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Se a sexualidade feminina só agora começa a ser compreendida e estudada de forma mais aprofundada, tendo sido votada ao esquecimento durante décadas, a sexualidade da mulher idosa parece-nos ainda mais difícil de conhecer.

O climatério3, ou o final do período fértil, parece querer de alguma forma marcar a fronteira para o início de uma nova etapa. De alguma forma a mulher vai ter que se reposicionar, lidando com novas emoções e sentimentos relativos não só ao seu corpo, mas também à sua sexualidade, pressupondo um verdadeiro ajustamento psicológico. Neste aspeto, o conhecimento da sua própria sexualidade, e os fatores culturais e religiosos jogam um papel decisivo.

Anzieu (1989) referindo-se à mulher durante o processo de envelhecimento, diz que a infância, a adolescência, a juventude, a maturidade, e a velhice são marcadas no corpo da mulher por traços que definem um momento da sua evolução, da sua mentalidade de mulher. A plasticidade do corpo que se deteriora comunica-se ao Eu. O enfraquecimento do envelope corporal imbrica-se no envelope psíquico. A mulher idosa parece então “desligar a ficha”, adormecer o desejo, trazendo consigo as restrições e os preconceitos que a cultura e a sociedade impõem à velhice no que diz respeito à vivência da sexualidade. Por vezes a culpabilidade aparece, quando esse desejo é trazido à consciência, aspeto este potencializado pela vigilância das pessoas mais próximas que parecem castrar, à partida, a manifestação de qualquer afeto onde a componente sexual esteja presente.

Segundo Lopes & Maia (1994), as mulheres, e incluímos aqui as idosas, têm o direito ao conhecimento de como funciona seu corpo, têm o direito de conhecer as causas e consequências de sua atividade sexual, de como agir para que essa atividade seja agradável, prazerosa e saudável, e eliminar a velha tradição da crença inadequada de que sexo é uma atividade destinada só a ter filhos, e que a satisfação sexual não é tão necessária para as mulheres como é para os homens.

Do ponto de vista da anatomia e fisiologia, na fase pós-menopausa, a mulher percebe as alterações nos genitais, na aparência corporal, e a modificação nas sensações durante as relações sexuais. Estas mudanças não ocorrem de forma súbita nem se apresentam do mesmo modo em todas a mulheres. Devido à quebra da produção de estrogénios, na fase de excitação, a lubrificação vaginal torna-se mais demorada, causando, por vezes, um coito doloroso. Da mesma forma a fase orgástica pode estar alterada, ou seja, existe a possibilidade de demorar mais tempo a atingir o orgasmo, ou necessitar de maior tempo de estimulação, pelo que estes sintomas podem aumentar pela falta de atividade sexual, sendo que a regularidade da sua expressão se mostra necessária para a manutenção da capacidade e consequentemente de um desempenho efetivo.

Mas se durante o processo de envelhecimento, a resposta sexual sofre as inevitáveis transformações, estas, não implicam necessariamente a

3 O climatério é o nome científico que descreve a transição fisiológica do período reprodutivo para o não re- produtivo na mulher. O período do climatério abrange a menopausa, que ocorre com a última menstruação espontânea.

extinção da sexualidade na vida da mulher. Novas oportunidades se abrem, para viver a sexualidade de uma forma mais descontraída. Liberta, por exemplo, da “fobia da gravidez”, muitas mulheres casadas ou numa relação, afirmam viver uma segunda “lua-de-mel”, onde a qualidade da relação se sobrepõe à quantidade.

O impulso sexual da mulher idosa, mantém-se intato, apesar de todas as modificações hormonais e fisiológicas, pelo que, a sua expressão, como dissemos antes, não implica necessariamente uma centralização nos genitais, mas antes na troca de afetos, na comunicação, na partilha da intimidade, que pode, ou não, ser direcionada para as práticas sexuais mais comuns. No entanto o sexo ativo prova que os seus corpos ainda são capazes de funcionar bem e causar prazer.

A capacidade de sedução não se perde, e aqui a forma como lidam com o seu corpo, dá pistas sobre a forma como lidam com a sexualidade. Veja se o exemplo das mulheres que, mesmo com o avançar da idade, procuram cuidar-se, procurando tornar-se atrativas aos olhos de outrem, ou mesmo para si próprias, aumentado a sua autoestima e consequentemente a sua autoconfiança.

Claro que a expressão desta sexualidade está também dependente da possibilidade da mulher ter um parceiro. Na sua ausência, por perda ou incapacidade do mesmo, muitas vezes, este desejo, parece ser sublimado, sendo que, o investimento recai nas relações afetivas com os familiares mais próximos ou em atividades socioculturais que vão permitir preencher o vazio da ausência do contato.

Seria, talvez, interessante refletir sobre a tendência do sentido de uma sociedade de mulheres idosas sem homens. Se contarmos que há mulheres que permanecem solteiras, outras que perdem os companheiros pelos mais variados motivos, até ao fato da dádiva da longevidade não ter sido igualmente distribuída entre os sexos, o resultado será um grande número de mulheres que vão viver sozinhas o seu processo de envelhecimento, e os seus últimos anos de vida. Consequentemente, as suas inseguranças básicas são reativadas, e como dissemos antes, sublimado o seu impulso sexual.

Masters & Johnson (1966) dizem-nos que privadas de saídas sexuais normais, elas exauram-se fisicamente num esforço consciente ou inconsciente para dissipar as suas tensões sexuais acumuladas e frequentemente não reconhecidas.

Definitivamente, a mulher idosa tem impulsos sexuais que procuram ser resolvidos. A sua capacidade sexual e o seu erotismo pessoal sofrem a influência indireta das condicionantes biológicas, psíquicas e socioculturais que resultam do seu processo de envelhecimento. Apesar

disto, Masters & Johnson (1966) afirmam que não há limite de tempo traçado pelo avançar dos anos à sexualidade feminina.