que uma mudança brusca na jurisprudência precisa de uma discussão pela Seção ou pela Corte Especial. Foi, porém, vencido pelos outros ministros, que acompanharam a relatora em seu voto.

Assim, consoante todo o fundamentado, ainda que se tenha pela adoção dos critérios sumulados, a jurisprudência do STJ sinalizava um possível overrruling, talvez um dia fixando como termo inicial para a contagem da atualização monetária e também dos juros moratórios a data da sentença ou do acórdão que arbitrar a indenização por danos morais.

Entretanto, quando se dava a pensar numa nova orientação a esta respeito, posteriormente ao julgamento do Recurso Especial 903.258/RS acima citado, a questão foi novamente trazida a lume, agora no bojo do REsp 1132866/SP, examinado pela Segunda Seção do STJ, cuja relatoria novamente coube à Ministra Maria Isabel Gallotti, que, mais uma vez, votou no sentido de que a fluência dos juros moratórios deveria começar na data do julgado da condenação. Segundo ela, a questão do termo inicial dos juros de mora no pagamento de indenização por dano moral deveria ser reexaminada, tendo em vista as peculiaridades desse tipo de indenização. A relatora foi acompanhada pelos Ministros Antonio Carlos Ferreira, Marco Buzzi e Raul Araújo. Porém, o Ministro Sidnei Beneti iniciou a divergência, no que foi acompanhado pela Ministra Nancy Andrighi e pelos Ministros Luis Felipe

Salomão, Paulo de Tarso Sanseverino e Villas Bôas Cueva. Assim, a relatora ficou vencida.

Para o Ministro Sidnei Beneti, o acórdão do TJ/SP vergastado estava em conformidade com o entendimento do STJ no sentido de que os juros moratórios incidem desde a data do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual (Súmula nº 54/STJ). “Assim, diante de súmula deste Tribunal, a própria segurança jurídica, pela qual clama toda a sociedade brasileira, vem antes em prol da manutenção da orientação há tanto tempo firmada do que de sua alteração”, acrescentou.

A Ministra Isabel Gallotti, ao apresentar ratificação de voto após o início da divergência, esclareceu que não estava contradizendo a Súmula nº 54. Especificamente no caso de dano moral puro, que não tem base de cálculo, ela aplicava por analogia a Súmula nº 362, segundo a qual “a correção monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a data do arbitramento”. A relatora afirmou ainda que o magistrado, ao fixar o valor da indenização por dano moral, leva em consideração o tempo decorrido entre a data do evento danoso e o dia do arbitramento da indenização pecuniária. Por essas razões, considerou que a data fixada no acórdão proferido pelo tribunal paulista é que deveria ser o termo inicial dos juros de mora, mas acabou vencida.

Logo, os juros de mora, nos casos de condenação por dano moral, continuam a incidir a partir da data do evento danoso, consoante decisão da Segunda Seção do STJ, no bojo do REsp 1.132.866/SP, que negou recurso da Empresa Folha da Manhã S/A, condenada a pagar indenização por dano moral ao jornalista Marcelo Fagá (morto em 2003). Com isso, a Segunda Seção manteve o entendimento que já prevalecia no STJ – cuja revisão, ante as peculiaridades do caso, era defendida por parte dos ministros.

Apenas para que conste, os juros moratórios e a atualização monetária são acessórios da verba principal devida, que independem, para que constem da condenação, de pedido expresso da parte a quem aproveitam, como deixa claro Renan Lotufo:

O novo dispositivo acresce sobre o de origem (art. 1.056 do Código Civil de 1916) por deixar evidente a incidência de juros e atualização monetária das perdas e danos. Portanto, a regra, nessa hipótese, é de aplicação de ofício

pelo juiz, não havendo necessidade de pedido da parte. É a sanção do sistema para o inadimplemento absoluto.254

No âmbito do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo há plena adoção das proposições sumulares e jurisprudenciais emanadas do C. STJ e que regulam os termos iniciais dos juros moratórios e correção monetária referentes às indenizações por dano moral:

Apelação nº 0000426-44.2010.8.26.0072; Relator(a): Adilson de Araujo; Comarca: Bebedouro; Órgão julgador: 31ª Câmara de Direito Privado; Data do julgamento: 19/12/2011. Ementa: Ficou demonstrado que o réu

incluiu o nome da autora no cadastro de inadimplentes quando esta já havia efetuado o pagamento da parcela apontada no registro desabonador. A quantia fixada a título de danos morais não pode ser fator de enriquecimento injustificado do indenizado, mas também não pode gerar excesso na direção oposta, tornando-se extremamente modesta e não provocando qualquer esforço à devedora para adimpli-la. O arbitramento feito atende a tais princípios, ajustando-se à situação fática apresentada. O termo inicial da correção monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a data do arbitramento na sentença conforme Súmula nº 362 do STJ.

Apelação nº 9218340-45.2006.8.26.0000; Relator(a): João Carlos Saletti; Comarca: São Paulo; Órgão julgador: 10ª Câmara de Direito Privado; Data do julgamento: 13/12/2011. Ementa: Dano moral. Situação de

tristeza e angústia de compradores de imóvel novo, que o encontram danificado por águas servidas provindas do vizinho de cima. Danos demonstrados. Indenização devida. Valor fixado conforme os princípios de razoabilidade e proporcionalidade. Sentença mantida. Juros moratórios. Incidência. Termo inicial. Data do evento lesivo. (Súmula 54 do STJ). Sentença mantida.

De todo o exposto, espera-se ter ficado esclarecido que a jurisprudência adotou para as verbas acessórias dos danos morais termos iniciais parcialmente diversos daqueles que o Código Civil e a legislação extravagante disciplinam para a indenização por danos materiais.

Assim, por exemplo, o termo inicial da correção monetária nos danos morais se dá apenas no momento da prolação da decisão que fixar a indenização desta espécie, isso em virtude de pura construção jurisprudencial, enquanto a reparação por danos materiais, se líquida e exigível a dívida, tem como termo a quo a data do vencimento da prestação, nos termos do art. 397 do Código Civil (mora ex re).

No que toca à contagem dos juros de mora, que pareciam ter seu termo inicial de fácil constatação, por expressa previsão dos artigos 405 do CC e 219, § 5º, do CPC, isso é, após a citação, também se verificou uma variante. Com efeito, tratando-

se de indenização por danos morais, fica reconhecida a aplicação do art. 398 do Código Civil, bem como da súmula 54 do STJ, contando-se os juros moratórios desde a data do ato ilícito que gerou a compensação.

Neste caso, o art. 405 do CC e o art. 219, § 5º, do CPC, reservam-se à hipótese de indenização por danos materiais que não tenham data de vencimento (mora ex persona) e também se inexistente notificação extrajudicial ou judicial para pagamento, caso contrário este último será o termo inicial, em virtude da constituição da mora antes da citação para o processo de cobrança.