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Instituição Legal da Sede Central e Abertura de Frentes de Expansão em Território Nacional

CAPÍTULO 1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA IGREJA MESSIÂNICA NO

1.4 TRAJETÓRIA DA IGREJA MESSIÂNICA NO BRASIL 51 

1.4.2 Instituição Legal da Sede Central e Abertura de Frentes de Expansão em Território Nacional

O Registro Civil de Pessoa Jurídica da “Igreja Messiânica Mundial Sede Central do Brasil” com sede na rua Morgado de Mateus, 77, Vila Mariana, SP, ocorreria em 21/1/1964, tendo sido alterado posteriormente para Igreja Messiânica Mundial do Brasil, em 29/1/1970. Contudo, é fundamental registrar que, antes da constituição de uma pessoa jurídica da religião messiânica com a idéia de uma sede centralizada, houve diversos núcleos de expansão (alguns inclusive com registro jurídico) em regiões da capital e interior paulista. Eles foram iniciados ora na casa dos fiéis como é o caso de Ken’ichi Katto, que desenvolveu atividades missionárias em São Bernardo do Campo, ora em algum estabelecimento comercial como foi o caso da família Tateyama, no bairro da Liberdade.

Desde sua chegada ao Brasil, Ken’ichi Katto veio difundindo o johrei, sobretudo entre imigrantes japoneses, tendo formado membros que posteriormente expandiriam a religião em regiões como Santos, Atibaia e Guarulhos. Contando com o apoio de ministros vindos do Japão, Katto passou a realizar atividades missionárias na região do Brás no período de 1961 a 1964, ocasião em que a unidade religiosa foi destruída por um incêndio.

A partir do encontro do ministro Morimoto (Kogure) com o sr. Wakatsu Tateyama, que era dono de uma tinturaria no bairro da Liberdade em 1959, nasceu um núcleo de atividade missionária que, posteriormente, seria a “semente” da Igreja Liberdade (formalizada

em junho de 1966). A partir de então, surgiriam os núcleos de Santo Amaro, Butantã, Brás, Mooca entre outros locais.

Em 1961, Kogure registrou juridicamente a Igreja Butantã. Nesta mesma época, Shoda transferiu-se de Curitiba para São Paulo e, ainda informalmente, a Igreja Butantã passou a ter o status de “Sede Central”. Este foi o início da “Igreja Glória” (formalizada em abril de 1965), que posteriormente originaria a Igreja Pinheiros.

Em 1965, também foi inaugurada a Igreja Paulista, que contou com a transferência dos membros vindos da Igreja Brás após o incêndio. Consta, no Jornal Glória de abril de 1965, periódico da IMMB, que houve a presença de 1500 pessoas no culto de inauguração realizado na casa construída pelos próprios membros e ministros num período de 58 dias.

Como visto resumidamente acima, a década de (19)60 foi marcada pela constituição de algumas igrejas: no Paraná, a Igreja Londrina e em São Paulo – Igrejas Brás, Glória, Liberdade e Paulista, além de vários núcleos iniciados pelos membros messiânicos.

Abaixo, apresento uma primeira tentativa de sistematização de dados a cerca da atividade inicial de expansão da IMMB na capital paulista:

Quadro 3

Expansão da IMMB na cidade de São Paulo

Núcleo inicial / Igreja (sistema descentralizado) Nome do (s) Responsável (s) Localização Nomenclatura após sistema de Sede Central Nomenclatura atual (em 2008) A partir de atividades em de SBCampo, Guarulhos & Atibaia Igreja Brás (setembro Ken’iti Katto Kasuro Hosono & Morihiro Hirata, Katsumi Yamamoto R. Kara (Jd. Mar, SBCampo) R. Müller (Brás) Encerrada após incêndio, em março/1964. Reúne-se à Igreja Paulista. Membros pioneiros estão em vários Johrei Centers distintos.

