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3 0 Hospital e a Assistência

Ao abordar a assistência de saúde poderíamos versar a assistência privada ou estatal; os serviços de apoio comunitário ou de internamento e poderíamos, ainda, diversificar este internamento, se considerássemos as unidades de cuidados mais ou menos diferenciadas. Ao reflectirmos, porém, sobre a assistência hospitalar, gostaríamos de considerar globalmente as problemáticas, não particularizando o tipo de hospital.

Provavelmente, com a temática em estudo, o que nos preocupa é sobretudo o aspecto organizacional, onde poderemos considerar a cultura e o clima assim como a expressão de particularidades relacionadas com a enfermagem. Na verdade, o clima e a cultura organizacional são aspectos que poderão, significativamente, influenciar a visão deste problema por parte das Enfermeiras.

O clima organizacional é, para CHIAVENATO (1993:287), resultante de " um

complexo envolvimento de componentes relacionados com aspectos formais e informais da organização, dos sistemas de controlo, das regras e normas e de relações interpessoais existentes na organização ".

O mesmo autor afirma que o clima organizacional influencia o estado motivacional das pessoas e é por ele influenciado, uma vez que a motivação é um dos factores internos que interferem no comportamento das pessoas na organização.

O clima organizacional é entendido como "os comportamentos e motivações dos

indivíduos, os seus estatutos e os seus papéis, dinâmicas de grupos, e os sistemas de influência e as formas de exercício do poder e da autoridade" (BERTRAND 1988:184).

A importância do clima organizacional leva-nos a pensar que, ao estudar a opinião dos enfermeiros sobre a presença de familiares, não poderemos ficar só pelos aspectos relacionados com a concepção do ser " Enfermeiro"; teremos, também, que tentar compreender alguns aspectos do clima organizacional e da cultura dos hospitais que poderão influenciar esta questão.

Na verdade, da pesquisa realizada concluímos que a cultura organizacional é um conceito complexo e dinâmico que integra todos os traços de natureza espiritual e material que caracterizam o comportamento e os valores da organização. Este conceito é dinâmico, porque vai criando formas adaptativas de pensar e agir em cada momento da história de cada organização.

Para CHIAVENATO (1993:285) " cultura organizacional é o modo de vida próprio de

cada organização... é um conjunto de crenças, expectativas, valores e maneiras de fazer as coisas que, consciente ou inconscientemente, cada organização vai adoptando

e acumulando ao longo do tempo e que passam a condicionar fortemente o pensamento e o comportamento dos seus membros ".

O hospital é um tipo de organização onde diferentes pessoas, com diferentes profissões, em multidisciplinariedade e interdependência, contribuem para a missão da prestação de cuidados de apoio à saúde e de combate à doença nas comunidades.

Os hospitais, como organizações, possuem uma cultura própria que tem evoluído nos últimos anos. Pretende-se que o hospital seja modernizado e reintegrado no sistema social, é visto como um sistema aberto em constante interacção com o meio e a comunidade que serve. Esta perspectiva sistémica tem como fundamentos a própria mudança no conceito de ser humano e o aparecimento de novos problemas sociais e éticos que qualquer organização é obrigada quer a acompanhar, quer a procurar soluções.

O ambiente psicossocial do hospital foi enriquecido com o aparecimento de novas técnicas, novas profissões e o estabelecimento de novas relações profissionais de interdependência.

No sistema organizacional hospitalar o centro é o doente e a finalidade não poderá desviar-se deste alvo, por isso toda a construção física e conceptual tem que ter em conta esta realidade. Partilhamos, pois, a ideia de SCHULZ (1976:43) "...mais

especificamente para o paciente, para quem, realmente, o hospital existe para servir.. :\

3.1-O Hospital

A noção de hospital tem evoluído ao longo dos tempos.

O Hospital deixou de ser aquela instituição custódia a que os doentes recorriam apenas em caso de força maior, passando a ser um centro de assistência moderno e complexo no qual o doente espera ser tratado com êxito e qualidade.

Várias foram as influências que sofreu como instituição sócio - económica, desde a da própria sociedade, até às políticas económicas e filosóficas. É de salientar a influência sofrida pelas correntes da administração que foram surgindo ao longo dos tempos.

Os hospitais passaram a ser estruturas extremamente complexas. Os seus utilizadores, bem como os grupos profissionais que neles trabalham, não podem ficar indiferentes a estas mutações, pois fazem parte desse complexo sistema.

