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I SEMINÁRIO DE INTEGRAÇÃO DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL PROJETO FALADEIRAS:

UM PROJETO DE EXTENSÃO FEMINISTA NO SERVIÇO SOCIAL

Débora Zanghelini 30

Cynthia Ribeiro 31

Maria Cecília Olivio 32

Palavras-Chave: Extensão. Violência contra as mulheres. Rede de atendimento. 1. INTRODUÇÃO

A extensão universitária se consolida como modalidade acadêmica que compõe o tripé ensino, pesquisa e extensão com o objetivo de consolidar a necessária função social da Universidade. Conforme determinam as Diretrizes da Extensão na Educação Superior, a extens~o deve promover “interaç~o transformadora entre as instituições de ensino superior e os outros setores da sociedade, por meio da produção e da aplicação do conhecimento, em articulaç~o permanente com o ensino e a pesquisa” (BRASIL, 2018, p. 2). Dessa forma, entende-se que a extensão materializa essa função, posto que deve desenvolver ações voltadas à comunidade e ao conhecimento a serviço da sociedade e de suas demandas.

As mulheres são a parcela da população que vive mais extensiva e intensivamente os territórios, tanto pelo viés da atenção e das demandas para as políticas sociais públicas como pelo da insegurança, o que atinge majoritariamente as comunidades populares e/ou periféricas (BARROSO, 2018). São também elas que vivem diariamente situações de violência marcada pelo machismo que se materializa de diversas formas. Assim, tornam-se mais expostas no atual contexto de regressão de direitos. Da violência doméstica, que repercute física e psicologicamente, à violência institucional — como o acesso às políticas sociais públicas, o direito à cidade, à segurança, ao transporte, entre outros —, as mulheres são atingidas de forma majoritária. Alia-se aqui o contexto sócio-histórico patriarcal que naturaliza a opressão e exploração contra as mulheres (SAFFIOTI, 2009) e dificulta não só o atendimento de forma integral as mulheres, mas o próprio reconhecimento de o quanto essa realidade deve ser enfrentada com políticas públicas específicas.

30 Graduanda em Serviço Social, Universidade Federal de Santa Catarina, dzanghelini@gmail.com 31 Graduanda em Serviço Social, Universidade Federal de Santa Catarina, cynthiaserviçosocial@gmail.com

32 Doutoranda no programa de Pós Graduação em Serviço Social, Universidade Federal de Santa Catarina,

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Em que pese o avanço na instituição de marcos legais que identificam essa particularidade e efetivam políticas, resultado dos esforços do movimento feminista nas últimas décadas, como é o caso da Lei nº 11.340/2006, conhecida como Maria da Penha (BRASIL, 2006), identifica-se o aumento das violências (BRASIL, 2016) contra as mulheres e a ainda incipiente visibilidade sobre o tema. Dessa forma, o atendimento às situações de violência é uma demanda frequente nas unidades públicas, em especial nos centros de saúde, nas escolas e na assistência social. Para dar conta dessa problemática, são condições básicas: qualificação das e dos agentes, identificação dos contextos de violência e outras violações de direitos e ter amparo de uma rede a partir das especificidades das demandas.

Coloca-se a necessidade e a importância, portanto, de construir um projeto de extensão que dialogue com as demandas da sociedade, em especial as das mulheres, por meio de espaços de fortalecimento e socialização das informações em um trabalho realizado junto às mulheres, que viesse debater o direito à cidade e as violências contra a mulher, numa perspectiva feminista.

2. DESENVOLVIMENTO

O projeto Faladeiras, vinculado ao Núcleo de Estudos sobre Serviço Social e Organização Popular do Departamento de Serviço Social — NESSOP/UFSC, teve início em 2017.2, com um grupo com mulheres atendidas pelo Centro de Referência de Assistência Social, Rio Tavares (CRAS). Ao final do semestre, foi avaliado que, tendo em vista a especificidade do CRAS e os objetivos traçados no projeto de extensão, haveria a necessidade de reconfiguração deste. Sendo assim, em 2018, foi elaborado um curso junto às mulheres moradoras do sul da ilha de Florianópolis, lideranças em Associações de Moradores, Centros de Saúde, Coletivos, Cooperativas e outros núcleos de bairros da região sul. O planejamento dos temas formativos se efetivou a partir das demandas das mulheres, apresentadas em um primeiro encontro, entre as quais destacam-se o tema das violências contra as mulheres, da educação, dos direitos das mulheres e do feminismo.

Por meio de um processo de construção baseado em conhecimentos teóricos aliados ao saber erudito de todas as participantes, o projeto objetivava informar, debater e capacitar as mulheres participantes como multiplicadoras de informações e formadoras de opinião, em encontros quinzenais no bairro Morro das Pedras. Os encontros foram realizados em parceria

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com o CRAS Rio Tavares, com o Coletivo Feminista Maria da Penha e com outras convidadas. No entanto, por força da própria experiência e avaliação, a maior participação e a mais assídua foi constituída por agentes públicas e sociais que atendem, no cotidiano de suas entidades públicas e privadas, mulheres que vivem em contextos de violência em suas diversas formas, e se veem sem respaldo, tanto institucional como de conteúdo, para lidar de maneira integral com as demandas.

Dessa forma, com base na experiência e avaliação coletiva entre as participantes, realizada ao final do curso, fez-se a opção em direcionar sua continuidade em 2019 para a qualificação de agentes públicos e comunitários que estão diante de demandas junto às mulheres vítimas de violência, o que exige formação específica para atender situações em torno da própria violência doméstica, de direitos sexuais e reprodutivos e de direitos sociais. A partir disso, foi elaborado um Curso de Formação para o atendimento às mulheres vítimas de violência, ainda com foco em profissionais e lideranças comunitárias do sul da ilha de Florianópolis.

Nessa nova configuração, a realização dos encontros, em formato de oficinas, foi definida como quinzenal, separada em três módulos: I- aspectos teóricos, políticos e históricos da violência contra mulher; II- aspectos técnico operativos e ético político dos atendimentos; e III- a violência contra a mulher e a rede de atendimento em Florianópolis.

Nos encontros, busca-se privilegiar a produção democrática de conhecimento com as mulheres, a partir da contextualização e leitura que fazem do significado e da importância de se organizarem por seus direitos, bem como das experiências profissionais no atendimento às mulheres em situações de violência. Assim, o projeto Faladeiras objetiva contribuir com a formação pedagogicamente coletiva e participativa que possa qualificar as/os agentes que atuam na ponta das políticas sociais públicas e as entidades comunitárias que se identifiquem com a proposta. A troca de conhecimento evidencia-se como uma importante ferramenta que potencializa a construção de novas compreensões e estratégias de atuação, como forma de se reproduzirem práticas igualmente coletivas e democráticas, tão fundamentais ao desenvolvimento de uma sociedade pautada nos compromissos ético-políticos — como a igualdade, a liberdade, o pluralismo, a justiça — em direção à emancipação humana (BRASIL, 2012).

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