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INCLUSÃO DIGITAL: SOLUÇÃO OU ENTRAVE NA VIDA DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA?

ACESSIBILIDADE E INCLUSÃO DIGITAL: Expressão de Cidadania e Dignidade da Pessoa com Deficiência

2- INCLUSÃO DIGITAL: SOLUÇÃO OU ENTRAVE NA VIDA DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA?

A inclusão digital é um dos maiores objetivos do Brasil, visto que, apesar dos avanços das TICs, uma grande parcela da sociedade brasileira ainda não tem acesso a tais tecnologias. No entanto, o Estatuto da Pessoa com Deficiência (EPD – lei 13.146/2015) e a Lei do Marco Civil da Internet (MCI –12. 965/2014) trouxeram à tona a necessidade de efetividade desses sistemas na vida da pessoa com deficiência. Tal discussão foi gerada devido a grande dificuldade que as PCD possuem para o acesso, visto que a complexidade dos sistemas de comunicação acaba transformando algo que deveria ser uma solução em um verdadeiro entrave na vida dessas pessoas, ou seja, muitas vezes, mais um fator exclusivo do que inclusivo. Nesse contexto, PASSERINO e MONTARDO (2012, p.3) apontam:

A inclusão proposta nos documentos oficiais parte de um “convite” e não de uma verdadeira intenção de inclusão. Um convite requer a movimentação dos excluídos, mas parece não exigir a contrapartida dos já incluídos para se adaptar ou criar condições necessárias para que esses historicamente excluídos não voltem a essa situação.

Diante disso, é preciso compreender que a inclusão digital deve apresentar um fator transformador na vida diária das pessoas com deficiência possibilitando que se comuniquem, trabalhem e estudem de maneira comum sem mais barreiras e intercorrências em seu cotidiano. Observa-se assim que quanto mais se fala em inclusão mais deve ser ampliado o conceito de acessibilidade, é necessário haver flexibilidade, ampliar o rol de possibilidades. Destarte, é inegável que inclusão e acessibilidade são duas linhas paralelas. Logo, não é possível que exista um grande número de pessoas envolvidas com as TICs se ainda não foram pensadas formas de adaptação e assistências para essas pessoas. Assim, aduz PASSERINO e MONTARDO (2012, p.13)

Por vezes, os conceitos de acessibilidade e usabilidade se confundem. Enquanto a usabilidade volta-se mais para as expectativas e para a capacidade do usuário em entender e perceber as estratégias de utilização do software, a acessibilidade está voltada para as condições de uso, como o usuário se apresenta frente às interfaces interativas, como essa troca deve acontecer, e,

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principalmente, como se dará o acesso do usuário às informações disponíveis.

Como se vê, mesmo que a inclusão social das PCD seja um debate que se arrasta há anos e, com certeza, nunca terá fim, as novas ramificações que surgem em cada período faz com que seja necessária uma nova construção relacional entre a PCD e o meio em que vive, para que todos possam compreender a razão da existência e necessidade de efetivação desses serviços. Na sociedade da informação, a acessibilidade ao conhecimento digital permite ao incluído digital maximizar o tempo e suas potencialidades (SANTOS, PEQUENO, 2011, p. 79). Dessa forma, é importante considerar as diversas oportunidades de crescimento e independência que a inclusão digital pode ocasionar.

De uma forma geral, é inegável que as pessoas com deficiência podem contribuir para grandes avanços sociais e econômicos no país. Assim, investir em aperfeiçoamento tecnológico é muito mais que ocasionar visibilidade a essas pessoas, é descortinar suas potencialidades, trazê-las à tona, gerar confronto pessoal e fazer com que suas habilidades tragam resultados positivos para essas pessoas e para todo o entorno. Em suma, não vale apenas superar o conceito de incapacidade na vida das PCD no campo teórico, mas oportunizar o exercício da prática a fim de que as pessoas venham acrescentar e não serem mantidas sempre como indivíduos sem utilidades.

3-TECNOLOGIA ASSISTIVA: AUXÍLIO PARA A INCLUSÃO DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

O avanço científico assegurou que as pessoas com deficiência pudessem ter uma vida com menores limitações, podendo exercer as atividades comuns do dia a dia e, assim, diminuiu a necessidade das PCD serem sempre auxiliadas por uma terceira pessoa. Ou seja, os “inexistentes” passaram a caminhar independentes. Entretanto, os impedimentos ainda são muitos, e, na maioria das vezes, o acesso à internet e a seus programas são um dos maiores inimigos da PCD, devido às complexidades que apresentam e, consequentemente, a acessibilidade limitada. Dessa forma, o Brasil tem pensado em formas de auxílio mais eficazes e foi através da Portaria n° 142, de 16 de novembro de 2006, no Comite de Ajudas Técnicas, que surgiu o conceito da chamada Tecnologia Assistiva que, de acordo com HAZARD, GALVÃO FILHO e REZENDE (2007, p. 29) é:

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[...] tecnologia assistiva é toda e qualquer ferramenta, recurso ou estratégia e processo desenvolvido e utilizado com a finalidade de proporcionar maior independência e autonomia à pessoa com de ficiência. São considerados como tecnologia assistiva, portanto, desde artefatos simples, como uma colher adaptada ou um lápis com uma empunhadura mais grossa para facilitar a preensão, até sofisticados programas especiais de computador que visam à acessibilidade.

