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1.1.2 A PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DO PILAR DO OURO PRETO Durante os séculos XVIII, XIX, e grande parte do século XX, a primitiva Vila

No documento S OB OB ADALAR DOS (páginas 59-62)

Rica, capital da capitania, e a posterior Ouro Preto, capital da província até 1897, era dividida em duas paróquias: a de Nossa Senhora da Conceição do Antônio Dias, no lado da cidade que se dirige para Mariana, e a de Nossa Senhora do Pilar do Ouro Preto, situada do lado em que a cidade dá saída para Cachoeira do Campo. A praça principal, hoje praça Tiradentes (no século XIX, praça da Independência), divide as duas freguesias.

Nossa documentação básica refere-se aos assentos de batismos, casamentos e óbitos da paróquia de Nossa Senhora do Pilar, que abarca não somente os sacramentos celebrados no templo matriz, como em suas capelas filiais. Essas capelas pertenciam a irmandades (associações religiosas de leigos) fundadas por fiéis católicos que se uniam em torno da devoção a um santo e mandavam construir templos em sua honra. Essas confrarias tornavam-se responsáveis por assegurar assistência social e religiosa a seus associados.104

No mapa abaixo, de 1888, podemos observar o núcleo urbano de Ouro Preto dividido nas duas freguesias: Nossa Senhora do Pilar e Nossa Senhora da Conceição do Antônio Dias, sendo a praça principal o limite entre elas.

103 ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DE MINAS GERAIS. Documentação e informação – Atendimento ao Usuário: gdi@almg.gov.br. Recebido em 10 de dezembro de 2008.

104 Nem toda irmandade chegava a se estruturar suficientemente para construir seu templo próprio. Nesse caso, permaneciam com seus altares laterais, no interior do templo paroquial. Temos, como exemplo, em Ouro Preto, a Irmandade da Boa Morte (na matriz de Antônio Dias) e a Irmandade de Santo Antônio (na matriz do Pilar do Ouro Preto).

FIGURA 8: Freguesia de Nossa Senhora do Pilar e Freguesia de Antônio Dias.

Nas capelas, além do santo padroeiro, havia a devoção a outros santos, que ocupavam os altares laterais da nave, mas cujos devotos não tinham tido condições financeiras suficientes para a construção de seus templos próprios105. A matriz ou templo sede da paróquia ou freguesia também tem seu santo padroeiro, entronado no retábulo-mor, sob os auspícios da Irmandade do Santíssimo Sacramento. Possui, também, altares laterais localizados na nave (corpo) do templo, pertencentes a devoções ou irmandades que nunca saíram daquele espaço.

105 A professora Adalgisa Arantes Campos nos informa que não era somente a falta de condição financeira que impedia as devoções de saírem da Matriz e construírem capelas próprias. Algumas irmandades, tradicionalmente, estabeleciam-se na sede paroquial. Este é o caso, por exemplo, da irmandade de São Miguel e Almas. A capela existente em Ouro Preto, no bairro das Cabeças, sob tal invocação, é exceção, pois deve sua construção à doação de um devoto, no caso, o português José Simões Borges em 1771. CAMPOS, Adalgisa A. Roteiro Sagrado. P. 19.

A partir da leitura de livros de compromissos de irmandades, podemos apontar o tipo de auxílio que as confrarias deviam a seus fiéis, em troca do pagamento de anuidades e esmolas, além do trabalho voluntário. O préstimo devia-se tanto ao conforto espiritual como à assistência social. Entre outras, eram funções dos irmãos o acompanhamento durante o cortejo fúnebre, o empréstimo de dinheiro, bem como o apoio à viúva e aos órfãos dos confrades defuntos. Além disso, serviam como espaço para o sepultamento dos associados, papel primordial para as sociedades setecentistas. No decorrer do século XIX, a tradição dos enterramentos no interior dos templos é confrontada com a nova mentalidade higiênica e ilustrada que, vagarosamente, se instaura, como veremos mais especificamente no Capítulo V.

As irmandades cultivavam rivalidades entre si, manifestadas no cuidado com a construção e decoração dos templos e na ostentação presente nas festas religiosas e nas procissões, momentos que se transformavam em eventos sociais.

A paróquia de Nossa Senhora do Pilar do Ouro Preto era formada pela matriz e por suas capelas filiais. As capelas de Nossa Senhora do Carmo,106 Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, a dos Santíssimos Corações, São Miguel e Almas e Bom Jesus do Matozinhos, de São José, Nossa Senhora das Mercês e Misericórdia, e de São Francisco de Paula localizavam-se no núcleo urbano. Havia, também, capelas mais distantes, sediadas em arraiais, como a de Santa Quitéria do arraial da Boa Vista, Nossa Senhora da Conceição do Rodeio, Santo Amaro do Botafogo e Nossa Senhora da Conceição do Chiqueiro do Alemão.107 As capelas do Bonfim, de São Sebastião, e as pequenas

capelas dos Passos da Paixão, apesar de fazerem parte da freguesia do Pilar, não têm registros de batismos, casamentos e óbitos, porque não tinham capelães licenciados para tal ou por abrirem somente em ocasiões especiais, como no caso das capelas dos Passos, específicas para a procissão dos Passos, realizada nas sextas-feiras da Paixão. Na década de 1880, temos poucos registros na capela de Santo Antônio do José Correa, localizada no arraial da Boa Vista.

106 A capela de Nossa Senhora do Carmo não pertencia a uma irmandade, mas à Ordem Terceira do Carmo ou do Monte Carmelo. No século XIX, diversas outras irmandades são alçadas ao estatuto de Ordens Terceiras, como a de São Francisco de Paula e de Nossa Senhora das Mercês.

107 Como já foi citado em nossa Introdução, em 1850, a Aplicação do Chiqueiro do Alemão passou a pertencer à paróquia de Cachoeira do Campo, sendo desmembrada da freguesia do Ouro Preto.

Apesar de restringirmos nosso estudo à paróquia do Pilar, encontramos registrados, nos livros sob sua guarda, a instituição de alguns sacramentos celebrados nos templos da freguesia de Antônio Dias. Por isso, de certa forma, tanto a matriz de Nossa Senhora da Conceição como as capelas de São Francisco de Assis, Mercês e Perdões, do Rosário do Alto da Cruz, e de Nossa Senhora das Dores estão presentes em nossos estudos. Não temos registros paroquiais que contemplem as demais capelas dessa freguesia: do Padre Faria, do Bom Jesus do Taquaral, São João Batista, de Santana, e de Nossa Senhora da Piedade. Possivelmente, ali não eram ministrados os sacramentos do batismo e casamento, ou eram realizados em pequeno número. As paróquias alcançavam grande território, que formavam o “pasto espiritual” sob a responsabilidade de párocos e capelães ali assentados.

Os templos religiosos foram destaque na paisagem ouro-pretana, no decorrer de toda a história da paróquia. Eram os primeiros edifícios a serem visualizados pelos visitantes, tanto os que chegavam por Mariana como aqueles que vinham por Cachoeira do Campo. Representam muito bem, ainda hoje, a solidez da cultura religiosa daquela população.

No documento S OB OB ADALAR DOS (páginas 59-62)