/1961) Igreja Butantã Igreja Glória (abril/1965) Shigueru Watanabe Katsumi Kogure

R. Alvarenga Igreja (Ig.) Pinheiros Centro de Aprimoramento (C.A.) Pinheiros Igreja Liberdade (filial da Ig. Butantã) Ken’iti Katto Wakatsu Tateyama R. Fagundes R. Martiniano de Carvalho ( Liberdade) Casa de Difusão (C.D.) Bela Vista Fusão das Ig.Paulista e Liberdade, em 1977 Johrei Center (J.C.) Bela Vista Igreja Paulista46 (antiga Ig. Brás)

Morihiro Hirata R. Thomas Lima Atividades encerradas / Junção com Ig.Liberdade Parte dos membros no J.C. Jabaquara Região Mooca Igreja São Paulo

1ª fase – S.Watanabe 2ª fase – Takeo Saito, Júlio Barbieri; Sayoko Sueyoshi Perdizes R. Martim Francisco

C.D. Sta. Cecília J.C. Sta. Cecília

Região Santo Amaro (parte ligada a Maruishi) ... (parte ligada à Kogure) R. Maruishi Sr. Osada S. Watanabe ... Seiiti Nonoguti / Hajime Tanaka Chácara Sto Antonio C.D. Santo Amaro J.C. Santo Amaro Região Vila Carrão Casal Myojin / Casal Taniguchi (Ig. Glória) ... Takahashi (Ig. Paulista)

Rua São Valentim Igreja Tatuapé (maio,1988)

C.A. Tatuapé

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Embora funcionasse no bairro da Liberdade, não pode ser chamada assim pois no bairro da Liberdade já havia outra unidade com este nome.

Em junho de 1962, com a chegada do primeiro grupo de ministros enviados pela direção da IMM do Japão, a configuração da difusão no país passa a ter efetiva interferência da Sede Geral, deixando de ser tida como uma iniciativa exclusiva das igrejas japonesas Daijo, Seiko e Kiko. Do grupo de 1962, posteriormente, tornaram-se diretores da IMMB, os ministros integrantes Tetsuo Watanabe, Hitoshi Nishikawa e Noboru Kanbe. Os demais ministros voltaram ao Japão por diferenciados motivos ou se desligaram da IMM. É também em janeiro de 1962 que os ministros Shoda, Nakahashi e Hosono retornam ao Japão pela primeira vez desde sua chegada ao Brasil.

É importante situar a história da IMMB tendo em mente, na medida do possível, o contexto histórico da IMM do Japão, na época. Em 24 de janeiro de 1962, com o falecimento da 2ª Líder Espiritual (Nidai-Sama), uma série de mudanças começou a ser introduzida pela nova direção da IMM. Consta que, a partir de 1964, a Igreja Geral inicia a preparação para a implantação de um novo sistema de difusão e administração em âmbito nacional e internacional. Criou-se a função de responsável das igrejas do exterior, que foi ocupada pelo reverendo Masahisa Katsuno.

Por ocasião do ofício religioso do terceiro ano de falecimento da Segunda Líder Espiritual – Nidai-Sama, sua sucessora, a 3ª Líder Espiritual expressou-se a cerca da realidade da IMM: “Sempre penso na plenitude da Igreja, após a ascensão de Nidai-Sama, na multiplicação do número de membros, no estabelecimento da Sede Central no exterior, na realização do sistema regional (apenas uma parte), na construção do Zuiun Kaikan e do alojamento dos dedicantes, e também na plenitude da fé dos membros, e vejo que temos recebido, de fato, inúmeras graças!”47

Como visto anteriormente, em 1964 a IMMB foi registrada como pessoa jurídica. Desde então, algumas medidas passaram a ser controladas pelo sistema de difusão

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centralizado: envio de ministros designados pela sede japonesa – 1ª turma em 1962 (8 ministros) e 2ª turma em 1967 (9 ministros); designação de missionários para as unidades religiosas do país; outorga de ohikari centralizada; estabelecimento de diretrizes anuais, a partir da Sede Geral48. A despeito das medidas de centralização, no início da IMM do Brasil, a grosso modo, ainda permanecia alto o grau de autonomia das igrejas e da forma de conduzir a expansão pelos ministros.

Em 1965, foi editada pela primeira vez, em português, um periódico oficial da organização intitulado Jornal Glória (posteriormente alterado para Revista Glória). Em 1967, foi lançado o livro Fragmentos dos Ensinamentos de Meishu-Sama, traduzido a partir de uma publicação originalmente lançada em inglês pela rev. Kiyoko Higuchi. Em 1972, sob a coordenação de Ricardo Tatsuo Maruishi — um dos primeiros membros nikkei formados em Londrina e que se tornou ministro integrante da IMMB — foi lançado o livro de ensinamentos Alicerce do Paraíso vol. 1. Mais tarde, na década de (19)80, outros títulos de ensinamentos foram publicados.

