• Nenhum resultado encontrado

POLÍTICAS SOCIAIS PARA POPULAÇÃO NEGRA: A DESCONSIDERAÇÃO DO NEGRO NA CONSTRUÇÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS

Questão étnico-racial e gênero

POLÍTICAS SOCIAIS PARA POPULAÇÃO NEGRA: A DESCONSIDERAÇÃO DO NEGRO NA CONSTRUÇÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS

Thanmyss Alves Goncalves19

Palavras-Chave: Política Social, Direitos Sociais, Questão étnico-racial 1. INTRODUÇÃO

A pesquisa foi desenvolvida como atividade de pesquisa do Programa de Educação Tutorial, com discussão central sobre as Políticas Sociais e sua materialização nas condições de reprodução social para a população negra. O objetivo do trabalho é refletir sobre o cenário em que foi constituída a primeira política social Eloy Chaves, de 1923, 35 anos após a abolição da escravatura, evidenciando que a população negra é intencionalmente a mais afetada.

Diante do atual contexto de ataques aos direitos sociais, apresentarei uma síntese sobre o surgimento da política social brasileira e os desafios para sua implementação e manutenção, articulando com as autoras SILVA (1995) e GENTIL (2006). Darei destaque ao movimento que levou à conquista do primeiro direito social, no campo da previdência social, a primeira categoria beneficiada, sem deixar de apontar o contexto sócio-histórico desse período.

Para contextualizar o lugar do negro nesse período, os estudos de Moura (1994) e de Almeida (2018) trazem uma análise crítica sobre qual local da sociedade é destinado ao negro no Brasil.

2. DESENVOLVIMENTO

Sobre o processo de desenvolvimento sócio-histórico, Moura (1994) aponta que, no final do século XIX, houve um desenvolvimento tecnológico, político e econômico nos países centrais, e aplicados aos países escravistas. O que o autor denomina escravismo tardio foi a modernização sem mudança, um progresso em outras partes da sua estrutura sem modificar as relações de produção. Nesse período, os investimentos econômicos voltados para a modernização tecnológica eram controlados pelo capital britânico, que atuava no Brasil na

19 Estudante do Curso de Serviço Social e bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET/SSO) da Universidade Federal de

[ ANAIS ]

I SEMINÁRIO DE INTEGRAÇÃO DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

área da navegação exportando e importando mercadorias cujos seguros da carga eram feitos na Inglaterra.

A abolição da escravatura foi feita para fomentar o trabalho livre, pois pessoas livres aceitariam qualquer trabalho informal, com baixos salários e riscos. A industrialização e urbanização aprofundou as desigualdades sociais, o que provocou uma pressão social nos trabalhadores que sofriam repressão da burguesia.

Com o resgate histórico desenvolvido por Silva (1995) e Gentil (2006), podemos observar que, de 1889 a 1930, o modelo econômico era exportador, da monocultura do café e dependente do capital internacional. A proteção social era destinada às categorias profissionais que atendiam os interesses do capital. Cabe destacar que nesse período a maior parcela da população vivia na área rural, na produção de café, e as grandes propriedades rurais pertenciam aos coronéis. Até a década de 1920, as leis valiam do ‘port~o para fora’ e quem comandava as propriedades rurais eram os coronéis. O Estado não intervinha nas relações entre patrão e empregado e as oligarquias escolhiam seus representantes:

A passagem da escravidão para o trabalho livre não afetou por isto os interesses dessas oligarquias, pois, aos perderem os escravos, muitos deles já onerosos por serem membros de um estoque envelhecido, continuaram com a posse da terra, símbolo econômico e social do poder. E essa tática apelou para uma solução alternativa que permitisse a essa oligarquia continuar com a posse da terra: a vinda dos imigrantes. (MOURA, 1994, P.58).

Na segunda metade do século XIX, a economia era de exportação do café, monocultura. As autoras BEHRING e BOSCHETTI (2011) destacam que, com a Revolução Industrial e a ascensão do capitalismo, surgiram as primeiras políticas sociais reconhecíveis, com luta de classes e o Estado entrando como interventor, reflexo da passagem do capitalismo concorrente para o monopolista e do fim da Segunda Guerra Mundial. As políticas sociais eram caracterizadas pela caridade, filantropia e estavam a serviço da classe dominante. Não havia legislação sistemática, o país era agrícola e exportador de café, o poder era controlado pela oligarquia rural e dominava o liberalismo, o Estado não intervinha nas relações de trabalho. A modernização e o desenvolvimento s~o projetos racistas e ‘se é possível um modelo desenvolvimentista sem o racismo, a história ainda n~o nos mostrou’. (ALMEIDA, 2018).

