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O RACISMO INSTITUCIONAL NAS EXPERIÊNCIAS DOS (AS) ESTAGIÁRIOS (AS) EM SERVIÇO SOCIAL DA UFSC

I SEMINÁRIO DE INTEGRAÇÃO DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL 4 REFERÊNCIAS

O RACISMO INSTITUCIONAL NAS EXPERIÊNCIAS DOS (AS) ESTAGIÁRIOS (AS) EM SERVIÇO SOCIAL DA UFSC

Juan Chagas21

Gisllayne de Jesus 22

Palavras-Chave: Racismo Institucional, Estágio em Serviço Social, Formação profissional. 1. INTRODUÇÃO

Esse trabalho é resultado da pesquisa realizada pelos bolsistas do Programa de Educação Tutorial em Serviço Social da Universidade Federal de Santa Catarina, intitulada "O Racismo Institucional nas experiências de inserção de estagiários (as) nos campos de estágio Serviço Social da UFSC".

Foi realizado com o intuito de alertar mais a população sobre o funcionamento das instituições, bem como fomentar o debate acerca do racismo e das relações raciais predominantes, dentro dos espaços de formação e realização dos estágios obrigatórios e não obrigatório. Partindo do entendimento de que é “no interior das regras institucionais que os indivíduos se tornam sujeitos” (ALMEIDA, 2018, P.30) e, portanto, numa sociedade que lida com o desserviço de políticas públicas voltadas para a população negra brasileira inserida em espaços institucionais majoritariamente brancos. A pesquisa presente traz um tema pertinente em nossa sociedade, que é o racismo institucional, manifestado e pautado pela a exclusão de pessoas que compõem a maior parte da população brasileira, ocasionando em inúmeras expressões do racismo estrutural e estruturante da sociedade.

No primeiro momento, a pesquisa busca a construção do referencial bibliográfico dos conceitos envolvidos acerca do racismo institucional, racismo estrutural e supervisão de estágio. No segundo momento, foi realizado um grupo focal com os estudantes negros (as) do curso de Serviço Social, com o objetivo de apresentar as demandas a partir dos aspectos, informações e experiências dos próprios discentes.

21 Graduando, bolsista do Programa de Educação Tutorial de Serviço Social da Universidade Federal de Santa Catarina, e-mail

juansanchezchagas@gmail.com.

22 Graduanda, bolsista do Programa de Educação Tutorial de Serviço Social da Universidade Federal de Santa Catarina, e-mail

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2. DESENVOLVIMENTO

Seguindo a linha de pensamento em que as desigualdades sociais no Brasil decorrem, em grande medida, de discriminações raciais sistemáticas ou difusas com as quais os negros e negras (pretos/as e pardos/as) — conforme a definição de sujeito negro segundo o IBGE — são obrigados/as a permanecerem estáticos no tempo, sem avanços em diversas instâncias da vida, o conceito de Racismo institucional, como definido pelos ativistas integrantes do Panteras Negras, Stokely Carmichael e Charles Hamilton, “trata-se da falha coletiva de uma organização em prover um serviço apropriado e profissional às pessoas por causa de sua cor, cultura ou origem étnica” (1967). Essa falha se manifesta através de normas, pr|ticas e comportamentos discriminatórios adotados no cotidiano do trabalho, os quais são resultantes do preconceito racial, uma atitude que combina estereótipos racistas, falta de atenção e ignorância, colocando pessoas negras discriminadas em situação de desvantagem, no que se refere ao acesso a benefícios gerados pelo Estado e demais instituições e organizações (CRI, 2006).

