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1.1.6 O LIVRO SUPLEMENTAR DE REGISTROS

No documento S OB OB ADALAR DOS (páginas 90-98)

A paróquia do Pilar conta com um livro especial de registros muito intrigante. As informações ali contidas são de caráter bem amplo e demonstram a complexidade do papel da Igreja Católica na vida de seus fiéis. Os assentos paroquiais não tinham somente o objetivo de legalizar uma situação, ato ou estado religioso. Sua importância impunha-se também no âmbito administrativo. Além disso, eram instrumentos vivos da sociabilidade contemporânea, acompanhando os passos daqueles indivíduos e podendo, inclusive, ser refeitos, modificados ou complementados. Muitas vezes, fazia-se uma observação posterior, às margens do registro, para atualizar uma informação acerca de determinado indivíduo, como, por exemplo, no caso de “legitimação posterior por casamento subseqüente de seus pais”, como pudemos identificar em alguns registros de batismos da segunda metade do XIX, assim como para declarar alforria, como no assento de batismo de Antônio, de 29 de outubro de 1837. De acordo com o registro, a alforria foi dada pelo senhor por doação, mas, à margem, está escrito: “Declaro que o Sr. deste inocente recebeu a quantia de oitenta e cinco mil réis pela sua liberdade [...] Assina o vigário Joze de Jesus da Cunha”.

O livro suplementar tem, em seu termo de abertura, bem definido seu objetivo: “este livro há de servir de suplemento para que lhe se lançarem os assentos dos batizados e mortos livres e escravos desta paróquia e capelas filiais que não estiverem lançados nos seus respectivos livros, o qual vai [...] e rubricado...”. A data da abertura é 20 de janeiro de 1799, e assina o vigário colado Vidal José do Valle. O período contemplado se estende por todo o oitocentos, sendo o último registro datado de 27 de julho de 1905. O perfil dos registros ali lançados vai mudando com o decorrer do tempo. Consideramos por bem dividi-lo em duas partes. A primeira até a década de 20 do século XIX, e a segunda, a partir daí até o final do século XIX. Essa segunda parte

será alvo de análise mais detalhada, por se inserir no marco temporal do presente trabalho. Entretanto, alguns aspectos surpreendentes da primeira parte não poderiam ser desconsiderados, apesar do não aprofundamento das questões ali documentadas.

O livro suplementar, como o próprio nome indica, servia para se lançarem os registros não encontrados em seus livros específicos, por solicitação de algum interessado ou por necessidade de alguma ocasião. Por exemplo, podemos citar as proclamas do casamento. Para que este fosse realizado, era necessária a apresentação do assento de batismo. No caso de esses não serem encontrados ou não serem acessíveis, muitas vezes, pela distância, abria-se um processo “de justificação”, em que pessoas idôneas testemunhavam em favor do noivo ou da noiva e, com isso, a Igreja dava a licença para a celebração do matrimônio, com a dispensa da apresentação da documentação exigida. No caso do sepultamento no interior dos templos, é possível que também fosse exigido um “comprovante” da devoção e da crença do falecido, pelo menos se não fosse praticante ou se fosse oriundo de outra freguesia. No entanto, observamos outras funções sendo exercidas pelos registros suplementares.

A primeira diferença entre os registros dos últimos vinte anos do século XVIII, e que se estendem até 1820, e os demais, é que, na primeira parte, não é elucidada a justificativa para terem sido lançados ali. Os assentos são simples e se referem a batismos realizados muitos anos antes, algumas vezes vinte, trinta e até 63 anos antes da data da inscrição. Em algumas ocorrências, a data exata é desconhecida. Damos como exemplo o batismo realizado em 1767, “pouco mais ou menos”, na capela de Santa Quitéria da Boa Vista. O celebrante foi o reverendo Manoel Luiz de Almeida (capelão) e a batizanda, Thereza, filha legítima de Manoel Ferreira Marques e Maria Thereza Alves. Foram padrinhos Francisco de Barros e sua mulher, Vitória Maria da Silva. As testemunhas necessárias para o novo lançamento foram a própria madrinha e Manoel Joze de Barros. A data da inscrição é de 11 de junho de 1801 e assina o coadjutor Joaquim Roberto. Portanto, o registro foi feito 34 anos após o evento, e, para legitimá- lo, foram chamadas duas testemunhas, a madrinha, que presenciou o ritual original, e algum possível conhecido da família. Nada mais nos esclarece tal fonte. No entanto, ao examinarmos a série documental, podemos observar algumas especificidades.

