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CORPUS: Maria Madalena. Filme - Coleção Bíblia Sagrada (DVD). Direção de Faffaele Mertes. 94 min. Com Maria Grazia Cuccinotta, Gottfried John, Thure Riefenstein, Benjamin Sadler. 1999.

7.3.1 Síntese da narrativa

O filme Maria Madalena narra a história da personagem homônima. Maria Madalena, uma mulher simples e trabalhadora, morava em Magdala, um lugar árido da Judéia. Com muito trabalho, transformou aquele lugar desértico em um jardim. Ali, conheceu Amus, com quem se casou, mas não teve filhos. Ao ver o marido retornar certo dia de uma viagem, Madalena corre para abraçá-lo, mas o marido a repele, tratando-a com frieza. Ela quis saber o que acontecera e o marido diz que vai divorciar-se porque ela não lhe dá um filho, porque ela é estéril. ―Seu ventre é amaldiçoado. Você cura os outros. Cure a si mesma! Sua Bruxa! Está possuída pelos demônios! Não ficará em minha casa.‖

Injustiçada, Maria Madalena é expulsa de casa e, pelas leis da época, perde as terras que herdou do pai. Amus oferece-lhe uma propriedade em Telbazu, mas ela o recusa. Não acreditando mais em Deus e na sua justiça, ela, que tivera suas terras roubadas pelo marido, vê crescer dentro de si o ódio e o desejo de vingança: “Vai se arrepender disso, não importa o quanto tempo leve.”

E começa a pôr em prática seu sentimento de vingança. Por essa altura chaga a Magdala uma tropa romana comandada por Silvanus, um oficial romano e prefeito de Roma. Maria torna-se amante dele ainda na presença do marido que a rechaçou. Quando Silvanus

131 parte, ela o segue, pensando estar indo para Roma. Mas não foram para Roma e sim para o rio Jordão. Ali, João Batista estava pregando aos peregrinos para que confessassem seus pecados e fossem batizados pelo messias.

Aproveitando-se da fragilidade e sabedoria de Maria Madalena, Silvanus convence-a a se aproximar de João Batista. Ela vai ao encontro do profeta e alerta-o do perigo que corre: “Os romanos temem uma revolta, não sabem que você é só um pregador.” João

Batista, filho de Zacarias, diz que ela não está feliz, pede a ela que fique, pois ali terá o que quer.

Quando volta para perto de Silvanus, Maria Madalena diz que João Batista é apenas um pregador inofensivo, um místico que não faz mal a ninguém e que acredita no que prega.

Maria descobre-se grávida de Silvanus, mas é rejeitada. Silvanus enfurece-se, pois acreditava que ela fosse mesmo estéril como acreditava Amus, seu ex-marido.

Chegam a Tiberius, cidade batizada com o nome do imperador romano. Ali, Maria Madalena conhece Salomé, um jovem de personalidade forte. Silvanus a agride, pois acredita que ela lhe mentiu ao dizer que João Batista era inofensivo. O imperador não o achava, ao contrário, tinha-no como uma ameaça.

O Rei Herodes apresenta sua nova rainha, Herodíades, mulher de seu irmão, por quem havia deixado sua esposa. O embaixador de Nabatéia exigiu uma audiência e declara um ultraje à filha do Rei de Aratheas, que era seu aliado, mas foi esnobado.

Maria Madalena é agredida por Silvanus, porque protegeu o profeta João Batista. Ela foi seviciada por Silvanus e, em seguida, estuprada por seus homens. A agressão fê-la perder o filho. Desesperada, ela tenta o suicídio, atirando-se nas águas do rio Jordão. Mas foi salva por Jesus e seus discípulos.

13. Todas as considerações feita no íten 7.3 são fundamentadas na seguinte obra: BRASIL. A Bíblia Sagrada. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1969.

LOBO, M. Uma história universal da fêmea: grandeza e submissão sexual da mulher ao longo dos séculos. São Paulo: Religare, 2005.

MAASSEY, M. As Mulheres na Grécia e Roma Antigas. Portugal: Europa-América, 1988.

Filme: MARIA MADALENA. Direção Faffaele Mertes. Filme - Coleção Bíblia Sagrada Com Maria Grazia Cuccinotta, Gottfried John, Thure Riefenstein, Benjamin Sadler. 1999. DVD 94 min.

