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1.1.3 REGISTROS DE BATISMOS

No documento S OB OB ADALAR DOS (páginas 62-71)

No registro de batismos, de acordo com o Concílio de Trento (1545-1563), reiterado pelas Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia (1707),108 deveria constar, obrigatoriamente, o nome do batizando, de seu pai, mãe e dos padrinhos. A forma também é determinada:

Aos tantos de tal mês, e de tal ano batizei, ou batizou de minha licença o padre N. nesta, ou em tal Igreja, a N, filho de N e de sua mulher N. e lhe puz os Santos Óleos: foram padrinhos N. e N. casados, viúvos, ou solteiros, fregueses de tal Igreja, e moradores de tal parte.109

Além das questões regulamentadas pela legislação sinodal, era frequente, na documentação referente à matriz do Pilar do Ouro Preto, para os séculos XVIII e XIX, o

108 CONSTITUIÇÕES PRIMEIRAS DO ARCEBISPADO DA BAHIA (1853), feytas, e ordenadas pelo... Senhor d. Sebastião Monteyro da Vide... propostas, e aceytas em o Synodo Diocesano, que o dito Senhor celebrou em 12 de junho de 1707. São Paulo: Typographia 2 de Dezembro.

109 CONSTITUIÇÕES PRIMEIRAS DO ARCEBISPADO DA BAHIA, Livro I, Título XX, parágrafo 70.

registro da cor da criança (branca, parda ou preta), de sua condição social (livre, escrava ou exposta), e a condição de legitimidade da criança (filha legítima ou natural). No caso de o batizando ser filho natural, ou seja, fruto de relação consensual, era possibilitada, pelas Constituições Primeiras, a declaração do nome de seu pai, “se for coisa notória e sabida, e não houver escândalo”. Entretanto, essa autorização da legislação não se tornou usual em Ouro Preto. São raros os assentos em que consta o nome do pai de criança natural, e esses se limitam ao século XVIII. Em artigo sobre ilegitimidade, casamento e relações ditas ilícitas, em São João del Rei, para os anos de 1730 a 1850, a historiadora Silvia Maria Jardim Brügger confirma essa prática para a localidade, considerando ter sido mais recorrente para a primeira metade do século XVIII. Para ela, a instituição do bispado de Mariana, em 1745, determinou registros mais uniformes e de acordo com a legislação sinodal, e os “padres passaram a tomar mais cuidado com as informações que registravam”,110 exigindo “a declaração expressa do pai para a perfilhação”.111

Havia uma diferenciação nos casos de ilegitimidade dos nascidos. As crianças podiam ser fruto de casais concubinados. Nesse caso, apesar de ambos os pais serem solteiros, não haviam regularizado sua união perante a Igreja Católica. Prática costumeira na sociedade mineira dos séculos XVIII e XIX, não determinava para aquela família, nenhum tipo de preconceito social. As crianças também podiam ser fruto de relações adulterinas (caso um dos pais fosse casado), afinal, numa sociedade escravista como a brasileira, em que era permitido ao senhor usufruir sexualmente de sua escrava, tal situação era comum. Muitas vezes, esses casos vinham a público através dos testamentos, pois, na hora da morte, o bom católico deveria prestar contas de seus pecados, além de garantir para seus filhos bastardos parte de sua herança. Um outro tipo de ilegitimidade era o sacrílego, ou seja, filho de padre. Também essa situação não era rara nas Minas coloniais. A essas crianças não era impedido o batismo, entretanto, alguns cuidados deveriam ser tomados: no caso de filhos de “clérigo de ordens sacras

110 BRÜGGER, Silvia Maria Jardim. Legitimidade, casamento e relações ditas ilícitas em São João del Rei (1730-1850). IX Seminário sobre Economia Mineira. Diamantina, 2000. Anais... v. 1. Belo Horizonte: UFMG/Cedeplar, 2000. p. 43.

111 BRÜGGER, Silvia Maria Jardim. Legitimidade, casamento e relações ditas ilícitas em São João del Rei (1730-1850). p. 43. A autora cita a professora Sheila de Castro Faria (1998): A Colônia em movimento... p. 318.

ou beneficiado”, esses não deviam ser batizados “na pia da Igreja aonde seus pais forem Vigários, Coadjutores, Curas, Capelães ou fregueses”, mas que fossem batizados na da freguesia mais próxima, sem pompa, nem acompanhamento além dos padrinhos.112

No entanto, essas diferenciações não são encontradas nos registros paroquiais. Os párocos, coadjutores e capelães, protetores da privacidade de seus devotos, designam a todos somente como legítimos ou naturais, exceto no caso dos enjeitados.