Essa primeira parte do livro possui 111 assentos, sendo 103 de batismos de inocentes, um batismo de escravo adulto, 6 batismos de crianças expostas e um registro

de legitimação. Nesse assento, não consta a data da inscrição, mas refere-se ao batismo de Francisco, inocente, em 1784, filho natural (então), de Maria do Espírito Santo. Foi legitimado pelo casamento subsequente de sua mãe com Francisco da Costa Botelho.

No que tange ao local da realização dos batismos, temos, para um total de 112 batismos: 27 celebrados na matriz do Pilar e 64 nas capelas do Chiqueiro do Alemão, de Santa Quitéria da Boa Vista, do Rodeio e do Botafogo. Sabemos que essas capelas ficavam a uma distância considerável do núcleo urbano e, em algumas épocas, possuíram livros próprios para os registros de batismos e óbitos. Podemos considerar a possibilidade da perda de um desses livros ou a pouca seriedade de seus capelães com relação aos assentamentos dos sacramentos. A seriedade devida à obrigação de registro dos rituais católicos é citada nas Constituições primeiras, e o desleixo de alguns clérigos está presente nas admoestações feitas pelos bispos, durante suas visitas pastorais, em todo o período colonial.

O aspecto que mais chama a atenção, especificamente nessa documentação, é a grande quantidade de registros de batismos de legítimos. São 76, ou seja, 73% dos batismos, sendo 69 livres ou sem identificação de condição social, 5 batismos de filhos de forros, e 2 batismos em que os pais, escravos, eram casados. Os naturais somaram 27, sendo 22 livres ou sem identificação da condição social e 5 filhos de escrava. No livro de batismos regular, entre 1800 e 1821, temos, excetuando-se os batismos de expostos, 518 inocentes legítimos e 954 inocentes naturais recebendo o primeiro sacramento. A porcentagem se inverte, ou seja, nos assentos regulares, somente 35% de crianças eram legítimas.

O número surpreendente de batismos de legítimos nos faz crer que a solicitação de registro posterior tenha sido uma forma utilizada por casais que formalizaram sua união após o nascimento de seu filho, para reconhecimento da paternidade. Essa hipótese é fortalecida pelo seguinte caso: em 11 de setembro de 1813, foi inscrito o assento de batismo de Bernardo, batizado em 03 de abril de 1798, na capela de Nossa Senhora da Conceição, localizada no palácio do governador, tendo sido o celebrante o reverendo Joaquim Roberto Silva. No mesmo dia, foram lançados outros dois assentos. De Marianna, batizada em 20 de agosto de 1802, também na capela do palácio, e de Antônio, batizado em 19 de outubro de 1803, na matriz de Nossa Senhora do Pilar. Os três são identificados como filhos legítimos do coronel José de Souza Lobo e de sua

mulher, D. Agostinha de Albuquerque. Nos três casos, quem testemunha sobre a fidedignidade das celebrações é o próprio pai. É de se estranhar que batismos de tamanha relevância social tivessem deixado de ser lançados na ocasião. Afinal, o padrinho das três crianças fora o próprio governador da província, Bernardo Joze de Lorena. Mas o caso não termina aí. Em 22 de agosto de 1815, é lançado novamente o registro de batismo de Bernardo. Ao final, consta que o assento atual fora “tirado do assento particular que tinha e me apresenta a sobredita D. Agostinha”. Posteriormente, nos deparamos com assento referente ao batismo de José, realizado em 18 de abril de 1799, filho legítimo do sargento-mor José da Silva Lobo e de sua mulher D. Agostinha Matilde de Albuquerque. O padrinho é novamente o Excelentíssimo Bernardo José de Lorena, então capitão-general e governador da capitania. Tal assento foi tirado de um outro particular “que me foi apresentado pelo dito José de Souza Lobo”. Em pesquisa ao livro regular de batismos, não encontramos de fato o batismo dos três filhos do casal (Bernardo, Marianna e Antônio), mas encontramos o batismo de Francisco, em 12 de outubro de 1800, filho de Agostinha e José de Souza Lobo. Mais uma vez, o padrinho foi o Sr. Bernardo Joze de Lorena. Não localizamos o assento de casamento de José de Souza Lobo com D. Agostinha ou o registro de óbito dos dois.

