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CORPUS: AMADO, Jorge. Tieta do Agreste: pastora de cabras ou a volta da filha pródiga, melodramático folhetim em cinco sensacionais episódios e comovente epílogo: emoção e suspense. 2. ed. São Paulo: Record, 1977.

7.5.1 Síntese da narrativa

Aos dezessete anos, Tieta (Antonieta Esteves Cantarelli) vivera aventuras amorosas que escandalizaram a população. Denunciada pela sua irmã Perpétua, Tieta foi expulsa de casa pelo pai, Zé Esteves. Abandonada e humilhada pela família ela vai para São Paulo. Desde a sua partida, Tieta só manteve contato com a família através de cartas, que eram controladas por dona Carmosina, funcionária dos Correios, e a solteirona mais alegre da cidade. Enviava, ainda, ajuda financeira todos os meses para o pai e suas irmãs, Elisa e Perpétua.

Certo mês a carta atrasou. Perpétua, coberta de luto pela morte do marido, viúva ambiciosa, supõe a morte de Antonieta, e mal se contém de alegria, porque com a morte da irmã, parte da herança ficaria para a família. Depois de vários dias sem noticia, deram como certo a sua morte. Perpétua manda seu filho Ricardo buscar vela benta, para acender no oratório pela alma de Tieta.

15. Todas as considerações feita no íten 7.5 são fundamentadas na seguinte obra:

AMADO, Jorge. Tieta do Agreste: pastora de cabras ou a volta da filha pródiga, melodramático folhetim

145 Perpétua foi na esplanada conversar sobre a questão da herança, e voltou dizendo que se a irmã morreu a família lhe herdaria tudo. Todos ficaram contentes, porque iriam ficar ricos. Ainda sem saber realmente se Antonieta morrera, todos em Agreste foram dar pêsames para seu Zé Esteves. Mas numa terça-feira Tieta ―ressuscitou‖. Dona Carmosina, funcionária dos correios, abriu a sacola das cartas registradas, onde havia apenas uma, a de Tieta. Saiu apressada para a casa de Elisa com a carta na mão e disse: ―– Chegou, Elisa, chegou!‖ (AMADO, 1977, p. 76).

Abriram o envelope e lá estavam o cheque e novidades, havia uma morte, mas a do comendador Felipe Cantarelli,

― Meu inesquecível esposo, quase um pai, cujo casamento me deixa viúva inconsolável. Para consolar-me, vou visitá-los, quem sabe, adquirir uma casa na cidade, terreno na praia, de preferência nas imediações de Mangue Seco, e no futuro irei curtir a velhice e esperar a morte na doçura do clima de Agreste. Avisarei com tempo a minha chegada e levo comigo a minha querida enteada, Leonora, filha do primeiro casamento de Felipe‖ . (AMADO, 1977, p. 76).

A família foi convocada para saber das novidades. Enquanto ouvia, Perpétua estava pensando na mudança da situação. Antonieta agora era viúva e milionária. E à Perpétua cabia agora adaptar-se a esta nova situação. Então, em um gesto de comando, ela disse, já se preparando para tirar proveito da situação:

―– Fosse quem fosse, o falecido era nosso parente, genro, cunhado e tio. Devemos mandar rezar missa por sua alma e botar luto. Quando nossa querida irmã chegar, deve nos encontrar vestidos de negro, sofrendo com ela. Eu sei o que ela está passando, conheço a dor da viuvez‖. (AMADO, 1977, p. 76).

Depois de vinte e seis anos, o retorno de Tieta abala a rotina da pacata cidade de Sant‘Ana do Agreste. Ela retorna rica e exuberante, viúva de um industrial paulista. É recebida com toda a pompa pela família, habitantes e políticos da cidade esquecida.

A família a aguardava em luto pela morte do comendador. Com duas horas e dez minutos de atraso, Antonieta chega com sua enteada, Leonora. Escânio, jovem progressista e secretário da prefeitura, que tem como maior ambição fazer a luz elétrica chegar à cidade ainda iluminada por luz de gerador, fica deslumbrado com a beleza de Leonora.

Tieta fica na casa de Perpétua, surpresa, porque era a casa de um antigo amor. Com a família reunida, ela começa a distribuir os presentes que trouxera de São Paulo. Para Perpétua

146 dá uma imagem do Sagrado Coração de Jesus. Neste momento, Tieta já não tinha defeitos, a beata era um poço de ambição e interesse.

