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I SEMINÁRIO DE INTEGRAÇÃO DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL A CONTRARREFORMA TRABALHISTA: PERCURSO ATÉ SUA APROVAÇÃO

Samantha Schütz 50

Palavras-Chave: Contrarreforma. Ideologia. Trabalho 1. INTRODUÇÃO

Este documento tem por objetivo relatar uma parte dos resultados adquiridos a partir das atividades desenvolvidas por Samantha Schütz na área de pesquisa de sua bolsa de iniciação científica. Tal, est| vinculada ao projeto de pesquisa “A Ontologia de Györgi Lukács e os Fundamentos do Serviço Social”, de autoria e sob orientação do Professor Doutor Ricardo Lara, do Departamento de Serviço Social, localizado no Centro de Socioeconômico (CSE), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

O resumo apresentado se insere no quadro de estudos sobre as relações de trabalho e a concepção teórico-filosófica marxista, sobretudo a partir dos estudos de Györgi Lukács (2012). Busca-se com ele contribuir para a análise da realidade social brasileira e o

entendimento a respeito das categorias teóricas marxistas

e lukascianas, analisando especificamente a relação entre o percurso histórico e ideológico da burguesia e estado que resultou na atual contrarreforma trabalhista, imposta pela classe dominante recentemente no Brasil.

Assim, foi delineado a ideologia que sustenta e acompanha a reforma, a ideologia da “modernizaç~o trabalhista”, fazendo uma an|lise sócio histórica do país, contudo com o foco na relação entre a burguesia industrial brasileira e o executivo do Estado, que diante dos processos que resultaram na nova Lei 13.467/2017, regem o atual mercado de trabalho no Brasil.

Este resumo teve como base metodológica a análise teórica-bibliográfica e documental, conduzindo o desenvolvimento das atividades considerando uma relação intrínseca entre: a bibliografia, formada pelos livros e artigos relevantes para o tema abordado, os documentos,

50 Graduanda do Curso de Serviço Social da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Bolsista de Iniciação Científica do

Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicação-CNPQ. Vinculada ao projeto de pesquisa “A Ontologia de Györgi Lukács e os Fundamentos do Serviço Social”, de autoria e sob orientação do Professor Doutor Ricardo Lara, do Departamento de Serviço Social. E-mail: samanthaschutz523@gmail.com.

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constituídos de relatórios, notas, tabelas estatísticas, projetos de lei, e a realidade sócio- histórica, onde se inserem o próprio pesquisador e seu objeto de estudo.

2. DESENVOLVIMENTO

Em sua produç~o teórica, principalmente na obra “A revoluç~o burguesa no Brasil”, o sociólogo Florestan Fernandes caracteriza a formação sócio-histórica brasileira como de capitalismo dependente, em que a economia do nosso país periférico se desenvolve com direta relaç~o de dependência { economia dos países centrais. No Brasil a “revoluç~o burguesa dentro da ordem” n~o rompeu com o latifúndio e a herança colonial e nem com a dominação externa imperialista. Conformou-se assim, uma sociedade de capitalismo dependente com um estado autocrático burguês, e uma formação marcadamente desigual, em que as classes trabalhadoras são fortemente exploradas e a classe dominante pouco cede na garantia de direitos sociais e possibilidades democráticas. (FERNANDES, 2005) Tal ciclo, claramente vêm se cumprindo até os dias de hoje, e em momentos de brechas políticas, como aconteceu com o choque recessivo51 brasileiro em 2014, o imperialismo externo utiliza dessa

para fortalecer sua soberania, “traçando” o caminho da naç~o.

Em confluência com Florestan, Plínio de Arruda Sampaio Jr. (2012), ao analisar os conflitos teórico-políticos nas concepções de desenvolvimentismo e neodesenvolvimentismo, aponta- se que a formação sócio histórica brasileira é caracterizada pela dupla articulação entre dependência externa e segregaç~o social. “A abstração dos condicionantes estruturais que determinam a forma específica de funcionamento da economia brasileira” (SAMPAIO, 2012, p. 682), um elemento constitutivo da noção neodesenvolvimentista, impede de observar, entre outros fenômenos, a marcante dominação do capital internacional sobre a economia brasileira e o processo de reversão neocolonial que continua a se operar. Como Marx desenvolveu em sua teoria sobre o processo de alienação no trabalho52, trata-se de uma alienação ideológica

intencional sobre a construção sócio histórica brasileira, com a finalidade de controlar essa e outras nações para que se sustente seu poder.

