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i ntervenção dos proFissionais Que traBalham Com idosos

Se é notório o aumento do número de pessoas que chega a idades avançadas em plenas condições de saúde, física e psíquica, para continuarem a expressar a sua sexualidade, percebe-se a importância da necessidade de intervenção e da orientação sexual com a população idosa.

Seja por desconhecimento e/ou por défice de formação pré e pós- graduada, o profissional que lida com esta população, muitas vezes não se sente preparado para lidar com o assunto.

A intervenção nas questões específicas relacionadas com a saúde sexual implica claramente uma formação académica e científica alicerçada no conhecimento, não só da anatomia e fisiologia sexuais, mas também dos modelos psicoterapêuticos gerais que servem de base à dita intervenção.

A sexologia é uma área interdisciplinar no que diz respeito à produção de conhecimento. Lembramos que além da psicologia e da medicina, outras áreas do saber, como a sociologia e a antropologia, contribuem fortemente no sentido da compreensão dos aspetos históricos, culturais e antropológicos dos fenómenos sexuais. Não obstante, acreditamos que o exercício clínico desta área será da competência de profissionais de saúde, como psicólogos, psiquiatras, ginecologistas ou urologistas.

De qualquer forma, pretendemos mostrar que o aconselhamento sexual pode, em alguns casos mais simples, ser realizado sem o recurso a uma consulta especializada, já que muitas vezes o acesso a esta se mostra difícil. Mesmo tendo em conta a especificidade do campo de intervenção, ela pode ser feita a vários níveis, e para cada um deles, a formação científica e técnica de cada profissional que vai intervir, poderá ser suficiente para o fazer de forma eficaz.

síntese

A sexualidade é um fator que ocorre naturalmente na vida de cada um de nós, e a sua vivência plena será porventura, ainda, um direito a adquirir pela população mais idosa. Sabemos também que a sua

expressão não é culturalmente aceite, sendo que, um ato de carinho e afeto tão simples como um beijo, pode ser capaz de provocar atitudes de reprovação.

Muita gente, incluindo profissionais de saúde, desconhece que as pessoas mais velhas têm uma vida sexual ativa, prevalecendo a ideia de que são seres assexuados, pelo que muitas vezes, o idoso sofre pressões e rejeições, mesmo por parte da sua própria família.

Paulatinamente, a visão mais positiva de um envelhecimento ativo, onde a sexualidade está incluída, parece ganhar terreno. Para isto contribui também a atuação de muitos profissionais que trabalham com esta população, não obstante o facto de continuar a existir a necessidade de formação pré e pós-graduada que lhes permita conhecer e perceber os fenómenos existentes na vivência e expressão do comportamento sexual em geral, e dos idosos em particular.

Se todos conseguirmos perceber a importância que a expressão livre da sexualidade tem para a população idosa, estaremos a “dar a Eros a oportunidade de viver o seu outono”.

Ferramentaparaa prátiCa:

O modelo PLISSITP de aconselhamento sexual

O modelo PLISSIT, acrónimo em Inglês para Permissions, Limited Information, Specific Sugestions e Intensive Therapy, desenvolvido pelo psicólogo americano Jack Annon veio proporcionar uma via prática para resolver os problemas sexuais mais comuns, para os quais podem não ser necessários nem uma terapêutica intensiva, nem um programa específico de tratamento. Este modelo não foi descrito para o uso exclusivo dos terapeutas sexuais, psicólogos ou médicos, mas para qualquer técnico que venha a ser solicitado a atuar como profissional de ajuda. Damos como exemplo, no caso da intervenção com a população idosa, os enfermeiros, os gerontólogos ou os assistentes sociais.

O modelo concetualiza quatro níveis no aconselhamento sexual cuja complexidade e grau de conhecimentos necessário vai aumentando conforme a dificuldade do problema, sendo que, as intervenções podem ser úteis e suficientes em qualquer destes níveis, progredindo em etapas, conforme as necessidades dos casos apresentados.

