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I SEMINÁRIO DE INTEGRAÇÃO DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL EXERCÍCIO PROFISSIONAL DA ASSISTENTE SOCIAL NO

CONSELHO MUNICIPAL DE SAÚDE: UMA ANÁLISE INSTITUCIONAL DO CAMPO DE ESTÁGIO OBRIGATÓRIO EM SERVIÇO SOCIAL

Gisllayne de Jesus Palavras-Chave: Exercício profissional. Conselho de Saúde. Serviço Social.

1. INTRODUÇÃO

Esse trabalho é resultado da análise institucional realizada como parte avaliativa da disciplina de Análise Institucional em Serviço Social do Departamento de Serviço Social da Universidade Federal de Santa Catarina, referente ao estágio supervisionado obrigatório I, realizado no Conselho Municipal de Saúde de Florianópolis, feito em 2018/1. Propõe-se em privilegiar o debate sobre o exercício profissional da Assistente Social na Secretaria Executiva do Conselho, abordando suas atribuições e competências nesse campo de trabalho, além de indicar os principais desafios de atuação. Para isso foi propostas pela disciplina o levantamento de algumas informações sobre o campo de estágio e o Serviço Social neste contexto, sob a forma de um roteiro.

O Conselho Municipal de Saúde possui natureza jurídica pública e não governamental. Segundo o BRASIL (2015) o Conselho é parte integrante da Secretaria Municipal de Saúde, e possui caráter permanente, porque não há autoridade que possa extingui-lo; além de ser deliberativo. Sua legitimação ocorre através da promulgação da Lei n. 814/1090, que coloca a comunidade como participante na gestão do SUS (Sistema Único de Saúde), principalmente através dos Conselhos de Saúde, nos níveis federal, estadual e municipal, não estando subordinado ao governador, secretário ou prefeito. (BRASIL, 2015.)

As Secretarias Executivas dos Conselhos de Saúde a nível municipal são responsáveis pelas atividades administrativas e logísticas do Conselho, e presta suporte técnico para as atividades realizadas, bem como sua manutenção e organização, e devem assegurar autonomia para o Conselho.

A análise institucional consiste no estudo das relações sociais com foco nas instituições, entendendo esse como palco da luta de classes, e expressão das contradições do sistema capitalista, apontam além das determinações externas no que diz respeito a relações sociais, como também das relações internas representadas pelas práticas institucionais. (BISNETO, 2002.) Representa para o Serviço Social uma importante contribuição para as

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análises críticas das instituições a qual estão inseridas, em uma perspectiva de indissociabilidade entre teoria e prática.

Para Bisneto (2011) as instituições são palco de luta de classes, onde os agentes dos diferentes projetos sócio-políticos representam e defendem seus interesses sociais, além da luta para definir os objetos e fins das instituições. Essas instituições possuem caráter político, econômico e ideológico, podendo ser usadas para dominação de uma classe sobre a outra. 2. DESENVOLVIMENTO

As particularidades do trabalho da Assistente Social na Secretaria Executiva do Conselho Municipal de Saúde de Florianópolis são muito marcadas pelo entendimento desse espaço enquanto lugar de participação social, de modo que suas ações devem estar voltadas para possibilitar que o controle social ocorra se colocando em defesa do direito social de participação popular na construção das políticas públicas.

Há diferentes posições teóricas e políticas no debate sobre os conselhos de saúde e o “controle social”, a primeira baseia-se em Gramsci que considera o Estado e sociedade civil campos de disputa de classe e seus projetos societários; a segunda pauta-se na concepção de consenso de Habermas e dos neo-habermasianos que consideram os conselhos espaços de consensos, feitos através de pactuações; terceira é influenciada pela perspectiva estruturalista althusseriana do marxismo, que analisa o Estado enquanto instituição, e aparelho repressivo de dominação da burguesia; a quarta é representada pela tendência neoconservadora de política, que questiona a democracia participativa, considerando apenas a democracia representativa. (CORREIA, 2007)