A condição de “exposta” é registrada nos assentos de batismos das crianças enjeitadas. As Constituições Primeiras se preocupam em alertar os párocos para que, no caso de constar a situação de enjeitado, que essa informação fosse confidencial: “o Pároco, ou quem tiver em seu poder o dito livro, não o dará nem tirará da Igreja, nem mostrará a pessoa alguma sem nossa licença, ou de quem nosso poder tiver, e fazendo o contrário será castigado com penas pecuniárias, e de prisão arbitrariamente”.113 É provável que essa orientação visasse a proteger a criança daquela situação de “exposta”. No entanto, a condição de enjeitamento acompanhava o indivíduo no decorrer de sua vida, pois deveria constar, também, nos assentos de casamento. O fenômeno da exposição de crianças, não somente nas Minas, ocorreu num período limitado, concentrando-se, principalmente, entre a segunda metade do século XVIII e o primeiro terço do XIX. A partir da década de 30 do oitocentos, essa categoria começa a diminuir. A historiadora Silvia Brügger vê a criação da roda dos expostos da Santa Casa de Misericórdia de São João del Rei, em 1832, como determinante para esse declínio. Ela nos informa também que o crescimento da exposição, em finais dos setecentos, foi observado por Laura de Mello e Souza, ao estudar o fenômeno em Mariana.114 Entretanto, em Ouro Preto, não houve a implantação da roda e, mesmo assim, essas crianças desaparecem dos registros de batismos.

O batismo, rito introdutório do devoto ao universo católico, constituía-se também em registro de nascimento, numa época em que os párocos eram funcionários da Coroa, de acordo com o padroado régio, que determinava ingerência do poder civil

112 CONSTITUIÇÕES PRIMEIRAS DO ARCEBISPADO DA BAHIA, Livro I, Título XI, parágrafo 40. 113

CONSTITUIÇÕES PRIMEIRAS DO ARCEBISPADO DA BAHIA, Livro I, Título XX, parágrafo 73.

114 BRÜGGER, Silvia Maria Jardim. Legitimidade, casamento e relações ditas ilícitas em São João del Rei (1730-1850)... p. 56.

sobre o religioso. Cabia ao imperador nomear bispos, autorizar a construção de igrejas e capelas, além de recolher os dízimos e pagar as côngruas aos párocos, colocando-os sob sua supervisão e serviço. Assim, como funcionários públicos, os párocos deviam registrar em livros próprios os assentos de nascimentos, casamentos e óbitos havidos em sua paróquia.

No referente aos escravos, o assento de batismo servia como documento de posse daquele cativo, ao constar o nome do(s) proprietário(s) do batizando, no caso de batismo de escravo adulto,115 ou dos pais ou da mãe do batizando. Lembremo-nos que a condição da criança seguia o ventre, ou seja, o filho da escrava era também cativo, exceto nos casos de alforria concedida em pia batismal ou dos nascidos após a promulgação, em 28 de setembro de 1871, da Lei do Ventre Livre, que será abordada posteriormente.

Os registros de batismos nos permitem conhecer características importantes da população, como estimar entre os batizados, a proporção de legítimos, a composição social das famílias, laços de compadrio, etc. O objetivo de nossa pesquisa é, portanto, identificar nas fontes paroquiais estudadas, principalmente as paroquiais, o impacto que tiveram, no comportamento da população ouro-pretana, as mudanças religiosas, legais, sociais e culturais ocorridas desde a metade do século XIX.

Ao investigarmos tais aspectos, não devemos desconsiderar que as populações do oitocentos se comportavam de acordo com as atividades econômicas desenvolvidas em cada região e de sua maior ruralidade ou urbanidade. Sabemos, também, que se diferenciaram a partir de sua composição social, quando se observa, por exemplo, que, entre os escravos, o número de casamentos é menor, implicando, portanto, alto índice de ilegitimidade nas áreas onde a população mancípia era mais numerosa. Nesse sentido, pudemos observar, no decorrer da pesquisa, a importância que a legitimidade vai adquirindo a partir da segunda metade do século XIX.

115 Não foi abordada a questão do batismo de escravos adultos neste trabalho, por não ser característica do período estudado.

