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Capítulo 2 – AS GUERRAS PELA HISTÓRIA

2.6 As rusgas

2.6.1 Os concursos

Podemos destacar quatro momentos nos quais a linearidade da trajetória da relação entre Bloch e Febvre mostrou-se torta em relação à sua rememoração posterior. A primeira delas foi iniciada em 1928 e, após um período de “aquietação”, retornaria com força na década de 1930. Trata-se da questão dos concursos para o Collège de France.

Os Annales não eram o único projeto que os dois tinham em comum. Suas ambições acadêmicas faziam crescer em ambos os espíritos a necessidade, cada vez mais urgente, de sair de Estrasburgo e buscar uma nomeação no centro intelectual do país.

122 Como já mencionamos, desde meados da década de 1920 a cidade tinha perdido um pouco de sua atratividade intelectual, contando com uma diminuição gradual de recursos após a reconquista do território, além de um esvaziamento dos maiores nomes do corpo docente. Assim que possível, os professores sempre buscavam Paris.

A questão é que quase sempre era a mesma vaga que se apresentava aos dois. Não tanto por conta de abordagens teóricas ou proximidade cronológica das áreas de especialistas (porque, no limite, um era especialista em Idade Média, enquanto o outro, em Idade Moderna), mas porque para assegurarem a entrada dependeriam do apoio das mesmas pessoas. Estava aí o ônus da sociabilidade construída em conjunto ao longo de uma década: pela maneira como se estruturavam os concursos, alguém tinha que abrir mão da candidatura para que o outro tivesse chances de assumir o cargo.

Em fins de 1928, com o primeiro número dos Annales quase no prelo, surgiu uma vaga no Collège de France, após a morte de Théodore Reinach. As propostas dos candidatos para ocupar a vaga (deveriam defender o título da disciplina que pretendiam ministrar na instituição) tinham que ser apresentadas em 20 de janeiro do ano seguinte. As correspondências mostram que os dois logo começaram a pensar seriamente na vaga. Lucien Febvre, de passagem em Paris, escrevia:

Meu caro amigo, duas palavras para lhe dizer que não retornarei a Estrasburgo até sábado. Tenho muito o que fazer por aqui [em Paris]. Não pense que seja uma atividade voraz de candidato: não sei se farei o “galope de verificação” preconizado pelos conhecedores. Tive um longo encontro com Jullian ontem à noite. Ele me falou de nove ou dez candidatos. O dele é Grenier, a quem ele próprio convidou a se candidatar. De resto, ele é hostil a Halphen, muito favorável a você contra ele. E quanto a mim, ele me expôs toda a sua crise de consciência e o início de sua “admiração” por mim. [...] O que me prende aqui são outros assuntos, e a revista está entre eles371.

Apesar de Febvre insistir no fato de que não fazia campanha, fica evidente ao menos que a contagem de votos começava com bastante vigor. Durante todas as candidaturas que tentariam durante a década de 1930, essa discussão relativa à

371 Carta de Febvre a Bloch, 7 ou 14 de novembro de 1928. Do original: “Mon cher ami, deux mots pour

vous dire que je ne serai de retour à St[asbourg] que samedi. J’ai trop à faire ici. Ne croyez pas à une activité devorante de candidat: je ne sais pas du tout si je ferai le ‘galop d’essai’ préconisé par les conaisseurs. J’ai vu Jullian hier soir longuement. Il m’a parlé de neuf ou dix candidats. Le sient est Grenier à qui il a écrit de se présenter. Il est du reste très hostile à Halphen, très favorable à vous contre Halphen, et quant à moi, il m’a exposé tout au long ses crises de conscience et le début de son ‘admiration’ pour moi. [...] Ce qui m’incite à rester ici, ce sont d’autres soucis. Et la revue n’y est pas étrangère”. Ibidem, p. 111-112.

123 concorrência e aos possíveis apoiadores era bastante comum, e talvez fosse a única coisa a tomar mais atenção do que os assuntos da revista nesses espaços de tempo.

