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6.1.1 Narrativa

Sra. M.L.M.C., 77 anos, nascida na cidade do Rio de Janeiro (RJ), viúva, mãe de 4 filhos, todos do sexo masculino. Católica não praticante, dona de casa, estudou magistério mas nunca exerceu a profissão.

Sra. M.L. casou-se 3 vezes sendo, somente a primeira vez um casamento civil formal. Seus outros casamentos se estruturaram como uniões estáveis. O primeiro casamento durou 7 anos e ela ficou viúva há 4 meses de completar 8 anos dessa união. Relata que viveu bem com o primeiro marido apesar de ele ser uma pessoa fria, com poucas amizades. Refere que ele era militar, trabalhava muito e não deixava que ela passasse qualquer necessidade entretanto,

68 nunca disse que a amava. Conta que tinha com ele uma relação tranquila, ―morna‖, sem grandes emoções. Teve, no segundo ano de seu casamento, seu primeiro filho e, no quarto ano, aquele que seria seu ultimo filho dessa união. Com 5 anos de casamento conheceu um outro senhor, primo de uma grande amiga, por quem se encantou. Viveu com ele um romance. Encontravam-se na casa dele às tardes e ela ficou completamente apaixonada. Não conseguia mais fixar sua atenção em suas tarefas domésticas e passou a achar tudo que seu marido fazia muito pouco interessante. O primo da amiga era muito galanteador, viajava muito, tinha muitas histórias para contar e ela viveu com ele uma relação muito intensa do ponto de vista sexual.

Quando seu marido morreu, vítima de um cancer, a relação com o primo da amiga ainda existia e, permaneceu ocorrendo até 2 anos depois. Dessa relação veio o terceiro filho o que foi para Sra. M.L. motivo de imensa alegria. Mas, após o nascimento desse filho, a relação foi, pouco a pouco, mudando. Ele foi ficando mais frio e as tardes já não eram tão cheias de paixão. Sra. M.L. conta que sentiu uma tristeza inicial relacionada ao distanciamento de seu ―grande amante‖ mas que logo começara a ir dançar em uma casa de bailes para público distinto, o que fizera com que ela se envolvesse com outra atividade, deixando a relação em segundo plano.

Logo se envolveu com outro homem e deixou o primo da amiga para viver uma nova relação. Esse terceiro homem era também militar, exímio dançarino e muito bonito… ―o mais bonito de todos‖- diz ela. Viveu uma união estável com ele que durou 5 anos. Dessa união veio o quarto filho. Refere que viveu uma relação calma, de muito companheirismo até o fim quando ele foi vítima de um acidente fatal de carro.

Um ano depois, Sra. M.L. estava novamente unida, dividindo a mesma casa, com outro senhor que também conhecera no baile. Esse era viúvo, funcionário da prefeitura do Rio de Janeiro e excelente pai para seus quatro filhos. Dançavam muito, se gostavam muito mas discutiam sempre, em função do quadro de diabetes de que ele sofria. Não fazia dietas, bebia bebida alcoólica nos bailes e sentia-se muito mal por isso. Essa união durou 20 anos mas não tiveram filhos e, Sra. M.L. relata que, sexualmente, não eram muito ativos por causa da doença dele. Contudo, conta sorrindo que, teve ―alguns namoradinhos‖ nesses vinte anos. Sra. M.L. fala que foram namoradinhos sem importância mas que não conseguia resistir a galanteios e que para alguns deles ―se entregou‖ sexualmente. ―A vida sem sexo com meu marido era muito complicada‖- Diz Sra. M.L.

Separou-se do último marido após esses vinte anos e relata que desde então teve alguns namorados que conhecia em viajens de navio dos quais não se lembra os nomes. Vive

69 sozinha atualmente, ainda vai dançar em bailes com amigas e confessa rindo que ainda paquera mas ―não se deita mais‖ porque sente vergonha do corpo mas deseja e até sonha com relações sexuais.

Os filhos respeitam seu gosto pela dança e não limitam suas saídas. Ainda é uma mulher linda e sedutora. Durante a entrevista, o celular da Sra. M.L. toca, ela olha quem é, desliga e diz para si própria – ―como insiste… depois eu ligo pra ele…‖.

