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O acolhimento como modo de produção de vínculo

2.2 HUMANIZAÇÃO E VÍNCULO NO ATENDIMENTO EM SAÚDE

2.2.2 O acolhimento como modo de produção de vínculo

O acolhimento é considerado pelo Ministério da Saúde uma das diretrizes de maior relevância política, ética e estética da Política Nacional de Humanização e Gestão do SUS. É assim reconhecido, pois, o ato de acolher é concebido como uma ação de aproximação, um “estar com” e “perto de”, ou seja, significa inclusão e relação com algo ou alguém (BRASIL, 2009 p. 10). Por conter estas características, ao acolhimento é dada uma posição central nos serviços de saúde.

O ato de acolher recebe a qualidade de relevante no aspecto político porque a ele é atribuído o compromisso das pessoas em se envolverem com as questões trazidas pelo outro, fortalecendo assim o protagonismo da pessoa acolhida. É relevante no aspecto ético, pois

engloba o reconhecimento do outro, em suas particularidades e na sua maneira de conduzir a vida. E no aspecto estético porque está atrelado a desenvolvimento de novas estratégias para a qualificação das relações e encontros que acontecem no dia-a-dia. (BRASIL, 2009). O acolhimento no âmbito da saúde deve então ser compreendido como uma diretriz fundamental para a produção da saúde brasileira e também como uma ferramenta tecnológica para ser aplicada na relação entre profissionais e usuários, como modo de intervenção na escuta e como meio de estabelecimento de vínculo (BRASIL, 2009). É visto também como instrumento para garantir o acesso aos serviços com responsabilização dos usuários no processo de cuidado e assim, alcançar resolutividade.

Sendo o acolhimento um principio que fundamenta as políticas de saúde brasileiras, faz-se necessário que os trabalhadores o compreendam como além de uma simples opção em suas práticas, mas que o incorpore nas suas ações diárias. Utilizando-o como base para gerenciar os locais de saúde onde estão instalados. Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2009), entender o acolhimento como uma postura e prática dos profissionais e como um dispositivo de condução das unidades de saúde contribui para a construção de confiança e compromisso das equipes com os serviços. (BRASIL, 2009). Uma equipe de trabalhadores de saúde que esteja comprometida com os serviços de saúde e que entende o acolhimento como forma de estimular confiança dos usuários com os serviços prestados, estará também favorecendo a abertura de possibilidades para criação do vínculo com a comunidade, uma vez que estará disposta a se envolver com cada usuário e oferecer ações que sejam resolutivas para suas questões.

Matumoto (1998 p. 7) afirma que com a implantação do SUS houve um aumento considerável na oferta e acesso de serviços em saúde, mas o que de fato importa é a capacidade dessas ações em apresentarem eficácia na resolução dos reais problemas da população. A autora enfatiza que o acesso aos principais problemas e suas possíveis soluções é iniciado somente a partir da predisposição dos profissionais de saúde em promover uma abertura para reconhecer o usuário e acolhê-lo da forma como se apresenta. Pode-se dizer que o usuário percebendo uma equipe de saúde preocupada com o seu bem estar, poderá também se engajar, juntamente com o profissional em ações que venham promover sua saúde. A partir deste trabalho mútuo, poderá ser construída uma relação vinculada, que teve início com o acolhimento prestado inicialmente.

Para que o acolhimento seja resolutivo no atendimento aos usuários precisa compor um processo de cuidado à saúde, não permitindo que se torne uma ferramenta isolada e restrita à recepção da demanda. O Ministério da Saúde (BRASIL, 2009) enfatiza que o

acolhimento visto separadamente do processo de produção de saúde passa a ser descomprometido com o processo de responsabilização e estabelecimento do vínculo com os usuários. O acolhimento passa a ser funcional quando abre possibilidades de vinculação que venha permear todo o processo de cuidado, levando o usuário a participar ativamente do seu processo de saúde e fazer com que se sinta responsabilizado pela manutenção do seu bem estar.

De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2009), o acolhimento não se caracteriza como um espaço ou um local. Trata-se de uma postura ética dos profissionais, para o qual não tem hora ou trabalhador específico para sua execução; implica em compartilhar saberes e angústias com os usuários. Matumoto (1998) diz que o acolhimento é também um processo e que não se restringe apenas ao setor de recepção. Para a autora faz parte de toda situação de atendimento presente na UBS, que inicia a partir da entrada do usuário e se estende a todo desenvolvimento de práticas, que podem ser individuais ou coletivas. O MS complementa, sobre a postura dos profissionais no atendimento, ao informar que “quem acolhe toma para si a responsabilidade de „abrigar e agasalhar‟ outrem em suas demandas, com a resolutividade necessárias para o caso em questão.” (BRASIL, 2009 p. 17).

Entendendo o ato de acolher com uma aproximação dos profissionais para com os usuários, entende-se como um fator essencial para o estabelecimento de vínculo entre ambos. No acolhimento é prestada ao usuário uma escuta e desta forma um compartilhamento de suas dificuldades, no qual o profissional se coloca a disposição para que juntos alcancem a solução. O acolhimento presume uma aproximação, uma relação entre profissional e usuários, pode-se então dizer que o acolhimento se caracteriza como uma maneira eficaz de produção de vínculo. Conforme as informações expostas pelo Ministério da Saúde, entende-se que o acolhimento parte de uma iniciativa dos profissionais, que devem estar dispostos a praticá-lo. Já o estabelecimento de vínculo, que pode ser uma conseqüência do ato de acolher, depende não apenas da disposição dos profissionais, mas também dos usuários para que se possa se efetivar.