Nesse primeiro evento, a cordialidade permanecia entre os dois. Em resposta, Bloch fez um balanço do peso de todos os candidatos e das possibilidades que tinham diante deles. Logo em seu início, apresentava a sua conclusão sobre o balanço de poder: “Acredito que você tenha fortes chances. A batalha, todos sabemos, acontecerá entre I. Lévy372 e você”373. Bloch sabia que suas chances eram mínimas e por isso pensava em abrir mão da candidatura a favor do amigo. Na mesma semana, escrevia a Henri Berr:

Você já deve saber que Febvre – visando a um ensino diferente – tem a mesma ideia que eu. Inútil lhe dizer que jamais dois “concorrentes” estiveram mais a par da ação do outro. Você conhece nossa estreita amizade. Tenho por ele tanta estima e devo-lhe tanto que adoraria me retirar a seu favor. Porém, outros historiadores são candidatos; não tenho por que me inclinar diante deles, nem as mesmas razões morais nem as mesmas razões intelectuais...374

O mesmo tom de hesitação transparece naquela carta escrita para Lucien Febvre. Nela, dizia que não tomara uma decisão final, mas que pensava em levar a candidatura até as últimas etapas para, então, se retirar. Dessa forma, roubaria alguns votos que, quando chegasse o momento decisivo, seriam convertidas para o amigo. Planejava apresentar um projeto de ensino que fosse tão distinto quanto possível do de Febvre, a fim de que a balança dos votos pendesse diretamente para o lado que acreditava ser mais favorável. Dizia fazer isso em nome dos Annales:

Sobretudo, não me agradeça. Eu mentiria se lhe dissesse que não me é particularmente agradável ter, assim, a certeza de não lhe causar nenhum dano. Também a iluminação sobre nossos estudos históricos, que não me são indiferentes e aos quais você serviria tão bem estando no Collège, tem este preço375.

E seguia a carta desejando força a Febvre, sem deixar de se referir ao outro concorrente de forma sarcástica:

372 Historiador do judaísmo e religiões orientais. 373 Ibidem, p. 113.

374 Carta de Bloch a Berr. Do original: “”. Marc Bloch, Op. cit., p. 55.

375 Carta de Bloch a Febvre, 23 de novembro de 1928. Do original: “Vous savez peut-être déjè que Febvre

– visant um enseignement différent – a eu la même idée que moi. Inutile de vous dire que jamais deux ‘concurrents’ n’ont été mieux au courant chacun de l’action de l’autre. Vous conaissiez notre étroite amitié. J’ai pour lui tant d’estime, et je lui dois tant que j’eusse aimé m’effacer devant lui. Mais d’autres historiens sont candidats; je n’ai pour m’incliner devant eux, ni les mêmes raison Morales, ni les mêmes raisons intellectuelles...”. Ibidem, p. 115.

124 Permita-me dizer, meu caro amigo, que você deve investir vigorosamente em suas chances. Pude constatar que você não viu Millet. Entendo que ele esteja vendido ao Pseudo-Isidore376. Ainda assim, acho que você não deve

negligenciar ninguém. Perceba que me tornei maquiavélico. Você pode ganhar a batalha. Força; ao fim, tudo valerá a pena377.

O gesto de Bloch não pode ser superdimensionado. Assim, estaríamos a serviço de certa memória. A desistência da candidatura deu-se sobretudo pela consciência de que não tinha chances reais na ocasião. Podemos encará-la mais como uma tentativa de fincar as relações de poder entre os dois. Subjaz à troca de gentilezas uma clara hierarquização, relacionada à diferença de idade e influência dos dois. Febvre diria, na correspondência seguinte, que com a busca por votos ficava claro que os dois possuíam “o mesmo público”. Elogiava a ação de Bloch, “sábia e prudente” a ambos os partidos. “A única maneira de entrarmos no Collège é sucessivamente”378.

