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11 PRECEDENTES DO STJ E TJ/SP SOBRE A LEGITIMIDADE

11.1 Sujeição Passiva

11.1.1 Pessoa jurídica e protesto liminarmente sustado

Cite-se, por primeiro, a edição da Súmula nº 227 pelo Colendo Superior Tribunal de Justiça, embasada nos Recursos Especiais 129.428, 161.739 e 161.913, por meio da qual se afirmou taxativamente que “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral”.

Dentre os fundamentos utilizados para a edição da súmula podemos citar ainda o REsp 134.993, relatado pelo então Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, que em seu voto ponderou:

Bem é verdade que a pessoa jurídica não sente, não sofre com a ofensa à sua honra subjetiva, ao seu caráter, atributos do direito de personalidade, inerente somente à pessoa física. Mas não se pode negar a possibilidade de ocorrer ofensa ao nome da empresa, à sua reputação, que, nas relações comerciais, alcançam acentuadas proporções em razão da influência que o conceito de empresa exerce.

Referido acórdão restou assim ementado:

CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANOS MORAIS. PESSOA JURÍDICA. POSSIBILIDADE. HONRA OBJETIVA. DOUTRINA. PRECEDENTES DO TRIBUNAL. RECURSO PROVIDO PARA AFASTAR A CARÊNCIA DA AÇÃO POR IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA ‒ A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO JURÍDICO, NO QUAL CONVERGIRAM JURISPRUDÊNCIA E DOUTRINA, VEIO A AFIRMAR, INCLUSIVE NESTA CORTE, ONDE O ENTENDIMENTO TEM SIDO UNÂNIME, QUE A PESSOA JURÍDICA PODE SER VÍTIMA TAMBEM DE DANOS MORAIS, CONSIDERADOS ESSES COMO VIOLADORES DA SUA HONRA OBJETIVA. REsp 134.993/MA; Relator(a): Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA; Órgão Julgador: T4 QUARTA TURMA; Data do Julgamento: 03/02/1998; Data da Publicação/Fonte: DJ 16/03/1998, p. 144.

O Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo possui farta jurisprudência calcada no entendimento sumular supracitado, consoante recente ementa que segue:

Apelação nº 9209718-40.2007.8.26.0000; Relator: S. Oscar Feltrin; Comarca: Itararé; Órgão julgador: 29ª Câmara de Direito Privado; Data do julgamento: 14/12/2011. Ementa: As pessoas jurídicas são dotadas de

conceito e de outros atributos imateriais economicamente valoráveis, ostentando imagem perante a sociedade, podendo assim sofrer dano moral passível de reparação pecuniária.

Nesses termos, vimos que a pessoa jurídica pode sofrer abalo moral caso lesada em sua honra objetiva, entendida esta como seus atributos externos e imprescindíveis ao desenvolvimento da atividade empresarial.

Ocorre que, mesmo nesse ponto específico, nova divergência jurisprudencial surgiu, na corriqueira hipótese em que uma pessoa jurídica tem seu nome empresarial levado a protesto decorrente de um título por ela não emitido ou quitado anteriormente.

É óbvio que eventual protesto tirado sobre um título nessas circunstâncias geraria abalo à honra objetiva da empresa, já que seu nome empresarial restaria maculado, alijando-a da obtenção do crédito necessário à atividade exercida.

Entretanto, proposta ação cautelar para sustação do protesto e obtido o provimento jurisdicional liminar que obsta o apontamento, pergunta-se: haveria abalo moral a ser indenizado mediante a propositura de ação principal, certo que o ato notarial não surtiu qualquer efeito?

A questão é tormentosa, havendo dois precedentes distintos que restaram evidenciados no julgamento dos Recursos Especiais 254.073 e 752.672, cujas ementas seguem, respectivamente, abaixo:

Pela possibilidade de indenização, o REsp 254.073/SP:

CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. APONTAMENTO INDEVIDO DE TÍTULO A PROTESTO. PESSOA JURÍDICA. DANO MORAL. CABIMENTO. SÚMULA N. 227-STJ. PROVA DO PREJUÍZO. DESNECESSIDADE. O apontamento de título para protesto, ainda que sustada a concretização do ato por força do ajuizamento de medidas cautelares pela autora, causa alguma repercussão externa e problemas administrativos internos, tais como oferecimento de bens em caução, geradores, ainda que em pequena expressão, de dano moral, que se permite, na hipótese, presumir em face de tais circunstâncias, gerando direito a ressarcimento que deve, de outro lado, ser fixado moderadamente, evitando-se enriquecimento sem causa da parte atingida pelo ato ilícito. II. “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral” Súmula n. 227-STJ. III. Recurso conhecido e provido. REsp 254.073/SP; Relator(a): Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR; Órgão Julgador: T4 -

QUARTA TURMA; Data do Julgamento: 27/06/2002; Data da Publicação/Fonte: DJ 19/08/2002, p. 170.

