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I SEMINÁRIO DE INTEGRAÇÃO DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL MIGRAÇÃO CONTEMPORÂNEA NO BRASIL: QUESTÕES E DESAFIOS

PARA O SERVIÇO SOCIAL

2.2 A IMIGRAÇÃO NO BRASIL DO SÉCULO

Seguindo as tendências globais, o Brasil também tem presenciado mudanças nos fluxos migratórios. De acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OIM, 2018), em 2017, cerca de 735.6 mil imigrantes viviam no país, sendo 143 mil a mais em relação à estimativa de 2010.

Os fluxos migratórios têm passado por mudanças, inclusive em relação à origem do imigrante. Em contraposição à origem majoritariamente europeia dos imigrantes no Brasil dos séculos XIX e XX, Baeninger (2018) caracteriza os movimentos migratórios do século XXI

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como predominantemente migrações Sul-Sul, entre e em direção aos países latino- americanos. Conforme Fernandes (2015), não há um movimento único que se coloca como predominante nos fluxos migratórios, sendo necessário considerar os brasileiros que continuam buscando emigrar e os imigrantes que consideram o Brasil como uma etapa de um processo migratório para outro país.

Em razão da retomada do crescimento da imigração no Brasil, em 2017 entra em vigor a Lei n. 13.445, a Lei de Migração, que substitui a Lei n. 6.815 de 1980, conhecida como Estatuto do Estrangeiro. Até então, não havia uma legislação que tratasse especificamente sobre a migração e, por ter sido concebida durante o regime militar, seus aspectos eram voltados prioritariamente para a segurança nacional. De maneira geral, a nova lei de migração propõe a garantia de diversos direitos aos imigrantes, além de desburocratizar o processo de regulação migratória e institucionalizar os vistos humanitários. Apesar de a lei ter sido alvo de diversas críticas dos setores conservadores, segundo Guerra (2017) ela representou avanços no sentido de promover a acolhida humanitária, repudiar e previnir formas de discriminação e criminalização do migrante e de promover sua regularização documental e seus direitos. 2.3 ACESSO AOS DIREITOS SOCIAIS DOS IMIGRANTES

No que tange ao acesso dos imigrantes aos seus direitos sociais, com a promulgação da nova Lei de Migração a legislação passa a tratar não apenas de uma inserção laboral e produtiva do imigrante, mas também uma inclusão social. Dessa forma, ela estabelece um acesso igualitário dessa população a programas, serviços e benefícios sociais sem a necessidade de naturalização.

Contudo, é necessário pontuar os desafios postos na efetivação desse acesso. Ao problematizar as intervenções profissionais junto aos imigrantes nas políticas de seguridade social, Lanza, Faquin e Ribeiro (2018) apontam para algumas dificuldades relatadas por profissionais da rede socioassistencial. A primeira delas diz respeito à questão da comunicação, que consiste no principal instrumento para a ação profissional: os usuários imigrantes muitas vezes não possuem um domínio da língua portuguesa e os locais não contam com a presença profissionais intérpretes, tornando-se a maior dificuldade enfrentada pelos profissionais durante o atendimento.

Além da dificuldade da comunicação com o usuário, notou-se uma falta de clareza na compreensão do imigrante como sujeito dotado de particularidades e determinantes culturais

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por parte dos profissionais. Nesse sentido, Lanza, Faquin e Ribeiro (2018) destacam a necessidade de atentar-se à questão de um atendimento igual à usuários brasileiros e migrantes.

Consideramos que esse direcionamento ao invés de ampliar, dificulta o acesso, uma vez que essa população, por sua própria condição de imigrante, de não deter as mesmas trajetórias da população brasileira junto aos serviços, se depara com barreiras de origem.

Ou seja, além da questão da linguagem, [...] existe também a ausência de conhecimento acerca do funcionamento do sistema de proteção social brasileiro, dificuldades com a regularização de documentação e culturas distintas. Para essa população, é necessário que seja prestado um atendimento para além de universal: equânime. (LANZA; FAQUIN; RIBEIRO, 2018, p. 276)

Além da necessidade de um trabalho no sentido de capacitar os profissionais para o atendimento ao imigrante, aponta-se para a primordialidade da efetivação de políticas públicas para atendimento qualificado de suas demandas. Ao analisar a situação laboral dos refugiados na região sul do Brasil e suas políticas públicas, Boas e Santos (2018) apontam para a falta de políticas públicas ou Conselho especializado direcionados à questão migratória no estado de Santa Catarina. Assim, a abordagem das demandas da população migrante acaba sendo realizada pela sociedade civil, através de atores como o Grupo de Trabalho de Apoio a Imigrantes e Refugiados (GTI) da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Santa Catarina, o serviço da Pastoral do Migrante, o Grupo de Apoio a Imigrantes e Refugiados em Florianópolis e região (GAIRF) e o Centro de Referência de Atendimento ao Imigrante (CRAI) em Florianópolis.