Febvre não conseguiria a cadeira naquele ano e a conclusão a que chegaram conjuntamente tornar-se-ia justamente o ponto dissonante entre os dois. É possível que desde a percepção concreta de que teriam que competir por uma vaga universitária de mais renome, tenha se desenvolvido entre eles uma competição velada. A Henri Berr, disse sentir-se incomodado com alguns atos de Bloch. Ele teria se adiantado para escrever uma resenha de um livro sobre o qual tinha consciência de que Febvre trabalhava379. A questão era que a publicação da resenha envolvia o nome de Camille Jullian, então um dos mais influentes membros do Collège.

Mas a crise de fato se instaurou no fim de 1929. Bloch provocaria a ira daquele a quem dera inicialmente apoio ao candidatar-se a uma vaga na École Pratique des Hautes

Études (EPHE), considerada uma primeira etapa acadêmica para adentrar a Sorbonne ou

o Collège. Sentiu-se traído, pois não poderia realizar a viagem de campanha que o outro faria, pois ficaria com trabalho acumulado e, no limite, nem teria condições financeiras para sustentar a família em caso de aprovação. O cargo renderia a Febvre metade do que ganhava em Estrasburgo380. A Berr reclamou das condições supostamente privilegiadas

376 Refere-se ao concorrente Isidore Levy, em referência a um conjunto de textos medievais falsamente

atribuídos a Isidore Mercator, durante anos também confundido com Isidoro de Sevilha. O falso documento é um dos mais importantes do direito canônico medieval.

377 Carta de Bloch a Febvre, 23 de novembro de 1928. Do original: “Mais laissez-moi vous dire, mon cher

ami, qu’il faut pousser vigoreusement votre chance. J’ai constaté que vous n’aviez pas vu Millet. Il est acquis au Pseudo-Isidore, c’est entendu. Tout de même je crois que je deviens machiavélque. Vous pouvez gagner la bataille. Allez-y; aprés tout l’enjeu en vaut la peine”. Ibidem, p. 115.

378 Ibidem, p. 116.

379 Olivier Dumoulin, Op. cit., 2000, p. 96

380 Em carta a Henri Berr (7 de dezembro de 1929), mencionava o ordenado de 68.000 francos recebidos

125 do outro, em razão da fortuna pessoal de Simone Vidal, esposa de Bloch, que possibilitaria alguns anos de salários reduzidos na EPHE381.

Em 31 de dezembro daquele ano, enviou uma longa carta, na qual não escondia a irritação. A reclamação residia no fato de não ter sido avisado anteriormente das intenções de candidatura de Bloch (“desde antes das férias, em todo caso, não escrevi nem recebi uma palavra relativa aos AE [Altos Estudos], a não ser aquelas de Halphen e J. Bloch”). O que mais o incomodou fora uma missiva enviada às vésperas por Bloch (a qual não tivemos acesso), em que ele reclamava de Febvre por estar supostamente colocando os seus amigos da EPHE contra ele:

Tenho tantos amigos nos AE? [...] Imagino que você tenha citado os nomes. Peço para que me diga imediatamente quem são. [...]

Os “amigos de Febvre”... sem dúvida; mas e se falarmos das “imprudências de Marc Bloch”?382

Ao tom agressivo, soma-se o discurso do acordo de cavalheiros anteriormente mencionado:

Note somente o seguinte: você estará sozinho em jogo. Não há, entre nós, uma espécie de competição latente [...]. Seja no Collège, seja no AE, julgávamos estar destinados a entrar em conflito direto e brutal. Estivemos preocupados, em diversas ocasiões, com meios que fossem igualmente favoráveis a nós dois. Estávamos preocupados com o sentimento mais amigável, por você e por mim [...]. Os “amigos de Febvre” são também os “amigos de Bloch” [...]. Temos que chegar os dois a Paris. Por nós, mas sobretudo pelo que representamos [...]. Pois você pode me impedir de chegar; mas eu posso impedi-lo de chegar. Escrevo tudo isso no dia 31 de dezembro. É uma maneira engraçada de celebrar o ano que virá. Mas não creio que seja uma maneira engraçada para que você testemunhe a minha amizade383. (grifos meus)

a missão educativa ganharia muito em peso. Poderia instruir as gerações seguintes a seguir a empreitada histórica que há tanto defendia. Ibidem, p. 262, nota 110.

