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1.1.10 PUBLICAÇÕES DE CONTEMPORÂNEOS, BIOGRAFIAS, GENEALOGIAS E RELATOS DE VIAJANTES ESTRANGEIROS

No documento S OB OB ADALAR DOS (páginas 107-116)

Foi com grata satisfação que nos deparamos com publicações de pessoas que viveram parte de sua vida no decurso do século XIX. Essas se colocaram como uma janela para o período em estudo, pois, muitas vezes, somaram às experiências e à memória, intensa pesquisa arquivística, como foi o caso de José Pedro Xavier da Veiga. Membro atuante da sociedade ouro-pretana, foi proprietário e redator do jornal A

157 As cópias digitalizadas dos jornais referidos acima podem ser acessadas pelo site: <http://www. siaapm.cultura.mg.gov.br/modules/jornais/search.php?query=Ouro+Preto>. Acessado em 10/11/2008.

Província de Minas e autor da monumental obra Efemérides mineiras: 1664-1897, que teve sua primeira publicação em 1897, pela Imprensa Oficial do Estado, em Ouro Preto. Foi republicada pelo Centro de Estudos Históricos Culturais da Fundação João Pinheiro, em 1998. O autor faz um imenso arrolamento dos fatos mais importantes acontecidos na capitania e na província mineira, sendo fonte fundamental para o estudo dos séculos XVIII e XIX.

Destacamos, também, a obra do Dr. Henrique Barbosa da Silva Cabral. Nascido em Ouro Preto, a 19 de setembro de 1875, pertencia à família de prestígio social, pois era filho do advogado Agostinho José Cabral e neto do farmacêutico Manuel José Cabral, organizador e primeiro diretor da Escola de Farmácia de Ouro Preto. Por parte de mãe, era neto do Dr. Quintiliano José da Silva, político de grande relevo e ex- presidente da província de Minas. Residiu em Ouro Preto até a transferência da capital, como tantos outros, e deixou registrado em seu livro memórias de sua infância e juventude. Em 1901, já em Belo Horizonte, recebeu o grau de bacharel e, no ano seguinte, foi nomeado promotor de justiça da Comarca de Pitangui. Além de ter assumido outros cargos públicos e jurídicos de destaque, foi um dos fundadores do Instituto dos Advogados, pertenceu ao Instituto dos Advogados de Minas Gerais, da seção de Minas Gerais do Instituto da Ordem dos Advogados, e fez parte do Instituto Histórico e Geográfico de Minas.158

Outra obra utilizada por nós foi Homens e factos de meu tempo, escrita por Aurélio Egídio dos Santos Pires,159 nascido no Serro (MG), no dia 23 de março de 1862,

e falecido no Rio de Janeiro, em 25 de fevereiro de 1937. Cidadão atuante desde seus tempos de estudante, publicou, aos 17 anos, seu primeiro artigo no jornal de estudantes de Diamantina, A Mocidade. Na mesma cidade, editou o órgão republicano Idéia Nova, durante o período de 1879 e 1881. Em 1894, formou-se em farmácia pela Escola de Farmácia de Ouro Preto (EFOP). No ano de 1897, mudou-se para Belo Horizonte, cidade ainda em construção, e abriu a Farmácia Aurélio Pires, que manteve até outubro de 1903. Na capital, foi reitor do Ginásio Mineiro, diretor e professor de Geografia,

158

CABRAL, Henrique Barbosa da Silva. Ouro Preto. Belo Horizonte: [s.n.], 1969. p. 309.

159 Aurélio Pires publicou também as seguintes obras: Evangelina; Sinonímia química; Homenagem ao Dr. João Pinheiro da Silva; Subsídios para a história da fundação da Faculdade de Medicina de Belo Horizonte, e Compêndio de farmácia galênica.

História e Educação Moral e Cívica na Escola Normal Oficial. Entre 1910 e 1913, desempenhou, no Rio de Janeiro, o cargo de diretor de seção do Ministério da Viação e Obras Públicas. Ao regressar a Belo Horizonte, entrou para o corpo docente da então Faculdade Livre de Medicina, onde regeu as cadeiras de Toxicologia e Farmacologia (1913-1933). A convite do presidente Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, dirigiu o Arquivo Público Mineiro, de janeiro de 1927 a agosto de 1930.

