• Nenhum resultado encontrado

I SEMINÁRIO DE INTEGRAÇÃO DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL A PREVALÊNCIA DO NEGOCIADO SOBRE O LEGISLADO:

MAIS PRECARIZAÇÃO E MENOS DIREITOS TRABALHISTAS

Anna Paula Weingartner 54

Amanda de Melo Troian 55

Jaime Hillesheim 56

Palavras-Chave: “Reforma” Trabalhista, Relações de Trabalho, Precarização do Trabalho.

1

.

INTRODUÇÃO

A presente produção acadêmica tem por objetivo socializar algumas reflexões iniciais relacionadas à pesquisa desenvolvida no âmbito do Programa Institucional de Iniciação Científica e Tecnológica (PIICTT), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A pesquisa mencionada tem como objeto a adoção do princípio da prevalência no negociado sobre o legislado no âmbito das relações entre capital e trabalho, no contexto catarinense, a partir da vigência da Lei n.º 13.467, de 13 de julho de 2017. Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa, envolvendo estudo bibliográfico e análise documental. Do ponto de vista empírico estão sendo analisadas as convenções e acordos coletivos de trabalho estabelecidos entre trabalhadores e empregadores de setores econômicos de empresas premiadas nacionalmente e consideradas entre as melhores para se trabalhar no Brasil. Também está sendo realizado um estudo sobre a produção intelectual publicada em períodos das áreas de direito do trabalho, economia política, sociologia do trabalho, saúde do trabalhador e serviço social, cuja qualificação junto à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) está entre os estratos A1, A2, B1 e B2. Além disso, constituem fontes de pesquisa notícias e publicações disponibilizadas no sites de organizações representativas do empresariado e dos trabalhadores que tenham como destaque o tema da pesquisa.

Aqui, em virtude das limitações objetivas, centraremos nossas reflexões nas questões relativas aos discursos sobre a necessidade da “reforma” trabalhista supracitada, tomando

54 Graduanda do curso de Serviço Social da Universidade Federal de Santa Catarina. Bolsista PIBIC. E-mail:

ap.weingartner@hotmail.com

55 Graduanda do curso de Serviço Social da Universidade Federal de Santa Catarina. Bolsista voluntária PIBIC. E-mail:

moreamandaa@gmail.com

[ ANAIS ]

I SEMINÁRIO DE INTEGRAÇÃO DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

como fonte privilegiada as notícias disponibilizadas nos instrumentos de comunicação utilizados por organizações representativas do empresariado nacional.

2. OS TRIBUTOS À “REFORMA” TRABALHISTA: A FALÁCIA CAPITALISTA REITERADA

No âmbito da política trabalhista, a programática da burguesia brasileira intentada há muitos anos finalmente avançou com a aprovaç~o da “reforma” laboral, por meio das Leis n.º 13.429, de 31 de março de 2017 – que alterou o conteúdo da Lei n.º 6.019, de 3 de janeiro de 1974 - e n.º 13.467, de 13 de julho de 2017, respectivamente. O “carro chefe” da contrarreforma trabalhista foi a defesa da prevalência do negociado sobre o legislado. Aliás, uma pauta que há muito tempo constava dos documentos emitidos pelas organizações empresariais, notadamente pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Todo o processo de supressão de direitos laborais não está dissociado dos movimentos mais gerais do sistema global do capitalismo, num contexto de crise estrutural nos termos usados por Mészáros (2002). E, neste sentido, a ofensiva sobre os direitos dos trabalhadores no tempo presente em todo o mundo é parte das estratégias de recomposição das taxas de lucro do capital, cujos impactos apresentam particularidades nos contextos das economias periféricas e dependentes (MARINI, 2000) como a do Brasil.

Assim, o projeto de pesquisa intitulado As novas bases legais das relações trabalhistas: um estudo de convenções e acordos coletivos de trabalho celebrados em Santa Catarina a partir de 2017 foi elaborado com vistas a identificar e analisar convenções e acordos coletivos de trabalho pactuados entre organizações sindicais de trabalhadores e de empregadores no contexto catarinense, tendo como referência o princípio da prevalência do negociado sobre o legislado ratificado com a aprovaç~o da mais recente “reforma” trabalhista.