Outro aspecto que nos chama a atenção é o considerável número de registros em que os pais dos batizandos são forros, tanto dos naturais (em sete registros, a mãe é forra) como de legítimos (cinco casos). O registro de batismo servia, nesses casos, para consolidar a situação de liberdade daquela criança e de liberto dos pais. Possivelmente, a posse da certidão de batismo fosse documento importante para comprovação daquela condição, tão precária, na ausência da carta de alforria.

As questões sugeridas nesses registros tornam-se mais claras na segunda parte do livro suplementar, além de outras que surgem. Além disso, há uma variedade maior de assentos, ou seja, a documentação torna-se mais complexa. Temos 95 batismos, 19 registros de legitimação, inclusive de 3 expostos, 5 registros de alforrias, 20 casamentos, 8 óbitos e uma crisma, documento raro nos livros paroquiais.

Entre os 95 batismos, o grande número de registros de legítimos continua a surpreender. São 71, ou seja, 74,7%, sendo todos filhos de pais livres ou sem identificação da condição social. Em alguns casos, o batismo se refere a filhos de pessoas de destaque social, como secretário do governo, coronel, tenente e outros. Entre

os 24 batismos de crianças naturais, em 14, a mãe é livre ou não consta sua condição social. Em 3, a mãe é forra, e em 7 casos, a mãe é escrava. Nos livros regulares de assentos de batismos da paróquia, podemos observar, para o período de 1822 a 1838, o batismo de 493 crianças legítimas e 651 crianças naturais. A proporção de legítimos aumentou, mas os filhos naturais ainda são maioria. Para o período de 1839 a 1897, o número de batismos de legítimos é de 1.008, para 358 batismos de crianças naturais. A proporção se inverte, passa a ser de 73,8%, demonstrando que o casamento e a legitimidade dos filhos passam a ser um valor para a família e a sociedade ouro-pretana oitocentista. Essa dinâmica social será detalhada ao longo do texto.

As justificações ou as explicações sobre o motivo do registro posterior passam a ser mais constantes. Em 44 assentos, o motivo do novo lançamento do batismo é “por não ter sido feito antes” ou “por não ter sido localizado”. Em 11, o motivo é a autorização por despacho, em 5, é cópia de outro particular, em 2 casos, por justificação judicial. Há também o caso de apresentação de certidão, declaração ou outro documento; 1 registro foi em virtude de sentença.

As alforrias também encontraram, nos registros de batismos, sua legitimação, como, por exemplo, no registro inscrito em 31 de setembro de 1835, relatando que, em 19 de maio de 1828, na matriz de Nossa Senhora do Pilar de Ouro Preto, foi batizada Joaquina, inocente, filha natural de Silvéria, escrava de Malaquias Moreira Rodrigues Senna. Os padrinhos foram o dito Malaquias Moreira, tendo por procuradores Emerenciano Tomás de Almeida e Antônia Maria da Conceição. Esse novo assento “foi aberto a pedido do padrinho, para constar a declaração de que a inocente passa a ter a condição de forra, e liberta de toda a escravidão”, aos sete anos de idade. O assento acrescenta que “fica sem vigor o que se acha lançado no Livro de Batismos a f. 217”. Assinam o documento o vigário encomendado Francisco José Ferreira da Silva e Malaquias Moreira Rodrigues Senna”, o proprietário da cativa.