1.1.3.1- AS FONTES

Possuímos para análise, 6.728 batismos realizados, na freguesia de Nossa Senhora do Pilar do Ouro Preto, entre os anos de 1838 e 1900. Foram utilizados os seguintes corpos documentais para a pesquisa em questão:

Volume 495: não tem termo de abertura. Nele, constam registros a partir de

maio de 1772 até 22 de agosto de 1838. Refere-se a batismos de escravos, em quase sua totalidade. Utilizamos somente dez assentos desse livro, referentes aos meses de 1838.

Os batismos dos escravos, para o período entre 1839 e 1871, estão no livro 3, guardado na paróquia, pois não foi microfilmado. O livro encontra-se em bom estado, com termo de abertura: “este livro há de servir para nele se lançarem os assentos de batismos de escravos da freguesia de Nossa Senhora do Pilar desta Imperial Cidade de Ouro Preto. Vai por mim numerado e assinado [...]. Assina o juiz de Paz Pedro da Costa Fonseca em 29/jan/1839”, indicando que seu objetivo extrapola o objetivo religioso e se coloca como instrumento notarial.

Encontramos relacionados, ali, alguns batismos de adultos e algumas alforrias em pia batismal. Temos uma mãe “coartada”, nos indicando que, apesar de estar numa situação intermediária entre o cativeiro e a liberdade, seu filho foi assentado no livro de cativos.

O livro nos possibilita o esclarecimento sobre o comportamento dos cativos, sua condição de legitimidade, o número médio de filhos por cativas, o tamanho dos plantéis e as regras pelas quais se davam os convites para apadrinhamento das crianças e adultos. Chama a atenção a pluralidade de nomes escolhidos, provavelmente pelas mães, indicando cuidado e atenção para com seus filhos. Mais uma vez, atentamos para a questão de que estamos utilizando essa fonte documental para objetivo muito diferente daquele para o qual foi criada. Por isso, temos algumas lacunas. Por exemplo: algumas vezes, constam como padrinhos pessoas com somente seu prenome, nos indicando a possibilidade de serem escravos. No entanto, não tomamos a liberdade dessa dedução. Da mesma forma, nem sempre consta no documento a condição de legitimidade das crianças. Nesse caso, optamos por considerá-las legítimas, no caso de estarem

registrados os nomes de seu pai e de sua mãe, e definimos como filhos naturais todos aqueles que somente têm o nome de sua mãe registrado. Há indícios de sub-registro para os anos de 1851 a 1855, observados através de páginas em branco, ou a ausência de registros para alguns meses. Este período foi marcado tanto por epidemias, que podem ter contribuído para a desorganização dos livros, como por mudanças na condução da paróquia do Pilar. Observamos essa descontinuidade também em outros corpos documentais, como no de óbitos, como alertaremos adiante.

Volume 497, Rolo 104: esse livro tem início no ano de 1765116 e registra

batismos até o ano de 1865. Consta, na abertura, seu objetivo: “Assentos de brancos, pardos e pretos libertos e escravos das Aplicações das capelas de Santa Quitéria da Boa Vista e Senhora da Conceição do Chiqueiro do Namão”,117

capelas filiais localizadas em arraiais rurais, embora pertencentes à freguesia do Pilar.118 Pontualmente, guarda registros de cerimônias celebradas na capela de Santo Amaro do Botafogo e no Oratório do Capão, estes nos anos de 1827 e 1828, referentes a batismos de escravos do tenente coronel Anacleto Antonio do Carmo. Chamam-nos a atenção os 25 batismos que se realizaram na matriz de Nossa Senhora de Nazaré, em Cachoeira do Campo, registrados nos livros referentes à paróquia do Pilar, por não pertencer à freguesia em questão.

Embora tivessem sido registrados, de forma pontual, batismos celebrados na matriz do Pilar, a partir de 1842, esses assentos tornam-se mais constantes. O livro tem algumas páginas ilegíveis. No período de julho de 1851 a 1855, há um hiato nos assentos, com duas páginas em branco (páginas 249 e 250), que indicam a falta de uns nove assentos. Consideramos certa especificidade da década de 1850, pela maior instabilidade com relação à presença de párocos. O

116 O volume 497 registra um batismo do ano de 1736 e um batismo de 1737; passam a ser mais constantes a partir de 1765.

117 Os documentos tratam a referida capela tanto como Xiqueiro do Namão, Xiqueiro do Alemão ou Chiqueiro do Alemão. Passaremos a partir de agora a tratá-la pela última denominação, mais constante no decorrer do tempo.