Perpétua, já pela manhã, comunica os horários da missa pela alma do comendador. Ela ia para a igreja todos os dias, ―Não perco a missa das seis. Nem eu nem o Ricardo, quando está aqui. É ele que ajuda.‖ (AMADO, 1977, p. 106). Tieta não queria ir à missa, porque nunca fora de missa e sacristia.

―– Que droga! Eu tinha pensado passar o fim de semana em Mangue Seco, mostrar a praia a Leonora, ver se escolho um terreno para comprar. Ia combinar hoje com o comandante, ele nos convidou quando chegamos‖. (AMADO, 1977, p. 107).

Ricardo queria ir também, mas Perpétua insisti que eles não podem faltar à missa, ―Foi você quem me deu o Sagrado Coração. Já pensou? São coisas santas, mais importantes do que praia e banho de mar.‖ (AMADO, 1977, p. 107). Apesar de contrariada, Tieta resolve ir.

Na sala, reunidos estende uma prosa sem compromisso, de assuntos variados decorrente da moda. Perpétua é contra tudo o que atrai a cobiça dos homens: calças coladas, pernas de fora, blusa que mostre a barriga... E condena a devassidão que vai pelo mundo:

― _ Podem me chamar de atrasada. Moça solteira, moderninha, vá lá que use... – extrema concessão a Leonora.

_ Mas mulher casada, não acho decente. Viúva, muito menos, Antonieta que me desculpe. Se eu fosse Astério, não ia deixar Elisa usar a tal da minissaia que você deu a ela‖ . (AMADO, 1977, p. 113).

Com isso mostra-se o atraso da população da cidade e a língua ferina de Perpétua. Ela se despede porque dorme cedo dando um beijo de boa noite em Tieta, nem parece a mesma tão gentil, irreconhecível. Osmar, amigo da família, que presencia a cena diz para Aminthas que Tieta estava domando a fera e perguntou se já tinha visto Perpétua beijar alguém antes, ao que a moça respondeu que Perpétua não beija, oscula.

147 No dia seguinte, ao deitar, no seu quarto, Tieta relembra das noites que pulara daquela mesma janela para se encontrar com Lucas, o primeiro homem que lhe ensinou a arte do amor. Apaga o lampião e vai deitar, mas o sono não vem e recorda os duros caminhos percorridos, quando pisara em pedras e cardos, antes de começar a prosperar, com a orientação de Felipe. Durante esse tempo todo que esteve fora ela sonhara com esse dia, em reencontrar a menina Tieta, pastora de cabras. Ela retornara ao agreste porque Felipe morrera e ficou sozinha como no começo, ―Queria pegar as duas pontas do novelo e dar um nó, ligar principio e fim.‖ (AMADO, 1977, p. 121).

E também pensa em Perpétua, do esforço para mostrar-se atenciosa, e violar tantos preconceitos. Antonieta não podia imaginar sua irmã casada, ela se perguntava como seria a vida da irmã com o Major na cama, Tieta ri dos pensamentos, e que não fosse a passagem de Lucas por Agreste, tão pouco ela provaria ali outro gosto de homem além do trivial.

Tieta passa a pensar nos sobrinhos, gosta dos dois, o mais novo, um malandrinho e esperto. Ao contrário, Ricardo é recatado, vive desviando a vista com medo de pecar. Ela recorda do corpo do sobrinho e se fosse mais velho, ―A tia lhe ensinaria o que é bom, porém, ainda é muito novo.‖ Tieta nunca gostou de homens mais novos, sempre se relacionara com mais velhos do que ela, ―Bode bom de cabra é aquele que tem idade e experiência‖, dizia sempre.

Num domingo, chegaram vários amigos para a praia do Mangue Seco. Até Perpétua, toda de negro, os acompanhou. Ela busca na praia uma sombra embaixo dos coqueiros, pega seu terço, e começa a passar as contas. Começa a lembrar do seu falecido marido, quando enfrentava os perigos do mar, quando a tomava nos braços, ―[...] a pretexto de lhe ensinar a nadar; mãos indiscreta, arteiras. Deleites passados não voltaram.‖

Começa a pensar nos filhos, no futuro deles. Um exemplo de devota, nunca faltava às obrigações religiosas. Com isso ela espera que o Senhor a ajude para atingir seus objetivos. O plano era ter os meninos mais próximos a Tieta, para obter que a irmã fizesse os dois como herdeiros únicos, adotando-os se necessário. E com isso precisava da ajuda de Deus, para que Tieta olhasse com uma ternura maternal aos sobrinhos, a quem ele pedia que agradassem a tia.