381 “[Marc Bloch] me anuncia que vai à Paris mover céu e terra para se fazer nomear, renunciando a

Estrasburgo e contentando-se provisoriamente com o ordenado da Altos Estudos. Ele tem condições para fazê-lo – e sou obrigado, de não colocar em questão da história moderna e do acúmulo, uma vez que sou incapaz de ir a Paris: é o que Marc Bloch não demorou a perceber”. Do original: “Marc Bloch [...] m’annonce qu’il va à paris remuer le ciel et la terre pour se faire nommer, em renonçant à Strasbourg et em se contentant provisoirement du traitement des Hautes études. Il a de la chance de pouvoir le faire – et je suis obligé, quant à moi, de ne pas reposer la question de l’histoire moderne et du cumul, puisque je suius incapable d’alles à Paris: ce de quoi Marc Bloch n’a pas mis longtemps à s’aviser” Ibidem, p. 96- 97.

382 Carta de Febvre a Bloch, 31 de dezembro de 1929. Marc Bloch, Lucien Febvre, Op. cit., 1997, p. 263,

264, 265.

383 Carta de Febvre a Bloch, 31 de dezembro de 1929. Do original: “Notez seulement ceci: vous seriez seul

en jeu, il n’y aurait pas, entre vous et moi, une espèce de compétition latente [...]. Qu’il s’agisse du Collège, qu’il s’agisse des H[autes] Études, on a pu nous croire destinés à entrer en conflit direct et brutal. On s’en est beaucoup préoccupé, à diverses reprises, dans des milieux qui nous sont également favorables à tous deux. On s’en est préoccupé avec le sentimento le plus amical et pour vous et pour moi. [...] Les ‘amis de Febvre’ sont, tout aussi bien les ‘amis de Marc Bloch’. [...] Nous devons arriver à Paris tous les deux. Pour

126 À parte todo o rancor, vale notar que mesmo numa carta tão tomada por paixões Febvre menciona a consciência do peso de ambos para a historiografia. Ao término do segundo ano da revista, apesar de um inexpressivo crescimento, reinava esse sentimento de que, de fato, suas ações deviam ser regidas em nome de uma história científica de real valor.

Febvre acabou escrevendo uma carta pedindo desculpas e tentando pacificar a situação, mas é incontestável o impacto que o evento teve na relação dos dois a partir daí. Confessava a Henri Berr, em 1931:

Marc Bloch. Estamos “muito bem”, em termos gerais. A atmosfera se descarregou graças às cartas de um ano atrás. É sempre a mesma raiva, mais forte que ele e, imagino, em parte inconsciente, de pôr seus pés em todos os meus passos. Estive em Gante, como professor de intercâmbio, ele irá este ano, depois de muito ter trabalhado para consegui-lo. Começo um artigo sobre um tema qualquer, oito dias depois ele já escreveu o dobro... Fora isso, mantemos boas relações; nossos filhos se veem com frequência etc.384

A vaga da EPHE foi ocupada por outro historiador, Émile Coornaert385. Curiosamente, não há sequer uma carta escrita por Bloch nesse ano de crise publicada na coleção de Bertand Müller, nem nas caixas e microfilmes dos Archives Nationales. As escritas por Febvre levam à frente os assuntos de ordem dos Annales e deixam de lado a rusga. Os motivos do sumiço podem ser diversos e não nos cabe especular. Muito das cartas – especialmente aquelas escritas por Marc Bloch – foram perdidas, como já mencionamos. O que importa, nesse momento, é perceber que a imagem de historiador ideal que Lucien Febvre tinha do amigo ao longo dos anos 1920, e que propagou após a sua morte, deve ser encarada com reservas. Se mesmo com a disputa o respeito intelectual que tinha por ele (Bloch foi o único historiador ainda vivo citado por Febvre em sua aula

nous, mais plus encore pour ce que nous représentons. [...] Car vous pouvez m’empêcher d’arriver; mais je pouis vous empêcher d’arriver. [...] J’écris tout ceci le 31 décembre. C’est une drôle de façon de célébrer l’na qui vient. Mais je ne crois pas que ce soit une drôle manière de vous témoigner mon amitié”. Ibidem, p. 263, p. 264 e p. 265.