Permissão. Quem presta ajuda poderá por começar pela criação de

um “espaço” onde quem procura ajuda se sinta à vontade para o fazer. A atitude de escuta, que é diferente da atitude de ouvir, será o ponto de partida. A grande maioria das vezes, o objetivo de quem procura ajuda

nesta área, é ser reconhecido como “normal”, que não tem nenhum problema, que os pensamentos ou fantasias sexuais não são “perversões” ou “sintomas de uma qualquer doença”.Neste caso, trabalhar os mitos relacionados com a sexualidade pode ser importante na redução da ansiedade que conduz à disfunção sexual. A autopermissão é uma das fases deste nível, uma vez que quem presta ajuda deve dar a si próprio permissão de não ser perito e de aceitar os seus próprios limites.

Informação Limitada. Neste nível, se a permissão não é suficiente,

pode ser necessária a informação limitada, dirigida às dúvidas e alternativas, com o intuito de reduzir a ansiedade relativa ao problema. Esta fase é caracterizada pelo fornecimento de cognições pertinentes, proporcionando condições de mudanças de comportamento. Muitas vezes pode ser suficiente a explicação sobre a anatomia e a fisiologia dos órgãos sexuais, já que muitas pessoas têm noções erradas sobre o funcionamento do seu próprio corpo, criando muitas vezes expetativas irrealistas sobre a sua resposta sexual. Este nível exige da parte de quem presta a ajuda, competências que lhe permitam oferecer as informações.

Sugestões Específicas. Quando os níveis anteriores não se mostram

eficazes para resolver o problema, a informação a prestar terá que ser dirigida à situação específica apresentada, sendo que, a intervenção a este nível requer recomendações práticas ou exercícios desenhados para cada caso individual.

Terapia Intensiva. O último nível de intervenção ficaria reservado

para os casos em que todos os níveis anteriores não foram suficientes para resolver as queixas apresentadas, exigindo a intervenção de terapeutas sexuais, através de um plano individualizado, a longo prazo, e dirigido às complexas causas subjacentes.

Desta forma, o modelo PLISSIT representa um sistema de intervenção, onde os casos mais simples se eliminam primeiro, e os mais complexos vão diminuindo o seu número, mostrando que nem todos os problemas sexuais necessitam de ajuda especializada.

A intervenção dos técnicos que lidam com a população idosa pode passar também por organizar, dentro das instituições onde exercem a sua profissão, atividades de caráter preventivo, já que a saúde sexual deve ser parte integrante de qualquer programa de intervenção que tenha como objetivo a melhoria da qualidade de vida e a prevenção da doença.

Apesar das dificuldades que muitas vezes se sente em implementar este tipo de práticas, já que muitas vezes implica a alteração de rotinas de funcionamento das instituições, estas são medidas simples que permitem manter bons níveis de saúde, evitar algumas doenças e detetar problemas de saúde quando estes estão no seu início.

Segundo Camarano (2004: 276) “a Organização Mundial de Saúde, desde 1997, recomenda que os programas sobre envelhecimento e saúde não coloquem o idoso como um grupo estático, separado do resto da população.” Daí a importância do planeamento de ações que fortaleçam o envelhecimento com saúde.

Sendo o envelhecimento ativo a palavra de ordem, que pode ser entendido como o conjunto de atitudes e atividades no sentido de prevenir ou adiar as dificuldades associadas ao envelhecimento, evita-se a aceitação gratuita das representações sociais negativas que contribuem para que o idoso se acomode aos rótulos perpetuando a imagem que tem de si próprio.

A criação de espaços de relação, através da utilização das técnicas de dinâmicas de grupo, da discussão a partir de situações-problema sobre temas relacionados com a sexualidade, poderá trazer benefícios para a autoimagem do idoso, potenciando a perceção sobre as suas capacidades de estabelecer relações, de dar e receber afetos, de desejar, desmontando os receios que muitas vezes estão subjacentes ao seu comportamento de evitamento e de isolamento, ao negar a sua individualidade enquanto ser sexuado e capaz de amar.

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