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Cuidados a observar no sentido de fortalecer as relações intergeracionais familiares.

1. As trocas intergeracionais quando possível devem ser compósitas, isto é, devem ser simultaneamente afetivas, normativas e instrumentais.

2. No seio da família deve ser promovida a entreajuda em tarefas simples, por vezes meramente simbólicas, mas geradoras de cumplicidades e de laços para o futuro, como por exemplo: ajudar os irmãos mais novos a vestir-se; aos sábados de manhã levar o pequeno-almoço aos pais; acompanhar os avós no passeio de fim de tarde.

3. Manter o hábito de celebrar em família datas e acontecimentos significativos, como aniversários, festividades, etc.

4. Valorizar e promover a memória da família pois nela se podem encontrar elementos orientadores para a gestão dos afetos e para a normatividade das relações. Filmes, fotografias, cartas,

documentos oficiais, objetos antigos, entre outros, podem ser usados com este fim.

5. Promover a partilha de códigos e dos meios comunicacionais, os tradicionais e os pós-modernos.

6. Estimular o hábito de abordar em conjunto os problemas e as dificuldades que eventualmente surjam no seio familiar.

7. Recorrer a programas de terapia familiar quando se sentir que isso poderá ser útil.

reFerênCias

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dePendente

Maria José Gomes & Augusta Mata

Faz parte do senso comum afirmar-se que a família constitui o local ideal para viver todas as etapas do nosso desenvolvimento preconizando, consequentemente, o local privilegiado para envelhecer. Sousa, Figueiredo e Cerqueira (2004) dizem que a família representa o lugar de aconchego, segurança, identidade e lembranças e, ainda que as relações se tornem mais difíceis e os conflitos emirjam, ela continua a ser o nosso lugar.

Assim, e porque o envelhecimento tem como característica a universalidade, representa uma realidade à qual ninguém consegue escapar e, porque hoje cada vez se vive mais, importa que no presente e se reflita acerca do futuro. Como afirmam Romero e Wasiek (2007), prepararmo-nos para uma vida longeva é uma questão que diz respeito à sociedade no seu conjunto, e não apenas aos idosos, uma vez que a velhice de ontem é diferente da velhice de hoje e, a de hoje, será seguramente diferente daquela que irá acontecer nas décadas futuras.

Ao longo do tempo a família evolui, ultrapassando várias etapas, tendo como funções primordiais o desenvolvimento, proteção e socialização dos seus membros. Esta evolução traduz-se no ciclo vital da família e,

como afirma Royo (2004: 241) “A família regenera-se continuamente através do ciclo do nascimento, matrimónio e morte, envolvendo novos membros à medida que os velhos morrem. Quando um membro se casa, estabelece-se um novo jogo de parentesco”.

O ciclo de vida familiar é dividido em estádios definidos a partir de momentos de crise. Dos vários modelos de estádios existentes, a maioria inicia o ciclo de vida familiar com a constituição de um novo casal, passa pelo nascimento dos filhos, pela adolescência dos mesmos, a sua saída enquanto adultos independentes, para finalmente culminar com o último estádio – família no final da vida. Bianchi e Estremero (2003) reconhecem-lhe sete etapas: constituição do casal; nascimento de uma criança; filhos em idade escolar; saída dos filhos de casa e respetivo casamento; etapa madura; anciania.

As mesmas autoras afirmam que, ao longo da sua existência, as famílias atravessam diferentes tipos de crises que, segundo as características que assumem, podem constituir crises evolutivas ou crises inesperadas. As crises evolutivas dizem respeito às alterações esperadas, e a maioria das pessoas passa por elas. Essas alterações requerem sempre um tempo de adaptação para enfrentar novos desafios e fazem parte do desenvolvimento de uma vida normal. Já as crises inesperadas dizem respeito àqueles acontecimentos que ocorrem de forma repentina, que não se encontram na linha evolutiva habitual, como é o caso da morte prematura de um elemento da família, a perda de emprego, uma emigração forçada, ou um caso de dependência e incapacidade não prevista.

Ambos os tipos de crise podem ser vividos de formas distintas, dependendo dos recursos e de experiências anteriores, havendo famílias que podem passá-las com maior facilidade e capacidade de adaptação, enquanto outras apresentam dificuldades acrescidas em vivenciá- las, revelando dificuldades adaptativas às situações em questão. Estas diferenças estarão, seguramente, relacionadas com a diversidade cultural existente e com os usos e costumes, pelo que não se pode afirmar que existam formas mais, ou menos, corretas de ultrapassar as distintas etapas.

Ainda, as mesmas autoras, à medida que caracterizam os diferentes estádios, enunciam os problemas mais específicos de cada um, e, no que se refere à etapa da anciania, afirmam que cada elemento do casal irá sofrer alterações que vão requerer um determinado tempo para serem processadas. Nesta etapa, verifica-se ainda uma inversão de papéis no que concerne à prestação de cuidados (físicos, emocionais ou mesmo económicos), assumindo esses novos vínculos, características distintas,

de acordo com a forma como foram vividos os estádios anteriores. Para Romero e Wasiek (2007), a geração mais idosa deve permitir que os seus descendentes assumam um papel mais central na vida familiar, mantendo, no entanto, o espaço necessário para a sabedoria e experiência dos mais velhos. Mas é também neste último estádio da vida familiar que as pessoas têm necessidade de aprender a viver e a gerir as diferentes perdas: morte de familiares, do cônjuge, de amigos, perda de prestígio e de poder, para além de um possível declínio das capacidades físicas e intelectuais, que necessitam da intervenção de um cuidador para a satisfação das necessidades da vida.

O cuidado de uma população que envelhece representa um desafio, já que esse segmento apresenta uma maior carga de doenças crónicas e incapacitantes quando comparado com outros grupos etários, resultando em necessidades crescentes de serviços sociais e de saúde. Assim, neste cenário, a família permanece como a instituição que cumpre o papel social de cuidar de idosos, apresentando uma enorme flexibilidade e capacidade de gerar estratégias adaptativas e atuando como espaço transmissor de oportunidades e de perspetivas de vida para os seus membros.