• Nenhum resultado encontrado

JMN JPEF

Etapa 1 Texto Original

8 Análise da Configuração Organizacional Administrativa da IPJA à luz do Modelo analítico

8.1 Características estruturais e dispositivos de coordenação

8.1.3 Formalização e estatutos normativos

Este aspecto compreende os mecanismos integradores, tais como: regras, instrumentos, regimento interno, rotinas e normas, ou seja, procedimentos criados para o controle e a integração organizacional (ALVES, 2003).

8.1.3.1 Regimento Interno, normas e rotinas

Na igreja Presbiteriana do Brasil, como já é do conhecimento do leitor, existe o Manual Presbiteriano em que constam: a Constituição da Igreja, o Código de Disciplina e os Princípios de Liturgia que são bastante utilizados, tanto no que tange ao governo da Igreja, passando pelo parâmetro de como se deve proceder quando se vai corrigir no ‘amor’ de Cristo aqueles que estão pecando (ou seja, indo de encontro aos mandamentos bíblicos), e, por fim chegando no modelo das formas, como se deve agir em relação ao momento de liturgia de culto.

É bom relembrar que o mesmo foi oficializado em meados do século passado, sendo que a constituição da IPB foi promulgada em 20 de julho de 1950, e o Código de Disciplina e os Princípios de Liturgia um ano após, em 1951.

Já o Manual Unificado das Sociedades Internas da Igreja Presbiteriana do Brasil tem como objetivo apoiar o modelo de funcionamento destas citadas anteriormente. Este Manual foi aprovado pela comissão executiva do Supremo Concílio no ano de 1993, o que, por um lado, facilitou a vida daqueles que lidavam com as Sociedades Internas das igrejas locais. Antes havia um Manual para cada uma delas o que, muitas vezes, gerava confusão naquilo que deveria ser aplicado. E um outro fator prejudicial era a questão das diferenças, existentes entre a Constituição da IPB e o que continha nos manuais.

Todavia existe o lado negativo do referido manual que é o fato de o sistema organizacional administrativo das sociedades ser bastante antigo e precisar de mudanças. Vale salientar que as primeiras sociedades internas iniciaram o seu trabalho na década de 80 do século XIX (no caso da SAF), e na década de 30 do século XX (em relação a UMP).

Desse modo, percebe-se que a forma na qual as sociedades internas se organizam na IPB foram originadas em um contexto social e cultural diferente dos dias atuais. Além disso, toda a sua origem é inspirada no presbiterianismo americano que possui um contexto diferente ao brasileiro. E assim como toda a organização, com o passar do tempo, o modelo administrativo vai necessitando de melhorias e modificações, com o intuito de contemporizar com a sua época atual, não poderia ser diferente a instituição Igreja. E foi com este intuito que a IPJA somou outras formas organizacionais administrativas as suas sociedades internas, como os ministérios e os focos administrativos. E estes não estão contemplados na forma administrativa da IPB.

Embora os entrevistados expressem verbalmente um reconhecimento de que normas e rotinas são imprescindíveis enquanto instrumentos para direcionar, organizar e acompanhar as atividades dos segmentos estruturais da IPJA, ficou evidenciado, entre os mesmos, que eles ainda não estão suficientemente cientes do porquê de cumprir todas as normas, as rotinas e os regulamentos que estão contidos nos Manuais da IPB. Alguns acreditam até que muitas vezes seguir tais princípios ‘engessem’ a criatividade e a liberdade dentro da referida entidade religiosa. Os depoimentos abaixo corroboram o que foi colocado acima no que diz respeito à realidade encontrada na coleta de dados:

“As normas, as regras e as doutrinas são importantes [...] porque quando há pessoas que estão ali se preocupando com organizações [...] esse trabalho é de grande importância” (“A”).

“Eu acho um pouco complexas, elas são até de difícil acesso para os membros por a gente não conhecer todas as regras. Sabemos até que em alguns casos elas são ultrapassadas, elas não têm se atualizado de acordo com a época. O grupo de dança mesmo, ele não é permitido pela Igreja Presbiteriana do Brasil, mas é aceito pela igreja local. E em alguns casos atrapalham por conta até de você não aceitar essas regras, você acaba se afastando da igreja por você não colocar suas habilidades dentro da igreja por conta das regras que são colocadas” (“N”).

“[...] quando a gente traz isso para o universo das sociedades internas, o manual presbiteriano faz referências as mesmas. E esse manual ele é feito para que as sociedades funcionem de maneira plena, não é, tanto na igreja localmente, quanto a nível de Presbitério e Sínodo também. Então traz toda uma forma formal de atuar, não é!? E isto, logicamente, traz uma certa burocracia que é necessária, mas que no funcionamento da igreja local, às vezes, ela se torna um pouco complexa. E aí se for excessiva, ou se as pessoas forem adotar isso muito à risca mesmo, pode até atrapalhar” (“P”). “Existe sim, uma certa dificuldade dos adolescentes seguirem essas normas, pois há uma tendência normal, da própria fase em que eles se encontram, faixa etária, o social que eles participam naquele momento, o contexto de vida, há uma tendência normal a serem resistentes a normas, a regras e a limites [...] não dá para a gente seguir à risca, mas dá para a gente adaptar para a realidade deles. Pois é dessa forma que a gente vai conseguir segurá- los, não é, naquele trabalho com aquele objetivo. É muito seguir à risca mesmo o que tem lá, naquelas normas, mas pode mudar alguma coisa que não fuja tanto ao que a igreja presbiteriana está querendo colocar” (“F”). “São muito definidas, muito bem elaboradas, e muitas vezes, muito bem redigidas, mas poucas vezes [...] são praticadas como deveriam ser, gerando um excesso de burocratização das ações da igreja local, bem como criando obstáculos e barreiras para o evangelho progredir” (“D”).

