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2.1.2 MODELO DO AUTO-CUIDADO

A reflexão sobre as práticas diárias e o ênfase dado por muitas enfermeiras ao auto- cuidado levam-nos a considerar que este modelo tem informações significatvas para compreender os resultados dos nossos estudos, por outro lado há alguns autores tais como RUEDA (1999), MARRINER (1994), CAMPEDELLI (1989) HUNTER (1993) que consideram uma macro teoria com contributos não só para os indivíduos mas também para o sistema de assistência de saúde.

A autora era uma enfermeira preocupada em dar forma e estrutura ao conhecimento que explica as atitudes de enfermagem pelo que apresenta uma abordagem a vários conceitos entre os quais de auto-cuidado, homem, enfermagem, expressões de necessidades de auto cuidado, enfermeira e processo de enfermagem.

Orem classifica a sua teoria como geral de deficits de auto cuidado e que contêm em si de três outras teorias:

- de auto-cuidado, pelo que descrê e explica o auto-cuidado;

- de deficite de autocuidado, que descreve e explica porque é que as pessoas necessitam de ser ajudadas pelas enfermeiras,

- de sistema de assistência de enfermagem, que descreve e explica as relações que se devem dar e manter para que exista enfermagem, (cit. In MARRINER, 1994:102)

A teoria do auto cuidado é uma abordagem orientada para a saúde centrada por sua vez numa visão holística. Em causa estão as actividades que os indivíduos iniciam e desempenham pessoalmente em seu próprio beneficio para manter a vida, a saúde e o bem estar, o que lhe conferem o carácter pessoal e continuo (OREM, 1993).

O Auto cuidado é o conceito básico utilizado pela autora, pelo que esta o considera como nato em cada indivíduo e aprendido ao longo do seu crescimento e desenvolvimento basicamente através das relações interpessoais e da comunicação quer no seio familiar, com os amigos, na escola e em outros meios.

A natureza do auto cuidado leva a considerar que em causa estão um conjunto de actividade aprendidas e que têm uma relação directa com as crenças, os hábitos, as práticas culturais e os costumes do grupo ao qual pertence o indivíduo que o pratica. Neste sentido, a realização do auto-cuidado, torna-se um processo onde o alcance de objectivos da assistência está centrado nas necessidades e preferências dos indivíduos e não nas dos profissionais.

Podemos dizer que o auto cuidado é a capacidade que o indivíduo tem para realizar as actividades necessárias para viver e sobreviver, "em seu próprio beneficio mantendo a

vida, a saúde e o bem estar "( OREM, 1993:131). Para o indivíduo cuidar de si mesmo

realiza as seguintes actividade:

- apoio nos processos vitais e de funcionamento normal; - manter o crescimento, maturação e desenvolvimento normal, - prevenir o controlo dos processos de doença e de lesões; - prevenir as incapacidades e a sua compensação;

- promoção do bem estar. CAVANAGH ( 1993)

CASTELLANOS (in CAMPEDELLI, 1989) neste contexto aponta para cinco papeis necessários ao desenvolvimento do Auto cuidados: Manutenção da saúde; prevenção da doença; autodiagnóstico; automedicação; participação nos serviços de assistência de saúde.

OREM (1993) deixa claro que a decisão sobre o auto cuidado é da competência do indivíduo, este inicia-o voluntariamente e intencionalmente, o profissional ajuda e incentiva, sendo necessário por parte deste uma postura baseada na crença dos direitos e das responsabilidades inerentes ao próprio indivíduo. Assim sendo o doente está livre para aceitar, aprender, utilizar, rejeitar, o que lhe é oferecido e para procurar outros recursos e informações.

O sentido encontrado, face às ideias desta autora, orienta-nos para a possibilidade dos indivíduos, famílias e comunidades tomarem iniciativas e assumirem responsabilidade, bem como empenharem-se efectivamente o desenvolvimento do seu próprio percurso em direcção à melhoria da qualidade de vida, de saúde e de bem estar.

Ao considerar que este processo é de intervenção e acção a autora encaminha-nos para a ideia de agente de auto cuidado, basicamente este é o próprio individuo, quando este apresenta dificuldades ou dependências o agente é transferido para o papel do profissional que tem conhecimentos específicos para dar resposta.

Para atingir os objectivos do auto cuidado OREM (1993:131) identifica condições básicas às quais chama de requisitos considerando três domínios: "universais,

desenvolvimento e de desvio de saúde ".

Os requisitos universais de auto cuidados são comuns a todos os indivíduos durante todos os estádios do ciclo vital, sendo ajustados à idade, à fase de desenvolvimento, ao ambiente e a outros factores específicos do próprio indivíduo, estes estão associados aos

processos vitais e à manutenção da integridade e do funcionamento do ser humano OREM apresenta:

- Manutenção da suficiente inalação de ar e ingestão de água e de alimentação; - Provisão de cuidados associados a processos de eliminação e excreção; - Manutenção de um equilíbrio entre actividade e repouso,

- Manutenção de equilíbrio entre solidão e interacção social; - Prevenção de perigos à vida, ao funcionamento e ao bem estar; - Promoção da normalidade.