Certo dia, viu sua irmã tirar uma quantia muito grande de dinheiro de uma maleta. Tieta falou que o dinheiro era para as despesas e para pagar o terreno do Mangue Seco. A ambição e a curiosidade eram tanta que ela até vasculhou as coisas de Leonora.

148 Apesar de querer que Ricardo se torne padre, ela apoiaria o filho caso este fosse escolhido como herdeiro, enquanto Peto seria o seu substituto no seminário, porque um de seus filhos pertencia a Deus.

Antonieta, que nunca interessou por homens mais jovens, vê-se interessada por seu sobrinho Ricardo. Numa tarde, quando estava no Mangue, recebe um recado do coronel Artur da Tapitanga que iriam instalar luz em Santa‘Ana do Agreste. Todos ficam felizes, todos abraçam Tieta, mas o abraço que ela queria realmente era do sobrinho. Ela fica no Mangue e só volta para o Agreste para escritura do terreno. Pede para sua irmã Perpétua pegar a maleta e pegar o dinheiro para dar um sinal, para a compra do terreno, e para começar a casa logo. A casa seria ocupada por ela e pelos filhos quando Antonieta não estivesse. Era a sua maneira de fazer algo pela irmã e pelos sobrinhos.

Tieta envolve-se amorosamente com o sobrinho Ricardo. E outras coisas começam a acontecer no Agreste, a energia aparece, e com ela há grande agitação na cidade, jipes com engenheiros e técnicos. Coisas anormais para aquela cidade. E em toda parte se dizia que o Agreste era a ―Luz de Tieta‖. Tieta voltou do Mangue para concluir a compra da casa e do terreno. E mandou abrir uma poupança em São Paulo em nome do sobrinho Ricardo.

A tranqüilidade do vilarejo, contudo, sofre um baque com a chegada dos representantes da Embratânio S.A., disposta a implantar uma fabrica de dióxido de titânio, altamente poluidora. Todos pedem a ajuda de Tieta.

Zé Esteves morre, padre mariano celebra a missa e a população aparece em peso. Já em casa, Perpétua deixa as lamúrias de lado, e pensa na herança que o velho deixou.

― _ Tem piedade, Perpétua faz uma hora que o nosso pai morreu.

_ (...) mas morreu, acabou-se. Voltando ao que interessa, é preciso descobrir onde ele escondia o dinheiro. Encontrando agente retira uma parte para as despesas feitas com a sentinela e o enterro, tu não estava, tive que pagar tudo; outra, para mandar rezar as missas de sétimo e de trinta dias. O resto se divide entre mãe, Tonha e nós três. Metade para ela, metade para nós. Se alguém quiser outras missas que pague do bolso‖ . (AMADO, 1997, p. 358).

Tieta vai até a casa de sua madrasta, que lhe dá o dinheiro. Tieta, porém, fala que metade pertence a Tonha e o restantes às irmãs. Que já tinha dado a parte de Perpétua, e sugere a Elisa que compre em parceria com ela a terra e o rebanho que o seu pai queria adquirir. Elisa, porém, diz que quer ir para São Paulo com ela, surpreendendo-a. ―– Tu quer ir

149 para São Paulo. Fazer lá o que, me diga? Botar chifres no teu marido? Ser puta?‖ (AMADO, 1997, p. 367).

Elisa fica desconsolada, e Tieta promete que nas próximas férias ela vai levá-la consigo. E fala para Astério que ira comprar uma fazenda para eles. Ricardo conhece a jovem Maria Imaculada, que lembra muito Tieta quando menina e envolve-se com ela.

Começa o progresso em Agreste com a chegada do asfalto. Enquanto isso aumenta a discussão sobre a vinda da fábrica de titânio, a cidade fica cheia de advogados, começam os protestos contra a instalação da Embratânio S.A. Dona Carmosina colhe assinaturas. Porém a sua principal representante está no Mangue construindo a sua casa.

Dias depois chega o pessoal da fábrica, no Mangue Seco, mas são expulsos com a ajuda de Tieta. No aniversário de Peto, filho caçula de Perpétua, Tieta estava na praia e não pode ir, mas mandou presente, e novamente provou a sua generosidade para com os sobrinhos. Perpétua fica contente, e só espera a volta da irmã para ter uma conversa sobre o futuro dos meninos.