Por outro lado, hoje, não poderemos ver o hospital isolado, mas antes fazendo parte de um todo que será o sistema de saúde de um País. As politicas actuais em Portugal levam-nos a questionar se esta é a ideia, contudo reconhecemos que provavelmente a mudança encaminha-nos muito mais no sentido de responsabilidade individuas sobre a sua assistência e promoção de saúde.

Numa perspectiva sistémica, temos que considerar o ambiente externo e interno e, dentro deste, ter em consideração a estrutura do próprio sistema, dando verdadeira atenção aos Input ( Objectivos organizacionais, pessoas, verbas, equipamentos, informações, etc.) e aos output ( serviços prestados, pesquisas, satisfação, etc. ) Neste sentido, o hospital é um sistema aberto e complexo.

A função administrativa estende-se aos enfermeiros e estes funcionam como um subsistema dentro do macrossistema institucional que é o hospital.

O processo de administração, planeamento, organização, direcção e controlo não pode ser descurado pelo sector de enfermagem, uma vez que ele tem um valor fundamental para os resultados finais da Instituição.

Os hospitais tornam-se identidades diferentes conforme as suas áreas de actuação e, nestas, contextualizam-se as suas funções, "...embora a função do hospital possa

parecer óbvia, na realidade os hospitais têm múltiplas funções que não somente estão alteradas ao longo do tempo, mas que são, sob certos aspectos, conflituantes.'"

(SCHULZ, 1976:43)

No passado,"...os hospitais eram um lugar para abrigo, ou entretimento de convidados

ou desconhecidos. Historicamente, as funções dos hospitais reflectiam a sua missão como instituições caritativas para refúgio, pensão, ou instrução dos necessitados, idosos, ou enfermos, ou pessoas jovens. Eles tinham pouco a oferecer além de atenção custodiai e atenção de serviços de enfermagem para consolo.'" (SCHULZ, 1976:44).

Hoje, distanciamo-nos destas funções e surge uma realidade bem diferente, talvez oposta, pois o centro das atenções torna-se "...um lugar de alta tecnicidade e

organizado sob novas formas de racionalidade e eficácia ... a importância social do hospital destaca-se pelo facto de ser o lugar de confronto da diversidade dos quadros de referência cultural dos doentes face a um modelo cultural reconhecido e consagrado, que inclui um modelo de regulação social do que é viver a doença no

hospital, concretizado nas ideologias e nas práticas dos diversos grupos profissionais. "(CARAPINHEIRO, 1993:45).

Todos os hospitais, seja qual for a entidade que os administra, desempenham funções de certo modo próximas dos contextos comunitários em que estão inseridos. Embora o principal propósito do hospital seja a assistência na doença muitos hospitais funcionam como centros de formação para enfermeiros, médicos e nutricionistas e outros técnicos. Também em muitas destas instituições se desenvolvem esforços de prevenção contra a doença e de promoção da saúde entre as famílias.

As funções específicas do hospital ainda hoje são consideradas: diagnóstico; tratamento médico e cirúrgico; prevenção da doença; formação e investigação.

O corpo administrativo do hospital, vulgarmente designado por conselho de administração, é responsável pelos regulamentos e por toda a gestão do hospital. Habitualmente podemos dividir a administração em duas áreas distintas. Por um lado, a gestão administrativa e, por outro, a assistência técnica que assenta basicamente nos departamentos ou serviços médicos e no departamento de enfermagem.

Ainda hoje assistimos à organização do hospital em volta de áreas ( serviços), onde o centro são as patologias, muito embora já se vá encontrando uma tendência para outro tipo de organização, como sejam serviços de pediatria, geriatria ou mesmo de adolescentes.

E evidente que estas unidades têm vários serviços de apoio que suportam a assistência e, entre estes, surgem alguns que têm a ver com a situação médica, como o caso de imagiologia e laboratórios, outros têm a ver com a satisfação das necessidades básicas, como seja a alimentação os serviços hoteleiros de uma forma geral.

Muito embora toda a responsabilidade administrativa do hospital caiba ao director, é humanamente impossível uma só pessoa encarregar-se de todo o trabalho relativo à gestão até porque, geralmente, a liderança destas organizações assenta numa gestão participante onde a delegação é uma realidade do dia a dia.