Aurélio Pires foi o irmão mais novo de Antônio Olyntho dos Santos Pires. Chefe do Partido Constitucional, participou do 1° Congresso Republicano, realizado em Ouro Preto, no ano de 1888. À mesma época, assumiu a direção do órgão republicano O

Movimento. Elegeu-se Deputado Federal Constituinte para o período de 1891 a 1896, porém, renunciou ao mandato em novembro de 1894. Retornou ao jornalismo ao fundar e dirigir O Estado de Minas, em Ouro Preto, durante o período de 1893 e 1894. Dentre as diversas funções que exerceu ao longo de sua trajetória, foi chefe da Missão Brasileira junto à exposição de Saint-Louis, nos Estados Unidos, no ano de 1904. Deixou numerosos estudos e publicações. Foi o primeiro presidente do Estado de Minas Gerais, ocupando o cargo por oito dias, logo após a proclamação da República.160

Entre os viajantes estrangeiros, tão presentes nas Minas do século XIX, destacamos Richard Francis Burton, explorador e orientalista britânico. Nasceu em 19 de março de 1821. Estudioso viajado, conhecedor da Índia, da Arábia, da Somália e outras regiões da África, versado em diversas línguas, publicou várias obras e fez parte da Royal Geographical Society. Apresenta-se, em 1868, como ex-presidente da Sociedade de Antropologia de Londres. Em 1861, passou a pertencer ao serviço diplomático e o Ministério do Interior da Inglaterra o envia para o Brasil, em 1865. Foi até o Paraguai, em seguida para Damasco e Trieste, onde vem a falecer, em 20 de outubro de 1890.161 Fez a viagem, com início em junho de 1867, entre o Rio de Janeiro e a mina de Morro Velho. Passou ainda por Sabará e se dirigiu, posteriormente, à Cuiabá. Esteve em Ouro Preto, onde descreve sua natureza, aspectos físicos e sua experiência com os moradores dali. Sua vasta experiência de cientista faz com que suas observações extrapolem a simples descrição do pitoresco. No entanto, a advertência

160 Cf. <http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/modules/fundos_colecoes/brtacervo.php?cid=41>. 161 BURTON, Richard. Viagem do Rio de Janeiro a Morro Velho. p. 9-10.

acerca de alguns conceitos pré-estabelecidos por ele nos é dada por sua própria mulher, Isabel Burton, que o acompanhou pelo interior do Brasil por três anos:

chamo a atenção, indignada, particularmente para a maneira deturpada de se referir à nossa Santa Igreja Católica Romana e para o apoio ao antinatural e repulsivo costume da poligamia, que o autor tem o cuidado de não praticar, mas que, do alto de um pedestal de moralidade, prega aos ignorantes, como recurso para o povoamento das nações jovens.162

Conflitos domésticos à parte, é sempre bom nos lembrarmos de que se trata de um olhar estrangeiro sobre nossa complexa sociedade, e que, como o próprio estudioso nos relata, sua presença nos diversos lugares causava estranhamento aos nativos, interditando-lhe uma visão completa de seu cotidiano.

Tomamos, também, o relatório escrito pelo engenheiro militar alemão Henrique Guilherme Fernando Halfeld e pelo Dr. Johann Jacques von Tshudi: A província

brasileira de Minas Gerais.163 Com essa publicação, em 1862, os autores traçam um panorama da província mineira, utilizando-se de levantamentos feitos entre 1836 e 1855. Fernando Halfeld foi designado para construir a estrada do Paraibuna, que ligava a capital mineira à Paraibuna, na divisa do Rio de Janeiro. Deu ele nova orientação à estrada, que, além de integrar a província de Minas, com maior segurança e conforto, teve o mérito de influir decisivamente no surgimento da Cidade de Juiz de Fora. Em 1842, no posto de capitão de Engenharia, participa da vitória das tropas leais ao imperador na batalha de Santa Luzia, onde recebe elogios de Caxias por sua coragem, sangue frio e bravura. Por seus leais serviços no campo de batalha, foi condecorado com o “hábito da Ordem Rosa”. No ano de 1852, foi encarregado de realizar o balizamento do rio São Francisco, tendo percorrido e explorado o rio com seus afluentes, desde Pirapora até ao Oceano Atlântico, num total de mais de 2 mil quilômetros, resultando em um extraordinário relatório, consultado até os dias de hoje.164

162 BURTON, Richard. Viagem do Rio de Janeiro a Morro Velho. p. 14. 163

HALFELD, Henrique Guilherme Fernando; TSHUDI, Johann Jacques von. A província brasileira de Minas Gerais. Trad. Myriam Ávila. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos e Culturais, 1998.