O vice-presidente do PROL endossa a questão de que os regulamentos, normas e regras não devem ser institucionalizadas de forma que ‘acabe o movimento’ ou a liberdade que a igreja venha precisar a ter futuramente. Todavia, ele percebe que isto é uma grande dificuldade para IPB, porém facilita a ‘vida’ de cada igreja local.

“Há um estudioso chamado David Boch. David Boch fez uma análise histórica da igreja e ele analisou a igreja administrativamente sob dois aspectos: o aspecto do movimento e o aspecto da instituição. O movimento é o que dá liberdade administrativa à igreja, você se move tal, etc. Mas, às vezes, você tem um movimento que foi demais. Imaginando isso no corpo: quando você faz um movimento extensivo você danifica, certo!? Quando você danifica o que você precisa!? Você precisa institucionalizar o movimento. Aí o que você faz? Você engessa para não permitir um movimento excessivo e restaurar o corpo. Está certo!? Mas, isto a

institucionalização deve ser provisória! Imagine que você botou gesso, diz Boch, e você achou o gesso um material inadequado e tirou o gesso e botou o aço. Ora, o aço é duradouro, bonito, vai manter, só que quando você botar um aço o que acontece com o seu movimento? Acabou. Vai chegar um tempo em que a institucionalização parou tanto o movimento que aquilo que era para se mover, começou a definhar. Então, o que é que acontece? Vai ter que quebrar, vai ter que rasgar, vai ter que jogar a instituição fora para o movimento voltar. Boch disse que a vida da igreja é uma luta entre movimento e instituição! Nós não podemos ter movimentos livres como quisermos, pois vamos terminar danificando. Mas, também não podemos transformar gesso em aço! Porque vai danificar a coisa que é mais importante que é o movimento, que é o agir, que é o ser livre da igreja. Então quando a gente diz que institucionaliza, normatiza, isto é bom por um tempo. Mas a gente tem que entender que não sendo doutrina a nossa norma precisa estar sempre na mesa para negociação, para avaliação, para contextualização. Essa é uma grande dificuldade para a IPB, e uma grande facilidade para a igreja local” (entrevista oral realizada em janeiro de 2008).

Entretanto, o vice-presidente da IPB, compreende que elas não devem ser mudadas por serem feitas por homens inspirados por Deus e terem por origem a Bíblia Sagrada. Para o mesmo, elas são da maior importância para o funcionamento da igreja. O mesmo, ainda, acredita que elas não devem ser nem aperfeiçoadas e sim aumentadas e cita o exemplo do código de disciplina que poderia acrescentar o texto de 2 Coríntios 2.5-11 o qual fala da importância de restaurar a comunhão do pecador com a igreja e com Deus.

Ou seja, o referido escrito bíblico mostra a necessidade das pessoas perdoarem, de todo o coração, os pecados do ‘irmão’ e não utilizar a disciplina eclesiástica como forma de vingança ou para destruição da pessoa que cometeu alguma transgressão contra a palavra de Deus.

Em contraponto, o pastor Cilas percebe também que grande parte das igrejas presbiterianas não têm seguido, em sua completude, as normas, as regras e os regulamentos da IPB. O que, para ele, causa prejuízo para a mesma, pois faz com que as igrejas locais fiquem com falta de identidade em relação à Igreja Presbiteriana do Brasil, pela infidelidade de alguns líderes (pastores e presbíteros) pelo não seguimento das normas, das regras e dos regulamentos propostos por esta denominação reformada calvinista.

“Eu te diria que há uma infidelidade por parte da liderança de não orientar, não se orientarem para cumprir a sua função de líder (porque todo pastor, todo líder presbiteriano em seu ato de ordenação se compromete a fazer isso, diante de Deus) e não cumpre, então por desconhecimento, não tem sido de fato seguido pelas igrejas, não é!? Então as igrejas não têm seguido” (entrevista realizada em março de 2006).

Enfim, quando se fala em regras, rotinas e normas na Igreja Presbiteriana de Jardim Atlântico, normalmente ela tenta seguir aquilo que é promovido pela IPB, ou seja, os Manuais Presbiteriano e da Sociedade Interna, sem esquecer de se embasar nas interpretações bíblicas. Isto não quer dizer que a mesma segue cem por cento, pois, como já dito, na comunidade cristã reformada local existem alguns inovações que não são contempladas por tal denominação religiosa. Entre estas, pode-se citar novamente o ministério de expressão corporal que até é proibido a existência deste nas igrejas filiadas à Igreja Presbiteriana do Brasil .

O pastor da IPJA, corroborando esta linha de raciocínio, entende que em pontos não tão rígidos, ou que não trazem prejuízos no que diz respeito ao não cumprimento desses, ou, ainda, que não contradizem com a Bíblia, podem deixar de ser seguidos.

“Agora há pontos e aspectos que não são tão rígidos, não é!? O que existe de fato, é que alguns pontos não são seguidos. E isso não traz prejuízos, não é!? Então quando não traz prejuízos eu acredito que algumas não são seguidas [...] depende quais são as normas ou quando não se cumprem. Qual o tipo de determinação que não foi cumprida, depende de um ponto para outro, não é!?” (entrevista realizada em janeiro de 2008).