Segundo Bravo (2012) desde os anos 90 o debate sobre os conselhos democráticos ocorrem sempre ressaltando a importância da articulação com os movimentos sociais, no que diz respeito os estudos e intervenções feitos pelo Serviço Social. A inserção das assistentes sociais nos conselhos democráticos como profissionais começa a partir dos anos 2000. Assim as assistentes sociais podem se inserir nos conselhos democráticos enquanto conselheiras, ou como profissionais dos novos espaços sócio-ocupacionais desenvolvendo ações de assessoria aos conselhos e/ou seus segmentos. Essas são chamadas a atuar como profissional que pode contribuir para a ampliação da participação social crítica democrática. Compreende-se que para a efetiva participação ocorra é necessário que os sujeitos sejam capacitados, no sentido de possuírem os aportes necessários para defesa dos direitos, que estejam nítidos os

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instrumentos que podem ser utilizados, visando o fortalecimento dos sujeitos na busca pela emancipação humana. (BRAVO, 2012)

O assistente social deve ser um socializador de informações, desvelando com competência técnico-política as questões, propostas, armadilhas que aparecem nos conselhos. Os usuários só poderão ter participação qualificada, interferindo nas políticas se tiverem os instrumentos de análise da realidade. Quanto mais qualificada a participação dos sujeitos e politicamente comprometida com a transparência, mais visibilidade terá o exercício do controle social e mais amplo será o espaço público. (BRAVO, 2012, p.6 apud GOMES 2000).

No entanto a assistente social trabalhadora do Conselho Municipal de Saúde de Florianópolis, não está inserida nesse espaço como profissional que presta assessoria para esse conselho ao para alguns dos seus segmentos, mas como secretária executiva. Bravo (2012) aponta que esse trabalho demanda grande reflexão, para ela a atuação pode se tornar meramente administrativa de suporte ao funcionamento do conselho. No que tange aos processos de trabalho, é caracterizado por ocupar o cargo profissional que não é atribuição privativa do Serviço Social, sendo assim o que diferencia sua atuação são as competências norteadas pelo Projeto Ético-Político e Código de Ética Profissional.

Segundo Paiva e Sales (1996) o Código de Ética busca delimitar os valores e compromissos éticos profissionais, além de estabelecer parâmetros jurídico-legais da atuação profissional. Assim esse se torna instrumento efetivo no processo de amadurecimento político aliado nas mobilizações e formação profissional. Além de se constituir em mecanismo de defesa da qualidade dos serviços, e instrumento legal de defesa do exercício profissional.

Ao entrar em debate as finalidades profissionais do Serviço Social, devemos elucidar quais são as atribuições privativas da profissão e as competências profissionais, a primeira refere-se às atribuições pertencentes às ações do Serviço Social, o qual somente a ele compete diferente das competências profissionais que pode ser assumida em qualquer categoria profissional. Tal diferenciação se confunde dentro das equipes e instituições, ao se afirmarem enquanto atribuições privativas de acordo com atuação por instituição e área de atuação. (CRESS, 2015)

Os autores destacam como principais ações que envolvem esta assessoria: a organização da documentação dos Conselhos; a organização de plenárias; a elaboração de cartilhas sobre controle social e política de saúde; a pesquisa de temas e realização de oficinas; a elaboração das atas de reuniões do conselho; a idealização de boletins informativos do Conselho; a elaboração de Planos com propostas de participação popular, que devem

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conter o diagnóstico da localidade e o plano propriamente dito; a realização de reuniões periódicas, que discutam previamente a pauta da reunião dos Conselhos; a pesquisa sobre a realidade; a realização de cursos de capacitação de conselheiros; o acompanhamento dos conselhos; a realização do perfil do conselheiro; e o incentivo à realização e participação no orçamento participativo. (BRAVO, 2012, p. 7)