132 Estava vendo a pregação de Jesus quando Herodíades mandou chamá-la. A esposa de Herodes tinha feridas pelo braço, que acreditava ser lepra, e queria que Maria Madalena a curasse. Temia que o rei a visse doente e a abandonasse. A Rainha pergunta se Maria poderia curá-la: “Se conseguir me curar, lhe darei todas as riquezas e poder que uma mulher pode desejar.” E levou Maria Madalena para o seu palácio, tornando-a sua profetisa e tutora de

sua filha Salomé.

Herodíades ensinou a Maria Madalena como agradar aos homens e conseguir tudo o que desejar deles: “Amor é poder, Maria. Tem de aprender a usá-lo, deixe os homens a amarem, mas nunca os ame, esta é a primeira regra. O amor é um luxo. É negado às mulheres. Homens poderosos desprezam mulheres que são muito sinceras e simples.” E com

isso pediu a ela que seduzisse o general Lucius Vitélius, por ser o homem mais poderoso da província. Se o fizesse, a rainha a ajudaria em seus planos.

João Batista vai preso porque dizia que não era permitido Herodes se casar com a mulher de seu irmão. Maria encontra uma amiga de Magdala que lhe diz que Amus está fornecendo gêneros aos romanos. Ela diz à amiga que “A Maria que conheceu esta morta”,

mas fica angustiada em reviver o seu passado.

Herodes faz um banquete, no qual reúne Lucius Vitélius e o embaixador da Parsia. O general então percebe que fora envolvido em uma farsa por Herodes. Para aplacar a fúria do general, Herodíades manda Maria Madalena cuidar dele. Lucius Vitélius ficou encantado com ela e disse querê-la naquela noite mesmo. Maria Madalena, contudo, fez o seu charme: ―Tomar o corpo de uma mulher não é uma tarefa difícil, qualquer um pode fazer isso, mas

tomar seus pensamentos, seu coração...”

Vitélius fica furioso com o Rei Herodes e diz para Silvanus:

― – Foi uma farsa! Herodes me fez de bobo. Ele me fez acreditar que estávamos em guerra com os Parsianos apenas para provar a Roma que podemos manter a paz. Tiberius precisa ser informado imediatamente.

133 Maria, que ouvira toda a conversa, para se vingar de Silvanus, fala ao General:

―– Então [você] foi derrotado por Herodes. Toda a Roma vai rir a não ser que a notícia nunca chegue a seu destino.

– Como assim? – perguntou Vitélius.

– Que alguém tem que pagar. Me diga, quem deve ser sacrificado? O mensageiro?‖

Sabendo que Vitélius faria tudo o que ela quisesse, Maria Madalena vê seu plano de vingança mais uma vez se concretizar. Desejava que Silvanus, que a engravidou, violentou e abandonou, entregando-a depois a seus homens, morresse.

João Batista, chamado para falar com o General Lucius Vitélius, disse para Herodes:

―Por uma paixão que não existiu, você mandou embora sua mulher por direito, afrontou seus vizinhos... levou a mulher de seu irmão para a cama. E você Herodíades pelo sonho de Monarquia, transformou sua filha numa bastarda, ofendeu a maternidade.‖

Não tolerando mais as verdades que João estava dizendo, Herodíades pediu ao marido que o matasse. O General Vitélius, vendo tudo, achou que Tibérios, o Imperador, ia achá-lo engaçado.

Maria Madalena fica sabendo que seu ex-marido, Amus, está fornecendo gêneros de Magdala ao imperador e o vê conversando com Vitélius. O General pergunta para ela se conhece o homem de Magdala, ela diz que sim: “É um traidor, um ladrão.” Vitélius diz que

Roma não gosta de traidores e que vai fazê-lo saber disso. Maria fica satisfeita em concretizar sua vingança.

Maria e Vitélius se amam pela primeira vez. Depois o General vai embora, mas diz que basta chamá-lo que ele volta. Por essa ocasião, Nabatéria declara guerra à Galiléia. Maria fica triste, sabendo que ainda não encontrara o que procurava.

Maria viaja com Herodíades. João Batista pregava em toda a viagem. Irritada, Salomé exige que ele se cale. A rainha manda Maria o fazer calar e ela vai ao encontro do apóstolo. João tenta persuadi-la a sair daquela vida:

134 ― – O que você ganha?