Sra. M.L. refere que a velhice lhe trouxe maior serenidade e, especialmente, mais calma relacionada à questão sexual. Diz que, quando jovem, vivia uma ―urgência em viver‖ e que sentia um imenso e, quase incontrolável prazer, que a fazia passar horas de seus dias imaginando relações afetivas e sexuais. Também relata que a velhice, por outro lado, lhe trouxe a vergonha do próprio corpo e a certeza da finitude da vida. Refere que a cada ruga que surge, sente que está mais próxima da morte, entretanto, não faz disso uma rotina de lamentação. Diz que sente-se feliz porque ainda vai dançar com regularidade, porque fez novos amigos no baile e porque ainda sente-se desejada. Nega que sinta solidão e diz que tem filhos, noras e netos muito presentes e afetuosos.

6.1.2 Interpretação Psicanalítica – História I 1

A história da Sra. M.L.M.C, 77 anos, levanta algumas questões interessantes sobre a psicanálise, tais com como: para que serve a psicanálise, o que é a psicanálise, o que está em questão na psicanálise e ainda o que visa a interpretação psicanalítica, quer dizer, de que forma pode a psicanálise ajudar as pessoas com aquilo que elas lhe trazem como sofrimento e como demanda de cura.

1. Todas as considerações feitas no íten 6.1.2 são fundamentadas nas seguintes obras:

FREUD, S. Análise terminável e interminável. v 23. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1937/1996.

FREUD, S. Conferências introdutórias sobre psicanálise. v 15. In: Edição standard brasileira das obras completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1917/1976.

LACAN, J. O Seminário de Jacques Lacan: a tópica do imaginário. In: Livro 1 Os Escritos Técnicos de Freud. São Paulo: Zahar, 1987.

70 Lacan, quando fala sobre o ensino da psicanálise, levanta a questão sobre o que é que ela ensina, se ensina alguma coisa e ainda se ela é ciência e, de que ciência se trata. Ele mesmo diz que várias pessoas que falaram disso e se basearam em seu ensino, visaram situar a psicanálise não como uma ciência, a qualquer preço, mas como uma indicação epistemologia. A fórmula de psicanálise seria essa – a psicanálise seria algo como uma ciência sem um saber.

Ele diz que é falso dizer que nada da experiência analítica pode ser articulado em um ensino. Isso é verdade no sentido de um saber analítico – ele não se transmite. A teoria pode ser transmitida, o saber analítico não. Mesmo porque, não há um saber analítico, um saber sobre o sexual ou sobre as neuroses, pré-definido. O saber analítico é individual, próprio de cada sujeito relacionada com a verdade de cada indivíduo. E durante um trabalho de análise, analista e analisando vão permitindo o surgimento, quase espontâneo, desse saber e passam a interpretá-lo. Esse saber não se transmite, mas não quer dizer que não haja nada na psicanálise que não se transmita.

A psicanálise não porta um saber sobre o sexual como a medicina porta um saber científico. Esse saber nasce de cada indivíduo, em cada sujeito. O saber sexual tem haver com a sexuação, tem haver com o que é ser um homem e o que é ser uma mulher para cada um. Isso passa por uma outra ordem, por aquilo que não é aprendido mas é construido pelas vias da identificação, escolha de objeto e a diferença dos sexos.

Em uma análise se pode esclarecer os caminhos que o sujeito percorreu em sua estruturação sexual e, a partir daí, torna-se possível uma resignificação e até novas significações através da operação significante, através da palavra. No entanto, isso não se faz através de uma técnica, é muito mais o resultado de um saber natural, como diz Lacan, de uma destreza.

Esse termo, destreza, é ambíguo, ele pode fazer parte de recursos diferentes na linguagem.

A destreza quer dizer habilidade, aptidão, sagacidade, astúcia, em outras palavras sugere uma coisa natural, própria, mas, como ele (Lacan) mesmo fala, pode vir a ser adquirido. Não por um aprendizado, mas através da descoberta e da transferência no caso da análise, em outras palavras, pela via de uma resignificação.