1.2- CONSIDERAÇÕES

Essas fontes dialogam todo o tempo com outras, que precisaram ser buscadas para responder a perguntas surgidas no decorrer do trabalho, preencher lacunas e complementar informações acerca da vida, família e sociedade ouro-pretana do período em pauta.

A segunda metade do século XIX, no Brasil, tem por marca a organização e sistematização das leis, bem como o esforço por identificar pessoas de destaque social, e o movimento obsessivo de quantificar a população e delinear suas características por condição social. Temos também presente no período a preocupação com a alfabetização e a criação de diversos estabelecimentos de ensino, que seriam responsáveis pela inserção do Brasil no “mundo civilizado”. A identificação da cor vai desaparecendo no decorrer do oitocentos, como bem considerou Hebe de Mattos, em As cores do silêncio. Outros elementos permanecem renitentes nos documentos, por todo o período, como a determinação da condição de legitimidade. Alguns dados novos vão se apresentando, como a nacionalidade, a religião professada, além da preocupação com as atividades ocupacionais.

Resta-nos identificar todas essas informações, refletir sobre elas, relacioná-las e sistematizá-las a partir da questão que se coloca, que é a forma como a população, sociedade e família da cidade de Ouro Preto se defrontou com tantas mudanças sociais, culturais, econômicas e religiosas ocorridas entre os anos de 1838 e 1897.

C

APÍTULO

II

P

ERCURSO DEMOGRÁFICO

,

ECONÔMICO E SOCIAL DE OURO PRETO

(1838-1868)

Que segredos saltam destas ladeiras? Que horas caem os pêndulos perdidos? Quem caminha sobre este chão? Quem parte e não regressa?165

Já havia algum tempo, a então Vila Rica166 fora descrita por viajantes estrangeiros como decadente. De acordo com Saint-Hilaire, que lá esteve em 1816, seu aspecto era de abandono: tristonho e desolador. Suas casas eram “quase todas construídas de barro e mal conservadas, o que tudo anunciava a diminuta fortuna dos seus moradores. [...] Calculava-se a sua população em 8.000 habitantes. Não havia livraria, nem biblioteca pública”.

Realmente, identificamos o esvaziamento do núcleo urbano da capital da província desde o final do século XVIII, através de documentação paroquial (assentos de batismos, casamentos e óbitos da paróquia de Nossa Senhora do Pilar do Ouro Preto) e através de pesquisa realizada por Iraci del Nero da Costa acerca da paróquia de Nossa Senhora da Conceição do Antonio Dias. Ambas formavam o núcleo urbano da capital mineira.

No entanto, se o fausto do ouro já se encerrara, as atividades ditas complementares à lida mineratória, como a agricultura de subsistência e o comércio local e provincial, tornaram-se as centrais, pois já sabemos que a extração mineral nunca foi a única atividade econômica das regiões mineradoras.

O período de fome e necessidades dos primórdios da extração aurífera se limitou ao primeiro decênio do século XVIII, quando a chegada dos paulistas e, logo após, de portugueses e habitantes das demais capitanias, em busca de riquezas minerais, se deu de forma desorganizada. No entanto, bem cedo, com a fixação da população em vilas e

165 MOURA, Emílio. Meditação à tarde, em Ouro Preto (Lira mineira). In: ______. Itinerário poético. Poemas reunidos. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2002.

