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o gerontólogo nos Cuidados domiCiliários

Os cuidados domiciliários são sem dúvida um meio frutífero para o desenvolvimento da profissão do gerontólogo, pois o profissional depara-se com pessoa idosa, o seu meio habitacional, familiar, social e cultural, e diante todas estas variáveis inicia o processo da avaliação multidimensional do idoso. Desde logo uma característica que se mantém ao longo das avaliações que executei, que se situam já na ordem das centenas, é o tempo de duração, pois a média da primeira consulta de avaliação é no mínimo de duas horas. Primeiro é necessário que a pessoa idosa e a família consiga gerir melhor a carga emocional que situação vivenciada está a provocar. Em breves minutos, os idosos, contam-nos a história de vida, incluindo pormenores pessoais que, algumas vezes nem os próprios filhos têm conhecimento, só depois se consegue filtrar a informação que realmente é importante saber. Portanto, o velho hábito de nos sentarmos em frente ao idoso com uma série de escalas, um papel e uma caneta a fazer perguntas, está completamente fora de questão. Em

vez disso, desenvolvi uma grelha composta de vinte itens de avaliação do estado biológico, psicológico e sociológico, constituída por dez itens que abordam a vertente biológica, cinco a psicológica e cinco a social, avaliadas numa escala de um a cinco (ver Ferramenta para a Prática). Posteriormente realizo nova recolha de dados com instrumentos avaliação específicos (escalas) para os indicadores onde a pontuação foi mais baixa. Desta forma tornamos a avaliação inicial mais simples e eficiente.

Uma questão comum a todos os pedidos de intervenção no domicílio é que eles são desencadeados por uma perda de autonomia ou incapacidade da pessoa idosa resultante de um problema de saúde, quero com isto dizer que nenhum idoso ou familiar procura a prestação de serviços gerontológicos no domicílio por motivos psicológicos, como por exemplo a depressão, ou sociais, como por exemplo o isolamento. Contudo, a perda de autonomia carrega consigo alterações psicológicas como o sentimento de inutilidade, de culpa e até mesmo a depressão, atingindo por vezes o isolamento social. É aqui que o gerontólogo, após executar uma avaliação gerontológica inicial vai desenvolver estratégias de cuidado à pessoa idosa, designadamente: elucidar a família quanto à problemática que afeta o idoso; recrutar uma equipa de profissionais; formar os prestadores de cuidados; fazer um levantamento das barreiras arquitetónicas; propor o conjunto de ajudas técnicas adequado tendo em vista proporcionar o maior nível de integração a adaptação ao meio, de forma a potenciar a maior autonomia possível para o idoso. Todo este processo implica uma grande alteração na vida e no quotidiano da pessoa idosa e da família, por isso o gerontólogo tem um papel fundamental na gestão emocional dos mesmos, diminuindo-lhes a ansiedade. Depois tem um papel reeducador e formador, pois vai ter de ensinar e treinar o idoso a fazer uso das ajudas técnicas que foram implementadas, bem como adaptar-se física e psicologicamente à sua nova condição.

No mesmo processo o gerontólogo avalia, desenvolve a terapêutica e adapta estruturas para gerar autonomia e autoestima na pessoa idosa. Para isso pode recorrer a profissionais formais, informais, unidades de saúde, instituições para pessoas idosas, ao mesmo tempo que coordena o desenvolvimento de todo o processo e forma os intervenientes para a especificidade da problemática daquela pessoa idosa em particular.

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Outro ambiente natural de trabalho do gerontólogo é sem dúvida as instituições que prestam serviços de apoio a idosos, representadas sobretudo nas respostas sociais de centro de dia, serviço de apoio

domiciliário e lar. Em todas elas o gerontólogo assume-se como uma peça chave no garante de cuidados gerontológicos de qualidade, pois intervém ao nível da avaliação multidimensional do idoso, no respetivos planeamento junto da equipa multidisciplinar dos serviços a ser prestados a essa mesma pessoa, e na execução desses mesmos cuidados e serviços. Mais uma vez a avaliação assume um papel primordial para o planeamento dos cuidados a ser prestados. Por experiência pessoal, verifiquei em inúmeras situações, e em diferentes circunstâncias, que não existe um verdadeiro histórico das pessoas idosas institucionalizadas, e quando existe o mesmo não é partilhado com a restante equipa de colaboradores, e menos existe ainda um plano individualizado de cuidados centrado nas necessidades de cada idoso. É verdade que alguns destes planos individualizados são elaborados, mas encontram-se num armário fechados para simplesmente cumprimento de obrigações formais.

Apesar de nos últimos anos se ter verificado uma enorme evolução na qualidade dos serviços prestados, a maioria das instituições vê-se a braços com falta de quadros qualificados e de recursos humanos. Em muitas instituições não existem pessoas suficientes para poder prestar essa mesma individualização de cuidados, em que a desculpa mais comum é a falta de tempo, ou de recursos económicos para novas contratações.