– Um homem talvez, o amor. – É isso que você quer?

– Eu fiz tudo para conseguir isso.

– Mas... ainda não é o bastante para você. O que você realmente quer? – Eu quero amar e ser amada.

– Mas o amor de um homem é tão fácil de se perder. – Eu sei.

– Um amor mais profundo é aquele que te traz a paz... é o amor de Deus. – E onde está este amor?

– Deus se esconde de nós para encontrar-nos... Através de nossa vontade. E no final... não importa qual seja a pergunta, ele é a única resposta.

– Eu vim aqui para ajudá-lo. Mas não posso. – Espere...‖

Finalizou pedindo a Maria que fosse ao encontro de Jesus e perguntasse se ele era o Messias. Suzana, sua serva, foi com ela e resolveu ficar e seguir Jesus.

Os Nabatianos atacam a comitiva do Rei. O general Vitélius chega e o salva. E diz que descobriu um traidor nas tropas e que a mensagem não chegou a Roma. Tibérius não soube nada da paz com os parsianos e que Roma punia a sua desobediência. Mais uma vez Maria foi instrumento de barbárie e se arrepende. Sua sede de vingança produzira mais uma vítima, Silvanus.

João Batista, pressentindo sua morte iminente, pede a Maria que se arrependa antes que seja tarde demais. Num banquete, Herodes pede para Salomé dançar. Pressionada pela mãe e com a promessa de dar-lhe o marido que desejasse, ela dançou diante de todos e agradou ao Rei Herodes. Então ele prometeu, com juramento, que lhe daria tudo o que ela pedisse. Herodíades mandou-a pedir a cabeça de João Batista. Então ela disse: ―Dê-me aqui,

num prato, a cabeça de João Batista.‖ O Rei ficou triste, mas por causa do juramento na frente dos convidados, atendeu ao seu pedido. A cabeça foi levada num prato. Herodíades

135 ficou satisfeita e Maria ficou desolada. Salomé desesperou-se e foi consolada por Maria Madalena, que disse ser ela uma mulher cruel, odiosa e impiedosa.

Vitélius mandou os soldados destruir Magdala. E Maria Madalena viu-se novamente arrependida: ―Não era isso que eu queria.‖ E pediu para ir até Magdala. Chegando lá, viu Amus sendo açoitado e Samuel, filho de sua amiga Joana, um garoto, morto nas chamas. Mais uma vez sente que sua vingança está produzindo tragédias e causando sofrimentos. Disse, então, para Vitélius: ―Ninguém pode me ajudar. Quem vai me perdoar agora? Como

ela pode me perdoar? Eu matei o filho dela!”

O general tentou acalmá-la, mas Maria Madalena disse que o amor dele era tudo o que ela almejava. Mas agora ela já não sabia mais o que queria. O general disse que a amava e pediu-lhe que fosse com ela para Roma, mas ela recusou a proposta. Ela não poderia dar as costas para a Galiléia, como ele pediu. Frustrado, Vitélius desejou-lhe que encontrasse o que estava procurando e foi embora.

Jesus, dizendo ter sido chamado por Maria Madalena, foi ao seu encontro. E ressuscitou o menino. Maria descobriu que o amor era mais forte que o pecado e a morte. Em seguida, Jesus foi à casa de um fariseu e se pôs à mesa. Maria apareceu e Jesus convidou-a a ir até ele. Maria se pôs a chorar de arrependimento dos seus pecados e com as lágrimas lavou os pés de Jesus e com seus cabelos os enxugou. Todos ficaram chocados com a atitude de Jesus por ter deixado uma prostituta tocar-lhe. Então Jesus disse:

―Está vendo esta mulher? Quando entrei em sua casa, você não me ofereceu água para lavar os pés; ela, porém banhou meus pés e enxugou-lhes com os cabelos e beijou meus pés. Você não derramou óleo na minha cabeça; ela, porém ungiu-me com perfume. Por esta razão eu declaro a você: os muitos pecados que ela cometeu estão perdoados, porque ela demonstrou muito amor. Aquele a quem foi pouco perdoado, demonstra pouco amor.‖

―E dirigindo-se a Maria, disse: ―Seus pecados estão perdoados. Vá! A tua fé a salvou.‖

Maria disse, então, a Jesus, que nunca mais o abandonaria, e que o seguiria para sempre. E foi isso que ela mostrou. Maria tornou-se testemunha do amor de Jesus, um amor e perdão que todos negaram. E o seguiu até a cruz. E foi a primeira a vê-lo vivo, ressuscitado.