Tal processo, é visível nos movimentos que foram denominados de “mundializaç~o do capital”, “reestruturaç~o produtiva”, “neoliberalismo” — como conjunto de forças econômicas

51 Sobre os principais acontecimentos que levaram ao “choque recessivo” no Brasil e a maior recess~o econômica da sua

história. Ver Rossi e Mello (2017)

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e ideológicas — em contexto mundial, que forçaram mudanças necessárias para conter a crise e manter a reprodução ampliada do capital, e por conseguinte, alcançou e fez sentir os efeitos em diferentes nações e de maneiras particulares. O ideário neoliberal alçou voos nos anos de 1970 e teve como horizonte a retraç~o do Estado, as “reformas” (destruiç~o) dos direitos sociais, privatizações, ataques ao movimento sindical, a ressignificação do mercado financeiro, ou seja, medidas que tinham como finalidade a contenção das crises e a retomada da acumulação imperial capitalista. Os países que mais sentiram esse impacto foram os que passaram pelo processo de colonização, os de capitalismo dependente, que vivem na base de sustentação desse sistema. (ALVES, FERRER. 2018)

No Brasil, observa-se esse movimento com maior intensidade, posteriormente ao colapso econômico da década de 1990. Sob efeitos da “crise da dívida”, que o governo de Fernando Collor de Melo / Itamar Franco, e principalmente os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso, deixaram evidentes que suas ações notadamente eram direcionadas a alimentar o neoliberalismo, acolhendo as orientações do Banco Central e do Fundo Monetário Internacional, que foi direcionando o Brasil as privatizações e os estancamentos das conquistas sociais oriundas do final da década de 1980. (ALVES, FERRER. 2018)

Nos anos 2000, com a chegada do Partido dos Trabalhadores (PT) na presidência da república, o projeto de governo que ficou conhecido como “neodesenvolvimentista” foi implantado buscando o crescimento econômico do capitalismo brasileiro e a inclusão de uma agenda social que combatesse a pobreza e suas mais diversas expressões. Nesse contexto, foram desenvolvidas políticas sociais, creditícias e tecnológicas que potencializaram a economia nacional bem como o mercado externo brasileiro. A burguesia nacional novamente foi a mais favorecida nesse processo com os incentivos do Estado nacional, por conseguinte, ocorreu um abafo na miséria absoluta, com programas sociais pontuais e de cunho assistencialista implantados pelo governo.

Posterior aos mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva, foi a vez de Dilma Rousseff dar sequência ao projeto petista que apostava alto na burguesia nacional e oferecia simultaneamente um crescente acesso ao crédito à classe trabalhadora brasileira, que entre 2004 e 2014 consumiu serviços (financiamento de casa e carros, etc.) que anteriormente eram restritos às classes médias e altas da sociedade brasileira. Contudo, em 2015, o ide|rio “neodesenvolvimentista” apresentou sinais de esgotamento, a estagnação bateu na porta da economia brasileira. Somada a retração do crescimento econômico, emergiu-se a indignação de setores da sociedade brasileira, de extremo

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conservadorismo e ódio de classe, que pressionaram pelo parlamento e judiciário o processo que resultou no fim das propostas petistas com o golpe de 2016.

No âmbito econômico, já entre o terceiro trimestre de 2013 e o último trimestre de 2014 a economia brasileira já enfrentava um ciclo de desaceleração puxado pela queda na taxa de investimento, passando a apresentar patamares negativos a partir do segundo semestre de 2014. (ROSSI e MELLO, 2017, p. 02). A economia nacional entrou, portanto, em um desequilíbrio, resultado da queda na taxa de investimentos, somado as causalidades internacionais e sua constante dependência, e aos episódios institucionais/políticos, como a operação lava-jato, que colocaram de fato um cenário radical de instabilidade e incertezas econômicas e sociais.

Foi em 2015, que ocorreu a maior queda no PIB da nossa história, dentre uma acentuada crise política e econômica, acompanhada de anúncios de ajustes fiscais, resultou-se os cortes no orçamento da União e o crescimento do desemprego.

Em meio a esse embaraço econômico e político que o país se encontrava, com o agravamento da crise político-institucional, no dia 12 de maio de 2016, por denúncias de infrações políticas e crimes de responsabilidade fiscal, foi aberto o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Tal período, escancarou através de manifestações e posicionamentos, o antagonismo político na sociedade brasileira e a clara alienação ideológica de grupos de pessoas que apoiaram tal ação sem entender os impactos dela. Os julgamentos relacionados ao impeachment foram concluídos no dia 31 de agosto do mesmo ano, a presidente foi ilegitimamente afastada da presidência e sem provas verídicas desocupou o cargo de chefe-executiva, a partir disso, assumiu a responsabilidade do cargo da presidência seu vice, Michel Temer.