Esta é uma questão que se deve sobretudo à pequena dimensão de grande parte nas nossas instituições de apoio a idosos, da qual resultam elevados custos fixos e de manutenção das estruturas, faltando depois orçamento para o mais importante, os recursos humanos. Uma outra questão é má gestão de tempo. A má gestão do tempo é transversal a todos os recursos humanos, mas coloco especial enfoque nos recursos mais qualificados, pois é nas mãos destes que assenta o papel de mudança dentro das instituições, tendo em vista ganhos qualitativos para os clientes idosos. Cabe aos quadros qualificados desenvolver estratégias de cooperação e liderança de equipas, nomeadamente das auxiliares de ação direta, a quem muitas vezes é apontado o dedo de falta de profissionalismo e formação, mas que, vem vistas as coisas, menos responsabilidades têm em todo este processo, e sem dúvida, são aquelas pessoas que mais trabalham dentro das instituições, ainda que muito poucas vezes sejam reconhecidas e homenageadas pelo trabalho que desenvolvem.

Sensivelmente em 90% das instituições com que trabalhei e trabalho, é notória uma quebra de contacto entre a gestão de topo e os trabalhadores, entre direção técnica e auxiliares. Não existe liderança, não existe espírito de missão; não existem objetivos comuns, não existe uma missão comum, partilhada e divulgada, não existe envolvimento

de toda a estrutura. É fácil perceber que os resultados são instituições desarticuladas, nem sempre com bom ambiente de trabalho, pouco motivadas, e com elevados índices de stress laboral. Ora tudo isto se reflete no produto final, a qualidade de prestação de cuidados à pessoa idosa. O gerontólogo tem a obrigação de mudar estes conceitos, pois a sua visão é mais abrangente. Terá de atuar junto da direção da instituição, unificando-a e motivando-a em torno de um objetivo comum; terá de fazer a ponte para a direção técnica e transpor os objetivos para a equipa de colaboradores, motivando-os, e preocupando-se com eles, pois é impossível prestar bons serviços ou cuidados sem uma equipa motivada para isso.

Só depois do gerontólogo conseguir suprimir as necessidades básicas da instituição, vulgo, direção, direção técnica, colaboradores, idosos e familiares, é que pode começar a desenvolver um projeto de cuidados verdadeiramente gerontológicos, com valor acrescentado para os seus clientes. O gerontólogo volta-se então para o idoso, estudando o seu perfil, motivações, objetivos, esperanças, necessidades e, claro, mostrando-lhe o caminho da autonomia, da individualidade, fazendo acreditar que é uma pessoa única, válida, que merece respeito, dedicação e atenção.

Aqui está demonstrado o valor do gerontólogo numa instituição, onde pode assumir um papel de notória plasticidade entre as suas competências de gestão da organização, de recursos humanos, de recursos materiais, de índices de motivação, de liderança, da promoção da sensibilização para a individualidade do idoso, de formação e coordenação das equipas. Estas características são únicas neste profissional, o que justifica ainda mais a sua contratação quando os recursos económicos são escassos pois engloba um conjunto extremamente abrangente de competências.

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Cuidar de pessoas idosas, em toda a amplitude do termo, significa centrarmo-nos naquilo que é mais importante, o idoso. Para que isso aconteça é necessário investir nos intervenientes diretos, os cuidadores formais e informais, quero com isto dizer que, não raras vezes, assistimos à conceção de sumptuosas estruturas de apoio a idosos, que implicam enormes gastos e esforços financeiros, mas que se candidatam a ferir o orgulho de pessoas que tiveram uma vida de sacrifício e trabalho, ao não investirem no mais importante que são as pessoas que cuidam de outras pessoas. Quando reclamamos perante a falta de qualidade de um serviço, obtemos a resposta que não há meios para contratar mais pessoas porque as despesas já são muitas, então chego à conclusão que

as pessoas idosas, os seus familiares e inclusive, o próprio contribuinte, pagam paredes em vez de pagar serviços e cuidados. É necessário criar estruturas mais leves e eficientes, sustentáveis, onde se invista no que é mais importante, os profissionais que prestam cuidados, dotando- os das ferramentas necessárias para prestarem serviços e cuidados de qualidade.

Faz todo o sentido utilizar nas instituições de apoio a idosos, sejam de carácter particular ou privado, metodologias já utilizadas na área da produção industrial, ou mesmo nas unidades de saúde, centrando uma boa parte da atenção nos colaboradores. Um colaborador motivado produz mais que um pouco motivado, um colaborador que sente que a sua entidade empregadora se preocupa com o seu bem-estar dá mais de si aos que o rodeiam no ambiente laboral; um colaborador que é recebido com um sorriso no seu local de trabalho pelos seus superiores hierárquicos transmite mais carinho e amor àqueles de quem cuida. É necessário estabelecer dinâmicas de incentivo para os colaboradores, prémios de produtividade, terapias no trabalho, como terapias do riso, atividade física, convívio social, alimentação saudável, acompanhamento psicológico e reconhecimento do trabalho dos colaboradores. É importante valorizar o que as organizações de serviços para idosos têm de maior valor, os seus colaboradores.