136 7.3.2. Análise literária

Maria Madalena é descrita como a companhia mais íntima de Jesus, sendo a primeira mulher que o viu após a ressurreição. Há uma crença de que Jesus quis que ela fosse mesmo a primeira a vê-lo.

Seu papel é o de mártire da integridade moral, o exemplo de decadência e redenção, a imagem da mulher que foi ao fundo do poço, que experimentou todas as privações, que se degradou ao extremo, mas que ao final se arrepende, é perdoada e segue os caminhos do bem.

Visto assim, seu papel fundamental é o de mostrar as diversas faces do pecado, as formas insidiosas como ele se instala no coração humano, às vezes até travestido de algo que se justifica, com um fundamento no sofrimento, na injustiça, etc, mas que por fim não o sustenta.

Maria Madalena foi uma prostituta sagrada. Os homens acreditam que a maior ofensa que se pode fazer a uma mulher é chamá-la de ―prostituta‖. Esta acusação, especialmente nos tempos em que Maria Madalena viveu, era das piores possíveis, sujeitando a mulher à dilapidação pública, ao apedrejamento.

Diz-se que a prostituição existiu como uma atividade sagrada antes da civilização cristã (LOBO, 2005). Mas com o advento do cristianismo, a nudez e a beleza passaram a ser estigmatizados. E a prostituição passou a ser vista com uma doença, uma aberração da natureza. Era a chamada prostituição sagrada, muito referendada ainda na poesia. Há registros de que as virgens na Babilônia eram iniciadas na feminilidade antes do casamento, através da prostituição.

O Código de Hamurábi (2006), uma legislação especial, salvaguarda os direitos e o bom nome da prostituta sagrada. Ela era protegida contra difamações, assim como seus filhos. Também por lei, a prostituta sagrada podia herdar propriedades de seu pai e receber renda da terra trabalhada de seus irmãos. Com o fim da sociedade matriarcal, a prostituição sagrada extinguiu-se e ficou apenas a idéia de aberração, de desonra, de demônio encarnado no corpo da mulher. O monoteísmo pôs fim ao culto da deusa sagrada do amor. Novas crenças

137 religiosas surgiram, baseadas agora na crença da superioridade do homem sobre a mulher, no patriarcalismo.

Uma dessas religiões é a cristã. Nesta, a imagem da mulher é metaforizada em Eva, a encarnação da sedução, a ruína do homem. Maria Madalena é uma Eva não originária, uma Eva que assim se tornou movida pelo ódio, pelo desejo de vingança. E a sensualidade, que outrora sacralizou a mulher, agora a degrada. A nova ordem condenava o prazer sexual, principalmente o da mulher, que se tornou apenas fonte de procriação, e, não raro, de deleite, mas apenas do homem. Todo o sentimento feminino deveria ser dirigido à admiração de Deus, e não de si, do seu físico ou das coisas do mundo. Todo o prazer foi retirado na natureza da mulher, e passou a ser visto como pecado.

Assim, a mulher perdeu seus direitos e sua autonomia. Em várias culturas ela não tinha estatuto algum, sendo consideradas imbecis. Na Grécia, as leis de Sólon não lhes davam direito algum. A lei hebraica condenava a mulher à morte caso não fosse casta na época de se casar e, se cometesse adultério, era apedrejada até a morte. Pois é neste contexto histórico que surge Maria Madalena, a prostituta mais conhecida da história. (Maassey, 1988)

Maria Madalena é pouco citada nos Evangelhos, contudo, esteve presente nas passagens mais marcantes da vida de Cristo, como a Paixão e a Ressurreição. Ela é a discípula que ama o mestre acima de todas as coisas e é a testemunha da sua ressurreição, trazendo para a humanidade a boa nova, a existência de vida após a morte. Dessa forma, ela pode ser considerada a primeira apóstola e a antítese de Maria, a virgem. Dessa forma, sua imagem é a da decaída, penitente, que conseguiu, pela renúncia da sua sexualidade, ascender aos Céus novamente.

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7.4 ESTÓRIA 4

(Relaciona-se com história de vida IV e sua interpretação psicanalítica) 14