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QUADRO 9: CASAMENTOS DE AFRICANOS ESCRAVOS (1840-1865)

No documento S OB OB ADALAR DOS (páginas 177-181)

Data Noiva Noivo Proprietário dos noivos

20/06/1863 Albina Antônio (Monjolo) Manoel da Costa Fonseca 1864 Joana (crioula) Antônio (Cabinda) Justino Coelho Neto

Fonte: Banco de dados da paróquia de Nossa Senhora do Pilar do Ouro Preto.

284 Batismos de escravos adultos a partir de 1838: Efigênia, batizada em 28/10/1842; Joaquina, batizada em 15/05/1847; David, batizado em 18/06/1848; Antonio, batizado em 11/04/1850; e Rosa, batizada em 29/07/1852.

285 De acordo com as Ordenações Filipinas, o senhor tinha o prazo máximo de seis meses para “fazer batizar” seu escravo maior de 10 anos (Livro 5, título 99).

Francisco Iglesias, em sua obra Política econômica do governo provincial (1835-1889),286 nos esclarece que, em 1851, o governo imperial cedeu 120 africanos livres para a província de Minas Gerais. Estes deveriam prestar serviços nas obras públicas, sendo que os homens foram aproveitados na construção de estradas, enquanto as mulheres estiveram ocupadas na cultura do chá, no Jardim Botânico, ou no Hospital da Santa Casa de Ouro Preto, em serviços acomodados às suas forças e sexo, como foi determinado pelo presidente da província Francisco José de Sousa Soares de Andréia, em mensagem de 1843. Interessada no destino desses africanos livres, a presidência se preocupou ainda em promover casamentos entre eles, para vantagem geral e para “fomentar por meio dos laços de família a conveniente moralidade destes indivíduos”.287 Em 1847, período anterior à oferta do governo imperial, já observamos a presença de emancipados em Ouro Preto. No entanto, a informação apresentada pelo relatório provincial sobre a chegada de inúmeros africanos livres em Minas, e, especificamente, em Ouro Preto, é confirmada pelos assentos de batismos celebrados nos dias 08 e 15 de janeiro de 1854, transcritos abaixo. Esses assentos mostram-se excepcionais em sua forma por serem coletivos. Não há, no período estudado, outro exemplo desse tipo de celebração.

Aos oito de janeiro de mil oito centos e cincoenta e quatro baptizei sollemnemente aos Africanos seguintes sub conditione por não saberem dizer se forão ou não baptizados e derem alguns indícios de o terem sido. Os mesmos são livres mas obrigados a trabalharem em Estabellecimentos Nacionais. São os seguintes: (Hilena) Padrinhos Man[oel] Alves da Silva e Innocencia. (Maria) Padrinhos Jacinto Antonio da Costa e Joanna de Sousa Lima (Carolina) Padrinhos Luis ero escravo do Vigario Rocha. (Faustina) Padrinhos o mesmo Luis ero escravo do Vigario (Fábia) Padrinhos – Izidoro africano do jardim (Helena) Padrinho Caetano do Jardim Botanico. (Custodia) Padrinho o mesmo Caetano (Angélica) Padrinhos Francisco de Paula [...] e Maria da Conceição Lima. (Cecília) Padrinhos Jacinto Anton[io] da Costa e Francisca de Sousa Lima (Antonia) Padrinhos Domingos Africano do Jardim, e Severina escrava de D. Maria Furtunata de [...] (Emerencianna) Padrinhos Domingos Mina do Jardim e Joanna escrava do finado Major Brandão. (Flora) Padrinhos o mesmo Domingos Mina e Joanna a mesma do Major Brandão (Gervasia) Padrinhos Francisco do Nascimento e Cassia Iria (Antonio) Padrinhos

286 IGLÉSIAS, Francisco. Política econômica do governo provincial mineiro (1835-1889). Rio de Janeiro: MEC/INL, 1958. p. 131.

Antonio de Magalhães Gomes (Vicente) Padrinho Francisco Africano do Jardim (Jo [...]) Padrinhos João escravo de D. Maria Senhorinha Candido dos [...]sos Pellucia; e Theresa de Faria Sousa (Manoel) Padrinhos o Caetano do Jardim e Innocencia. De que para constar f[...] este assento. O Vigario Joaquim Ferreira da Rocha. Assim m[...] (Maria). Padrinhos Manoel Soares e Maria Rodrigues. O Vigario Rocha [...] s[...] () indice os Baptisados que forão hoje oito de Janeiro.288

Os africanos acima não souberam dizer se já haviam sido batizados. Com isso, podemos deduzir que ainda não se expressavam bem na língua nacional, e, portanto, eram recém-chegados da África.

