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Para a psicanálise só existe um sujeito, o sujeito do inconsciente. O conceio de pulsão é avesso a qualquer noção desenvolvimentista, sempre parcial e, portanto, a sexualidade adulta e a sexualidade infantil. Dessa forma pensar na sexualidade da idosa implica, necessariamente, em esmiuçar o processo de estruturação da sexualidade feminina. (MUCIDA, 2006)

O processo de desenvolvimento psicossexual da criança definirá sua posição subjetiva ao longo de toda a vida, seja essa criança menino ou menina. (FREUD, 1905/1972). Toda a vivência sexual infantil desde o nascimento até a experiência genital adulta trilhará o caminho para o modo do sujeito ser no mundo, daí notamos a importância da estruturação sexual do sujeito. Para Celes ―a sexualidade em seu enraizamento biológico e psicológico é o pivô, a pedra angular, ou ainda, conteúdo e forma, da subjetividade‖ (1995, p. 151).

O termo ―libido‖ designa uma energia postulada por Freud como substrato da pulsão sexual. A libido é essencialmente de natureza sexual, sendo irredutível a outras formas de energia mental não-especificadas. Este é o principal ponto de discordância entre Freud e Jung, na medida em que este último via na libido uma energia psíquica indiferenciada. A libido em Freud é, então de natureza sexual, apesar de poder ser ―dessexualizada‖ no que se refere ao objetivo e é concebida como a manifestação dinâmica na vida psíquica da pulsão sexual. (GARCIA-ROZA, 2001)

A sexualidade define-se nas experiências de satisfação e nos canais de exteriorização (possíveis) da excitação sexual, da libido. Porém, é a partir da vivência do Édipo que a sexualidade feminina vai se tornando mais evidente. E é com o complexo de castração que tudo se efetiva. ―... as meninas responsabilizam sua mãe pela falta de pênis nelas e não perdoam por terem sido, desse modo, colocadas em desvantagem‖ (FREUD, 1932/1996, p. 124).

36 A constatação de que não possuem o pênis/falo produz, para Freud, uma ferida narcísica incontornável, que provocará o sentimento de inferioridade na mulher. Assim, diante da constatação de sua falta e da consequente ―inveja‖, a menina sai em busca de uma compensação, vindo a percorrer caminhos diversos no tocante ao desenvolvimento de sua sexualidade. Nesse sentido, nas palavras de Freud, “Ela viu, sabe que não tem e quer tê-lo”

(FREUD, 1925, p.314), será a expressão que melhor caracteriza o motor de funcionamento do psiquismo feminino, sua marca fundamental. A partir desse ensaio, então, as características da falta e da inveja ganham relevância e se tornam constitutivas da subjetividade feminina.

Segundo Freud (1931/1996), a sexualidade da menina tem três destinos possíveis a partir da vivência do complexo de castração: a inibição sexual ou a neurose, a modificação do caráter no sentido de um complexo de masculinidade e a feminilidade normal.

Na inibição sexual ou neurose, a castração é vivida como algo muito traumático. Inicialmente a menina vive sua sexualidade de maneira masculina com a ilusão de que seu clitóris é um pequeno pênis e que ainda vai crescer. A partir da constatação da ausência do pênis a menina renuncia as atividades masturbatórias e ativas do clitóris, repudia o seu amor pela mãe e acaba por recalcar suas inclinações sexuais fator que se estenderia para outros campos ao longo de toda sua vida. (FREUD,1931/1996).

No complexo de masculinidade, a menina recusa a reconhecer-se castrada e com isso fica presa a uma atividade sexual clitoridiana afirmando cada vez mais sua porção masculina. Sem querer abrir mão de sua satisfação com a atividade clitoridiana, insiste nesse comportamento apesar das recriminações e refugia-se em uma identificação com a mãe fálica ou com seu pai. Assim, a menina marcada pela inveja do pênis insistiria na esperança de obtenção de um pênis que a tornaria definitivamente masculina. Assume um comportamento ativo tal como geralmente é característico no homem. Essa seria uma posição defensiva, onde a mulher permaneceria na satisfação sexual clitoridiana, recalcando assim, seu próprio sexo. (FREUD, 1932/1996).

