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INFLUÊNCIA DA EQUIPE ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA NO CUIDADO EM

4. INTERPRETAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

4.4 INFLUÊNCIA DA EQUIPE ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA NO CUIDADO EM

A ESF apresenta diretrizes que visam a aproximação dos usuários com os serviços de saúde, e visa estimular a co-responsabilização no cuidado. Machado, Vieira e Silva (2010) apontam que, a partir da implantação da Estratégia Saúde da Família, novos comportamentos dos usuários foram identificados, na maneira de cuidar de si, de cuidar da família e do meio onde vivem. Neste capítulo será analisado como a equipe Saúde da Família tem influenciado no cuidado da saúde das participantes.

4.4.1 Influência da equipe Saúde da Família no cuidado

No quadro 20 são apresentadas concepções das entrevistadas acerca do modo como a equipe influencia o cuidado em saúde.

Categoria Subcategorias Fala das entrevistadas Oc.

Influência da equipe no cuidado em saúde Incentiva o cuidado

“Muda. É assim, através delas né a gente fica... como é que eu digo... mais contente né, mais a vontade pra se cuidar, pra manter a linha de fazer a coisa certa, assim... sobre a saúde né. Muda muito.” (Pérola)

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Traz ânimo “Porque assim ó, se tu tem problema na saúde, você

precisa de ajuda. Então você chega lá, tu é bem atendida, já marca o exame, isso já te anima! “Putz, agora consegui esse, vou correr atrás de outro”. Aquilo ali vai criando um vínculo de amizade, tu vai pegando um amor e carinho pelas pessoas, né...” (Rubi)

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Presença da ACS “Eu acho que sim, no modo de ter uma agente né é

sim, facilita bastante. Muita coisa que a gente não tinha coragem de chegar lá e pedir, por exemplo né, ou as vezes por dificuldade de ir lá também, facilita muito” (Esmeralda) 4 1 Conduz para melhor forma de acessar os serviços

“Conversando... quinem com a S4, as vezes a gente conversa né, ela dá “não, tem que fazer assim né” É,

tem um papel fundamental né... (Jade) 1

Equipe não exerce influência

“Olha, eu acho que elas não tem influencia nenhuma no modo que eu penso a minha saúde... influência a gente tem mais é em casa, com a família, no dia-a-dia.. quando eu venho aqui, que eu vejo que tem muita gente, que a gente pensa que tá mal e vê um monte de gente que tá pior, isso influencia um pouco, mas não a equipe e sim as pessoas que estão vindo aqui precisando..” (Àgata)

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Quadro 20- Influência da equipe Saúde da Família no cuidado. Fonte: Elaboração da autora, 2011

Na fala das entrevistadas, foi possível detectar quatro formas de influência que a equipe de Saúde da Família pode exercer sobre a saúde dos usuários. O tipo de influência mais citado pelas participantes foi o “Incentivo ao cuidado”, com quatro menções. Machado, Vieira e Silva (2010) explicam que o contato dos usuários com os membros da equipe de saúde pode estimulá-los a uma maior participação nos serviços desenvolvidos pela ESF,

aproximando-os do contexto de saúde. Pode-se pensar que, na interação com os profissionais de saúde as usuárias, além de estarem mais próximas dos serviços disponíveis, sentem motivação para cuidar melhor da saúde.

Ainda quanto ao incentivo que as usuárias percebem ao cuidado, é possível pensar na lógica da co-responsabilização. As políticas de saúde visam também responsabilizar o usuário na gestão da saúde, tonando-o co-responsável no processo (BRASIL, 2004). A partir do momento em que a equipe mostra-se disponível para o cuidado e para a resolução de problemas em saúde, é possível que as usuárias também se percebam como responsáveis por suas condições, principalmente se estiverem negligenciando sua saúde. Quando a equipe demonstra responsabilização frente às necessidades do usuário, é como se, para a continuidade do tratamento de algum problema em aberto, dependesse agora da vontade própria do indivíduo, pois a equipe através do incentivo mostra-se aberta e disponível para prestar o auxílio necessário. Esta consideração fica evidente no trecho retirado da entrevista com Alexandrita: “A gente chega ali, eles falam. Até esses dias eu tive ali pra fazer um... eu

levei um papel né e falei que eu quase não podia sair né e tudo, mas eles “é, mas só porque teu esposo tá doente, mas tu também tem que se cuidar”, eles viram „as minha cor‟, por que eu tava um pouco abatida assim né, uma delas ainda falou “tu tem que fazer os exame, não pode, só porque ele ta lá na cama tu deixar de se cuidar, você vai ter que ficar forte pra cuidar dele”. Eu achei bonito ela falar isso. Foi importante isso pra senhora? Pra mim foi, que ela disse que eu tava com uma cor muito feia né, eu tava amarela. Por causa que a gente tem noite que pouco dorme, assim, uns dia ali ele andou meio abatido.. aí ela falou pra mim “tá na hora de fazer uns exame e se cuidar um pouco”. Eu achei legal ela vim me falar.”