118 O volume 497 registra o primeiro batismo celebrado na capela de Santo Antônio da Bocaina em 24 de julho de 1736; na capela de Nossa Senhora do Rodeio, em 05 de agosto de 1765; na capela de Santa Quitéria, em 19 de março de 1768; em Santo Amaro do Botafogo, 28 de outubro de 1770, e na capela de Nossa Senhora da Conceição do Chiqueiro do Alemão, em 09 de outubro de 1778.

responsável, até então, o vigário José da Cunha Mello, assina seu último batismo em 10 de junho de 1848. Nesse período, torna-se vigário o padre Joaquim Ferreira da Rocha, e consta da documentação paroquial seu período de vigaria: entre 1844 a 1855. Observamos que sua presença não foi constante na paróquia, comprometendo relativamente a regularidade dos registros.119 Grande parte dos assentos é assinada pelos vigários coadjutores, Bernardo Higino Dias Coelho e Feliciano Ferreira de Carvalho. Este último passa a assinar como vigário em 05 de maio de 1849. Em 30 de agosto, há o primeiro batismo realizado pelo então vigário encomendado Joaquim José de Sant’Anna, que assume a paróquia de forma oficial, em 1855, e permanece à sua frente até 1890. A relativa desorganização dos livros identificada para a década de 50 é observada, principalmente, na série de óbitos. Podemos supor que o período tenha sido de extrema instabilidade, gerada pela epidemia de varíola, determinando aumento da mortalidade, não acompanhada pelos registros.

O volume 498, localizado no Rolo 104, contempla o período entre 1834 e

1851.120 Consta em seu termo de abertura sua finalidade: “batismos de livres”. Notamos a presença de algumas crianças alforriadas em pia batismal. As alforrias dadas por ocasião do batismo podiam ser, também, registradas nos livros específicos para escravos, indicando-nos a fluidez com que a sociedade da época tratava os novos libertos. Específico para a igreja matriz, traz algumas exceções, como um batismo na capela de São Miguel e Almas, 10 celebrações

119 Alguns indícios sobre as outras pretensões do reverendo padre que dificultavam ou impediam sua dedicação à paróquia do Pilar: LEITE, Angelo Filomeno Palhares. A formação da cultura filosófica escolar mineira no século XIX – uma filosofia de compêndio: um estudo sobre a disciplina de Filosofia no Liceu Mineiro (1854-1890). 2005. Tese (Doutorado em Educação). Belo Horizonte: Pontifícia Universidade Católica, 2005. Vê-se que, em 1854, o reverendo Joaquim Ferreira da Rocha é professor de Filosofia no Liceu Mineiro (p. 114). “No anno de 1856 a Aula de Philosophia do Licêo Mineiro esteve fechada em função da ausência do Professor o Rdo. Joaquim Ferreira da Rocha, que se empregou como Capellão cura em um Districto do Termo de Marianna” (p. 160). Em “23 de Maio de 1856 – O Lente de filosofia Reverendo Joaquim Ferreira da Rocha pede licença de três meses, tendo apenas um aluno matriculado” (p. 165). Em data não referida: “O professor de Philosophia do Lycêo Mineiro – Joaquim Ferreira da Rocha – é punido com desconto de seis dias de seu ordenado, por faltar e comunicar vocalmente (com participação vocal), da qual o dito professor faz uma representação alegando injustiça pelo feito” (p. 171). Disponível em: <http://www.biblioteca.pucminas.br/teses/ Educacao_LeiteAF_1.pdf>.

120 O volume 498 tem um batismo do ano de 1791, um de 1820, um de 1828, mas os assentos tornam-se constantes a partir de 17 de maio de 1834.

em casa, 2 batismos realizados na Ermida do Jardim Botânico, 1 na igreja matriz da freguesia da Saúde, e 1 na matriz de Santo Antônio de Ouro Branco.

Volume 499, Rolo 022: livro específico para o batismo de crianças ingênuas, de

1871 a 1888. Possui termo de abertura e está muito bem conservado. Mereceu uma análise própria, devido à sua especificidade. Informações como a cor, tanto da criança como da mãe, que haviam desaparecido dos registros regulares, passaram a ser sistematicamente anotados. Se desconsiderarmos os assentos das crianças filhas de escravas após 28 de setembro de 1871, temos 86% de registros em que não consta a cor do batizando, indicando que a identificação da cor relacionava-se, de alguma, forma com a exclusão social. Outro aspecto que nos chama a atenção nesse volume é o cuidado com o nome dos proprietários dos ingênuos e, consequentemente, de suas mães. Chamou-nos a atenção a presença do nome das esposas dos proprietários, denotando importância dada à propriedade do casal.

