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Bens e serviços de saúde são produzidos, comercializados e consumidos numa rede complexa de interações entre uma grande quantidade de atores econômicos, políticos e sociais. Mesmo assim, os usuários dos serviços de saúde poderão exercer controle sobre a produção destes serviços à medida que a produção e consumo se realizam através de uma interação entre os prestadores e os usuários. Entretanto, há uma série de obstáculos ao exercício deste controle, entre os quais podemos desta- car a assimetria de informação e a extrema diferença de status social entre os prestadores e grande parte dos usuários.

Favorecida pelo processo da transição política, a Reforma Sanitária logrou criar conselhos e conferên- cias de saúde com a finalidade de ampliar o controle dos usuários numa perspectiva de direitos sociais. Estes conselhos e conferências, que não apenas canalizam demandas, mas também as estruturam, con- tinuam sendo objeto de disputas políticas à medida que os diversos atores lutam para adequar estas ins- tituições aos seus interesses. Neste processo, os conselhos tem passado de instâncias deliberativas para instâncias reivindicativas. Desta forma, tem privilegiado questões que afetam os usuários de forma mais imediata, e relativamente pouco atenção tem sido dado a questões que dizem respeito à Vigilância Sa- nitária. Isto tem pressionado para a criação de mecanismos de controle social específicos.

Os benefícios produzidos pela Vigilância Sanitária são de natureza coletiva e assim o controle social deverá ser mediado por movimentos coletivos de defesa de consumidores. Surgiram vários movimentos neste sentido, como também órgãos estatais que visam à defesa dos consumidores. Mesmo assim, os consumidores continuam numa posição bem subordinada em relação aos produtores de bens e serviços relacionados à saúde em decorrência da estrutura extremamente desigual da sociedade brasileira e da estrutura política que dificulta o funcionamento de movimentos sociais autônomos.

A criação de novos canais de controle pela ANVISA espelha a atual conjuntura política marcada pela retração da mobilização popular bem como da “aliança” da tecnocracia da saúde com lideranças sindi- cais e comunitárias. Assim, a preocupação com a maximização da participação dos usuários é pequena e é grande a expectativa em relação aos resultados que poderão ser obtidos graças à autonomia do ór- gão e capacidade técnica crescente.

Entretanto por mais importante que seja a instrumentalização técnica da ANVISA, a sua atuação téc- nica continua tendo dimensões políticas à medida que intervém no padrão de relações de vários atores sociais. Assim, avançar nos esforços para defender e proteger a saúde dos indivíduos e da coletividade requer também uma ação política articulada entre as associações de defesa dos consumidores, órgãos governamentais de defesa de consumidores, a ANVISA, movimentos sindicais e comunitários. Uma pos-

sível alavanca para esta articulação poderão ser os Conselhos de Saúde, a despeito de suas grandes li- mitações e sua dependência do Poder Executivo.

O alcance destes avanços provavelmente será largamente determinada pelo grau da expansão da consciência coletiva de cidadania e solidariedade, cujo substrato será, sem dúvida, uma diminuição ex- pressiva da extrema desigualdade social.

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