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Capítulo 1 – MARC BLOCH E A GRANDE GUERRA (1914-1918)

1.3 A guerra de Marc Bloch

1.3.5 A guerra sem Souvenirs

As condições das trincheiras, então, pareciam mais perigosas do que o tiro que Bloch levou. Nesse final de 1914, foi acometido pela febre tifoide – fato já mencionado anteriormente por ter sido aquele o contexto da produção de Souvenirs. Em menos de um mês, sentiria a morte de perto pela segunda vez. Da doença, demorou meses para se recuperar. Por isso, até julho de 1915, ano em que todas as potências obtiveram numerosas baixam sem garantirem qualquerresultado estratégico importante, Marc Bloch não estava no front.

Ele só retornou à frente de batalha porque se voluntariou para isso logo após o término da licença de convalescença. Queria estar perto dos companheiros de luta, afinal, nesse quadro em que tudo parece hostil, a solidariedade entre os soldados era uma das poucas coisas que restavam de humanidade. Não podia deixar os companheiros desamparados. Em suas palavras, sentindo-se recuperado, não era capaz de esperar o chamado oficial para retornar ao combate. “O espetáculo desse nervosismo convida à coragem. [...] Se é necessário ir em direção ao perigo, que seja logo”121. O papel da

solidariedade oriunda da guerra foi bastante trabalhado pela historiografia. Para Marc Ferro, por exemplo, ela foi a responsável pela formação de um novo grupo social que via com certo rancor outros membros nacionais: era a “classe dos sacrificados”122. Desenvolvia-se a ideia de que só aqueles homens teriam a dimensão do que era lutar pela nação.

Essa ideia, aliás, parecia ser compartilhada por aqueles que não estavam na frente de batalha. Quando se trata de homens em idade hábil para lutar, havia inclusive

119 Ibidem, p. 145.

120 Ernest Jünger citado em Modris Eksteins. Op. cit., 1992, p. 193.

121 “Le spectacle de cette frousse invite au courage. […] s’il faut alles au danger, je préfère que ce soit se

suite.” Marc Bloch. Op. cit., 1997, p. 150.

51 uma certa vergonha em não ser lançado ao sacrifício, mesmo que alguma coisa o impedisse. Tomemos o exemplo de Maurice Halbwachs, contemporâneo de Marc Bloch e cuja trajetória lhe é inclusive bastante similar123. O sociólogo carregou ao longo de toda

a vida o peso da dispensa em 1914 em decorrência de uma severa miopia, agravada pelo fato de estar em férias no momento da mobilização geral124. A honra, tão estimada, ficava seriamente ferida:

Lamentarei por toda a minha vida não estar no front: não que eu tenha o ardor de defender o meu país; mas arriscar a vida e dar provas de coragem, observar os homens sobre um campo de batalha com toda a sua violência, sua bestialidade e seu heroísmo, ser um elemento dessa onda tumultuosa e poderosa, é uma página que você gostaria de ter em sua vida. Todo o resto não passa de maneiras de enganar a sua impaciência, criando um simulacro de atividade. 125

É, definitivamente, uma visão bastante romantizada, bem própria de quem está afastado dos horrores das fronteiras com o inimigo. Ainda assim, ilustra o fato de que todos os corações e mentes estavam no front, o lugar da honra na época. Para ele, era realmente necessário participar do evento. Por isso, desenvolveu certo fascínio por fotos tiradas na frente de batalha: através delas, trazidas pelos seus alunos que retornavam da luta, ele presenciava um pouco da violência que Bloch sentia na prática dia após dia126. Sua culpa só seria levemente mitigada em 1916, quando aceitou um convite para trabalhar com Albert Thomas no Ministério de Armamento e Indústria de Guerra127.

A frente de batalha, nesse sentido, tornava-se então uma “quase-ilha”128: o risco da morte parecia separar o militar da sociedade civil, não fosse a possibilidade de o soldado entrar em contato com os familiares através de correspondências (e as trocas de notícias delas advindas, mesmo que precárias).

Naquele ano, Marc Bloch seguiu atuando em Argonne, quando conseguiu outra promoção129. Na mesma época obteve quatro licenças, tiradas em Paris. Depois,

123 Esta similaridade será retomada na conclusão da tese.

124 Cf. Annette Becker. Maurice Halbwachs: un intellectuel en guerres mondiales 1914-1945. Paris : Agnès

Viénot, 2003, p. 38.