Em 1969, foi inaugurado o prédio da Sede Central, localizado na Vila Mariana. Na década seguinte, muitas ações foram implantadas com vistas ao estreitamento do vínculo da IMMB com a sede no Japão. Dentre estas, destacam-se o incentivo à peregrinação dos fiéis brasileiros aos Solos Sagrados do Japão e a implantação do seminário de formação sacerdotal, que enviou a 1ª turma de seminaristas brasileiros ao Japão em 1971, conforme quadro abaixo:

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Note-se o teor das diretrizes que passaram a ser ensinadas aos fiéis brasileiros a partir das orientações vindas da Sede Geral. Vide quadro de diretrizes (Anexo 3) .

Quadro 4

1ª turma de seminaristas brasileiros ao Japão

Ano Nome e idade Igreja de Origem Motivação Visto Recurso

1971 1- Keniti Yoshida (23) 2- Eduardo Y. Inoue (21) 3- Arlindo Sakamoto (20) 4- ManabuYamashita (19) 5- Júlio Barbieri Jr. (19) 1- Glória 2- Glória 3- Paulista 4- Mogi 5- Rio de Janeiro 1ª turma de seminaristas contratados e enviados a Sede Geral do Japão, pela IMMB

Turismo Custeado pela IMMB

Entre 1964 e 1973, através do envio de jovens missionários e/ou membros messiânicos (não necessariamente japoneses ou de ascendência japonesa) que se mudavam para regiões mais distantes do país, iniciaram-se vários pontos de expansão da religião em território nacional: Rio de Janeiro (1964); Rio Grande do Sul (1965); Maranhão (1967); Ceará (1969); Mato Grosso do Sul (1969); Brasília (1970); Pará (1973);49.

Segundo Yamamoto (2006), após a ida de Watanabe para a frente de expansão no Rio de Janeiro em julho de 1964, iniciou-se efetivamente a expansão da fé messiânica em âmbito nacional devido à movimentação dos membros pelo país. Ele divide em quatro os fatores “formais” responsáveis por esta expansão:

1) Membros outorgados no RJ que retornaram à sua cidade ou se mudaram para outros Estados. Exemplos: Sra. Cléa (Amazonas, em 1962); Sra Arlete (Ceará, 1972);

2) Membros e/ou parentes militares transferidos para outros Estados. Exemplos: Sra. Antonia (MT, 1974); Capitão Januário (Paraíba, 1969);

3) Médicos e/ou profissionais liberais transferidos a trabalho. Exemplos: Dr. Elidio (Maranhão, 1967); Dr. Alberto (Goiânia, 1972);

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Informações cedidas pelo Setor de Histórico da IMMB que divergem de datas descritas por Masako Watanabe (2001, p. 289).

4) Funcionários públicos transferidos a trabalho: Exemplos: Sra. Pérola (Distrito Federal, 1970); Sr. Barbosa (Santa Catarina, 1974).

Após listar os fatores acima, Yamamoto declara que, na verdade, foi o johrei que trouxe toda esta expansão em solo brasileiro. Por outro lado, não deixa de acrescentar que a maneira de expandir de Tetsuo Watanabe diferia da adotada pelos demais ministros japoneses. Além de ter partido para a cidade do Rio de Janeiro em que não havia membros messiânicos, concentrou esforços na divulgação entre os brasileiros.

Tetsuo Watanabe assim se expressou sobre o início de sua carreira missionária no Brasil, desde sua chegada em 1962:

Quando cheguei ao Brasil, com 21 anos de idade, não havia nada: não havia uma só igreja construída e, muito menos a Sede Central. Só havia uma casa alugada na avenida Brigadeiro Luis Antonio, que nós usávamos para fazer reunião com missionários e ministros. Cabiam apenas 20 pessoas e nada mais.

Todos os pontos de johrei eram casas alugadas, inclusive a Igreja Butantã, na rua Alvarenga, perto de Pinheiros, onde dediquei50 logo que cheguei ao Brasil. Naquela época, a Igreja não tinha nada, e eu também não: sem dinheiro, sem experiência de difusão... Também não sabia falar português direito.

