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GRÁFICO 11 B: COMPARATIVO DA POPULAÇÃO DA PARÓQUIA DO PILAR DO OURO PRETO EM 1838, 1872 E 1890 (POR COR) – EM NÚMEROS RELATIVOS

No documento S OB OB ADALAR DOS (páginas 196-199)

0 10 20 30 40 50 1838 1872 1890 Brancos Pardos/Mestiços Pretos Caboclos

Fontes: Lista Nominativa de 1838, Censo de 1872, Censo de 1890

336 NUNAN, Manoel Berardo Accurcio. Repertório geral ou índice alphabético das leis... p. 207. 337 PUNTONI, Pedro; DOLHNIKOFF, Miriam (Coord.). Os recenseamentos gerais do Brasil no século

Ao apresentarmos a população relativa em cada um dos três censos, podemos visualizar melhor a proporção entre os sujeitos das várias cores ou qualidade. Entre 1838 e 1872, houve mudança drástica entre a proporção de brancos e pardos, sendo que, se esses perfaziam 43% da população, passam a compor praticamente 30%, tendo ligeira retomada em 1890 (35%). Como não constatamos a chegada expressiva de colonos brancos ou mesmo fluxo migratório intenso para o primeiro período, podemos concluir que o significado de pardo muda. Não tanto os pretos adquirem o status de pardo, mas, esses têm sua cor “branqueada” no recenseamento de 1872.

Já entre o primeiro Censo Geral do Império e o primeiro republicano, a observação mais imediata é com relação à redução proporcional no número de pretos. Se, em 1838, estes somam 28%, em 1872, já se veem reduzidos para 25% do total da população, e, em 1890, tornam-se 14%. A tendência ao “branqueamento” da população se mantém, observado tanto através da maior proporção de brancos como de pardos. A proporção de caboclos também aumenta, indicando-nos a mudança de interpretação dada ao termo, levando à sua maior valorização, pois não consta, em nossa documentação, indícios de chegada de índios ou de mestiços de índios na região.

O professor Tarcísio Botelho analisa os resultados do Censo de 1872 e, a partir de seus resultados, descreve a nação brasileira no início do último quartel do século XIX. Ajuda-nos, assim, de certa forma, a explicar o movimento social identificado pela mudança de concepção referente à cor dos sujeitos daquela época, além da preocupação oficial em se encobrir uma realidade indesejável:

uma nação homogênea quanto aos aspectos culturais, mas hierarquizada quanto à sua condição social e quanto à cor. A preocupação com a cor seria o foco das indagações, nas décadas seguintes, acerca dos destinos da nação. Nessa época, estava sendo alvo de reelaboração por parte de uma nova geração de intelectuais, que passava a se preocupar, sobretudo com a questão racial.338

Ainda de acordo com o professor, havia um “incômodo causado pela constatação de que nossa população era marcada e crescentemente mestiça”. Essa realidade apontava “para os limites da realização de um ideal de civilização e

progresso”, estabelecido pelas teorias racialistas que “ganharam vigor nas décadas finais do século XIX”.339

O Censo de 1872 se preocupou em identificar a população com relação à naturalidade e à nacionalidade. Não há referência às nações da África, sendo que os originários daquele continente foram relacionados, de forma genérica, como “africanos”. A generalização da origem dos escravos vindos da África já era presente nos documentos paroquiais, sendo que, muitas vezes, eram identificados, simplesmente, como “de nação”. Ao considerar o estado civil, há o acréscimo do item divorciado. No quesito condição social, não há mais a designação de liberto.

O processo de construção da cidadania brasileira, iniciado com a independência política, em 1822, e referendado pela Constituição de 1824, deu início ao debate sobre os direitos civis dos libertos, pois a Carta Magna reconhecia o direito civil de todos os cidadãos brasileiros. No entanto, os direitos políticos eram determinados em função das posses de cada um. O sistema de voto censitário diferenciava o cidadão passivo (sem renda suficiente para ter direito a voto) daquele ativo votante (com renda suficiente para votar), sendo que havia ainda o cidadão ativo eleitor e elegível. No entanto, para se qualificar como eleitor, era exigido que o sujeito tivesse nascido “ingênuo”, isto é, não tivesse nascido escravo.340

Para pensadores da época, como Antônio Pereira Rebouças, essa limitação era uma aberração, pois, se somente o direito de propriedade legitimava a escravidão, “uma vez liberto, o ex-escravo nascido no Brasil automaticamente tornava-se cidadão brasileiro, com todas as suas prerrogativas civis e políticas”.341 Como no Censo de 1872 já constatamos a ausência dos alforriados, podemos concluir que a discussão sobre os direitos civis dos libertos havia se encerrado, e a população passou a ser dividida entre os livres e os escravos.

O primeiro recenseamento geral do Império possibilita que tenhamos uma visão bem panorâmica da província de Minas Gerais, esclarecendo sobre sua complexidade

339 BOTELHO, Tarcísio Rodrigues. Censos e construção nacional no Brasil Imperial. p. 337. 340 CASTRO, Hebe Maria Mattos de. Escravidão e cidadania no Brasil monárquico. p. 20-21. 341 CASTRO, Hebe Maria Mattos de. Escravidão e cidadania no Brasil monárquico. p. 43.

econômica e as especificidades regionais. O conjunto de dados de 1872 está completo para 358 das 372 paróquias existentes em Minas Gerais.342

O Censo Geral do Império, que, em Minas, é concluído em 1873, tem a paróquia como unidade de referência. “Em cada paróquia seria criada uma comissão censitária composta por cinco residentes nomeados pelos presidentes das províncias”. Da mesma forma, “as comissões deveriam dividir o termo da paróquia em seções e escolher agentes recenseadores”. Estes últimos distribuiriam boletins (ou mapas) familiares, que seriam recolhidos alguns dias depois. Deveriam também fiscalizar os trabalhos e garantir “o seu correto preenchimento, que era obrigação dos chefes de família”. No caso dos chefes de domicílios serem analfabetos, cabia ao próprio agente recenseador auxiliar o preenchimento.343 Esse aspecto torna-se importante, pois nos indica que as informações eram, em grande parte, autodeclaradas.

Para analisarmos o núcleo urbano de Ouro Preto, devemos, portanto, somar os números de cada uma das paróquias (Nossa Senhora do Pilar e Antônio Dias).

No documento S OB OB ADALAR DOS (páginas 196-199)