A Sra. M.L.M.C. em sua história, dá um depoimento de certa habilidade em saber lidar com o saber sobre o seu sexual. Ao longo do seu relato, ela fala de suas angústias, de suas perdas, dos seus gozos. Aparentemente, não existe uma queixa, não existe a demanda de um gozo impossível. Ela procura lidar com aquilo que se lhe apresenta de maneira criativa e

71 principalmente não se submetendo completamente ao lugar que o Outro lhe destina. Ela procura fazer uma mediação entre as limitações que a vida lhe apresenta e as possibilidades de satisfações parciais a partir daí.

6.2 HISTÓRIA DE VIDA II

6.2.1 Narrativa

Sra. I.L, 70 anos, católica, casada, mãe de um filho, pedagoga mas nunca exerceu a profissão. Refere que sempre viveu para sua casa, seu marido e seu filho.

Sra. I.L. conversa alto e sorrí mais alto ainda. Chama a atenção das pessoas onde quer que esteja. Veste-se de forma exuberante, com roupas coloridas e conversa com todo mundo em qualquer lugar onde chega, ainda que não conheça ninguém. Sra. I.L. diz a todos que sempre foi muito bela, que teve muitos pretendentes e que tinha um futuro profissional bastante promissor mas que abriu mão de tudo por sua famíla, especialmente depois do adoecimento do filho, quando realmente parou todas as suas atividades pessoais para se dedicar a ele. Conta que sempre sonhou em trabalhar ―fora‖, em ser uma importante funcionária do governo mas que teve que abrir mão de seus sonhos.

Fala com muito orgulho que sempre foi uma mãe, esposa e dona de casa muito zelosa. Passa horas dizendo que sua vida sempre foi – acordar, fazer o café da manhã da família, escolher a roupa com a qual seu marido iría trabalhar e ―curtir mais um soninho‖ na cama do filho que só acordava mais tarde. Refere que manteve essa rotina até a primeira crise do filho quando ele começou a ficar recluso no quarto, falar sozinho e ter picos de agressividade. Certa manhã, ao se deitar na cama com o filho, como sempre fizera, esse a agrediu, o que motivou sua primeira internação por condição mental que posteriormente viria a ser diagnosticada como esquizofrenia.

Sra. I.L. acumula dores psicossomáticas que a perturbam há muitos anos e queixa-se de que seu marido não dá a devida importância a essas dores. Sente que não recebe a atenção que deveria já que sempre dedicara sua vida a ele e ao filho. Mesmo assim, fala com

72 resignação que Deus irá recompensá-la por tamanha devoção e que ela ainda vai ser valorizada ―pelo menos um pouquinho‖.

Filha de uma famíla muito católica (duas tias maternas são freiras). Seu marido foi seu único namorado. Casou-se aos 26 anos e diz que, apesar de sempre ter falado para suas amigas mais íntimas que sua vida sexual era excelente, confessa que nunca sentiu prazer sexual. Relata que a relação sempre foi dolorosa e que, por isso, ela evitava ao máximo. Tanto que, durante todos esses anos de casamento, nunca usou qualquer método contraceptivo e só teve um filho.

Diz que a relação afetiva com o marido é boa, não brigam e, aliás, pouco conversam. Ele a chama de mãe e, segundo ela, sempre acaba concordando com suas decisões. Refere que, hoje em dia, após tanto tempo dizendo que ele não dirigia bem, ele parou de dirigir e ela é quem dirige e o leva para todos os lugares. Acrescenta que o marido é muito ―parado‖ e que isso a envergonha diante das suas amigas.

Sra. I.L. refere que já não têm relações sexuais há mais de 15 anos e que isso não representa um problema para ela. Diz que até sente um certo alívio porque quando o marido queria ter relação sexual e ela ―deixava‖, sentia-se suja. Ía tomar banho assim que acabavam e diz que morria de medo de seu filho ouvir algum barulho do seu quarto.

