• Nenhum resultado encontrado

o PAPel dAs instituições e dA fAmÍliA

P

ortuGAl

Fernando Pereira

O apoio aos idosos está baseado na família e na institucionalização de origem pública, privada, ou em parceria. Vamos proceder uma síntese diacrónica da importância de cada um.

Iniciando pela família, esta, tal como qualquer outra organização humana, está sujeita aos condicionalismos da pós-modernidade. A tendência geral, verificada em diferentes países e culturas, quer em espaço urbano quer em espaço rural, tem sido a substituição progressiva da família extensa pela família nuclear. Apesar desta mudança fundamental, e ao contrário da ideia generalizada pelos meios de comunicação social, a investigação sociológica mostra que as relações intergeracionais1

continuam a ser fortes nas sociedades industrializadas (Fernandes, 2008) (Bengtson, Rosenthal, & Burton, 1996) e que, paradoxalmente, alguns fenómenos que afetam a família, como o divórcio, a monoparentalidade e o desemprego, acabam por reforçar o papel da família, sobretudo dos elementos mais idosos (Bengtson et al., 1996).

A fragilidade das relações intergeracionais, verdadeira rede de suporte social informal, não resulta da perda de qualidade dos afetos

1 As relações intergeracionais familiares podem ser apreciadas em três planos: o plano afetivo que diz respeito aos afetos trocados entre familiares que são centrais na manutenção de ambientes socializantes ótimos no sentido dado por (Erikson, 1972); o plano normativo, que enquadra o conjunto de normas, costumes, crenças e valores partilhado pelos membros da família; e o plano instrumental que pode incluir, entre outros: apoio financeiro, o cuidado de crianças ou de idosos, realização de tarefas domésticas, troca de bens materiais não monetários.

entre os membros da família, devidas à crise de valores imputáveis à pós-modernidade (crise do casamento, diferenças de mentalidade, pressões socioprofissionais, entre outras). A fragilidade, ou a falência, das relações intergeracionais, resulta da falta de pessoas para construir e reconstruir continuamente essas relações, como é obrigatório em todos os fenómenos sociais. Há muitos idosos e casais de idosos que vivem sós, porque os seus filhos se encontram longe no litoral do país ou no estrangeiro.2 É uma crise de pessoas, provocada por movimentos

demográficos intensos, continuados e irreversíveis, como causas de um nível de desenvolvimento incapaz de produzir riqueza e garantir condições de vida e de trabalho. A situação é mais grave nas aldeias e vilas de menor dimensão do interior do país. Todas as fragilidades apontadas às relações intergeracionais constituem-se obviamente como entraves ao desenvolvimento ativo. O contrário também é verdadeiro, as relações intergeracionais fortes e saudáveis são expressões inequívocas de envelhecimento ativo.

Passando à institucionalização, em Portugal, em 2008, existiam cerca de 5500 entidades proprietárias de equipamentos sociais, das quais a grande maioria (72%) pertence ao setor não-lucrativo (sobretudo as IPSS3) e 28% ao setor lucrativo (privado). Estes valores expressos na

Carta Social 2008 ilustram bem o crescimento do setor social, assim como o esforço do estado na sua implementação (MTSS-GEP, 2009).

No caso das respostas sociais para idosos, devido a falta de cuidadores informais (familiares) e à complexidade dos cuidados a prestar, aumentou o recurso aos cuidados institucionalizados, nas suas diferentes formas. Desde o ano 1998, o crescimento das respostas sociais para as pessoas idosas atingiu os 51,1%, tendo sido, em 2008, identificadas cerca de 6800 valências. Ao longo destes dez anos os Serviços de Apoio Domiciliário (SAD) têm apresentado a maior taxa de crescimento (82,8%), seguido pelos Centros de Dia (CD) com 42,5% e pelas Residências de Idosos (RI) e Lares para Idosos (LI) com 39% (Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social [MTSS-GEP], 2009).

A oferta de serviços é garantida sobretudo pela atividade das IPSS’s (sector não-lucrativo). Estas, de uma forma geral, estão dotadas com meios técnicos e humanos (equipas interdisciplinares) que garantem 2 Em 2001 um estudo do INE refere que as pessoas que vivem só em Portugal são sobretudo idosos, residentes no interior do país, mulheres, viúvas e reformadas; e que em ATM a proporção de idosos a viver só relativamente aos idosos residentes é de cerca de 20% (Magalhães, 2003).

3 IPSS – Instituição Particular de Solidariedade Social, são instituições constituídas sem finalidade lucra- tiva, por iniciativa de particulares (organizações de direito associativo ou cooperativo, muitas delas com ligações à Igreja Católica), com o propósito de dar expressão organizada ao dever moral de solidariedade e de justiça entre os indivíduos e desde que não sejam administradas pelo Estado. Para levar a cabo os objetivos da segurança social e de acordo com as necessidades locais, os Centro Distritais de Segurança Social/Instituto Segurança Social, podem celebrar Acordos de Cooperação com as IPSS ou equiparadas, através dos quais garantem a concessão direta de prestações em equipamentos e serviços à população, ou Acordos de Gestão através dos quais transferem a gestão de serviços e equipamentos pertencentes ao Estado.

o acesso dos idosos a cuidados gerontológicos de qualidade. Todavia a gestão destas IPSS’s não é fácil. As contribuições financeiras do estado, embora importantes, não são suficientes para custear as despesas dos cuidados gerontológicos os quais são cada vez mais sofisticados, prolongados e dispendiosos.4 Assim, a parte em falta tem de assegurada

pelos utentes e através de receitas próprias geradas pelas organizações. Dado que na sua maioria os utentes possuem rendimentos baixos (em muitos casos apenas o valor da pensão de reforma), a margem de gestão das organizações é muito pequena. Isto é cada vez mais verdade, pois o nível de sofisticação dos cuidados (e também o seu custo) aumenta constantemente.

Relativamente às instituições privadas com fins lucrativos a sua expressão é menor. Isto deve-se sobretudo aos baixos rendimentos da maioria dos idosos portugueses, que não dispõem de recursos para aceder a este tipo de entidades prestadoras de serviços. Outro fator determinante da menor expressão das entidades privadas com fins lucrativos resulta da política de qualidade dos serviços prestados, imposta recentemente, ter levado ao encerramento de muitas entidades que não quiseram, ou não puderam, adotar as exigências necessárias. Ao nível da prestação de serviços de apoio domiciliários verifica-se o aparecimento recente de muitas entidades privadas com fins lucrativos. Isto explica-se, por um lado, pelo incentivo à manutenção dos idosos na comunidade e na família e, por outro lado, porque os custos destes tipo de serviços são menores do que os custos da institucionalização de longa duração, permitindo o seu acesso a mais utentes.