Os africanos abaixo listados, em outro assento coletivo, cuja cerimônia realizou- se uma semana depois, não o obtiveram sub-conditione, ou seja, provavelmente, não tinham ainda recebido o sacramento da iniciação cristã. Eles foram encaminhados para trabalharem especificamente no Jardim Botânico.

Aos quinse de janeiro de mil oito centos e cincoenta e quatro baptizei sollemnemente os Africanos seguintes que virão para trabalharem no Jardim Botanico desta Cidade, o que são por Lei livres = (Siprianna) [Padrinho] Antonio Joaquim Ferreira e Rosa Bhering – (Anna) Padrinhos Manoel Álvares da Silva e Antonia do Nascimento (Heduvirges) Padrinhos João Arieira (Joanna) Padrinhos Gregorio do senhor Bartholomeo e Constança de D. Maria da Graça (Balbina) Antonio Leandro Ribeiro e Maria Rita de Cassia (Prudencianna) Padrinhos Elleuterio Francisco de Paula e Cecilia Gonçalves Coelho (Anna) Padrinhos Elleuterio Francisco de Paula Prudencianna Gonçalves Coelho (Tristão) Manoel Pereira de Magalhaes e Maria Magdalena Pereira de Magalhães. De que para constar faço este assento – o Vigario Joaquim Ferreira da Rocha

Constatamos a presença maciça dos emancipados no Jardim Botânico, mas, com o decorrer do tempo, eles se inseriram em outros tipos de trabalho, principalmente após a Lei de 1871, que libertava, por fim, todos os africanos chegados ao Brasil após 1831.

A presença marcante desses africanos tanto no Jardim Botânico como em outros estabelecimentos e no trabalho de obras públicas, como na construção de ferrovias, possibilitou a recriação de sua sociabilidade, tanto por meio de estabelecimento de laços de apadrinhamento como pelo matrimônio entre eles.

288 Registros transcritos por Aléxis Nascimento Araújo do Livro de batismos número 3: paróquia de Nossa Senhora do Pilar do Ouro Preto.

Observamos, pelo quadro seguinte, a grande incidência de casamentos entre os africanos livres. Num primeiro momento, estes foram incentivados pelo governo para estabilidade daqueles recém-chegados. No entanto, com o passar do tempo, a busca pela formalização das relações conjugais permanece, demonstrando, assim, que não havia resistência cultural dos africanos pelo matrimônio, inclusive entre representantes de grupos étnicos diferentes. Pelo contrário, a busca por um novo enlace após o falecimento do cônjuge é recorrente, sendo que podemos observar casos em que uma determinada pessoa casa-se três vezes, como Carlos Braga, que, viúvo de Anna, casa-se com Anna Fernandes e, depois, com Maria Isabel; ou Calisto, que, tendo enviuvado de Custódia, casa-se com Anna Gertrude e, depois, com Roza Guilhermina.

Podemos concluir, portanto, que a razão do número insignificante de casamentos entre escravos após 1850 não é decorrente de nenhum aspecto de resistência cultural, mas da situação de cativeiro, como veremos adiante, no Capítulo IV.

O Jardim Botânico de Ouro Preto, planejado pelo naturalista mineiro Joaquim Velloso de Miranda, no final do setecentos, teve sua criação efetivada por Portaria, em 02 de setembro de 1825. Para seu estabelecimento, o governo foi autorizado a comprar um terreno entre as cidades de Ouro Preto e Mariana, que fosse mais adequado (Lei nº 570 de 10 de outubro de 1851, art. 5º). No entanto, não foi construído nesse local, estando localizado no lugar chamado Passa Dez, a duas léguas do núcleo urbano, na saída para Cachoeira do Campo. Em 1840, sediou a primeira Escola de Agricultura, para ensino prático, visando a desenvolver o melhor método de plantação, cultura, preparo e fabrico do chá.289 Era prevista para o mesmo ano a criação de um internato na mesma escola, que se propunha a “admissão gratuita de certo número de órfãos pobres; engajamento de chineses e outros indivíduos adestrados naquela indústria”.290

289 IGLÉSIAS, Francisco. Política econômica do governo provincial mineiro (1835-1889). p.139. 290 CABRAL, Henrique Barbosa da Silva. Ouro Preto. p. 141-142.

QUADRO 10: CASAMENTOS DE AFRICANOS LIVRES EM OURO PRETO (1840-1880)

No documento S OB OB ADALAR DOS (páginas 177-181)