No dia 23 de dezembro de 2016, com o discurso de retomar o crescimento econômico, o então presidente Michel Temer envia ao Congresso Nacional a proposta do projeto de lei sobre a reforma trabalhista. Uma proposta abertamente em favor absoluto do setor industrial, ligada diretamente a Confederação Nacional da Indústria (CNI)53 que argumenta

explicitamente sobre a “rigidez” das leis trabalhistas e das necessidades de adequaç~o das leis

53 Mais informações sobre o posicionamento e a relação explícita entre as preposições ideológicas da CNI e a Reforma

Trabalhista brasileira, nos documento: “101 propostas para a modernizaç~o trabalhista no Brasil” e “Estudos sobre as relações de trabalho. Modernização trabalhista lei n° 13.467, de 13 de julho de 2017- panorama anterior e posterior à aprovação(atualizado com as modificações da MP 808/2017. Disponíveis em: http://www.portaldaindustria.com.br/publicacoes/2013/2/101-propostas-para-modernizacao-trabalhista/ e http://conexaotrabalho.portaldaindustria.com.br/media/publication/files/Modernizacao%20Trabalhista%20-

%20Panorama%20anterior%20e%20posterior%20a%20aprovacao%20- %20Atualizada%20com%20a%20MP%20808%20-%20WEB.pdf)

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a atual conjuntura do capitalismo mundial e sua acirrada competição. Para a burguesia industrial brasileira, a insegurança jurídica, a excessiva judicialização e os altos custos da força de trabalho não contribuem para o avanço da produtividade e competitividade da economia nacional.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

É interessante observar, que historicamente a legislação trabalhista sempre esteve em disputa no Brasil. A CLT promulgada em 1943, consolida uma legislaç~o sobre o trabalho “que caracterizou as promessas civilizatórias do projeto de industrialização nacional- desenvolvimentista na era Vargas” (ALVES, 2017). O percurso da legislaç~o trabalhista desde então, é basicamente a história do desmonte das garantias e avanços sociais que a CLT minimamente postulava. Um processo histórico que continua sendo marcado por disputas entre as classes sociais e que em momentos de inflexão, fixam demasiadamente o processo de desmonte da legislação do trabalho de maneira acirrada, fato que na atualidade está explicitado com a reforma trabalhista.

Foi no bojo dos processos de golpes políticos e institucionais que marcaram os anos entre 2014 e 2018, que a reforma trabalhista foi aprovada. No dia 13 de julho de 2017, sem debates abertos com os sindicatos dos trabalhadores e o conjunto da sociedade civil brasileira, aprovou-se a lei 13.467/2017que então, passou a vigorar no dia 11 de novembro do mesmo ano. O curto período de tramitação da lei no Congresso Nacional, oculta o grande objetivo da burguesia nacional que já desde os anos de 1990 tinha como prioridade as flexibilizações das relações de trabalho.

4. REFERÊNCIAS

ALVES, G. O Minotauro Brasilero: reforma trabalhista e desenvolvimento histórico do capitalismo no Brasil. Editorial Práxis, 2017. Disponível em: <http://editorapraxis.com.br/o- minotauro-brasileiro/>. Acesso em: 10 de ago. de 2018.

CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA. Estudos sobre as relações de

trabalho modernização trabalhista lei Nº 13.467, de 13 de julho de 2017- panorama anterior e posterior à aprovação -(atualizado com as modificações da mp

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FERNANDES, Florestan. A revolução burguesa no Brasil: ensaio de interpretação sociológica. 5ªed. São Paulo: Globo, 2005.

LUKÁCS, G. Para uma ontologia do ser social I. São Paulo: Boitempo, 2012. _______. Para uma ontologia do ser social II. São Paulo: Boitempo, 2013.

ROSSI, Pedro; MELLO, Guilherme. Economia brasileira em marcha ré: choque

contracionista e a maior crise da história . Campinas: Centro De Estudos de Conjuntura e Política Econômica- IE/UNICAMP Nota CECON n°1, 2017.

SAMPAIO J. P. A. Desenvolvimentismo e neodesenvolvimentismo: Tragédia e farsa. Serviço Social e Sociedade, São Paulo, n. 112, p. 672-688, out./dez. 2012.

FERRER, W. M. H., ALVES, G. Ordem social e a conciliação trabalhista no Brasil. Revista Jurídica Luso-Brasileira. [Lisboa], n.º5, p. 1-25, 2018.

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