Os enfermeiros têm vindo a perder controlo sobre algumas das áreas de apoio ficando cada vez mais limitados apenas aos serviços de enfermagem. No entanto, ainda se verificam certas situações, especialmente dentro da medicina privada, onde os enfermeiros continuam a ter a responsabilidade global do funcionamento dos serviços hoteleiros.

Nos nossos dias assistimos ao aparecimento de novas profissões na área da saúde e, por isso, os hospitais são dotados de novos profissionais passando, assim, o

desenvolvimento a dever-se mais ao resultado do trabalho em equipa do que o esforço específico de um ou outro sector.

Compreende-se assim que ASENJO (1998:102) diga que "uno de los factores críticos

de êxito en la dirección de recursos humanos es asegurar equipos de trabajo competentes, que alcancen resultados y cuyo rendimiento sea alto. Sin duda, es una de las líneasestratégicas de las organizaciones orientadas a la calidade, centradas en satisfacer las necessidades dei cliente y que buscan mantener una posición de prestígio competente en el sector ".

Há factores que condicionam os resultados dentro do hospital, pelo que teremos que os considerar, quando estudamos problemáticas internas da organização. Assim:

- os resultados surgem da intervenção de diferentes pessoas; - o trabalho das pessoas é interdependente;

- a actuação é um processo contínuo;

- a integração das actuações é imprescindível; - o doente é o centro da decisão;

- a participação do doente é essencial.

Com estes factores poderíamos dizer que "los equipos de trabajo se constroyen

alrededor de dos ejes básicos integrados por multiples redes de inter acción. El primer o se orienta a disehar e integrar la actividad de trabajo en el equipo alrededor de los resultados que se han de alcanzar. El segundo pone el énfasis en construir sólidas relaciones inter personales que aseguren la comunicación fluida, el respeto, la cooperación, la sinergia entre las personas u el entendimimiento mutuo". (ASENJO

1998:102)

Com este tipo de desenvolvimento somos levados a afirmar que o resultado do trabalho em equipa terá que ser bem preparado e concebido; tendo em conta os objectivos e resultados claros e partilhados, os sistemas de trabalho bem definidos e organizados, a designação clara das várias responsabilidades, a avaliação contínua dos resultados e, por último, a criação de sistemas de compensação e incentivos, mediante resultados.

Hoje tende a desenvolver-se nos hospitais, esta vertente, daí que cada vez mais se encontrem grandes preocupações na garantia da qualidade e, consequentemente, um investimento na humanização.

A humanização e modernização das instituições de saúde passa sobretudo por uma clara mudança de atitude de todos os prestadores de serviços. É provável que os hospitais do

futuro sejam caracterizados pela responsabilidade individual, autonomia, risco e incerteza.

Os aspectos rígidos e a disciplina autoritária estão a ter provavelmente, os últimos anos de aplicação, pois, hoje, e cada vez mais, a dimensão humana é predominante.

O futuro é um real desafio aos actores, porque as dificuldades se extremam entre as questões económicas e a humanização, bem como a capacidade de dar resposta às expectativas das populações, face a uma ideia de que o hospital é a resposta para todos os problemas pois é lá que está a alta tecnologia, teremos que reformular posturas de intervenção em saúde e como nos refere PINTASILGO ( 1998) , é necessário pôr em prática a equidade, de forma a favorecer os que mais necessitam dos serviço, insistir na prevenção e na responsabilidade individual, aumentar a participação da comunidade, e por ultimo mudar a cultura que orienta os cuidados médicos centrando-os mais no paciente.

A questão central deste estudo insere-se na componente humana dos hospitais. No entanto, sentimos o peso excessivo, mesmo na bibliografia disponível, das questões económicas, organizativas, normativas e políticas, ficando por vezes fora dos estudos, e das teorias encontradas, a questão da participação da família na realidade destas instituições.

Hoje já encontramos traços de tendências para mudar as realidades no hospital a favor do doente e da sua família, mas fica a pergunta: os profissionais estarão a mudar a sua forma de estar perante os doentes e familiares?

A razão de se estudar a opinião dos enfermeiros sobre as visitas e /ou os acompanhantes no hospital tem especificamente a ver com o facto de os enfermeiros, que estão vinte e quatro horas junto do doente, desenvolverem actos que estão relacionados com aspectos mais íntimos do ser humano, defenderem conceptualmente que o doente é um todo bio- psico-social e ainda com o facto de os mesmos enfermeiros continuarem a ter a responsabilidade da organização dos serviços e do controlo da assistência (ELHART,

1983;71).