Três outras alforrias foram dadas na pia batismal, entretanto, Manoel, que fora libertado no batismo pelo padre Joaquim José de Magalhães, em 21 de fevereiro de 1816, não teve seu registro lançado em “lugar e tempo competente”. Por isso, “a requerimento de Manoel Pereira de Magalhães depois de ouvir o depoimento de pessoas fidedignas, o faço para constar aos 10/06/1865”. Assina o vigário Joaquim José de Sant’Anna. Aos 49 anos de idade, possivelmente, o próprio liberto tenha solicitado

registro de sua situação. O último assento também guarda como especificidade seu lançamento bem posterior ao fato ocorrido: em 17 de agosto de 1857, o vigário Joaquim José de Sant’Anna declara que faz a transferência do assento de batismo de “Maria, inocente, batizada em 09/05/1835 do livro de cativos dessa freguesia, folha nº 275 verso, para este de suplementos”, porque essa Maria que fora batizada cativa, foi depois “libertada por sua senhora Antônia Roza de Mello, por título passado a 22/07/1839 por [...] Vellozo Pereira, pároco da mesma Antônia Roza de Mello, sendo testemunhas Fellipe Eugenio da Silva e Francisco Rodrigues Borges com o dito [...] Vellozo Pereira”. Portanto, Maria, batizada em 1835, foi alforriada aos quatro anos e, apesar de ter sua condição de liberta documentada, somente dezoito anos depois teve seu registro de batismo regularizado. As cartas de alforria deveriam ser registradas em cartório ou a libertação podia ser documentada em testamento. Entretanto, muitas vezes, a promessa era feita de forma mais informal, podendo ser descumprida posteriormente pelo proprietário ou seus herdeiros. Constatamos, portanto, que o registro de batismo também servia como comprovante da manumissão, em substituição às cartas.

A Matriz do Pilar foi o templo onde mais batismos tiveram que ser relançados, porque os originais não foram registrados ou encontrados (em 32 cerimônias), enquanto as capelas de Santa Quitéria do arraial da Boa Vista e as de sua proximidade foram responsáveis por apenas 6 registros. Podemos considerar essa situação como de grande desleixo por parte dos párocos ou pensarmos na possibilidade de esses registros servirem para referendar a legitimidade do filho ou filha, após matrimônio subsequente dos pais ou após o convívio, por muitos anos, do casal, como “se casados fossem”, encarregando o tempo de consolidar uma situação de fato. Essa possibilidade nos é apontada na transcrição de parte de documento citado por Silvia Brügger, quando a pesquisadora trata da importância social do casamento, no Rio de Janeiro da segunda metade do século XIX:

[...] não por desrespeito à Igreja, nem por motivo outro além das circunstâncias de pouca importância, adiou de dia em dia a reparação que a essa senhora devia, e tal era sua intenção cumprir a palavra de casamento que lhe dera, retirando-a da casa de seus pais, habitantes na Ilha do Faial, que aos mesmos e aos mais parentes dela fez constar havê-la recebido como sua legítima mulher, que neste caráter como tal a apresentou nesta Corte, onde habita desde o ano de 1837, e onde

todas as pessoas de suas relações assim a tem considerado até hoje; que como legítimos tem feito batizar os filhos dela havidos [...].138

Dos 71 registros de batismos de legítimos, em 43 (60,5%), foram localizados os assentos de casamentos dos pais, sendo que todos foram realizados anteriormente ao batismo dos filhos. Em 27 casos, não encontramos as atas matrimoniais dos pais dos batizandos. O reconhecimento por casamento subsequente dos pais é esclarecido no documento e há a legitimação de três expostos. Encontramos, também, uma justificação de filiação, na qual,

em virtude de uma petição do major Camillo Luis Maria na qualidade de procurador de sua [...] Anna Francisca da Guerra, procede à justificação de filiação de Maria, filha legítima de Veríssimo Pereira e de sua mulher Florência Dias de Souza, visto não haver nos Livros competentes assento de batismo da referida Maria, e em presença do depoimento das testemunhas Manoel de Faria e Anna Paulina de Lima, conhecedores daqueles, faço este assento de filiação de Maria, filha legítima de Veríssimo Pereira e de sua mulher Florência Dias de Souza. Freguesia de Ouro Preto, 30/10/1866. Assina o vigário Joaquim José de Sant’Anna.

Em 04 de novembro de 1777, ou seja, 89 anos antes, encontramos Maria sendo batizada como filha natural de Florência Dias de Souza. Há outro registro, datado de 1796, onde Genovefa foi batizada como filha legítima de Florência e Veríssimo Pereira dos Santos. No entanto, não localizamos o assento do casamento de ambos. Qual teria sido a necessidade de se determinar a filiação de Maria? Uma herança? Não sabemos. Entretanto, após tantos anos, sua condição de legitimidade foi mudada, pois, na memória dos conhecidos da família, desde antes de seu possível casamento, já formavam um casal aos olhos da comunidade, pois viviam como se fossem casados.