Já no caso do exercício da suposta feminilidade normal, a menina transfere da mãe para o pai suas ligações objetais e afetivas, toma seu pai como objeto de amor e assim consegue atingir a forma feminina do Complexo de Édipo. Ocorre a renúncia da atividade sexual fálica e abrem-se os caminhos para a sexualidade feminina. Ao descobrir-se castrada, a menina volta-se para seu pai na esperança de ter o pênis que a sua mãe lhe recusou. Freud aponta que para a posição feminina se estabelecer de fato, o desejo de ter um pênis precisa ser

37 substituído pelo desejo de ter um bebê e este sendo do seu pai. ―... o objetivo do mais intenso desejo feminino‖ (FREUD, 1932/1996, p. 128).

―O desejo que leva a menina a voltar-se para seu pai é, sem dúvida, originalmente o desejo de possuir o pênis que a mãe lhe recusou e que agora espera obter de seu pai‖. (FREUD, 1933, p.128).

―No entanto, a situação feminina só se estabelece se o desejo do pênis for substituído pelo desejo de um bebê, isto é, se um bebê assume o lugar do pênis, consoante uma primitiva equivalência simbólica‖. (FREUD, 1933, p.128).

Nesse sentido, o encontro do caminho para a forma feminina do complexo de Édipo se dá por intermédio do deslizamento da equação simbólica em que a menina substitui o desejo de um pênis pelo desejo de um bebê de seu pai. A menina, sob o signo da inveja do pênis, afasta-se de sua mãe com o sentimento de hostilidade por não tê-la aparelhado do precioso órgão (nem possuí-lo), voltando-se para o pai em uma demanda fálica, realizando a equação simbólica freudiana (pênis=bebê). Por esse caminho, a menina se vê então obrigada a renunciar à masturbação clitoriana e à mãe, como objetos de investimento, na busca de alcançar um destino feminino para sua sexualidade. Dessa forma, Freud indica a necessidade da realização de duas trocas: a primeira de zona erógena – a substituição do clitóris (modo ativo de satisfação pulsional) pela vagina (substituição pelo gozo passivo). E a segunda de objeto de amor – da mãe para o pai –, sendo estas duas trocas os pressupostos para atingir a condição feminina da sexualidade. (FREUD, 1933)

Elegendo o pai como objeto de amor, a menina terá que identificar-se com a mãe e, assim, ―aprenderá‖ a ser mulher com sua mãe. Ela lhe mostrará o que ―tem‖, para ter conseguido conquistar o marido, pai da menina. A questão incômoda nesse momento é ela ter que se identificar com uma marca fálica inexistente na mãe. A mulher, a partir daí, inicia seu processo de fazer-se gostar pelo que ela não tem. (FREUD, 1933)

―É sobretudo pelo que ela não é que ela quer ser desejada. Na mascarada feminina, trata-se menos de ter o falo como o homem, mas de sugerir um outro ‗falo misterioso‘, a feminilidade. Se Lacan desloca o feminino do pólo negativo castrado, é para lhe oferecer o pólo fetichista do objeto fálico do desejo masculino‖. (NERI, 2005, p. 202).

38 Segundo Lacan (1996), não é a falta do pênis que define a diferença entre os sexos, mas a falta imaginária dele, ou seja, a falta do falo. A menina sustenta então, psiquicamente, sua condição de faltante a partir do que ela imagina que deveria encontrar no lugar do seu buraco.

A identificação da menina com sua mãe ocorre de maneira negativizada, pois a identificação ocorre com aquilo que ela não é e com o que ela não tem. (LACAN, 1996)

―Uma identidade imaginária só se constitui se puder se apoiar sobre um traço unário, significante mínimo que o sujeito se apropria do outro para arrimar sua identidade. Ora, a metáfora paterna não oferece à mulher um suporte identificatório de feminilidade. Do lado da mãe, a filha também não encontra um significante da feminilidade. A falta da mãe em relação à filha deve ser vista como uma falta dupla: falta do significante da feminilidade e falta do falo‖. (NERI, 2005, p. 203).

Quando o grande Outro, ou seja, o ponto maior de identificação da criança, é deslocado da figura da mãe para a do pai, na inclusão do nome do pai, a criança percebe que está submetida a uma lei simbólica e que pode ser castrada se permanecer no gozo com a mãe. Esse pai que castra é aquele não submetido à castração; é o menos um (LACAN, 1996).