125 Do original: “Je regretterai toute ma vie de n’avoir pas été au feu : non que je brûle de défendre mon

pays; mais risquer la mort et faire l’épreuve de son courage, voir les hommes sur un champ de bataille avec toute leur violence, leur bestialité et leur héroïsme, être un élément de cette vague tumultueuse et puissance, c’est une page qu’on aimerait avoir dans sa vie. Tout le reste n’est que moyens de tromper son impatience de se duper par un simulacre d’activité.” Ibidem, p. 45.

126 Ibidem, p. 52-53.

127 Ministère de l’Armement et Fabrication de Guerre. Ibidem, p. 91.

128 Cf. Stéphane Audoin-Rouzeau. “L’enfer, c’est la boue!”. In: 14-18: mourir pour la patrie (l’Histoire,

nº107, janvier 1988). Paris: Points, 2007, p. 140.

52 subitamente, foi deslocado para o norte da África130, momento no qual termina o seu

relato de Souvenirs. Mais um “golpe de sorte”: seu grupo foi um dos poucos que conseguiu “escapar” da batalha de Verdun, uma das mais importantes da Grande Guerra. Ele só retornou à França quando Pétain assumiu a defensiva estratégica do país.

Vale ressaltar que Verdun tornou-se um “lugar de memória”, um símbolo nacional festejado e sempre lembrado com orgulho. O motivo é compreensível. Todos os esforços dos franceses, naquela altura do ano de 1916, estavam concentrados na batalha do Somme, que seria a “batalha final” dos franceses e ingleses contra a Alemanha. Bloch, aliás, esteve lá em combate131. Assim, os soldados de Verdun encontravam-se em inferioridade numérica, de artilharia e de suprimentos. A derrota era certa, pelo menos no plano material. A palavra de ordem para eles era “aguentar”, consagrada pela famosa expressão do general Nivelle: “Não passarão!”.O único investimento que se fazia naquele espaço era na injeção do ânimo dos homens, ao espírito coletivo132. Honra, disciplina e resistência formavam a tríade fundamental para um sucesso que parecia só ter lugar em livros de ficção.

A despeito de todos esses fatos, a vitória se configurou. Ao preço de milhares de vida, é claro. Mas isso só viria a tornar o triunfo mais memorável. Havia sido, antes de tudo, e diferentemente de outras batalhas nas quais estratégia ou progressos técnicos foram determinantes, uma vitória do homem, da sua determinação em cumprir o objetivo, custasse o que fosse. Lembremos que a Grande Guerra, que foi uma “guerra total”, já que mobilizou todos os recursos das nações em conflito133, era experimentada ainda mais

intensamente pelos franceses, uma vez que boa parte dos combates que se desenvolveram aconteceu em território nacional. Os soldados de Verdun lutavam para proteger o país e as suas famílias, que muitas vezes estavam a poucos quilômetros de distância da zona das trincheiras. Por isso, para a França essa batalha foi uma provação puramente nacional134. Com cifras de mais de 350 mil franceses mortos, essa seria a vitória nacional por si, conquistada pura e simplesmente através do sangue versado pelos franceses. Indubitavelmente, um marco para a história nacional. Os franceses que ali lutaram podiam

130 Marc Bloch. Op. cit., 1997, p. 150.

131 Infelizmente não há relatos sobre essa passagem além de seus diários que, como já mencionamos,

naquela altura registravam nada mais do que nomes de lugares, com raríssimas exceções.

132 Cf. Stéphane Audouin-Rouzeau; Jean-Jacques Becker (org.). Encyclopédie de la Grande Guerre 1914-

1918. Paris : Bayard, 2004.

133 Cf. Marc Ferro. Op. cit., 1990, p. 176.

134 É claro que este sentimento nacional também arrefeceu. O contraponto da vertiginosa euforia de Verdun

foi o desalento pela morte de muitos homens sem que o resultado claro fosse uma nova conquista. Por conta disso houve na França diversos motins nas trincheiras no ano de 1917.

