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Serviços realizados pela equipe da ESF que são preferidos pelas usuárias

4. INTERPRETAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

4.1 CONTATO DAS USUÁRIAS COM A EQUIPE DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA

4.1.3 Serviços realizados pela equipe da ESF que são preferidos pelas usuárias

Foram pontuados como serviços prediletos pelas entrevistadas, sete tipos de ações diferentes realizadas pela equipe. Apenas uma usuária alegou não gostar de nenhum serviço executado no interior da Unidade Saúde da Família.

(Continua) Categorias Subcategorias Fala das entrevistas Oc.

Serviços preferidos pelas usuárias Rede pública de saúde em geral por ser gratuita

“mas particularmente eu prefiro, se eu.. óh, se eu pudesse.. hoje eu economizei uma grana vindo aqui, se eu fosse num particular ia pagar muito...” (Ágata)

1

Atendimento técnico

“Clínico geral mesmo né, que dali já é encaminhado os exames, que a gente fica muito contente, porque daí já vê o que ta acontecendo né... isso pra mim acho que é a cosa mais importante pra começar...” (Pérola)

6

Grupo de

Hipertensos

“eles ensinam muita coisa e a gente participa com outras pessoas que também têm problemas... é muito bom.” (Esmeralda p.1)

1

Informações prestadas

“muito bom, quando a gente tem alguma coisa assim, elas acabam informando a gente que a gente não sabe, muita coisa assim.” (Esmeralda)

1

Ajuda às

pessoas

“Elas têm força de vontade. Assim é.. como eu posso te dizer, elas tem vontade de ajudar o próximo, eu vejo isso nelas [...]daí assim ,eu gosto dessa boa vontade sabe, eu acho que elas têm boa vontade, de ajudar, de resolver.” (Safira)

4

Apoio das ACS

“Eu acho que foi esse das agente vim aqui em casa né [...]ela me ajudou pra fazer esses exames tudo pra eles. Eu acho bom, muito bom.” (Jade)

1

Atenção dos profissionais

“O que eu gosto é que.. pelo menos quando a gente vai ali eles dão atenção né.” (Alexandrita)

(Conclusão) Não gosta

dos serviços utilizados

“Olha eu não gosto de nenhum serviço, porque quando a gente vem é porque ta mal de saúde né, eu preferia não usar nada! Mas já que eu preciso usar, eu venho.. mas uma coisa que eu goste assim.. não, não tem nada que eu goste aqui.” (Ágata)

1

Quadro 4- Serviços realizados pela equipe da ESF que são preferidos pelas usuárias Fonte: Elaboração da autora, 2011.

Nos “Serviços que gosta”, seis usuárias citaram o “Atendimento técnico” como o preferido e importante. Este dado traz a reflexão acerca da concepção de trabalho em saúde baseado no tecnicismo. Este conceito parece estar ainda enraizado nas pessoas que fazem uso das ações em saúde. A pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), referida como Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS), buscou investigar na área da saúde a percepção dos usuários sobre os serviços prestados pelo SUS. De acordo com Ipea (2011), as principais melhorias sugeridas para o aprimoramento do SUS estão atrelados aos atendimentos médicos, relacionadas à quantidade de profissionais da medicina e também ao tempo de espera para as consultas. Ou seja, a preocupação dos usuários parece estar ainda mais atrelada ao modelo biomédico, centrado nos procedimentos.

Merhy (2007) afirma que a hegemonia médica reduz o ato de cuidar à produção de cuidado de procedimentos-centrados e que este tem a capacidade de demarcar as necessidades de saúde dos usuários. Ou seja, quando os usuários são submetidos a intervenções focadas somente nos procedimentos, passam a perceber suas necessidades a partir da falta desses atos. É provável que as usuárias destaquem como prediletos os serviços técnicos, pela concepção biomédica que ainda possuem da saúde.

Em contrapartida, cinco das sete ações mencionadas pelas mulheres entrevistadas estão atreladas a características da equipe que envolve interação entre os profissionais e usuários, tais como: disponibilidade da equipe em “Ajudar as pessoas”, mencionado por quatro entrevistadas, também, com menos freqüência aparecem nas falas “Atenção dos profissionais” e “Apoio das ACS”, entre outros. Observa-se que apesar da visão centrada nos procedimentos técnicos ainda estarem presentes e serem os mais requisitados, as entrevistadas parecem perceber quando as ações da equipe vão além do conhecimento técnico-científico que possuem. O que se pode hipotetizar é que estas prestações de serviços pautados na interação com os usuários, ainda sejam vistas como um favor da equipe em relação aos usuários em oferecer um atendimento humanizado. Parece não ser visto como parte das competências e habilidades que devem ser potencializadas em profissionais da saúde, sobretudo, no campo da saúde pública, como preconizado pelo Ministério da Saúde.

Esta questão surge a partir da reflexão acerca da relação entre o conhecimento técnico, que as usuárias priorizam em suas relações com a equipe de saúde e o atendimento em que os membros são atenciosos quanto aos problemas apresentados. Parece que o conhecimento técnico-científico é não só observado pelas usuárias, como também exigido por elas. Já um atendimento pautado nas relações, na atenção e na empatia parece ser algo que elas valorizam, acham importante, porém, não percebem como uma competência a ser desenvolvida e apresentada pela equipe,assim como consideram em relação ao conhecimento técnico. A fala da usuária Àgata demonstra isso: “Aqui a gente dá sorte quando alguém

atende bem [...]” (sic). Percebe-se que o atendimento de qualidade, baseado nas relações, é

percebido como um detalhe, como “sorte” (sic) e não como parte da função dos profissionais. As usuárias gostam de serviços pautados na atenção, acham de extrema importância, mas não percebem que este deve permear todo atendimento em saúde.

Esta mesma usuária afirmou “Não gostar dos serviços utilizados”, porém referiu gostar da “Rede pública de saúde em geral por ser gratuita”. Pode-se dizer que a satisfação da usuária está em utilizar os serviços do SUS sem precisar desembolsar dinheiro. O fato de não pagar pelos serviços pode fazer com que os usuários não exijam um atendimento de qualidade, como pode ser entendido através da fala de Àgata: “[...] mas as vezes é melhor tu

ir num particular por que tu sabe que vai ser bem atendido, porque tá pagando, do que ir num público (sic). Diante desta fala, pode-se refletir acerca da compra do bom atendimento.

Como se o não pagar pelo serviço não lhe garantisse o direito de receber um atendimento humanizado. Já num serviço privado, a relação parece diferente: é permitido reclamar pelo mau atendimento recebido e inclusive solicitar o reembolso, como também expresso na fala da usuária: “[...] lá eles são obrigados a atenderem bem [...] „quero meu dinheiro de volta‟,

aqui não tem como pedir o dinheiro de volta, já foi!”(sic). Ressalta-se, novamente, que o

atendimento de qualidade em meio à saúde pública parece ser percebido como um detalhe, que pode ser ignorado pelos usuários, pelo simples fato de não estarem pagando diretamente por este serviço. Ao encontrar profissionais que buscam desenvolver um trabalho baseado nas relações e permeado pelas tecnologias leves, o usuário as entende, muitas vezes, como uma dádiva, um favor e até mesmo, “sorte” (sic) e não como um dos muitos aspectos que precisam estar no repertório de competências e habilidades de todos os profissionais da saúde.