A Tecnologia Assistiva tem a função precípua de ser uma forma de crédito subsidiado para aquisição de bens e serviços de TA destinados às pessoas com deficiência e sobre o rol dos bens e serviços (BERSCH, 2017, p. 5). É importante observar que os serviços e recursos devem abranger qualquer tipo de deficiência e suas especificações. Logo, é necessário ter uma visão crítica e sensível em relação ao assunto, uma vez que, mesmo que exista um rol de possibilidades, outras dificuldades podem ser descobertas ao longo dos anos. Isso significa que a utilização de determinada TA poderá levar a descobertas que evidenciaram a necessidade de planejamento de uma nova TA. Nesse contexto, as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), são meios seguros e modernos de aplicação das TAs.

Nota-se que as TICs podem auxiliar no sistema de comunicação, controle do ambiente, ferramenta ou ambiente de aprendizagem, assim como meio de inserção no mercado de trabalho (HAZARD, GALVÃO FILHO e REZENDE, 2007, p. 31). É inegável que todas essas áreas são extremamente importantes, no entanto, deve-se considerar que o ser humano constitui suas bases de relacionamento, aprendizado e independência através da comunicação. Sendo assim, observa-se que a comunicação é o passo que levará a todos os outros, visto que essas pessoas se consideraram aceitas em suas comunidades e, consequentemente, livres para prestar suas opiniões, estabelecer vínculos e saírem para fora do casulo.

Diante disso, observa-se a importância das adaptações realizadas pela TA, inclusive as que dizem respeito as Tecnologias da Informação e Comunicação, são as adaptações hardware e softwares. O primeiro corresponde à adaptações físicas no computador, na área externa. O segundo, por sua vez, são os componentes lógicos das TICs quando construídos como tecnologia assistiva, ou seja, são os programas especiais de computador que possibilitam ou facilitam a interação da pessoa com deficiência com a máquina (HAZARD, GALVÃO FILHO e REZENDE, 2007, p. 33). Entende-se que tais adaptações possuem um alto custo financeiro e, por isso, muitas vezes, procura-se ao máximo aproveitar os recursos do próprio equipamento. Em relação ao exposto aduz HAZARD, GALVÃO FILHO e REZENDE (2007, p. 41):

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Alguns dos recursos mais úteis e mais facilmente disponíveis, mas muitas vezes ainda desconhecidos, são as “opções de acessibilidade” que já acompanham os sistemas operacionais. Por meio desses recursos, diversas modificações podem ser feitas nas configurações do computador, adaptando- o a diferentes necessidades dos alunos. Por exemplo, uma pessoa que, por dificuldades de coordenação motora, não consegue utilizar o mouse, mas pode digitar no teclado- o que ocorre com muita frequência – tem a possibilidade de solucionar seu problema ao configurar o computador, por intermédio das Opções de Acessibilidade do Windows, para que a parte numérica à direita do teclado realize todos os mesmos comandos realizados pelo mouse. Além do mouse, outras configurações podem ser feitas, como a das “teclas de aderência”, a opção de “alto-contraste na tela” para pessoas com baixa visão, e outras opções.

Em síntese, é possível perceber que a sociedade pode ser cada dia mais inclusiva se os meios forem utilizados para um bem comum, visto que a cada dia surgem inovações que não são dirigidas a um grupo específico de pessoas. Assim, trazer as questões relacionadas à inclusão digital para uma discussão e para experimentos empíricos é extremamente importante. Não menos importante que isso, é a participação das pessoas com deficiência nesse processo, visto que o ser humano expressa vontades. Logo, ter autonomia para fazer escolhas e decidir sobre processos de crescimento que dizem respeito a si mesmas é muito mais do que mostrar a realidade de suas deficiências para a sociedade, como já foi dito, é fazer parte do meio social em que vive. Em relação a isso expõe HAZARD, GALVÃO FILHO e REZENDE (2007, p. 48):

(…) fica claro que o uso de todas essas possibilidades e recursos da tecnologia assistiva representa acesso ao enorme potencial de desenvolvimento e aprendizagem de pessoas com diferentes tipos de deficiência – o que muitas vezes não é tão transparente e tão facilmente perceptível nas interações corriqueiras do dia a dia na ausência desses recursos. Disponibilizar para essas pessoas novos recursos de acessibilidade, novos ambientes, na verdade, uma “nova sociedade” que as inclua em seus projetos e possibilidades, não significa apenas propiciar o crescimento e a autorrealização das pessoas com deficiências, mas, principalmente, é possibilitar para essa sociedade crescer, expandir-se, humanizar-se por meio das riquezas de maior e mais harmonioso convívio com as diferenças.