Atuando nas áreas de Proteção, Integração, Serviço Social e Psicologia, o CRAI teve sua criação em 2016, através de um convênio firmado entre o Governo do Estado de Santa Catarina e a Ação Social Arquidiocesana. Contudo, a abertura do serviço efetivou-se apenas em 2018, devido à questões burocráticas. Além de operar com atrasos de repasses financeiros, o contrato firmado tem duração prevista de 24 meses de execução, que entrou em vigor no momento da assinatura do convênio, e não na data de abertura do serviço, causando um fechamento do serviço por dois dias em 2018. Frente a isso, realizou-se a assinatura de termo aditivo, causando clima de incerteza quanto ao seu funcionamento, pois este termo visa a manutenção do serviço apenas até setembro de 2019. Dessa forma, Frazão et al. (2018) destaca,

cabe ressaltar que a atuação da equipe profissional do CRAI-SC não é restrita ao espaço físico onde funciona o centro. Desde sua abertura, são realizadas capacitações, atendimentos externos e atividades que estão para além do exigido no contrato, mas são fundamentais para a qualificação da acolhida realizada aos migrantes no estado, uma vez que este trabalho só se consolidará se for realizado em rede. Desta forma,

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estar fechado por tempo indeterminado por conta de instabilidade econômico-política traz efeitos não apenas ao atendimento direto realizado, mas também às atividades de outras instituições que contam com o apoio do CRAI-SC.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar de ter representado um grande avanço na proteção e integração do sujeito imigrante, a nova Lei de Migração de 2017 por si só não garante uma efetiva acolhida e integração dessa população no país. Além da proteção no âmbito legislativo, é necessário apontar a necessidade de políticas públicas efetivas e qualificadas no atendimento de suas demandas, que sejam capazes inclusive de considerar as suas particularidades e suas diferenças culturais. Contudo, essa efetivação ainda coloca-se como um desafio a ser enfrentado: além da falta de serviços especializados em âmbito nacional.

Em Santa Catarina, é tido como fundamental o serviço prestado pelo Centro de Referência de Atendimento ao Imigrante, sendo necessário defender sua manutenção e expansão para outros municípios. Contudo, é importante pontuar a contradição com a falta de interesse por parte do poder público em sua manutenção, que pode ser percebida na previsão de seu funcionamento por um curto período de tempo e nas dificuldades que o serviço enfrenta.

Assim, através dessa breve revisão de literatura é possível perceber as novas particularidades do fenômeno migratório na contemporaneidade. Além disso, também permite traçar os desafios que ainda persistem no acolhimento do imigrante e na efetivação de seus direitos, sobretudo o seu acesso aos direitos sociais.

5.

REFERÊNCIAS

BOAS, Marina Silva Vilas; SANTOS, Rafael de Miranda. Novos Fluxos Migratórios no Brasil: Análise da situação dos trabalhadores refugiados na região sul do brasil e suas políticas públicas. In: ANNONI, Danielle (Coord.). Direito internacional dos refugiados e o Brasil. Curitiba: Gedai/ufpr, 2018. p. 212-228. Disponível em: < http://gedai.com.br/wp- content/uploads/2018/08/livro_%20Direito%20Internacional%20dos%20Refugiados%20e %20o%20Brasil.compressed-ilovepdf-compressed.pdf>. Acesso em: 07 maio 2019.

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D'OCO, L. V. M.; DIAS, Míriam T. G.. Direitos Humanos, migração e refúgio: Temas pertinentes para a profissão de Serviço Social. Emancipacao, [s.l.], v. 16, n. 1, p.23-44, 2016. Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). http://dx.doi.org/10.5212/emancipacao.v.16i1.0002. FERNANDES, Duval. O Brasil e a migração internacional no século XXI. In: PRADO, Erlan José Peixoto do; COELHO, Renata (Org.). Migrações e Trabalho: notas introdutórias. Brasília: Ministério Público do Trabalho, 2015. p. 19-39. Disponível em:

<https://mpt.mp.br/pgt/publicacoes/livros/migracoes-e-

trabalho/@@download/arquivo_pdf>. Acesso em: 07 maio 2019.

FRAZÃO, Samira Moratti et al. CRAI-SC enfrenta incertezas sobre funcionamento. Disponível em: <https://migramundo.com/crai-sc-enfrenta-incertezas-sobre-

funcionamento/?fbclid=IwAR386wqtPdoXo5BSUJok5ePkUSQwwxm7ZGmvIkVKbsUaIUfYAZD -Ts938EU>. Acesso em: 07 maio 2019.

GLOBAL MIGRATION DATA ANALYSIS CENTRE. Global migration indicators. Berlim: International Organization For Migration, 2018. Disponível em:

<https://publications.iom.int/books/global-migration-indicators-2018>. Acesso em: 08 maio 2019.

GUERRA, Sidney. A nova lei de migração no Brasil: avanços e melhorias no campo dos direitos humanos. Revista de Direito da Cidade, [s.l.], v. 9, n. 4, p.1717-1737, 23 out. 2017.

Universidade de Estado do Rio de Janeiro. http://dx.doi.org/10.12957/rdc.2017.28937. Organização Internacional para as Migrações (OIM). Migration Data Portal. Disponível em: <https://migrationdataportal.org/data?focus=profile&t=2017&cm49=76&i=stock_abs_>. Acesso em: 06 maio 2019.

LANZA, Líria Maria Bettiol; RIBEIRO, Paula Basilio Alves; FAQUIN, Evelyn Secco. Imigrantes nos territórios: problematizações sobre intervenções profissionais nas políticas de seguridade social. Revista Katálysis, [s.l.], v. 21, n. 2, p.271-280, maio 2018. FapUNIFESP (SciELO).

http://dx.doi.org/10.1590/1982-02592018v21n2p271.

Organização Internacional para as Migrações (OIM). WORLD MIGRATION REPORT 2018. Geneva: International Organization For Migration, 2018. Disponível em:

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PEROCCO, Fabio. PRECARIZACIÓN DEL TRABAJO Y NUEVAS DESIGUALDADES: el papel de la inmigración. Remhu, Rev. Interdiscip. Mobil. Hum., Brasília, v. 25, n. 49, p.79-94, abr. 2017. TAVARES, Maria Augusta. Imigração: expressão universal da questão social. In:

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<https://run.unl.pt/bitstream/10362/23124/1/IHC_Maria_Augusta_Tavares_Imigra_o._expre ss_o_universal_da_quest_o_social.pdf>. Acesso em: 08 maio 2019.

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PARTE 2

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