Na busca por denunciar o conservadorismo presente na categoria, ocorre, nos anos 1960, o Movimento de Reconceituação do Serviço Social, com a revisão das dimensões teórico-metodológica, técnico-operativa e ético-política. A partir desse marco, a profissão assume uma postura crítica além do compromisso, com a defesa dos direitos da classe trabalhadora, respaldado pelo Projeto Ético-Político, Lei de Regulamentação da Profissão (Lei n°8662/1993), no Código de Ética do/a Assistente Social e nas Diretrizes Curriculares da Associação Brasileira de Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS). (CFESS, 2011)

Quando a profissão revê seu posicionamento político no Movimento de Reconceituação, ocorre também a revisão do processo de formação do Serviço Social, de modo a expressar as competências e atribuições demandadas nos espaços ocupacionais. Dessa forma, a formação profissional é entendida como processo dinâmico, historicamente determinado, vinculada aos agentes e suas condições históricas. De acordo com Vasconcelos (2009), faz-se necessária a articulação entre formação e contemporaneidade de maneira que a formação se vincule aos desafios profissionais, postos no exercício profissional.

É de acordo com o movimento histórico e sua conjuntura que determinado projeto ético-político é defendido pela categoria, direcionando suas ações e análises. Tal contexto

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histórico estabelece limites e possibilidades das condições e relação de trabalho das Assistentes Sociais. (VASCONCELOS, 2009)

Dessa forma, o estágio supervisionado em Serviço Social tem sua prática direcionada pela materialização dos valores éticos da profissão, e ocorre através da análise do cotidiano profissional. A supervisão é obrigatória e consiste em considerar o estágio um processo educacional e assim como os outros, é necessário o acompanhamento, planejamento e avaliação dos supervisores de campo e da academia. (ibid. 2009) O estágio supervisionado obrigatório é momento privilegiado na formação em Serviço Social, pois possibilita a inserção dos(as) discentes no campo de estágio e o acompanhamento do exercício profissional através da perspectiva de indissociabilidade entre teoria e prática.

Coloca-se como grande desafio, segundo Vasconcelos (2009), na realização do estágio, a percepção deste como processo educacional, sendo confundido com trabalho, e os estagiários(as) usados como mão de obra barata, decorrente da lógica capitalista de exploração e redução de custo. Da lógica de mercado e distanciamento da academia resulta uma análise fragmentada, que faz com que prevaleça no campo de estágio uma visão imediatista e burocrática que não contribui para a formação profissional.

A partir de um olhar interseccional sobre a realidade, compreende-se que o desafio de estudantes negras(os) na graduação em Serviço Social da UFSC perpassa a realidade das demais estudantes não-negras. Pois entende-se que a noção histórica e socialmente construída de raça permanece como elemento político a ser considerado no que tange à resposta de naturalização de desigualdades, além de justificar a segregação social e o genocídio da população não-branca no Brasil. Deste modo, entendendo que o racismo “é uma forma sistemática de discriminação que tem a raça como fundamento, e que se manifesta por meio de práticas conscientes e inconscientes que culminam em desvantagens ou privilégios para indivíduos, a depender do grupo racial ao qual pertençam.” (ALMEIDA, 2018, p.25)

E, para além deste conceito, aborda-se que, mesmo que haja relação entre racismo e preconceito racial, esses fatores se diferem. O preconceito racial passa a ser considerado o “juízo baseado em estereótipos acerca de indivíduos que pertençam a um determinado grupo racializado” (ALMEIDA, 2018, p.25), juízo este construído a partir da colonização dos brancos em solo africano. Enquanto a discriminaç~o racial, por sua vez, “é a atribuiç~o de tratamento diferenciado a membros de grupos racialmente identificados” que pode ser considerada discriminação direta e indireta. Neste trabalho, acerca dessas manifestações do racismo institucional nos processos seletivos em estágio supervisionado em Serviço social, acredita-se

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que a discriminação indireta passa a ser considerada um dos cernes da discussão, pois é um processo que vem a se manifestar através do desamparo, da marginalização e da exclusão de grupos socialmente referenciados como “minorit|rios” no país, além de n~o ser levada em consideração a existência de diferenças sociais e históricas significativas da população negra na sociedade. E, ao longo do tempo, a consequência dessas práticas discriminatórias (direta e indireta) levam { “estratificaç~o social”, na qual as chances de ascens~o social e de reconhecimento desses indivíduos passam a ser afetadas e, com isso, esses são condicionados/as a não ter muitas perspectivas em avançar na vida.