166 Alçada à condição de vila em 1711, Vila Rica torna-se capital da capitania das Minas Gerais. Com a independência política do Brasil, permanece como capital da província e é elevada à condição de cidade, em 1823, com o nome de Imperial Cidade de Ouro Preto.

arraiais, a necessidade de alimentação e de produtos básicos foi sendo suprida através de pequenas roças e vendas. Em 1705, já temos notícias da criação da paróquia de Nossa Senhora da Conceição do Antônio Dias, na Vila Rica, e, desde 1712, encontramos registros de batismos na freguesia de Nossa Senhora do Pilar do Ouro Preto. Claro que não eram identificadas pelos belos templos que admiramos hoje, mas por pequenas edificações responsáveis pela inserção daquele espaço não somente no mundo cristão, mas no mundo lusitano. Posteriormente, nas décadas de 20 e 30 do setecentos, os pequenos templos foram sendo ampliados ou substituídos pelos edifícios barrocos que conhecemos.

Apesar da avidez pela descoberta de ouro, a mineração nunca se manteve sozinha. Ao lado das datas,167 adventícios solicitavam do rei outorga de sesmarias, constituindo-se na primeira aristocracia agrária das Minas. Silvia Brügger argumenta que as bandeiras paulistas eram expedições basicamente familiares, e nos relata o exemplo de Fernão Dias Pais, que se fez acompanhar por seu genro, Manoel de Borba Gato em sua viagem de exploração ao Serro do Frio. Nesse primeiro momento, os homens se lançaram à aventura da conquista, mas, posteriormente, já assentados, trouxeram os demais membros da família.

Brügger busca nos textos do viajante Taunay confirmação de suas premissas: Já sossegado, [...] o nosso Tenente-General Manoel de Borba Gato, mandou vir a sua família para o Rio das Velhas, e dois genros que tinha naturais da Ilha de São Miguel [...]”. Portanto, o enraizamento da população em Minas se deveu basicamente à atividade agrícola, possibilitando a sobrevida das vilas após a exaustão do ouro aluvial. Ainda citando o exemplo Borba Gato, a autora nos esclarece que, após ter “abandonado a atividade mineratória, (retirou-se) para um sítio, banhado por um rio fértil de peixe e boas terras de mantimentos.168

Num outro exemplo, observamos o caso de Paulo Rodrigues Pereira. É citado por Donald Ramos quando o autor analisa a religiosidade popular de origem africana nas minas setecentistas. O estudo do professor se dá com outro objetivo, mas podemos

167

Pequena extensão de terra cedida pelo rei de Portugal para a extração de ouro.

168 BRÜGGER, Silvia Maria Jardim. Família e patriarcalismo em Minas Gerais. In: PAIVA, Eduardo França (Org.) Brasil-Portugal: sociedades, culturas e formas de governar no mundo português (séculos XVI-XVIII). São Paulo: Annablume, 2006.

utilizá-lo para vislumbrar a dupla atividade daquele proprietário, como fazendeiro e minerador. Homem culto, licenciado, Paulo Rodrigues chamou Gaspar, um escravo de Angola, conhecido feiticeiro da região, para “curar” as doenças de “muitos” escravos na sua fazenda. “Gaspar também conseguiu aumentar a produção de ouro em outra lavra – produção que tinha diminuído como resultado de feitiços”.169

A primeira metade do século XVIII, portanto, pode ser caracterizada como de franco desenvolvimento para a região mineradora. A arrecadação de ouro é inédita e, paralelamente, se desenvolvem atividades agropastoris e comerciais para abastecimento das vilas e arraiais. As décadas de 40 e 50 do setecentos são consideradas como o período áureo de Vila Rica, com a construção de pontes e chafarizes. Os templos passaram a ser ampliados e enriquecidos para dar conta do grande número de devotos. No entanto, o florescimento proporcionado pela abastança do ouro foi breve, e o declínio da produção aurífera passou a ser sentido já na segunda metade do século.

Os sintomas de decadência econômica e de redução populacional são identificados por Iraci del Nero pela diminuição e mudança do perfil dos habitantes da freguesia de Antonio Dias. A constituição demográfica dos núcleos urbanos ligados à extração mineral tradicional mudou, passando a caracterizar-se por número cada vez maior de mulheres livres e diminuição dos plantéis de escravos, indicativos de declínio econômico e do êxodo de homens jovens em busca de novas terras e oportunidades.