A historiadora Silvia Brügger encontrou, para o Rio de Janeiro, um livro específico para o registro de casamentos de “consciência”, ou seja, aqueles “contraídos às escondidas, sem publicação dos banhos, mediante autorização do bispo”,139 para resguardar a honra da mulher, os direitos dos herdeiros ou por temer a hora da morte e da prestação de contas perante o sacramento da penitência e da extrema-unção. Na

138

BRÜGGER, Silvia Maria Jardim. Valores e vivências matrimoniais: o triunfo do discurso amoroso (Bispado do Rio de Janeiro, 1750-1888). 1995. Dissertação (Mestrado em História). UFF, Rio de Janeiro, 1995. p. 113. (grifo nosso).

matriz de Nossa Senhora do Pilar do Ouro Preto, não encontramos documento semelhante, mas os ditos casamentos de consciência podem ser identificados nos livros regulares e nesse livro suplementar, se tivermos um olhar mais atento ou mesmo a partir de singularidades registradas.

Com relação ao sacramento do matrimônio, temos, ainda no livro suplementar, registro de 1 casamento entre acatólico e católica, 1 casamento com a legitimação de 5 filhos, e 2 casamentos em que consta a dispensa para realização das núpcias em tempo proibido (quaresma ou advento).

Os dois registros que mais divergem em sua forma e surpreendem por não ter sua justificativa esclarecida são duas declarações de idade:

Em virtude do requerimento de Francisco de Araújo, natural da freguesia do Rio Manso, no bispado de Diamantina e presentemente morador nesta do Ouro Preto, procede a justificação judicial, em que ficou provado, a vista do depoimento das testemunhas, também naturais da referida freguesia do Rio Manso, que o justificante Francisco José de Araújo tem vinte e oito anos de idade. E para em todo o tempo constar, faço esse assento aos 07/10/1887. Assina o vigário Joaquim José de Sant’Anna.

Em outro registro, de 15 de julho de 1868, o pároco faz e assina a seguinte declaração:

A requerimento de D. Delfina Alves Pereira Carneiro, foi julgado maior de trinta anos, a vista de depoimento de testemunhas fidedignas, cuja justificação teve lugar no Juízo Eclesiástico desta Comarca, seu irmão José Alves Pereira Carneiro, filho legítimo do Ajudante José Alves Pereira Carneiro e de sua mulher D. Maria Fernandes da Silva, e para constar faço esta declaração.

Podemos supor que a declaração de idade pudesse ter vários objetivos. A comprovação da maioridade para casamentos sem a necessária permissão dos pais, para se comprovar a filiação, ao se confirmar o nascimento em época de determinado romance ou relação afetiva entre os supostos pais, e, talvez, até o objetivo de alistamento militar ou para fins eleitorais. O senhor Meira de Vasconcellos, senador do Império, ao discursar em favor da implantação dos registros civis, cita o despreparo de párocos para continuar a desempenhar a função dos registros de batismos, casamentos e óbitos. Ao exemplificar que, muitas vezes, eram passadas certidões de batismos sem os respectivos assentamentos nos livros paroquiais, o senador cita o caso de um

conterrâneo seu que, “precisando de uma certidão de idade, requereu-a ao respectivo vigário e este declarou que não havia assentamento, mas que ia abri-lo para passar a certidão”. O senador se surpreende e se revolta ao alertar ao Senado “que não era mais tempo de abrir assentamento, senão mediante justificação, como é de direito”. O senador considera que “o vigário, demasiadamente benévolo e condescendente cometeu a falta grave, senão o crime, de passar certidão, da qual a parte fez uso, e, portanto, produziu os efeitos legais”.140 Apesar de não clarearmos os objetivos de tais certidões, estas vêm nos apresentar o grande alcance da Igreja nos mais diversos aspectos sociais da vida imperial brasileira e sua presença de natureza quase que cartorial.

1.1.7- LISTAS NOMINATIVAS, MAPAS DE POPULAÇÃO

No documento S OB OB ADALAR DOS (páginas 90-98)