Hoje, com a velhice, diz que sente-se com o dever cumprido. Refere que sua missão foi zelar da casa e do filho o que diz, sem modéstia, que fez muito bem. Fala – ―Não sei o que seria daqueles dois sem mim. Eu faço tudo por eles mesmo não recebendo nada em troca…‖ Diz não sentir solidão porque tem o filho que lhe faz companhia o dia todo. Faz parte de um grupo de auto-ajuda de familiares de pacientes portadores de esquizofrenia onde passa suas experiências a outras pessoas. Diz que essas reuniões com o grupo são muito agradáveis e lá ela faz amigas, conversa muito e sempre conhece uma pessoa nova.

Quando falamos sobre como se percebe fisicamente com a velhice ela dá uma gargalhada bem alta, levanta da cadeira, faz um gesto com as mãos, mostrando o corpo e diz – ―linda!‖.

73 6.2.2 Interpretação Psicanalítica – História II 2

Em 1923, em ―A organização genital infantil‖, Freud acrescenta que a genitalidade começa sua organização em torno da premissa do falo e define o masculino como sujeito ativo e o feminino como objeto passivo, sustentando a tese de que essa segunda categoria é inexistente e que será, portanto, algo a ser construído. O feminino não existe porque não há um significante que o represente – o pênis – representante simbólico do falo. Esse feminino é construído a partir da observação de se ser um indivíduo faltoso.

O que está presente, portanto, não é mais uma primazia dos órgãos genitais, mas numa primazia do falo.

Na fase fálica, presença e ausência do pênis, entram apenas como metáfora da questão ter ou não ter o falo. O sujeito encontra o seu lugar num aparelho simbólico pré-formado, que instaura a lei da sexualidade. E essa lei, não permite ao sujeito realizar sua sexualidade, senão no plano simbólico.

Para a mulher, a realização do seu sexo não se faz de uma forma simétrica à do homem, não pela identificação com a mãe, mas, ao contrário, pela identificação com o objeto paterno (pai), o que lhe destina um desvio suplementar. Lacan, diz que a razão dessa dissimetria se situa essencialmente em nível simbólico, que ela depende do significante, e conclui que a simbolização do sexo da mulher como tal não tem a mesma fonte nem o mesmo modo de acesso que a simbolização do sexo do homem.

E isso porque o imaginário feminino fornece apenas uma ausência ali onde em outro lugar (corpo masculino) há um símbolo muito prevalente.

2. Todas as considerações feitas no íten 6.2.2 são fundamentadas nas seguintes obras:

FREUD S. A organização genital infantil: uma interpolação na teoria da sexualidade. v 19. In: Edição standard Brasileira das obras completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1923/1996.

LACAN, J. As psicoses: seminário III. 1955-1956. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1955/1956 - 1985.

LACAN, J. A metáfora paterna. v 5. Tradução: RIBEIRO, V. et al. Assessoria brasileira: HARARI, A. In: Coleção dirigida por Jacques-Alain e Judith Miller. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999b. 166 - 184 p.

LACAN, J. O estádio do espelho como formador da função do eu. In:Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1966/1998. .96-103 p.

74 É, pois de uma dissimetria no significante que se trata. Essa dissimetria determina a identificação sexual do sujeito e faz tanto a menina como o menino passarem pelo mesmo lugar, a castração, só que de maneira diferente. E, como se sabe, o pai é o agente da castração. No ponto onde o menino se afasta da mãe e abandona o Édipo, a menina se dirige ao pai, ou seja, a castração dissolveria tal complexo no homem e o inauguraria na mulher que agora que já se percebe sem o pênis, entra na busca da sua equivalência, o filho, como substituição do pênis-falo, um presente que receberá do pai. É neste sentido que Freud define o complexo da castração como se manifestando na ameaça de castração pra o homem e na inveja do pênis para a mulher, é assim que ele define a inveja como tipicamente feminina, no sentido da esperança — ela viu que não tem e queria tê-lo.

Portanto, o que move pela primeira vez a mulher em direção ao homem, é a busca de uma equivalência fálica. Aqui o homem ainda não existe como aquele em quem ela investirá femininamente mas como alguém com quem ela busca identificar-se.