Pela impossibilidade de indenização, o REsp 752.672/RS:

RECURSO ESPECIAL. DANO MORAL. PESSOA JURÍDICA. NECESSIDADE DE PUBLICIDADE E REPERCUSSÃO. PROTESTO INDEVIDO. CAUTELAR DE SUSTAÇÃO QUE IMPEDIU O REGISTRO. INEXISTÊNCIA DE PUBLICIDADE. 1. A pessoa jurídica não pode ser ofendida subjetivamente. O chamado dano moral que se lhe pode afligir é a repercussão negativa sobre sua imagem. Em resumo: é o abalo de seu bom-nome. 2. Não há dano moral a ser indenizado quando o protesto indevido é evitado de forma eficaz, ainda que por força de medida judicial. REsp 752.672/RS; Relator(a): Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS; Órgão Julgador: T3 - TERCEIRA TURMA; Data do Julgamento: 16/10/2007; Data da Publicação/Fonte: DJ 29/10/2007, p. 219.

E a jurisprudência do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo reflete a inexistência de uma única orientação judicial a ser seguida no trato da questão, havendo divergência jurisprudencial no trato da questão, conforme se verifica pelos julgados abaixo ementados, do ano de 2011:

Pela possibilidade de indenização mesmo com o protesto liminarmente sustado:

Apelação nº 0013387-56.2004.8.26.0224; Relator(a): Rebello Pinho; Comarca: Guarulhos; Órgão julgador: 20ª Câmara de Direito Privado; Data do julgamento: 05/12/2011. Ementa: Apontamento indevido de título

a protesto constitui, por si só, fato ensejador de dano moral. Indenização fixada na quantia de R$ 15.000,00, com incidência de correção monetária a partir da data da prolação da r. sentença. Recurso desprovido.

Apelação nº 9162935-92.2004.8.26.0000; Relator(a): Fernandes Lobo; Comarca: São Paulo; Órgão julgador: 22ª Câmara de Direito Privado; Data do julgamento: 09/06/2011. Ementa: RESPONSABILIDADE CIVIL.

Apresentação de duplicata por indicação para protesto, sustado por liminar concedida em medida cautelar. Lastro mercantil inexistente. Nulidade decretada. Conquanto sustado o protesto, o fato de ter sido a tanto apontado (e a publicidade daí decorrente) caracteriza dano moral in re ipsa, de inenizabilidade presumida. Quantum arbitrado, com proporcionalidade e moderação, em R$ 5.000,00, afora juros (da citação) e atualização monetária (da publicação do acórdão). Apelação provida.

Pela impossibilidade de indenização pelo simples apontamento:

Apelação nº 0005065-73.2009.8.26.0191; Relator(a): Souza Lopes; Comarca: Poá; Órgão julgador: 17ª Câmara de Direito Privado; Data do julgamento: 19/10/2011. Ementa: Cambial Duplicata. Declaratória

cumulada com indenização. Endosso mandato. Banco que age dentro dos limites do mandato que lhe foi conferido. Ilegitimidade de parte passiva para figurar em ação indenizatória e declaratória de nulidade de título. Dano moral não configurado. Protesto não efetivado em razão da concessão de liminar na Medida Cautelar. Recurso da autora improvido. Honorários

advocatícios. Sucumbência recíproca. Fixação de rigor, nos moldes do art. 21 do CPC. Recurso da corré parcialmente provido para este fim.

Apelação nº 9180831-80.2006.8.26.0000; Relator(a): Eduardo Sá Pinto

Sandeville; Comarca: Leme; Órgão julgador: 28ª Câmara da Seção de Direito Privado; Data do julgamento: 26/07/2011. Ementa:

Responsabilidade Civil – Dano moral - Inexistência - Mero apontamento para protesto que não chegou a ser lavrado - Ausência de repercussão externa - Recurso improvido.

Assim, quanto à hipótese de protesto ilegítimo eficazmente sustado por tutela jurisdicional cautelar, não está evidente, por ora, qual seria o precedente judicial aplicável ao caso, permanecendo a dúvida na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e do Tribunal de Justiça de São Paulo.