Todas essas ações são realizadas pela Assistente Social dentro do Conselho Municipal de Saúde de Florianópolis, no seu exercício profissional e compõem seus processos de trabalho marcado pela autonomia relativa. A autonomia relativa é expressão da dificuldade da ação profissional se adequar às novas exigências de caráter gerencial das políticas públicas, e ainda assim realizar ações que visam à emancipação humana. Ocorre a intensificação de diretrizes, estruturas e metas geracionais na saúde, através da implantação de modelos privatistas como as Organizações Sociais e EBSERH. Se de um lado os movimentos sociais defendem processos democráticos da saúde, e ampliação das políticas sociais, por outro a ampliação da hegemonia neoliberal que busca a incorporação dos tipos de gestão privatista na saúde. Dessa forma os conselhos podem se tornar mecanismos de legitimação do poder dominante, fazendo cooptação dos movimentos, é nessa perspectiva que o controle social torna-se interessante às classes dominantes, sendo funcional para preservação do seu domínio. (BRAVO; CORREIA, 2012) De modo que as lutas políticas não ocorrem apenas na sociedade civil, mas na totalidade da estrutura e da formação social, em que ocorrem contradições de classe. Nesse sentido o controle social das classes subalternas sobre as ações do Estado, cria resistências à redução das políticas sociais, à privatização e mercantilização. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O exercício profissional da Assistente Social no conselho, nesse caso enquanto Secretária Executiva apresenta entre muitos desafios o atendimento das demandas institucionais de cobranças administrativas, que em muitos casos afasta a profissional Assistente Social das suas atribuições privativas. Nesse contexto identificar as contribuições que o Serviço Social pode oferecer ao Conselho Municipal de Saúde de Florianópolis, e realizar o exercício profissional direcionado pelo Projeto Ético Político, Código de Ética e Lei de Regulamentação da categoria, marca um posicionamento ético político alinhado a defesa dos direitos sociais e da cidadania.

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Nos parâmetros da ação profissional em saúde o CFESS (2010) aponta que a atuação no campo das mobilizações, participação e controle social é marcada pela correlação de forças, de modo que traçar alternativas para garantia do direito à saúde através da mobilização e participação popular encontra em constante contradição, torna-se definido por disputas de projetos societários e perspectivas de saúde, o que atribui ao conselho caráter de palco de lutas de classes.

De modo que a prática profissional está alinhada a determinadas leituras de realidade e metodologias de atuação dessas profissionais, ocorre de modo indissociável entre teoria e prática. Nesse sentido ressalta-se a importância de repensar a realidade existente de maneira crítica, mas buscando encaminhamentos, propostas e soluções aos problemas estruturais, sociais, políticos e econômicos nos espaços de atuação profissionais, através do fortalecimento dos instrumentais usados pelo Serviço Social no seu exercício profissional. 4. REFERÊNCIAS

BRAVO, Maria Inês Souza et al. O trabalho do assistente social nas instâncias públicas de controle democrático no Brasil. In: SEMINÁRIO LATINOAMERICANO DE ESCUELA DE TRABAJO SOCIAL, La Plata, 2012. p. 1 - 8.

______. CORREIA, Maria Valéria Costa. Desafios do controle social na atualidade. Revista Serviço Social e Sociedade. São Paulo, n.109, 2012, p.126-150.

BISNETO, A análise institucional no processo de renovação do Serviço Social no Brasil. 2002. Parte IV, Cap. 2, p. 291-328.In: VASCONCELOS, Eduardo Mourão (Org.). Saúde mental e Serviço Social: o desafio da subjetividade e da interdisciplinaridade. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2002.

BRASIL, Tribunal de Contas da et al (Org.). Orientações para conselheiros de saúde. 2. ed. Brasília: Secretaria- Geral da Presidência, 2015. 110 p

CFESS (Brasil). Conselho Federal de Serviço Social. Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na Política de Saúde. Brasília: Cfess, 2010.

CRESS. Assistente Social profissional de luta, profissional presente!: Maio, mês do/a Assistente Social!. Serviço Social é Notícia: informativo anual. Brasília, p. 4-5. maio 2015. PAIVA, B. A.; SALES, M. A. A nova ética profissional: práxis e princípios. In: BONETTI, D. A. et al. Serviço Social e ética: convite a uma nova práxis. São Paulo: Cortez/CFESS, 1996, p.174-208.

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