A partir dessa busca de identificação, do reconhecimento de se ser faltosa (sem o falo) e colocando-se como a possibilidade de ser o falo do outro, que a sedução se instaura dentro da feminilidade. É para ser o falo, isso é, o significante do desejo do outro, que a mulher vai estruturar sua feminilidade numa relação. É pelo o que ela não é que ela quer ser desejada, e encontra o significante do seu desejo no corpo daquele a quem se destina sua demanda de amor.

Assim, se no homem com quem ela busca identificação não há material simbólico fálico ocorrerá um obstáculo, uma falha na realização da identificação essencial da sexualidade da mulher.

Na senhora I.L. vê-se nitidamente um afastamento de sua feminilidade. Uma falha, uma dificuldade na simbolização de seu sexo a dirige num sentido de busca do reconhecimento do outro, em seu caso especificamente, também do Outro, Deus, Deus Pai. Ela diz: ―um dia Deus vai reconhecer sua luta no desempenho da tarefa de ser mãe e esposa‖. Um dia Deus vai reconhecer o ser fálico que ela foi.

Ela faz isso não por uma desistência de sua feminilidade mas devido a uma falha na direção de um objeto de identificação que ajudaria ela a encontrar ou construir um gozo feminino, um gozo compatível com falta encontrada em seu próprio corpo.

Além disso, nesse mesmo texto, vemos também um dos caminhos para a mulher, apontado por Freud, quando ela, na busca de uma equivalência fálica, faz um filho como substituição ao pênis – falo , através do qual ela teria o reconhecimento do seu pai, mesmo

75 que dessa maneira, ela se afaste de sua feminilidade. Assim, em muitos casos a criança fica presa à mãe na condição de seu falo, ficando durante toda a sua vida aprisionado neste lugar.

Como se sabe, para à psicanálise é somente através da intervenção do pai que a criança renuncia a ser o falo da mãe. É justamente essa operação que vai instaurar a falta-a-ser no sujeito, fazendo com que ele inaugure o desejo de vir a supri-la. O pai comparece então como separador, como aquele que cria e regula a distância, que guarda e que instaura a lei dos intercâmbios.

Não é portanto o objeto natural que faz nascer o desejo, uma vez que ele é dado de maneira imediata, acessível e consumível. Para que haja desejo é preciso que se instaure uma distância, que se crie uma diferença mínima, que se estabeleça uma mediação, em suma , que uma interdição seja estabelecida.

A contribuição decisiva do Édipo consiste em inserir o sujeito na lei, na ordem simbólica.

A castração vem, portanto, suprimir o filho na qualidade daquele que é o falo da mãe para constituí-lo como um sujeito que pode recebê-lo. O Édipo coloca, então o problema da relação lógica entre as pessoas, instaurando um problema de lógica simbólica devido a necessidade de suprir a falta-a-ser pela criação de sentidos.

A falta-a-ser, portanto leva o sujeito à necessidade de ter que se reconhecer na palavra, a palavra que nos reconhece e nos faz reconhecer pelos outros. Este é o valor estrutural do Édipo, o de introduzir o sujeito na cultura, de propiciar a passagem do estado natural à condição cultural.

Na dialética da constituição subjetiva humana, a patologia permite distinguir dois níveis a partir da psicose e da neurose.

O complexo de Édipo situa o campo das neuroses no conjunto dos problemas psicológicos ligados à relação de filiação, relação da qual surgem os problemas de identificação, de escolha de objeto e da aceitação da diferença dos sexos.

A psicose, ao contrário, coloca o problema da foraclusão dos significantes do nome do pai, portanto, relaciona-se com o problema fundamental da humanização, quer dizer, da passagem da natureza à cultura, quando a neurose se desenvolve no interior do âmbito cultural já cosnstituído para o sujeito. Por isso é que se fala corretamente que o psicótico se distingue, entre outras coisas, por sua incapacidade de acesso ao Édipo, ao passo que o neurótico nunca chega a sair realmente dele.

Na psicose o sujeito permanece em seu ser identificado ao falo da mãe não podendo