Chegou o dia de inauguração do Curral de Bode Inácio, vieram alguns amigos, mas Tieta esperava mesmo era o sobrinho, que ficou para ajudar o Padre. A ausência dele fazia sentir-se vazia: ―Ricardo é o amor único e exclusivo, definitivo e imortal, nunca teve outro, nem terá [...]‖ (AMADO, 1977, p. 500).

Tieta volta para o Agreste e se vê cercada por bajulações de Perpétua. Ela deseja boas vindas ao filho e a irmã num maior exagero, o oposto de sua personalidade.

― – Deus te abençoe, meu filho, e te mantenha no bom caminho para continuar a merecer a proteção de sua tia. – Ah! Quem a viu e quem a vê: antes seca e distante, agora abrindo os braços para Tieta, calorosa, quase servil. – Graças a Deus que você voltou, mana. Não agüentava mais de saudade. Peto também, ele lhe adora, vive com seu nome na boca‖ . (AMADO, 1977, p. 532).

Perpétua estava ―engolindo sapo‖ desde o dia que a sua irmã chegou, com a sua enteada e tinha vontade de falar umas verdades para Leonora, pela sua falta de vergonha, vez que chegava da rua de madrugada todas as noites. A família ficava falada, mas Perpétua tinha que ficar calada, por causa do futuro dos seus filhos. Então, simula elogios, sorrisos falsos,

150 acreditando que na hora da prestação de contas com Deus cobraria seus créditos. Antonieta avisa a irmã que prolongará sua estádia no Agreste por causa da eleição.

― – Ainda bem, Perpétua, que te encontro nessa disposição, pois estou pensando em prolongar um pouco mais minha demora... Ia no dia seguinte ao da festa, talvez fique ainda uns dias‖ . (AMADO, 1997, p. 532).

No quarto, Antonieta fala para Leonora que viera do Mangue para acabar com a candidatura do seu namorado Ascânio, por bem ou por mal, por este está do lado dos estrangeiros que iam poluir a cidade com a fábrica de titânio. E também para lançar a candidatura do Comandante Dário à Prefeitura. No meio de insolências e ameaças, Ascânio se modifica e, cresce a sua ambição. E está disposto a ir até o fim com os seus ideais, com a candidatura .

Tieta descobre que Ricardo a traiu com Maria Imaculada, e faz um escândalo. Sua irmã Perpétua vê a cena, mas não quer acreditar no que está acontecendo. Mais tarde vai ao quarto da irmã:

― _ O que aconteceu? O que é que isso significa?

_ Significa que o cachorro do seu filho se atreveu a me botar os cornos com uma putinha descarada, coisa que nenhum homem me fez.

_ Quer dizer que tu e Cardo... Que horror meu Deus!‖ (AMADO, 1977, p. 559).

Perpétua finge-se de inocente:

― _ Tu não mudou nada, é a mesma depravada de antes. Desencaminhou um inocente, temente a Deus, desgraçou a vida dele. E ainda tem coragem de dizer que eu já sabia. Vade retro!

– Não sabia! Cínica! Quem foi que mandou o filho de noite para o Mangue quando viu que eu estava tarada por ele? Com olho no meu dinheiro, pensa que não me dei conta? Não sei onde estou que lhe meto o braço.‖ (AMADO, 1997, p. 560).

151 A briga continua. Tieta acusa a sua irmã de ter percebido o interesse dela por seu filho, e com isso armara, para ficar com o dinheiro. Perpétua só pensa em dinheiro, fala que tem que compensar o filho dela e adotá-lo. Antonieta revolta-se, pega a maleta de dinheiro, separa um maço de notas e atira para sua irmã, espalhando as notas pelo chão. Perpétua começa a pegar o dinheiro feito uma louca pelo quarto. Quando escuta alguém chegando à casa, trata de recompor-se, enfia o dinheiro no bolso sem esquecer nenhum no chão e sai do quarto.

Ascânio decidiu pedir Leonora em casamento, mas esta diz que não pode. Ele pressiona para que ela diga o motivo da recusa. Chorando, ela diz que não era rica, nem filha do comendador, nem enteada da Tieta. Trabalhava num prostíbulo do qual Tieta era dona, e nunca fora casada com Felipe Cantarelli, mas sim sua amante durante vinte anos. Ascânio a expulsa, dizendo que lugar de pegar macho é na rua.