A partir desta fala é possível perceber claramente a influência do profissional da equipe sobre o cuidado em saúde da usuária. Além de fazer com que a mesma atentasse para suas condições físicas, que estavam por ora comprometidas, também a fez sentir-se valorizada e importante para o profissional da equipe que lhe atende. A partir desta conversa com o membro da equipe, pode-se dizer que a usuária se sentiu responsabilizada por também cuidar da manutenção da sua saúde e ainda, estava consciente do apoio que teria dos profissionais para tomar todos os cuidados necessários.

De acordo com Simões e outros (2007) na Atenção Básica deve-se estimular o usuário a ser agente da sua própria saúde. Ao incentivar os usuários a buscarem alternativas para o cuidado, os profissionais estão colocando os usuários no papel de agentes ativos do cuidado à sua saúde. As autoras ainda pontuam que as políticas de saúde têm buscado transformar a cultura da população, na tentativa de que as pessoas se atentem para a

importância das práticas preventivas e para as que promovem saúde. Quando os usuários são incentivados a cuidarem da sua saúde, estão também aprendendo a desenvolver medidas preventivas contra os agravos e medidas de manutenção da saúde.

A Estratégia Saúde da Família enfatiza a importância de estabelecer ligação entre saúde e cuidado de saúde para que haja um rompimento com os enfoques biomédicos (PEREIRA; ALVES, 2004). À medida que se exerce um estímulo ao usuário para buscar a prática de cuidado com a saúde, diminui-se as possibilidades deste usuário procurar por auxílio apenas quando estiver em uma situação já emergente. Como foi o caso da Alexandrita que, se não tivesse recebido incentivo por parte do profissional, talvez só buscasse por serviços em saúde quando estivesse com um comprometimento acentuado. A partir do momento em que a usuária se atentou para sua saúde e atendeu a solicitação do profissional, agiu de modo preventivo e evitou o adoecimento. Pereira e Alves (2004) afirmam que a conexão entre saúde e cuidado na atenção primária é estabelecida como uma maneira de melhorar as condições de saúde dos usuários.

Quanto à categoria “Traz ânimo”, pode-se pensar que, partir do contato com os membros da equipe, os procedimentos a serem adotados para a resolução das questões de saúde, podem não parecer tão difícil de serem conquistados. Ao perceber o incentivo de um profissional, as usuárias percebem também um aliado na sua busca por melhores condições de saúde. Souza e outros (2008) dizem que o acesso, ou seja, o contato com os profissionais de saúde e a pré-disposição destes para a satisfação de necessidades, permite alcançar os serviços mais adequados, potencializando, deste modo, a possibilidade de melhores resultados. Ao trazer ânimo, equipe influencia então, de modo a fazer com que as usuárias sintam mais confiança no acesso aos serviços posteriores e com isso, alimentam o sentimento de esperança em ter a resolução dos problemas apresentados, conforme demonstrado na fala de Rubi: “Então você chega lá, tu é bem atendida, já marca o exame, isso já te anima! “Putz, agora consegui esse, vou correr atrás de outro”. Aquilo ali vai criando um vínculo de amizade, tu vai pegando um amor e carinho pelas pessoas, né.” (sic). Uma equipe comprometida em acompanhar o cuidado com a

saúde da população influencia de modo a gerar otimismo aos usuários na busca por melhores condições de saúde.

Os Agentes Comunitários de Saúde têm participação efetiva no processo de influência no cuidado, como é observado na categoria “Presença das ACS”. Seoane e Fortes (2009) apontam em sua pesquisa que os usuários possuem tendência a atrelar aos ACS a função de facilitar o acesso aos serviços.O fato de as ACS estarem em contato direto com os usuários, levando informações acerca das disponibilidades dos serviços de saúde, e ainda,

presenciando de perto as necessidades reais apresentadas pelos usuários, pode fazer com que busquem soluções para a resolução dos problemas. Pode-se pensar que, ainda que as usuárias se mostrem desmotivadas em procurar por auxílio, ao encontrar as ACS com informações que lhes trazem ajuda, pode haver um aumento de interesse em buscar por recursos que potencializem o cuidado.

A equipe de saúde também “Conduz para melhor forma de acesso aos serviços” através das orientações e encaminhamentos. Quando o usuário apresenta alguma dúvida ou apresenta certo desconhecimento para dar continuidade ao tratamento, ao ser acolhido e ter sua questão esclarecida, pode-se pensar em uma motivação em cuidar da saúde. À medida que a equipe se aproxima do cotidiano das pessoas, mais receptivos os usuários ficam para as ações propostas e para os serviços oferecidos. Outro aspecto a ser pensando é a maneira como o usuário se sente ao ser percebido pela equipe como alguém para o qual os membros direcionam preocupação e interesse. Certamente sente-se valorizado e motivado continuar com as medidas de cuidado sugeridas pela equipe de saúde. Duas entrevistadas apontaram que a equipe de saúde pela qual são atendidas não exerce nenhuma influência sobre o cuidado da saúde.

Torna-se evidente, por meio dos dados apresentados, que a ESF apresenta um potencial para modificar as práticas de cuidado em saúde da comunidade a qual está inserida. A partir do acompanhamento da equipe, os usuários podem se tornar mais confiantes na resolução de seus problemas e sentir-se motivados a prosseguir com as etapas de tratamento. Percebe-se também o aumento da prática preventiva que a equipe da saúde pode promover aos usuários, de modo que adotem ações que visem à proteção e manutenção da saúde.