Lacan faz uma releitura do mito da horda primitiva, introduzido por Freud em ―Totem e tabu‖, para mostrar que o pai originário, não submetido à castração, é o suporte da fantasia de um gozo absoluto. Lacan o chama de hommoinzin, neologismo que condensa

homme moins un, literalmente homem menos um. Pai não submetido à castração é o mesmo

que vive sob a ameaça dela. É nesse sentido que só há gozo para o homem enquanto gozo fálico, limitado, submetido à ameaça da castração. O gozo fálico constitui a identidade sexual entre os homens. (LACAN, 1996)

Do lado das mulheres, não há o equivalente do pai originário, não há hommoinzin que vive na fuga da castração. É nesse sentido que o gozo feminino se torna sem limites e adquire a consistência de um gozo suplementar ou gozo do Outro. Lacan funda assim a teorização de um gozo feminino isolado de qualquer referência anatômica ou biológica. (LACAN, 1996)

Lacan (1996) divide os sexos segundo uma diferença lógica. O masculino funciona segundo a lógica do todo-fálico e a mulher a do não-todo fálico. O masculino tem o gozo fálico e o feminino o gozo suplementar.

39 Dessa forma, enquanto o feminino, para Freud, ocupa um lugar de singularidade que distingue um ser humano de outro, seja ele homem ou mulher; para Lacan, o feminino representa a condição necessária para a mulher se fazer desejar.

Portanto, tanto para Freud, quanto para Lacan, o sujeito mulher é um caso de vir- a-ser, de estruturar-se.

3.2 NARCISISMO

Alguns autores consideram que na velhice, podem ocorrer alterações do narcisismo, especialmente na idosa, quem mais se percebe longe do padrão de objeto de desejo e de admiração das pessoas na nossa atual cultura. Essa cultura de valorização do novo pode nortear a mudança do narcisismo tanto para o surgimento de uma ferida narcísica, conforme trata Barlier em 1976/2002, em suas proposições referentes à clínica psicanalítica do idoso; quanto para o retorno ao narcisismo primário, conforme teoriza Ferenczi (2001).

Para Barlier, a alteração importante no narcisismo traria um intenso sentimento de desvalorização. Não se trata do fator quantitativo da energia libidinal mas da repartição da libido entre o eu e o objeto. As inúmeras perdas que ocorrem com o processo de envelhecimento fariam com que o idoso vivesse em uma luta permanente entre o investimento afetivo em si mesmo e o ―desenvestimento‖que abre a morte. A aposentadoria, por exemplo, pode significar perda de poder, de prestígio levando a uma ferida narcísica grave e a um desenvestimento em si mesmo provocando o surgimento de sintomas como o acúmulo excessivo de objetos e o apego aos mesmos como se esses fossem parte integrante do sujeito.

Para Ferenczi, o idoso tem a tendência a retirar as emanações da libido dos objetos de amor e retornar sobre seu eu o interesse libidinal:

―As pessoas idosas tornan-se – como crianças – narcísicas, perdendo muito de seus interesses familiares e sociais, perdendo uma grande parte de sua capacidade de sublimação, sobretudo concernente à vergonha e desgosto; de outra forma sua libido regride às etapas pré-genitais do desenvolvimento e tomam frequentemente a forma de franco erotismo anal ou uretral, de homossexualidade, de voyerismo, de exibicionismo e de onanismo‖ (FERENCZI, 2001, p. 43)

40 Entre as considerações dolorosas de Barlier e as teorizações pessimistas e radicais de Ferenczi, surge Karl Abraham em 2002 no seu artigo intitulado ―O prognóstico do tratamento psicanalítico para os sujeitos de uma determinada idade‖ e pondera, baseado na psicanálise e na premissa básica de que o processo inconsciente é atemporal, que é muito mais importante a idade da neurose do que do neurótico. Conceitua que a análise se estruturará a partir da posição em que o idoso se coloca com relação ao seu desejo e que, se não se deseja mais, torna-se velho independente da idade cronológica. (ABRAHAM, 2002)

Essa idéia é compartilhada por Mannoni (1995) que refere que entra-se na velhice quando se perde o desejo. Não entrar na velhice seria ―guardar em si uma certa dose de cumplicidade com a criança que se foi‖

Sendo assim, considerando que a velhice faz parte de um processo continuo do sujeito, que o inconsciente não se submete ao tempo cronológico e que as escolhas feitas quando se é idoso são reflexos de nossa estruturação psíquica desde antes de nascermos, e ainda que o inconsciente ―não cessa de se inscrever‖ (MUCIDA, 2006) procedo as considerações sobre o narcisismo nos sexos e as interferências dele nas nossas escolhasde objeto de amor.