Para que a essa mudança na legislação fosse assimilada pelo conjunto da sociedade e particularmente pelos trabalhadores mais afetados pelas novas normativas foi imprescindível a disseminação de um discurso que se apresentava como irrefutável em face da alegada necessidade urgente da “reforma” trabalhista. Com vistas a apreender os fundamentos dessa alegação, realizamos uma análise documental, especialmente, por meio de notícias e publicações veiculadas nos anos de 2017 e 2018 e disponibilizadas em sites de organizações empresariais. Dentre as organizações existentes foram selecionadas as seguintes: Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Confederação Nacional da Indústria

[ ANAIS ]

I SEMINÁRIO DE INTEGRAÇÃO DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

(CNI), Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Confederação Nacional das Instituições Financeiras (CNF), Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN) e, em âmbito estadual, a Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (FIESC).

Da análise do conteúdo do material selecionado constatamos que os fundamentos usados para a defesa da “reforma” por parte do empresariado - nacional e também catarinense - gravitavam, essencialmente, em torno das seguintes questões: modernização da legislação trabalhista brasileira, redução do número de litígios na justiça laboral, geração de empregos e maior liberdade de negociação entre patrões e empregados. Ainda que, aqui, não possamos estabelecer as conexões recíprocas entre as várias dimensões da realidade relacionadas às demandas do capital, é preciso salientar que no centro da sua ofensiva está o enfraquecimento das organizações dos trabalhadores, aspecto assinalado por Antunes (1995). Em relação ao primeiro aspecto, destaca-se que a legislação trabalhista em vigor até o momento da “reforma” era criticada pela sua “rigidez” e “atraso”. Comumente, os argumentos usados para confrontar o conteúdo da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) se pautavam na ideia de que a legislação trabalhista brasileira não acompanhou as grandes transformações do mundo produtivo e que impedia a adoção de novas formas de contratação da força de trabalho. Tal aspecto pode ser evidenciado nos trechos que seguem:

Na visão da CNI, modernizar e desburocratizar as relações do trabalho no

Brasil é urgente e necessário. É um caminho que contribuirá para a

retomada dos empregos. Apesar dos avanços da tecnologia e da evolução nas formas de se produzir, as leis trabalhistas do Brasil perderam o compasso. A

Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), publicada em 1943, representou importante avanço na proteção do trabalhador, mas se tornou obsoleta em diversos aspectos, sobretudo em relação ao trabalho moderno, realizado a distância e com rotinas flexíveis – incompatível com o

ultrapassado e obrigatório cartão de ponto (CNI, 2017, p.1, grifo nosso)57.

O que vimos ao longo do tempo é que a CLT contribuiu muito mais para os

conflitos do que a paz social, como previa o então presidente Getúlio Vargas.

No alvorecer do século XXI, não poderia se esperar outra coisa senão uma mudança na legislação trabalhista com harmonia (CNC, 2018, p. 1, grifo nosso)58.

A despolitizaç~o do debate sobre a “reforma” foi estimulada por meio do argumento do empresariado de que ela seria necessária para reduzir o número de ações que se avolumam na Justiça do Trabalho. Assim, uma discussão sobre direitos fundamentais foi transformada num instrumento para resolver problemas relacionados à administração do sistema de justiça

57 Disponível em: <https://noticias.portaldaindustria.com.br/noticias/leis-e-normas/aprovacao-da-modernizacao-

trabalhista-na-camara-e-avanco-para-as-relacoes-do-trabalho-no-brasil/>. Acesso em: 11 dez. 2018.

58 Disponível em: <http://sinconova.sicomercio.org.br/noticias/reforma-trabalhista-revaloriza-acordos-coletivos>. Acesso

[ ANAIS ]

I SEMINÁRIO DE INTEGRAÇÃO DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

trabalhista. Além disso, se intensificou o discurso de que os trabalhadores usavam o judiciário trabalhista irresponsavelmente, apenas para obter vantagens indevidas:

‘A nova legislação mostra, com clareza, que as aventuras jurídicas estão

sendo desestimuladas. A consequência da redução de conflitos é a maior segurança de contratar novos trabalhadores e de como contratá-lo, de

acordo com as novas modalidades que foram regulamentadas’, afirma Alexandre Furlan, presidente do Conselho de Relações do Trabalho da Confederação Nacional da Indústria (CNI) (CNI, 2018, p. 5, grifo nosso)59.