Mas uma coisa eu possuía: uma grande vontade de fazer difusão pioneira num país desconhecido, para poder comprovar os Ensinamentos de Meishu-Sama e a força do Johrei. Por isso eu ministrava muito Johrei, de manhã até à noite. (...) Se não me engano, naquela época, só havia dois ou três membros brasileiros; os demais eram japoneses. Depois de dois anos, já eram quase 700 membros brasileiros. Mas eu não os encaminhei sozinho, não. Foram os dez, vinte primeiros que eu formei que foram encaminhando e formando novos membros. Eu dava amor aos missionários e passava o dia todo ministrando Johrei aos freqüentadores. Foi assim que chegamos a formar 50 novos membros por mês.

Depois que ganhei convicção no Johrei, comecei a fazer difusão pioneira no Rio de Janeiro. No início, não foi fácil. Mas, pouco a pouco, começaram a aparecer pessoas

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“Dedicar” é uma maneira peculiar de se expressar na IMM que significa “serviço voluntário” feito na Igreja ou mesmo fora dela. Dentre os vários tipos de dedicação, tem-se a dedicação de tempo e de oferta monetária.

que queriam receber Johrei, e foram surgindo muitas graças, muitos milagres, um atrás do outro. (...)

Como naquela época não havia livros, unidades religiosas, mas só uma casa pequena que servia de ponto de Johrei, eu então contava meus sonhos para as pessoas: “Em breve, vamos construir uma grande Igreja aqui no Rio de Janeiro. Depois vamos abrir igrejas em todo o Brasil, criar a Fundação Messiânica, para cuidar da parte cultural, e vários pólos de agricultura, para produzir produtos naturais. (...)

Os reverendos de hoje eram todos jovens ainda, mais novos do que eu. Todos eles quando iam ao Rio de Janeiro, ouviam meus sonhos e sonhavam junto comigo, para poder realmente desenvolver a Obra Divina. Eu dizia: “Vai ter Fundação... Vai ter Comunidade Messiânica, vai ter Universidade Mundial...’ Eles, então, compraram esses sonhos, dedicaram e cresceram, e hoje são executivos de todas as atividades coligadas à Igreja”. (...) 51

No tocante à expansão da IMM a outros Estados, mesmo após a transferência dos membros outorgados no Rio de Janeiro, Watanabe seguia orientando-os à distância. Um exemplo disto pode ser lido no trecho abaixo, extraído do depoimento da sra. Laís Guarçoni, esposa do médico Elydio Guarçoni, que expandiu a IMMB no Maranhão, a partir de 1967:

Durante todos aqueles anos, o rev. Watanabe acompanhava nosso trabalho de difusão em Colinas não só através das nossas viagens ao Rio, mas, também, das cartas que eu lhe escrevia de vez em quando. Nessas oportunidades, eu sempre o convidava para que nos visitasse, pois havia algumas pessoas preparadas para receber o ohikari, mas não tinham condições financeiras de ir ao Rio de Janeiro. Foi então que, no dia 13 de maio (1971), recebemos um telegrama inesperado: o rev. Watanabe avisava-nos da sua iminente chegada! (1991, p.45).

A respeito da emoção da fase de difusão pioneira no Brasil, K.Y. relatou-me sobre um depoimento do reverendo Masahisa Katsuno52 sobre suas lembranças da época em que foi responsável pela religião messiânica no Brasil. Katsuno lhe dissera pouco antes de seu falecimento:

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In: PORTA VOZ – Informações consolidadas das instituições messiânicas – set.out/2003, p. 3-4.

52

Naturalmente, naquela ocasião, marcou-me a emoção decorrente dos milagres do Johrei. Mas fiquei extremamente chocado ao saber que os jovens ministros japoneses da fase inicial tinham pouca experiência de atuação pastoral; nutriam apenas o sonho de servir.

K.Y. acredita que, por tal motivo, Katsuno tenha corrido mais de cinco mil km de extensão para conhecer os diversos pontos de difusão no Brasil, levando o jovem ministro Tetsuo Watanabe como seu motorista a fim de transmitir-lhe o espírito de difusão aprendido com seu mestre, Revmo. Katsuiti Watanabe, pai de Tetsuo. O reverendo Katsuno era comumente enviado a locais tidos como “problema” a fim de resolver dificuldades. Para tal, precisaria escolher um elemento humano corajoso e firme que pudesse desenvolver a difusão do Brasil a contento. Posteriormente, Tetsuo Watanabe se tornaria presidente da IMMB durante 30 anos, entre os anos de 1976 e 2006.