Visto isso, há o entendimento de que o racismo não acaba sendo definido apenas por um ato discriminatório individual (de pessoa a pessoa) e, muito menos, enquanto um conjunto de atos. Mas sim, estamos a falar de um “processo em que condições de subalternidade e de privilégio distribuído entre grupos raciais que se reproduzem nos }mbitos da política, da economia e das relações cotidianas” (ALMEIDA, 2018, p. 27). Sendo assim, o racismo é tratado enquanto um “funcionamento das instituições que passam a atuar em uma din}mica que confere desvantagens e privilégios a partir da raça” (ALMEIDA, 2018, p.29) e, por isso, bem como de acordo com os fatos históricos do Brasil, as instituições passam a ser hegemonicamente compostas por grupos raciais que, além de serem detentores do poder político no Brasil, utilizam mecanismos institucionais para impor seus interesses políticos e econômicos. O Código de Ética do Serviço Social de 1993, apesar de incorporar no seu texto o conceito de raça e indicar especificamente o quesito racial, posiciona-se contra qualquer tipo de discriminação e preconceito, englobando também o racismo como forma de opressão, de modo que entende-se o estágio enquanto um momento da formação em que o discente entra em contato com o exercício profissional direcionado pelo projeto Ético Político e Código de Ética. Sendo assim, a supervisão como processo educacional precisa estar alinhada aos valores da profissão em defesa dos direitos humanos.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Portanto, a defesa da luta anti-racista é essencial no combate das desigualdades produzidas pelo sistema capitalista, em defesa de uma forma de sociabilidade mais justa e igualitária, que é apontada pelo posicionamento ético e político da profissão, colocando-se como desafio para a categoria na formação e exercício profissional. (CFESS, 2016)

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A partir da compreensão do racismo como condição de opressão presente na realidade em todos os níveis sociais, instituições e organizações, de maneira estrutural e estruturante da sociedade de classes, constitui-se enquanto demanda presente intervenções do Serviço Social sobre a realidade e lacuna na formação profissional. O Serviço Social é chamado a pensar em novas maneiras de análise da realidade e luta de classe, incorporando ao debate as interseccionalidades existentes na realidade, abarcando assim a complexibilidade efetiva da vida humana e suas formas de organização.

Dessa forma, compreende-se que os campos de estágio do curso de Serviço Social não estão distantes da realidade presente na sociedade. Ao contrário, o racismo se expressa também nesses espaços, e por isso cabe às supervisoras de campo e acadêmica, ao Departamento do Curso e a Coordenação de Estágio, entre outros, atuarem sobre esse momento do processo de formação em Serviço Social, considerando seus diversos aspectos, e complexificando o debate sobre a qualificação do processo de estágio.

4. REFERÊNCIAS

CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Cartilha Estágio Supervisionado: meia formação não garante um direito. Brasília, CFESS, 2011. Disponível em:

http://www.cfess.org.br/arquivos/BROCHURACFESS_ESTAGIO-SUPERVISIONADO.pdf CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Série Assistente Social no combate ao preconceito: racismo. Brasília, CFESS, 2016. Disponível em:

http://www.cfess.org.br/arquivos/CFESS-Caderno03-Racismo-Site.pdf

VASCONCELOS, Iana. Dilemas e desafios do estágio curricular em serviço social. In: Revista Temporalis, ano IX, n. 17, jan/jul. Brasília: ABEPSS ,2009. (p. 61-81).

ALMEIDA, Silvio Luiz de. O que é racismo estrutural? Belo Horizonte: Letramento, 2018. CRI. Articulação para o Combate ao Racismo Institucional. Identificação e abordagem do racismo institucional. Brasília: CRI, 2006.

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