384 Carta de Febvre a Berr, 1 de janeiro de 1931. Do original: “Marc Bloch. Mais nous sommes ‘très bien’

ensemble. L’atmosphère a été déchargée par les lettres d’il y a un an. C’est toujours la même rage, plus fort que lui et j’imagine en partir inconsciente de mettre ses pieds dans tous mes pas. Je suis allé à Gand, comme professeur d’échange, il y va cette année ayant beaucoup travaillé à l’obtenir. J’écris un bout d’article sur un objet quelconque, huit jours après il m’en apport ele double... Á part ça, nous sommes en excellents termes, les enfants se voient fréquemment, etc.”. Retirado de Olivier Dumoulin. Op. cit., 2000, p. 98.

385 Coonaert foi seu adversário mais uma vez em 1935, na disputa por uma vaga na Sorbonne. Desta vez,

127 inaugural) não acabou e continuaram a trabalhar juntos até que não fosse mais possível, ainda assim o mito dos Annales merece ser relativizado.

Alguns anos depois, em 1933, Febvre conseguiu entrar no Collège de France. Nas correspondências, como mencionamos, percebemos o mesmo modus operandi do processo anterior: contagem de votos, troça dos adversários e apoio mútuo. Bloch também participou da seleção, mas não obteve sucesso. Tentou outras vezes e novamente a tensão reaparecia. Na sua primeira tentativa, ainda em 1933, ocorria na Alemanha a ascensão do nazismo ao poder, que parecia aos olhos dos dois aumentar proporcionalmente na instituição a necessidade de estudos germanistas. Retirou sua candidatura e a vaga fora conquistada por um professor especialista do país vizinho.

Surgiu nova oportunidade no ano seguinte. Camille Jullian, o involuntário causador da polêmica da resenha, faleceu, deixando vaga a sua cadeira. Uma vez mais, os caminhos políticos da Alemanha pareciam influenciar diretamente na sua trajetória. Febvre, que àquela altura estava iniciando uma caminhada política, relatava ter recebido uma orientação direta do Ministério da Educação Nacional que desencorajava bastante Marc Bloch: “um alerta: recebi um telefonema do ministério de Monzie que, impetuoso como de hábito, disse: ‘Uma cadeira vaga no Collège? Nomeiem Einstein’”386. O

renomado físico, ameaçado pelo regime nazista, entrava no caminho do historiador, e essa disputa seria impossível de ser vencida.

Apesar do aparente apoio demonstrado através das correspondências, Febvre estava bastante ocupado com a organização da Encyclopédie Française, e não moveu grandes esforços para apoiar a candidatura de Bloch. Sempre sugeria que ele mantivesse uma agressiva política de envio de cartas de intenções aos professores do Collège. Bloch, que declarava não ver sentido em tanto investimento pessoal de Febvre no projeto enciclopédico, e talvez sentindo um relativo distanciamento, ficou obviamente decepcionado. Somava-se a isso o fato de o horizonte não ser tão favorável a ele, mais uma vez.

Depois do “perigo Einstein”387 sair de cena, com a criação de uma nova cadeira

específica para recebê-lo, Bloch desenhava seu argumento a favor da nomeação a partir da defesa do método comparativo. O problema era que aquilo que levava o físico ao

386 Carta de Febvre a Bloch, 12 de abril de 1933. Do original: “j’ai eu une alerte. On m’a téléphoné du

ministère que de Monzie, impulsif à son habitude, avait dit: ‘Une chaire vacante au Collège? Nommons-y Einstein’”. Ibidem, p. 352.

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Collège era justamente o que parecia afastar mais ainda Bloch de lá. O antissemitismo,

aparentemente, crescia muitíssimo dentro da instituição. Febvre fora aconselhado a não apoiar tão abertamente a entrada de “mais um judeu” na instituição, para evitar agitações388. A história comparada só levaria Bloch “ao outro lado da rua”389 no ano de 1936, quando finalmente entrou na Sorbonne.