Volume 500, Rolo 029: de 1894 a 1897. Livro sem termo de abertura. O início

está muito danificado e muitas informações estão comprometidas. O período é posterior à abolição da escravidão e, por isso, a análise dos indivíduos por condição social não procede. Entretanto, outras questões podem ser observadas. No final do século XIX, os sobrenomes estrangeiros começam a aparecer: são italianos, e temos também a presença de um chinês inserido na sociedade ouro- pretana. Sua presença em livro paroquial chama-nos a atenção, pois indica ser seguidor da religião católica, aspecto esclarecido por seu nome, não só ocidental, mas católico, Francisco Coelho. Consta regularmente nos documentos desse livro a data do nascimento, além da data do batismo. Esse dado havia aparecido, também constantemente, no volume relativo ao batismo dos ingênuos. Já consideramos que o livro específico para o batismo das crianças filhas de escravas, após a Lei Rio Branco, ou Lei do Ventre Livre, foi escrito com muito critério. O pároco Joaquim José de Sant’Anna, como homem esclarecido e futuro defensor da causa abolicionista, sabia da importância, para aquelas crianças, da informação acerca da data de seu nascimento, pois deveriam ser plenamente libertadas ao completar vinte e um anos. Já no livro após 1889,

podemos supor que a inserção da data de nascimento com mais assiduidade nos assentos do final do século fosse reflexo da obrigatoriedade do registro civil.121 No período pós-abolição, não aparece mais mãe ou pai dos batizandos com um nome simples, como ocorria, até então, com os escravos, que eram impedidos de acrescentar sobrenome a seu prenome. Os escravos recém-libertados acrescentaram sobrenomes a seus nomes – mesmo que fosse um segundo nome – e, por isso, a identificação pelos pesquisadores sobre a inserção social desses ex-cativos torna-se praticamente impossível, ao menos através dos registros paroquiais. Observamos nomes como Manoel Antônio ou José Justino. Para as mulheres, encontramos: Thereza de Jesus, Francisca de Paula, Sabina Rosa, Maria do Rosário ou Maria Benedita. Entre as mulheres, nomes duplos são mais constantes que entre os homens.

No entanto, há algumas maneiras indiretas de identificação do papel social daquelas pessoas. Algumas mulheres têm o D. (dona) antecipando seu nome, como um pronome de tratamento, indicando distinção social. Constatamos, também, aumento vertiginoso nos batismos de crianças legítimas, ou seja, o número de casamentos teve grande acréscimo no período. Todos esses aspectos serão mais bem desenvolvidos adiante.

Os livros que não sofreram a digitalização e, por isso, necessitaram de leitura paleográfica a partir dos originais, localizados na própria matriz do Pilar, são identificados pelos números 3, 3 A, 3 B, 9, 10 e 11. Optamos por continuar a classificá- los assim. Os dois últimos, além de outros dois – relativos a matrimônios estavam –, por ocasião do projeto de microfilmagem realizado pela Casa dos Contos, em local separado dos demais. Possivelmente, por tratarem do final do século XIX, havia sobre eles demanda de consulta, e, por isso, localizavam-se na secretaria da paróquia. Os demais livros foram “descobertos” a partir da organização do acervo documental realizada durante o ano de 2008.

121 Criado, no Brasil, pelo decreto 5.604, de 25 de abril de 1874. Desde 1863, já havia o reconhecimento do Estado, mas sua universalização e obrigatoriedade se dá pelo decreto nº 9886 de 07, de março de 1888.

Em nossos momentos de pesquisa, presenciamos a busca por parte de descendentes daqueles ali relacionados de informações acerca de seus antepassados. Questões de herança e, principalmente, processos de obtenção de dupla cidadania levam descendentes de europeus, principalmente de italianos, ainda hoje, a buscarem comprovação da nacionalidade de seus ascendentes, demonstrando o aspecto ainda vivo desses registros para funções diversas da pesquisa acadêmica.

Como os livros são divididos por condição social (específicos para livres, escravos e ingênuos), e por local da celebração do batismo (matriz e capela filiais mais distantes), optamos por considerar essas peculiaridades, estabelecendo três linhas de

No documento S OB OB ADALAR DOS (páginas 62-71)