53 acreditar que a vitória era uma prova de que a sua gloriosa história havia lhes dotado de uma herança de valores que caminhavam juntos desde sempre e para sempre: honra e pátria135. Eram esses os valores que faziam daquelas pessoas franceses.

E tudo isso aparentava valer muito mais do que a guerra “dos grandes”, que pareciam presos à mentalidade cavalheiresca que havia sobrevivido até aquele início de século. Mais importante do que os progressos da técnica, para esses franceses que ocupavam os altos cargos militares, era a honra adquirida, a tradição guerreira. Muitas vezes certos códigos de conduta batiam de frente com as metralhadoras alemãs de forma desigual. Foi assim que se viram, ao longo de todo o conflito, milhares de soldados partindo para a morte certa apenas para que o oficial mantivesse a suposta honra intacta, bem como comandantes que, pautando suas decisões sob esse prisma, deixaram de ganhar alguns duelos importantes. A Alemanha, país que assumiu para si o papel de baluarte da consolidação da modernidade, levou grande vantagem no conflito durante um bom tempo graças a isso136; e Verdun, nesse sentido, foi um ponto de virada.

Se a batalha de Verdun sagrou-se como aquela em que “morreu a juventude francesa” devido ao sacrifício demandado pelos concidadãos; a do Somme, estrategicamente bastante parecida com a primeira137, notabilizou-se igualmente como um evento catastrófico e, em decorrência do enorme sacrifício de vidas, outro produtor de “lugares de memória”. Ao passo que Verdun ganhou maiores ares de identificação nacional na França, Somme é rememorada mais como um exemplo da força da cooperação franco-britânica no país.

Via-se a extrema necessidade de dar cabo à guerra de trincheiras; os recursos nacionais davam claros sinais de esgotamento e, para o lado em questão, a derrota econômica tornava-se um fantasma tão ou mais presente do que a militar. Por isso, a estratégia era a de fazer os alemães recuarem a partir de três movimentos ofensivos. Primeiro, bombardeio pesado sobre as trincheiras alemãs. Em seguida, o avanço das tropas para, finalmente, promover a consolidação da ofensiva com o avanço de forte cavalaria. Aliás, outro signo que marcaria o evento: foi na batalha do Somme que se implementou o tanque em termos de estratégia militar. Seu uso era bastante discreto em relação ao que se imaginava naquele momento; serviam mais como transporte e

135 Cf. Lucien Febvre. Honra e Pátria. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998. 136 Cf. Modris Eksteins. Op. cit., 1992.

137 Cf. Jean Jacques Becker. “Les inovations stratégiques”. In: 14-18: mourir pour la patrie (l’Histoire,

54 blindagem para proteger a movimentação da infantaria. Sua utilização por vezes mostrava-se mais um estorvo do que apoio, pois o atolamento das máquinas era recorrente. Havia também a questão do território acidentado, amplamente desfavorável à movimentação dos tanques, que tornavam a guerra ainda mais estagnada. Como se tratava de uma região que não era plana, muitos motores não suportavam subidas. O disparo de projéteis também não apresentava o refinamento necessário à proposta do seu uso (lembramos que Bloch questionava a efetividade dos bombardeios aéreos também àquela altura). Naquele momento, o maior impacto da máquina talvez fosse o psicológico. Ainda assim, até o final da batalha, em novembro de 1916, a aplicação do tanque em combate estaria bastante ajustada.

Mas o que espanta em relação à batalha de Somme são suas cifras. Uma das mais impressionante delas, e que foi a fundadora de um evento memorialístico, foi a do dia 1º de julho de 1916. Naquelas primeiras vinte e quatro horas, mais de dezenove mil soldados britânicos morreram138. Ali fundou-se o lugar de memória: Le Trou de Mine de la Boissele, o buraco de mina com incríveis noventa metros de diâmetro por trinta de

profundidade tornou-se o símbolo dos pesados bombardeios na região, bem como o local da comemoração anual que ali ocorre, sempre às sete e meia da manhã, horário no qual se iniciou a ofensiva139.

Ao fim dos cinco meses de conflito, mais de um milhão de soldados foram mortos ou feridos140, consagrando um avanço de apenas doze quilômetros. Estava mais

do que claro que o custo humano da guerra tornava-se absurdo. Marc Bloch foi testemunha do evento mas não deixou registros além de anotações bastante ligeiras em seu diário daquele ano.