O processo de convencimento da população em geral foi estrategicamente direcionado no sentido de afirmar que a aprovaç~o da “reforma” trabalhista permitiria a criaç~o de novos empregos. Esse argumento foi amplamente difundido pela mídia e também nos documentos emitidos pelas organizações empresariais:

A modernização da legislação trabalhista é uma necessidade para manter e gerar novos empregos e torna-se ainda mais importante num momento de crise, como o atual, defendeu [...] o presidente da Federação das Indústrias

de Santa Catarina [...]. Durante audiência pública sobre a Reforma Trabalhista, na Câmara dos Deputados, a FIESC defendeu a valorização da negociação coletiva, o alinhamento da legislação à atual realidade e a redução dos litígios nas relações entre empregados e empregadores (CNI/FIESC, 2017, p. 1, grifo nosso)60.

A promessa de que com a aprovaç~o da “reforma” haveria criaç~o de novos empregos não tem se confirmado desde o advento da nova legislação. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2019), no primeiro trimestre de 2019 a taxa de desocupação foi de 12,5%. Esse percentual é 0,5% maior do que no trimestre imediatamente anterior e -0,4% em relação ao mesmo trimestre de 201861.

Um dos aspectos mais importantes da “reforma” diz respeito { prevalência do negociado sobre o legislado. E, nesse sentido, as organizações empresariais em seus documentos e meios de comunicação sempre fizeram questão de afirmar que esta era uma das alterações mais importantes da legislaç~o porque permitia colocar em “igualdade de condições” entre patrões e empregados para negociarem, a despeito da existência de normas laborais. Os trechos que seguem são emblemáticos nesse sentido:

Na avaliação da CNA, a partir do consenso entre representantes de

empregadores e trabalhadores, as convenções coletivas de trabalho devem ter força de lei e este seria um dos pontos mais importantes no

59 Disponível em: <http://www.portaldaindustria.com.br/cni/canais/mapa-estrategico-da-industria/reportagem-

especial/capitulo-10-nova-legislacao-trouxe-as-relacoes-do-trabalho-no-brasil-para-o-seculo-21-e-agora/>. Acesso em: 10 nov. 2018.

60 Disponível em: https://noticias.portaldaindustria.com.br/noticias/trabalho/fiesc-defende-reforma-trabalhista-para-

manter-e-gerar-empregos/>. Acesso em: 25 out. 2018.

61 Disponível em: <https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/trabalho/9171-pesquisa-nacional-por-amostra-de-

[ ANAIS ]

I SEMINÁRIO DE INTEGRAÇÃO DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

projeto em discussão para dar segurança jurídica nas relações trabalhistas

(CNA, 2017, p. 2, grifo nosso).

Ao se analisar o conjunto das alterações da legislação trabalhista realizada em 2017 observa-se que as demandas dos empregadores foram amplamente incorporadas. Por outro lado, a realidade tem mostrado que as perspectivas positivas relacionadas aos interesses dos trabalhadores não têm se confirmado. Indicadores mostram o aumento das formas de contratação precária da força de trabalho, bem como aumento das taxas de desemprego em todo o país.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A “reforma” trabalhista operada recentemente no Brasil faz parte de um movimento mundial do sistema global do capitalismo com vistas a criar mecanismos para enfrentar a queda tendencial das taxas de lucro. Sendo esse seu objetivo primeiro, todas as promessas patronais difundidas para garantir a sua aprovação e sua legitimidade perante à classe trabalhadora não têm quaisquer possibilidades de realização. Os dados sobre as taxas de desemprego divulgados (IBGE, 2019), por exemplo, mostram que a “reforma” trabalhista serviu para, em síntese, dar segurança jurídica aos empregadores para adotarem novas, mais flexíveis e mais precárias formas de contratação da força de trabalho. O que se chamou de “modernizaç~o” da legislaç~o trabalhista, efetivamente constituiu uma estratégia para suprimir direitos e facilitar os processos de contratação e dispensa da força de trabalho sem ônus adicionais ao capital.

4. REFERÊNCIAS

ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? ensaios sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. São Paulo: Cortez, 1995.

MARINI, Ruy Mauro. A dialética da dependência. Rio de Janeiro: Vozes; Buenos Aires: CLACSO, 2000.

[ ANAIS ]

I SEMINÁRIO DE INTEGRAÇÃO DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

Outline

Documentos relacionados