• Nenhum resultado encontrado

PRINCIPAIS PROBLEMAS E PERSPECTIVAS ATUAIS

As propostas de mudanças dos modelos tradicionais em modelos de atenção integral encontram difi- culdades para a sua concretização em ações políticas, político-institucionais e técnico-administrativas nos vários níveis de gestão do SUS (Teixeira, 2000), especialmente quando analisamos as diferentes formas de financiamento em que se sustentam.

Em 1998, a “Oficina de Vigilância da Saúde” – realizada durante o IV Congresso Brasileiro de Epide- miologia – reuniu vários especialistas para uma discussão sobre as concepções e práticas de Vigilância à Saúde no SUS e elaborou propostas e recomendações visando a (re)estruturação e a operacionaliza- ção do Sistema de Vigilância à Saúde nos três níveis de governo.

As recomendações do Relatório da Oficina continuam atuais:

4 institucionalizar as práticas de Vigilância à Saúde através do Projeto de Estruturação do Sistema Na- cional de Vigilância em Saúde – VIGISUS, do Ministério da Saúde;

4 articular os processos de institucionalização da Vigilância à Saúde e do Programa de Saúde da Família;

4 inovar os processos de formação/capacitação de recursos humanos;

4 definir conteúdos e habilidades básicas, porém respeitando as diversidades regionais; 4 criar observatório para estudar e difundir experiências.

Uma das condições básicas para a efetivação da recomendações da Oficina é a implantação do VIGI- SUS. O projeto, mantido com recursos internacionais, garantiria o financiamento da estruturação das prá- ticas de vigilância, viabilizando a adequação de infra-estrutura, a capacitação de recursos humanos e o desenvolvimento das relações interinstitucionais de cooperação e apoio técnico-científico.

Grande parte das experiências municipais de implantação de modelos de Vigilância à Saúde acontece- ram por iniciativas locais. Dentre os diferentes fatores que têm retardado os avanços nas transformações dos modelos tradicionais de assistência, desenvolvidos nos municípios brasileiros, pode-se citar a submis- são das comunidades administradas por políticos despreparados, a baixa qualificação de profissionais ges- tores de serviços de saúde e conselheiros municipais de saúde, a falta de estrutura das instituições e, ainda, as dificuldades de comunicação entre as três esferas do Poder Público. Soma-se a isso a falta de decisão política para alocação de recursos que possibilitem a expansão e consolidação desse modelo.

Esta situação pode ser revertida se forem seguidos os novos regulamentos que definem a sistemática de financiamento, como a Programação Pactuada Integrada e Controle de Doenças - PPI-ECD2, que reco- menda “a organização de estruturas capazes de realizar todas as atividades de responsabilidade do muni- cípio de forma integrada, evitando-se a separação entre atividades de vigilância epidemiológica, vigilân- cia ambiental em saúde e operações de controle de doenças”. Nessa organização, o repasse de recursos não se daria mediante a realização de procedimentos, mas obedecendo à cobertura das necessidades de serviços do município, estabelecidas por critérios demográficos, socioeconômicos e epidemiológicos.

Os textos preparatórios para a XI Conferência Nacional de Saúde reconhecem que “o País desenvolve sistemas pouco articulados e interativos, sistemas que nem sempre conseguem perceber a heterogenei- dade dos problemas nacionais e as especificidades e simplicidades locais, com baixo impacto no plane- jamento do sistema e na produção de políticas efetivas para a resolução dos problemas que afligem a população, que mora no município” (CNS,2000). Tal constatação mostra que a discussão institucional do tema “Modelos de Atenção à Saúde” mantém-se necessária – destaca-se nas principais partes do pro- grama da XI Conferência, como o painel “Efetivando o SUS: Acesso, Qualidade e Humanização na Aten- ção à Saúde, com Controle Social” – e pede uma acurada análise a partir das apresentações dos confe- rencistas, descritas na carta de recomendações, a saber:

4 A melhoria das condições de saúde e da existência efetiva de políticas sociais intersetoriais e de um compromisso irrestrito com a vida e a dignidade humana, capaz de reverter os atuais indica- dores de saúde, contribuindo assim para a melhoria da qualidade de vida da população.