Após o já mencionado período atuando no norte da África (final de 1916 até o início de 1917), seu registro seria igualmente econômico quando da sua participação em outra batalha-chave para a França na grande Guerra: Chemin des Dames, entre abril e junho de 1917. A ofensiva, organizada pelo general Nivelle141, tinha como fundo roteiro semelhante ao Somme: bombardeios intensos nas trincheiras alemãs, o avanço da infantaria e a consolidação das posições por veículos blindados.

138 Mais de 56 mil ficaram fora de combate por ferimentos ou perecimento. 139 Cf. Stéphane Audouin-Rouzeau; Jean-Jacques Becker (org.). Op.cit., 2004. 140 Cerca de 437 mil alemães, 419 mil ingleses e 202 mil franceses. Ibidem.

141 Substituto de Joffre, Nivelle apostou nessa ofensiva para garantir o respeito frente às tropas. Talvez

55 Se naquele momento houve um refinamento estratégico devido à experiência do Somme, e buscou-se concentrar massivamente o maquinário moderno em pontos específicos, ao invés de espalhá-los pelas linhas ofensivas, caminhava juntamente com determinadas escolhas bastante contraditórias. Ainda que o resultado final tenha sido o recuo efetivo dos alemães, Chemin des Dames pode ser considerado como uma derrota estratégica francesa, bem marcada pela crítica que Marc Bloch sempre fazia ao alto comando: incapacidade de observar a própria realidade do conflito. A vitória foi conquistada pela insistência quase cega na estratégia que naquele momento já não possuía a mesma eficácia do ano anterior. Ao longo do tempo em que a batalha ocorreu, muito se questionou sobre a relevância da conquista: não haveria outro jeito de combater naquele território? Estima-se que, ao cabo dos dois meses de conflito, mais 200 mil franceses tenham perecido. Portanto, em menos da metade da duração do Somme, as cifras se equipararam.

Foi por isso que nesse período iniciou-se uma série de motins nas trincheiras francesas. Insatisfeitos, os soldados recusavam-se a cumprir ordens e ameaçavam paralisar o esforço de guerra. O resultado foram mais de três mil condenações, dentre as quais 554 pessoas sentenciadas à morte. O exército francês parecia estar a ponto de ruir naquele ano.

Ainda que só tenhamos informações sobre o paradeiro de Marc Bloch nesse momento142, podemos imaginar143, ao observar suas anotações já aqui descritas, bem

como aquelas que guiariam suas reflexões posteriores sobre a guerra, que esse clima de crítica e ressentimento trazido com a desvalorização da vida do soldado que tomava conta do front também o atingia. E, por falta de palavras próprias, podemos tomar emprestado aquilo que está na canção antimilitarista que se tornou o símbolo da experiência dos homens que combatiam no Aisne naquela primavera, a Chanson de Craonne144. Ela trata

142 Suas anotações dão conta das comunas pelas quais passou naquela região da Champagne: Beaucourt,

Noroy le Bourg, Esmery-Hallon e Villevèque. Cf. Marc Bloch. Op. cit., 1997, pp. 56-57.

143 Uma vez mais, recorremos às sugestões de Carlo Ginzburg sobre a importância narrativa das lacunas

documentais. Pensamos também em concomitância com o trabalho de Natalia Zemon-Davies em O retorno de martin Guerre, que trabalha com maestria a carência documental, a partir de um exercício de “imaginação controlada” pelas evidências históricas, e do lugar do “talvez”, “eu penso”, “acredito” e outros termos análogos no discurso do historiador. Sobre esse debate, conferir. Carlo Ginzburg. “Decifrar em espaço em branco”. In: _____. Relações de Força: história, retórica, prova. São Paulo: Cia. das Letras, 2002, pp. 100 – 117; e, do mesmo autor, “Provas e possibilidades à margem de ‘Il retorno de Martin Guerre’ de Natalie Zemon Davies”. In: _____. A Micro-história e outros ensaios. Lisboa: DIFEL, 1989, pp. 179- 202. Ver também Natalie Zemon Davies. O retorno de Martin Guerre. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