É nesse cenário de uma população majoritariamente negra, em condições de trabalho precárias, na informalidade e sem possibilidades materiais que garantissem desenvolvimento,

[ ANAIS ]

I SEMINÁRIO DE INTEGRAÇÃO DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

que surge em 1923 a Lei Eloy Chaves, a primeira lei de proteção social do país, entretanto, em caráter de seguro. Os beneficiários eram os ferroviários e, em 1926, eram os trabalhadores marítimos. As categorias beneficiadas podiam ter acesso a benefícios que o restante da população não contribuinte não tinha.

A lei era restrita e excludente. É importante destacar que os interesses eram econômicos, e as categorias cobertas pelas caixas de pensão estavam vinculadas ao interesse internacional.

[...] outras formas de investimentos econômicos ou de modernização tecnológica eram controlados pelo capital britânico. Quanto às estradas de ferro, elemento estratégico para o escoamento de nossos produtos, que eram embarcados no litoral para o exterior, podemos ver que os ingleses emprestavam, inicialmente, dinheiro às empresas nacionais em formação. (ALMEIDA, 2018, p.55).

O Estado não se entende como responsável por garantir as condições básicas para reprodução social da população negra. Pelo contrário, a exploração é contínua, os tributos pagos pela população são inversamente proporcionais ao que ela recebe pela venda da sua força de trabalho, e quem menos recebe são as mulheres negras. O cenário se perpetua, a grande parcela da população do Brasil não é contribuinte e é de baixa renda. Os que não contribuem para a seguridade social não serão cobertos pelo seguro e pela assistência social, pois não há programas destinados a essa população.

As políticas sociais não são capazes de acabar com as desigualdades sociais, pois são incapazes de agir nas estruturas de produção e reprodução. O acesso aos bens e serviços públicos de qualidade são possíveis se universalizadas as políticas sociais, fundadas no conhecimento objetivo do direito e do processo histórico da população mais afetada com as contradições do capital, para assim atender a população que foi marginalizada após a escravidão.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A população negra no decorrer da história é alvo de discriminações que se reverberam nas possibilidades que materializam a reprodução social dessa população. O lugar em que o negro se encontra é um projeto. A constituição das políticas sociais brasileiras comprova tal afirmação. De escravos a trabalhadores livres, sem perspectiva de mudança da sua realidade, pois as condições impostas a eles não são as mesmas impostas à população imigrante, afinal, a cor da pele é o que decide as condições de vida do sujeito.

[ ANAIS ]

I SEMINÁRIO DE INTEGRAÇÃO DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

Explica-se os baixos salários dos negros através do argumento do mérito, mas as possibilidades de alcance não são as mesmas. O Brasil instituiu os direitos sociais na década de 1930, mas não universalizou as políticas sociais e a cidadania, assim, não foi capaz de mudar uma estrutura de desigualdades econômicas e sociais.

Para Boschetti (2004), no que se refere à Seguridade Social brasileira, trazendo para o contexto atual, os que não contribuem para a Seguridade Social e a Previdência não serão protegidos e a Assistência Social não possui programas destinados a todos que necessitam. A seguridade social é extremamente condicionada e limitada pela condição do mercado de trabalho no Brasil, apenas a Saúde é universal.

A população negra continua sendo a mais afetada por todos os ataques de desmontes e contrarreformas atuais e, para os negros, sempre foi assim. As políticas sociais foram conquistas de luta, mas para a manutenção de uma ordem capitalista, não a título de uma reparação do massacre realizado contra essa população e falta de possibilidades que ela enfrenta.

4. REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Silvio. O que é racismo estrutural?. Belo Horizonte (MG): Letramento, 2018. BOSCHETTI, IVANETE. Seguridade Social e projeto ético-político do Serviço Social: que direitos para qual cidadania? Serviço Social & Sociedade, n. 79, ano XXV, 2004. p. 108-132. BEHRING, E. R. e BOSCHETTI, I. Capitalismo, liberalismo e origens da política social. In: Política social: fundamentos e história. 9 ed. São Paulo: Cortez, 2011, p.47-81. (Biblioteca básica do serviço social, vol. 2).

GENTIL, Denise Lobato. “ A trajetória do sistema de previdência social no Brasil” 2006. (p.96-126)

SILVA, Maria Lucia Lopes. Previdência social um direito conquistado: resgate histórico, quadro atual e propostas de mudanças. 1995 (p.17-60)

[ ANAIS ]

I SEMINÁRIO DE INTEGRAÇÃO DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

HISTÓRIAS, REGISTROS E ESCRITOS. NÃO É CONTO, NEM FÁBULA, LENDA OU MITO:

Outline

Documentos relacionados