Na tradição grega, o termo narcisismo designa o amor de um indivíduo por si mesmo. A lenda e o personagem de Narciso foram celebrizados por Ovídio na terceira parte de suas

Metamorfoses. (BELLMIN, 1983)

Em 1914, em ―Sobre o narcisismo, uma introdução‖ que o termo adquiriu o valor de um conceito. O desenvolvimento teórico desse assunto implicou na reformulação da teoria das pulsões, desaparecendo a separação entre pulsão do eu e pulsões sexuais e, sendo o eu definido como um ―grande reservatório da libido‖. (ROUDINESCO & PLON, 1997)

O narcisismo primário, constituinte do período de auto-erotismo, foi situado como o primeiro estado da vida, anterior à constituição do eu, característico de um período em que o eu e o isso são indiferenciados. Na tópica de Lacan, o narcisismo primário ou original se instaura quando o bebê vê sua imagem refletida no espelho. Já o narcisismo secundário, em Freud, é definido no estudo da psicose e, posteriormente, é estendido para outros casos em que o indivíduo faz a retirada de sua libido de todos os objetos externos. (ROUDINESCO & PLON, 1997)

Freud aborda o assunto do narcisismo em seu célebre texto de 1914 através de três modos: o estudo da doença orgânica, da hipocondria e da vida erótica do homem e da mulher. Neste estudo manter-se-á atenção no terceiro enfoque.

41 Para Freud (1914/1996) todo ser humano tem, desde seu nascimento, dois objetos sexuais, quais sejam, ele próprio e a mulher que cuida dele. Essas formas de escolhas de objetos de amor podem se manifestar de maneira dominante na sua futura escolha objetal. A escolha objetal de um sujeito se dará a partir de suas vivências iniciais de satisfação, sendo assim, a escolha objetal pode ser narcísica

―Descobrimos, de modo especialmente claro, em pessoas cujo desenvolvimento libidinal sofreu alguma perturbação, tais como pervertidos e homossexuais, que em sua escolha ulterior dos objetos amorosos elas adotaram como modelos não suas mães mas seus próprios eus. Procuraram inequivocamente a si mesmas como um objeto amoroso, e exibem um tipo de escolha objetal que deve ser denominado ‗narcisista‘. Nessa observação temos o mais forte dos motivos que nos levaram a adotar a hipótese do narcisismo‖ (FREUD ,1914/1996 p. 94).

Ou essa escolha objetal pode ser do tipo anaclítica. Se na escolha narcísica o sujeito se liga objetalmente a si mesmo, na anaclítica ele estabelece uma ligação entre um objeto externo e quem foi o responsável por lhe dispensar os cuidados ligados à necessidade.

Assim, Freud (1914/1996) afirma que o indivíduo que faz a escolha objetal do tipo narcísica, procura alguém que seja o que ele próprio é, o que ele próprio foi, o que ele próprio gostaria de ser ou alguém que foi, alguma vez, parte dele mesmo. Já quem faz a escolha objetal do tipo anaclítica, se liga a indivíduos que operam como substitutos da mulher que o alimentou ou do homem que o protegeu (processo de ligação).

Apesar de dizer que tanto a escolha objetal narcísica quanto a anaclítica podem ocorrer com qualquer sujeito, Freud faz clara distinção no que diz respeito a homens e mulheres. O que seria típico do sexo masculino é a escolha anaclítica. E com relação às mulheres, a escolha mais provável seria a narcísica.

―O amor objetal completo do tipo de ligação é, propriamente falando, característico do indivíduo do sexo masculino. Ele exibe a acentuada supervalorização sexual que se origina, sem dúvida, do narcisismo original da criança, correspondendo assim a uma transferência desse narcisismo para o objeto sexual... Já com o tipo feminino mais freqüentemente encontrado, provavelmente o mais puro e mais verdadeiro, o mesmo não ocorre. Com o começo da puberdade, o amadurecimento dos órgãos sexuais femininos, até então em estado de latência, parece ocasionar a intensificação do narcisismo original, e isso é desfavorável para o desenvolvimento de uma verdadeira escolha objetal com a concomitante supervalorização sexual‖. (FREUD, 1914/1996, p. 95)