Os requisitos de desenvolvimento são expressões especializadas dos requisitos universais por serem particularidades de processos de desenvolvimento ou por serem requisitos novos derivados de condições especiais e OREM apresenta-os em duas categorias:

- Manutenção ou promoção de condições de vida que apoiam processos vitais e promovem os processos de desenvolvimento;

- Provisão de cuidados para prevenir a ocorrência de efeitos nefastos de condições que podem afectar o desenvolvimento humano ou para diminuir ou superar esses efeitos.

Os requisitos de desvio de saúde, dizem respeito a indivíduos doentes, acidentados, incapacitados ou que estão sob diagnóstico ou tratamento médico e deles fazem parte:

- Procurar e assegurar assistência médica apropriada no caso de exposição a agentes físicos ou biológicos específicos ou a condições ambientais associadas a estados patológicos, ou quando há evidencia de condições genéticas, fisiológicas ou psicológicas que se sabe produzir ou estarem associadas com patologia humanas;

- Estar alerta e dar atenção aos efeitos e resultados de condições e estados patológicos;

- Realizar medidas prescritas de diagnóstico médico, terapêutica e reabilitação dirigida para a prevenção, para a patologia em si, à regulação do funcionamento integrado do indivíduo, à correcção de deformidades ou de anormalidades, ou à compensação de incapacidades,

- Estar atento e atender ou regular o desconforto ou efeitos negativos de medidas de assistência médica realizada ou prescrita;

- Modificar o autoconceito e a auto imagem do indivíduo fazendo com que este aceite a sua situação e aprenda a viver com as suas condições e estados de modo a promover o seu desenvolvimento pessoal e continuo.

A teoria do déficit do auto cuidado dirige-se às necessidades diárias e naturais de sobreviver, logo de cuidar de si mesmo. "A doença recente ou crónica, a experiência

de um trauma emocional podem requer que a pessoa aprenda novas medidas para cuidar de si mesma ou solicitar ajuda de outros" ( OREM, 1993:194).

Perante a dificuldade em responder ao auto cuidado o indivíduo faz recurso a outro agente e entramos na esfera do déficit de auto cuidado, nesta situação entra em acção a enfermeira, em causa está a ausência de habilidades para manter continuamente a qualidade e quantidade de auto cuidado terapêutico necessário à manutenção da vida e da saúde de forma a recuperar da doença ou acidente mas também a capacidade para lidar com as consequências.

Por ultimo a teoria do sistema de assistência de Enfermagem. Quando existe um déficit de auto cuidado em causa está a relação entre a enfermeira e o pessoa para compensar o equilíbrio necessário.

Os enfermeiros face a déficit de auto-cuidado apresentam cinco métodos de assistência: agir ou fazer por; orientar; apoiar; promover ambiente propício ao desenvolvimento; ensinar.

Com base na utilização destes vários métodos em conjugação OREM apresenta três sistemas de assistência, o totalmente compensatório, o parcialmente compensatório e o educativo de apoio.

O sistema totalmente compensatório é aplicado quando o doente não tem os recursos necessários para realizar o seu auto cuidado por isso faz recurso ao auto cuidado terapêutico e a responsabilidade é transferida para a enfermeira, basicamente esta situação é concretizada em meio hospitalar e dirige-se a doentes em coma, tetraplégicos e outros.

No sistema parcialmente compensatório quer o doente quer a enfermeira desenvolvem medidas de assistência de saúde. Em causa estão as capacidades do doente e a capacidade da enfermeira em promover a independência

O sistema educativo de apoio prevê que o doente tem recursos para conseguir realizar o auto cuidado contudo necessita da intervenção da enfermeira para tomar decisões, controlar comportamentos ou adquirir conhecimentos ou habilidades.

OREM enfatiza que a primeira parte de qualquer processo de intervenção dos enfermeiros é determinada pelo tipo de ajuda necessária e que este juízo deve de ser sempre validado por informações de várias fontes e considerar tudo o que o doente tem para dar.

Este modelo tem servido de base a varias investigações entre outras as de KURIANSKY (1976), KEARNEY et FLEISHER (1979), WALKER (1983) e STEVENS (1984), pois em causa está o estudo de um instrumento de medida de auto cuidado, mas também tem servido de modelo nas práticas como por exemplo os estudos de HUNTER (1993) e SULLIVAN (1993). Será ainda de salientar o recurso a este modelo para reflectir as práticas como refere CAMPEDELLI (1989), MARRINER (1994), RUEDA (1999), RUSSELL (1996) e CAVANAGH (1993).

O modelo do auto cuidado permite-nos compreender um processo de assistência onde o doente com a sua singularidade dá resposta as suas necessidades e os enfermeiros completam, mas ao mesmo tempo estimulam para que o doente retome a capacidades de se aucuidar.

Para os nossos estudos o modelo do auto cuidados ajuda-nos a compreende os discursos dos doentes e familiar e dá contributos significativos para compreender a diversidade de opiniões dos enfermeiros levando-nos a defender um modelo de assistência centrada no doente e no respeito pelos seus direitos.