144 Também conhecida como La Chanson de Lorette, nome pelo qual foi publicada pela primeira vez em

1919 por Paul Vaillant-Couturier. Existem várias versões das letras e sobre a origem da canção que, na verdade, foi sendo complementada ao longo da batalha de Chemin des Dames. Tomamos aqui como base

56 do drama da permission145, descanso que mostra ao soldado o quadro de subvalorização

no qual estava inserido: no repouso são substituídos por homens que irão perder as vidas na luta, ao passo que veem os não-combatentes regozijando de uma vida sem perigos. “É em Craonne, sobre o planalto146 / que devemos arriscar nossas peles / porque somos nós os condenados / somos nós os sacrificados!”147.

Se Bloch não exprimiu esses sentimentos em registros hoje acessíveis, apresentou pistas do desconforto que sentia ao abandonar os companheiros nos momentos de descanso durante as licenças. Não foi à toa que pediu para voltar ao front voluntariamente quando se sentiu melhor da febre tifoide. A canção termina com uma crítica aos que desejam o combate sem combater, seja os dispensados, seja a “alta classe”: “Mas isso acabou, porque os soldados / irão todos entrar em greve / e será a vossa vez, senhores opulentos / de entrar em cena / porque se vocês desejam fazer a guerra / arrisquem a sua pele!”148

No início de 1918 a vitória para qualquer lado parecia distante. Inesperadamente, contudo, a Alemanha demonstraria claros sinais de fraqueza. Para encobrir a derrota iminente (detectada pelo alto comando alemão, sobretudo devido à entrada dos Estados Unidos no confronto), os germânicos tentaram apressar a realização de acordos de paz. Como a estratégia não deu certo, no dia 11 de novembro aceitaram as condições de armistício apresentada pela Entente Cordiale. No diário de 1918, Marc Bloch apenas registra “armistício”. Nada de comentários, interjeições ou comemorações. Posteriormente, em junho de 1919, seriam obrigados a assinar o polêmico Tratado de Versalhes, que só gerou rancor por parte dos alemães em relação às potências vencedoras. Estes, sem perceber, “perdiam a paz no momento em que ganhavam a guerra”149.

Quanto aos homens que haviam lutado, era hora de voltar para casa. Exaustos, feridos, doentes, mutilados, famintos e, sobretudo, transformados. A sensação era a de dever cumprido. Esperavam nada mais que o reconhecimento, a gratidão por parte dos

aquela que está apresentada no site do CRID, baseada em cartas que se encontram nos arquivos do Service Historique de la Défense Terre (ref. SHDT 16N1521), e com algumas explicações sobre as inserções de cada trecho. Disponível em <http://crid1418.org/espace_pedagogique/documents/ch_craonne.htm>. Acesso em: 26 dez. 2014.

145 Referimo-nos aos dias de repouso após um período de oito dias nas trincheiras. Após o intervalo, os

soldados voltavam novamente à frente de batalha.

146 Referência à topografia da região do Aisne.

147 Do original: “C’est à Craonne, sur le plateau / Qu’on doit laisser la peau / Car nous sommes tous

condamnés, / c’est nous les sacrifiés!”.

148 Do original: “Mais c’est fini, car les troufions / Vont tous se mettre en grève. / Ce s’ra votre tour,

messieurs les gros / De monter sur l’plateau, / Car si vous voulez faire la guerre / Payez-la de votre peau!”.

57 demais membros do corpo nacional. Nada encontraram. O Estado não garantiu a essas pessoas os direitos que os ex-combatentes acreditavam possuir. Restou, enfim, o ressentimento150.

Marc Bloch, de certa maneira, não passou por isso. Para ele, havia reservada uma vaga como professor de uma nova universidade que seria criada na Alsácia retomada pelos franceses com o Tratado de Versalhes. Ficou, portanto, a impressão de ter participado de um dos grandes movimentos da história humana:

Bloch compreendia perfeitamente que aquela guerra tinha consequências revolucionárias “não apenas para uma classe, mas para toda a humanidade”. Ela tornar-se-ia também um dos principais pontos de referência da sua vida, como definição do heroísmo e da loucura humana, dos feitos técnicos e das suas limitações – uma experiência que o marcou indelevelmente, a ele e à sua geração151