42 O amor objetal completo do tipo anaclítico, segundo Freud, é o modo de amar tipicamente masculino (embora afirme que também possa ser encontrado em algumas mulheres). Decorre dele a supervalorização sexual do objeto que, nos casos de apaixonamento, atinge seu mais alto grau. Nesses casos, em que o sujeito abriu mão do seu próprio narcisismo, ocorreu um empobrecimento da libido dirigida ao ego, em favor do objeto amoroso. O objeto é idealizado pelo sujeito e lhe é atribuída uma perfeição que só pode equivaler ao ego ideal. O amado toma o lugar do ego ideal e nessa dinâmica se restabelece uma situação narcísica essencialmente primitiva – em que o eu era modelo da perfeição – só que desta vez quem ocupa esse lugar é o outro idealizado. (FREUD, 1914/1996)

Se para as mulheres a escolha objetal mais comum seria a narcísica, pode-se pensar que elas têm como principal caminho de satisfação egóica o ato de serem amadas, já que, para Freud, a escolha objetal narcisista teria como finalidade a satisfação no fato de ser amado. (FREUD, 1914/1996)

O investimento que algumas mulheres fazem em si mesmas se compara em intensidade ao amor que os homens lhes dedicam. A necessidade feminina estaria mais em serem amadas e menos em amar. O fascínio que tais mulheres exercem sobre os homens se deve ao fato do narcisismo de certas pessoas exercerem grande atração naqueles que renunciaram ao seu próprio [narcisismo] e estão em busca do amor objetal anaclítico. (FREUD, 1914/1996)

Ao redefinir o falo como significante, Lacan redefine a feminilidade. Em ―Significação do Falo‖ (1958/1998), Lacan diz que não se trata para a mulher de ter o falo, mas de ser o falo (diferente de Freud), identificando-se ao significante fálico.

Lacan chama o amor do homem de fetichista e o amor da mulher de erotomaníaco. O eixo disso é o falo. A mulher enquanto objeto de amor é como o falo, completude com a mãe fálica, a mulher tem para o homem essa significação fálica. O homem deseja, a partir da mãe, a parceira amada. A forma erotomaníaca do amor na mulher corresponde a uma convergência aparente do afeto e do desejo sexual sobre o mesmo objeto: são as diferentes posições do sujeito frente à sexuação. No amor erotomaníaco o órgão masculino, toma valor de fetiche. (LACAN, 1958/1998)

A erotomania está sendo usado como metáfora aqui. Na erotomania a mulher deseja ser amada por alguém superior, que não dá à mulher qualquer importância. Como metáfora: a mulher se põe como necessariamente ―ser amada‖, a mulher se coloca

43 estruturalmente frente ao homem na posição de ser amada pelo homem de ser o seu falo. (LACAN, 1958/1998)

Forma erotomaníaca é uma condição de gozo ideal para a mulher - ser amada pelo ‗A‘, pelo grande ‗A‘. Lacan, no texto sobre um Congresso diz que esse ‗A‘ se relaciona com o inconsciente, com o imaginário, ideal que vai dar a mulher a condição de responder a partir dele e, só então assumir a ação de amá-lo. O ‗A‘ é o que se dirige à mulher e faz com que ela o ame. (LACAN, 1958/1998)

Green (2000), acredita que a mulher se encontra num registro para além do fálico, porém, sua relação com a perda do amor estaria concatenada com o que Freud disse a respeito da busca por ser amada. Para Green existe uma relação direta entre o papel da castração feminina e a angústia pela perda do amor.

―A fruição feminina não poderia ser definida, na sua especificidade, na referência ao fálico, nem que fosse sob suas expressões metaforizadas. Haveria, aqui, um ‗para além‘ do princípio fálico, conotado pela castração. O papel da perda do amor aparece, aí na mulher, então, como algo mais difícil de superar‖. (GREEN, 2000, p. 52).

Talvez não seja possível pré-traçar um único caminho para todas as mulheres. O próprio Freud (1914/1996), admite que há um grande número de mulheres que amam conforme o modelo masculino (anaclítico). Serge André traz uma brilhante contribuição que ajuda a compreender melhor a questão referente à demanda de amor exigida pela mulher. Ele faz um link entre o que Freud disse a respeito da escolha objetal narcísica e da posição subjetiva feminina de que trata Lacan. Nesta, a relação da mulher com o Outro se dá em busca de um suplemento de inconsciente ―suplemento que a faria sujeito lá, precisamente, onde ela não o é‖ (ANDRÉ, 1998, p. 256).

―Não é de se admirar que as mulheres questionem sistematicamente o amor, nem que elas o demandem de seu interlocutor. É preciso amá-las e lhes dizer isto, menos