Não podemos, no entanto, generalizar para toda a província esse aspecto desolador, que se estende até as primeiras décadas do século XIX. Tal panorama foi mais intenso na área central da capitania, onde, tradicionalmente. foram exploradas as minas auríferas. Estudos historiográficos já mostraram que não houve, a partir da segunda metade do século XVIII, decadência generalizada da economia mineira, pois, como já consideramos, desde a chegada dos paulistas, à procura do ouro, a mineração não foi a única atividade econômica. Bem cedo, a agricultura, a criação para subsistência e abastecimento local e o comércio desenvolveram-se concomitantemente à extração do ouro. Essa complexidade da economia mineira fez com que a diminuição da

169 RAMOS, Donald. A luta pela alma: conflito espiritual nas Minas Gerais do século XVIII. In: Oficina do Inconfidência: Revista de Trabalho. Ano 2, n. 1 (dez.) 2001. Ouro Preto: Museu da Inconfidência, 2001. p. 38.

produção aurífera não se transformasse em decadência generalizada e esvaziamento da província.

Laird Bergad nos confirma a agricultura como base econômica da província de Minas na primeira metade do século XIX:

Apesar dos importantes centros urbanos, de um setor de mineração e muitas pequenas indústrias caseiras, a maioria da população de Minas (escravos e pessoas livres) vivia em áreas rurais. Nesta economia predominantemente rural, a propriedade da terra era um determinante fundamental da riqueza e da estrutura social.170

Homens, principalmente jovens, deixavam as áreas mineradoras, já exauridas, e iam em busca de novas terras e oportunidades. Foi esse o momento de desbravamento do sertão em direção ao norte e oeste. A fronteira é rompida, o sertão é explorado e vários povoados florescem nesse período, no noroeste e na região do triângulo mineiro, em direção ao Goiás. A economia se diversifica e seu eixo se desloca da mineração para as atividades agropastoris.

No ano de 1808, a chegada da corte lisboeta ao Rio de Janeiro dá novo impulso à capitania das Minas. Áreas que eram periféricas passam a se especializar nas atividades voltadas para o abastecimento da cidade do Rio de Janeiro, como é o caso do Sul de Minas, Zona da Mata mineira e Campo das Vertentes, com destaque para a vila de São João del Rei. Essas regiões passaram a abastecer de víveres a capital do reino, enquanto compravam de lá objetos importados da Europa e africanos, pois os escravos continuam como base da mão-de-obra em Minas.

Traçar breve histórico do perfil econômico de Minas Gerais e contextualizar a cidade de Ouro Preto no primeiro terço do século XIX é fundamental para que identifiquemos o perfil socioeconômico da cidade, em 1838, momento inicial de nossa pesquisa.

Ouro Preto tem sua especificidade, por ser a capital da província. Após o declínio mineratório, reergue-se sobre novas bases econômicas e sociais. Para compreendermos o que estava se passando na sede do governo mineiro, já às vésperas do segundo reinado, utilizamos, para análise, a lista nominativa de 1838. Esta cobre o

170 BERGAD, Laird W. Escravidão e história econômica: demografia de Minas Gerais, 1720-1888. Bauru: EDUSC, 2004. p. 120.

distrito e parte da freguesia do Ouro Preto, uma das duas paróquias que constituem o núcleo urbano da cidade. No entanto, é importante enfatizarmos que estamos visualizando apenas parte de Ouro Preto, apesar de ser parte significativa, já que a paróquia do Pilar é mais rica e populosa que a de Nossa Senhora da Conceição do Antonio Dias. O Censo de 1804 já nos indica sua superioridade, relacionando, para ela, 2.871 habitantes, enquanto foram recenseados 1.694 habitantes em Antonio Dias.

Devemos alertar, também, para o fato de estarmos tratando da área mais central da cidade, apesar de já observarmos características rurais nos últimos fogos listados, indicativos de sua localização no limite da freguesia. No entanto, trata-se de fonte primorosa para a visualização daquela localidade, sua composição demográfica, social e econômica.

Em alguns aspectos, as informações censitárias foram cotejadas com dados dos registros paroquiais da mesma paróquia. A bibliografia referente ao período também foi utilizada para subsidiar as reflexões possíveis a partir das informações contidas nas fontes citadas.

2.1- PERFIL ECONÔMICO DA PROVÍNCIA DE MINAS GERAIS

No documento S OB OB ADALAR DOS (páginas 107-116)