4 Acesso universal à atenção integral, equânime e humanizada, garantido o financiamento de todos os níveis da saúde, com autonomia dos municípios e estados na elaboração e execução de seus Planos, com aprovação dos respectivos Conselhos de Saúde.

4 A organização da porta de entrada do sistema, através de distintas iniciativas de estruturação da atenção básica tais como: Saúde da Família, Sistemas Locais de Saúde e outras estratégias, devem garantir a territorialização, gestão pública, responsabilidade sanitária, equipe multiprofissional em dedicação integral e articulação e integração com os demais níveis de atenção à saúde.

Há que se registrar, paradoxalmente, que os municípios que tomaram a iniciativa de implantar serviços de atenção integral à saúde – com maior ou menor grau de dificuldades - têm muito o que mostrar aos gover- nos estaduais e federal. Caberá a essas esferas conhecer e divulgar os exemplos válidos, incentivando a sua expansão e concretizando, assim, os princípios de qualidade, efetividade e eqüidade preconizados pelo SUS.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Carvalho AL, Ribeiro JM. Modelos de atenção à saúde. In: Carvalho AL, Goulart FA. Gestão em Saúde (Unidade II: Planejamento da Atenção à saúde). Rio de Janeiro/Brasília: Ed.Fiocruz/UnB; 1998. Promoção da Saúde: Carta de Ottawa, Declaração de Adelaide, Sundsvall e Santa Fé de Bogotá. Tradu-

ção: Luis Eduardo Fonseca. - Brasília: Ministério da Saúde, 1996. 48 p - p. 6.

Goulart FAA. Cenários Epidemiológicos, Demográficos e Institucionais para os mdelos de Atenção `a Saúde Modelos. IESUS, VIII( 2 ):, 1999.

Teixeira CF. O Futuro da Prevenção. In: Comunicação no IV Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, 2000; Salvador; 2000.

Costa EA, Vigilância Sanitária-Defesa e Proteção da Saúde. São Paulo. (Tese de Doutorado-Faculdade de Saúde Pública da USP), 1998.

Vigilância Sanitária no Sistema Único de Saúde, Ministério da Saúde/Secretaria Nacional de Vigilância Sa- nitária, 2ª versão, Brasília, 1992.

Teixeira CF, Paim JS, Vilasboas AL. SUS, Modelos Assitênciais e Vigilância da Saúde. IESUS, VII(2): 7-28, 1998.

Melo, C. OPS - A Vigilância à Saúde no Distrito Sanitário. Série Desenvolvimento de Serviços de Saúde, 10, Brasília, 1993, 104 p.

Abrahão, CEC e al. Construindo a Vigilância à Saúde: A experiência de Campinas, SP. In: VI Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, 2000; Savador; 2000.

--- – Abrahão, CEC e al. O Projeto Dengue em Campinas, SP. Alternativa Tecnológica ao PEAa. In: VI Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, 2000; Salvador; 2000.

Projeto de Vigilância à Mortalidade Infantil em Belo Horizonte – Projeto Vida. Coordenação de Atenção à Criança/SMSA/PBH/2000.

Relatório da Oficina realizada durante o IV Congresso Brasileiro de Epidemiologia – EPIRIO-98. IESUS, VII(2): 7-28, 1998.

Normas de financiamento de programas e projetos mediante a elaboração de convênios”, orientação téc- nica do Ministério da Saúde e da Fundação Nacional de Saúde, DF 2000.

Teixeira CF. Modelos de Atenção voltados para a qualidade, efetividade, equidade e necessidades prio- ritárias da saúde. Textos para discussão da XI Conferência Nacional de Saúde, site do Ministério da Saúde, 2000.

Conferência Nacional de Saúde. XI CNS: Efetivando o SUS, acesso, qualidade e humanização da atenção à saúde, com controle social. Termos de referência para desenvovimento dos sub-temas, 2000. Carta da XI Conferência Nacional de Saúde, WWW.datasus.gov.br/cns/Conferência on line.

no contexto