Tieta estava num velório e Acânio apareceu transtornado. Ao vê-la, fala para Osmar:

― – Sabem o que é que ela é? Pensam que é viúva, dona de fábricas, mãe de família? Ela não passa de um cafetina, tem casa de raparigas em São Paulo, vive disso. Quem me contou foi a outra. Pedi a mão dela em casamento, me respondeu: não posso, sou mulher-dama. Faz a vida no randevu dessa nojenta que está aí, passando por santa. Duas vagabundas e um palhaço‖ . (AMADO, 1977, p. 582).

Tieta vai atrás de Leonora, que tentou se afogar. Esta pede perdão, mas Tieta a esbofeteia, pois estava com muita raiva e diz que vai voltar para São Paulo no dia seguinte. A fábrica de titânio Brastânio se estabelece em outro lugar. Uma cidade perto da capital. Tieta despede-se de Carmô e de seu sobrinho Peto, entra na marinete, sentando-se do lado de Leonora. Leva consigo para São Paulo Maria Imaculada. Tieta acena adeus, e seguem viagem. Por causa do segredo revelado, Tieta foi obrigada a partir mais uma vez de Sant‘Ana do Agreste, que nunca mais seria a mesma.

152 7.5.2 Análise Literária

Tieta do Agreste, romance de Jorge Amado, foi publicado em 1977. Mas sua ação se

passa entre os anos de 1965 e 1966, época em que o Brasil estava tomado pela Ditadura Militar instalada no país em 1964.

Jorge Amado é o maior romancista brasileiro, tradutor da essência e da cor da Bahia e profundo conhecedor da alma do povo. Ao longo de sua vida criou personagens inesquecíveis e memoráveis, tanto pelo preconceito quanto pelo humanismo que ostentam.

A história gira em torno da protagonista Antonieta, apelidada de Tieta, que vivia na cidade baiana de Sant‘Ana do Agreste e, por ser flagrada em um tórrido romance, foi expulsa cidade por sua irmã Perpétua. Indo para São Paulo, Tieta tornou-se uma cafetina, enriqueceu e retornou à sua cidade, agora com a áurea de viúva rica, até ser novamente desmascarada e ter que deixar a cidade pela segunda e definitiva vez. Desde o início do romance, o leitor já sabe o que esperar: o retorno da filha pródiga e sua vingança contra a irmã e contra a cidade que a perseguiram e expulsaram.

Tieta é uma mulher mais madura do que outras criadas por Jorge Amado, como Gabriela e Teresa Batista. A situação dramática do livro é clássica: tematiza a história de uma mulher que volta rica e poderosa à cidade de onde fora expulsa vinte e seis anos antes, quando ainda era adolescente e inconsequente. Ao retornar, encontra à sua volta típicos representantes do interior baiano, lutando pela sobrevivência, defendendo ou resistindo a preconceitos, almejando pequenas ambições. Tudo isto compõem um painel vivo dos conflitos provincianos que antecedem a chegada de sinais de progresso à Sant‘Ana do Agreste e, claro, suas conseqüências.

O eixo central da narrativa gira em torno do confronto entre as duas irmãs, Tieta, que fora expulsa devido ao seu espírito libertino, e Perpétua, que se esconde atrás do manto da pureza da religião e da intolerância. Perpétua, ao contrário de Tieta, é uma mulher mal amada, ressentida, cheia de recalques, que se vale da religião para sufocar seus sentimentos. No íntimo, é falsa, interesseira, amoral, materialista, vez que se põe a explorar a irmã enriquecida com a vida.

153 Tão logo Tieta retorna, inicia-se o confronto entre as duas irmãs. O móvel desse confronto são os equívocos proporcionados pelas das cartas enviadas por Perpétua a Tieta, em São Paulo, na qual ela minimizava sua vida: a ―nossa casinha‖ referida em uma das cartas era uma das melhores casas de Sant´Ana do Agreste, local repleto de recordações para a visitante e um dos pontos nevrálgicos de sua expulsão da cidade. Perpétua, embora moralista, não se furtava em pedir à irmã ajuda para a criação dos dois filhos que tivera. E também não fez reservas quando percebeu que um deles estava se relacionando com a tia, uma vez que esta relação poderia trazer, tanto para ele quanto para ela, bons frutos materiais.

O retorno de Tieta foi marcado por grande expectativa. Depois de 26 anos, a filha pródiga, que aos 17 vivera aventuras amorosas que escandalizaram a cidade, retornava